terça-feira, 26 de abril de 2022

Personagens do Sítio do picapau amarelo


 

Performance Sitio do Picapau Amarelo

                                                                          Tia Nastácia

Visconde de Sabugosa

Boneca Emília

 

 

Tia Nastácia: Bom dia Crianças, que bom que vocês chegaram, com você aí eu já não fico tão sozinha.  eu já estava ia começar a preparar o desjejum dos moradores do sitio, Dona Benta adora comer cuscuz, Pedrinho gosta de mesmo é de sanduiche de pão de forma e a Narizinho se perde no bolo de aipim, aliás, daqui a pouco eles aparecem por aqui.

Visconde de Sabugosa: Nastácia minha velha amiga, quais são as novidades do seu fogão nesta manhã de segunda-feira?

Tia Nastácia; Senhor Visconde de Sabugosa sentiu o cheirinho do meu tempero e veio logo me visitar.

Visconde de Sabugosa: Cheiro nenhum minha amiga, cheiro nenhum. O que vi e ainda estou vendo são livros por toda a parte. Meu tempero preferido são as virgulas, as exclamações e o delicioso abre aspas.

Tia Nastácia: (risada) Lá vem o Visconde falar difícil.

Visconde de Sabugosa: Mas eu não falo, eu viajo pelas entrelinhas, qual traça esfomeada que devora cada pedacinho das obras de uma biblioteca.

Tia Nastácia: Que conversa é essa seu maroto, experimente devorar os livros da Dona Benta e ela lhe arranca cada palha de milho que fizeram seu corpinho.

Visconde de Sabugosa: Eufemismo minha cara, hipérboles e metáforas. Mas hoje a estou achando tristonha.

Tia Nastácia: Não é nada, não é nada, apenas devaneios de cozinheira.

Visconde de Sabugosa: Fale-me mais, divida cá com este amigo.

Tia Nastácia: Às vezes me sinto um pouco sozinha, as crianças vão ao Ateneu e eu passo o dia na cozinha.

Visconde de Sabugosa: Você precisa de uma companhia, vejamos, quem sabe uma Auxiliar de cozinha.

Tia Nastácia: Cruz credo! Mexendo em minhas panelas? Nem pensar, nessa cozinha mando eu.

Visconde de Sabugosa: Quem sabe um animalzinho?

Tia Nastácia: Não, não, não. Cruz credo, fazem sujeiras e são barulhentos, e além do mais, de animalzinho basta o Rabicó.

Visconde de Sabugosa: Certo, certo. Ocorreu-me agora uma linda história que deve estar perdida pelas estantes dessa biblioteca, escrita pelo Florentino Carlo Collodi, sobre um menino de madeira que ganha vida. Pinóquio!

Tia Nastácia: Vai querer que eu traga para a minha cozinha um boneco de madeira? Cruz Credo, que ideia Visconde, que ideia.

Visconde de Sabugosa: Não minha cara, referia-me ao velho baú de costura e seus talentos com retalhos e agulhas.

Tia Nastácia: O senhor quer dizer que do meu baú de costuras vá surgir uma criatura para me fazer companhia?

Visconde de Sabugosa: Elementar minha velha amiga, mas não uma criatura qualquer, que tal uma boneca muito especifica, de nome Emília.

 

Nastácia costura, Nastácia costura

Boneca de pano, boneca de pano,

Nastácia costura, Nastácia costura

Boneca de pano, boneca de pano.

 

 Boneca Emília: Quem é você, minha mãe?

Tia Nastácia: Não, sou sua tia Nastácia.

Boneca Emília: Se não tenho mãe, não tenho tia.

Visconde de Sabugosa: Uma boneca bem sabida.

Boneca Emília: E quem é este todo verde?

Tia Nastácia: É o Visconde de Sabugosa, um autêntico Catedrático.

Boneca Emília: Para mim tem cara de aspargo.

Visconde d Sabugosa: Levemente petulante.

Boneca Emília: Petu... O que? Olha como fala comigo, ou esparramo tuas espigas.

Visconde de Sabugosa: Vejo que está bem acompanhada tia Nastácia.

Boneca Emília: Acompanhada coisa alguma, não fico aqui nem mais um segundo, vou é correr pelo mundo.

Tia Nastácia: Mas que menina atrevida, mal lhe dei a vida e já quer correr o mundo. 

Visconde de Sabugosa: vejo que tem fome de vida, por isso vou lhe dar uma dica, para conhecer o mundo não precisa avançar uma única esquina, nem em um ônibus embarcar ou em um barco velejar. Olhe ao seu redor, está no melhor lugar para sonhar, descobrir e conquistar.

Boneca Emília: Mas que lugar e este afinal?

Visconde de Sabugosa: Aqui vivem Reis, princesas e heróis. Aqui apaixonam-se, lutam e conquistam, aqui chove, faz calor brotam as videiras e gale-se a coluna, mas logo se aquece o coração com palavras de acalento e gratidão. 

Tia Nastácia: Puxa vida, o senhor falou bonito.

Boneca Emília: Vejo que o Sabugo é bem sabido.

Visconde de Sabugosa: Hoje é dia do Livro.

Tia Nastácia: e de Monteiro Lobato.

Visconde de Sabugosa: Em qualquer situação difícil o melhor lugar para se estar é em uma...

Todos: Biblioteca! 

terça-feira, 19 de abril de 2022

As crianças


 

1005 - -Paixão de Cristo (tomo 9) Crítica da Rainha

                    O encerramento de uma tournée como a Paixão de Cristo, abre novos olhares sobre o teatro, possibilita recomeços e incentiva novos artistas. Vamos então falar sobre a arte do ator, que é o teatro e como ela se divide em arte do dramaturgo, quando falamos do texto e arte do diretor, quando falamos de espetáculo. Até meados do século XX, somente André Antoine, aquele da quarta parede, havia realmente ocupado um espaço próximo ao que conhecemos como diretor. O encenador afastava-se da figura do ensaiador, já que aquele era apenas o agente criativo que, juntamente com o cenógrafo ou o músico, “planejava, organizava e executava o espetáculo teatral orientando os atores de acordo com uma tipologia de papéis. O encenador é que passou a pensar o espetáculo como algo que falaria ao público não só através do texto. O advento da cena naturalista, no final do século XIX, impulsionada pelo surgimento da fotografia, da luz elétrica, do desenvolvimento das ciências e o otimismo ideológico – para citar alguns fatores – favorece uma teoria mimética da representação. Esta teoria se funda na dialética da representação: há, de um lado, a aspiração à reprodução idêntica do real, e, de outro, as convenções sem as quais a reprodução não existiria (que devem ser transformadas, não ignoradas).

                    O diretor/encenador surge realmente com Artaud no século XX, e é uma figura importante no teatro moderno por interferir no modo como o espetáculo é concebido e na atuação dos demais integrantes do processo de criação. Ele pode assinar a concepção estética de um espetáculo e conduzir o processo ou pode intervir em questões pontuais como a direção dos atores ou, até mesmo, conversar com diferentes setores criativos, como a iluminadores, e cenógrafos. Contudo, um consenso encontrado e que determinará o uso da nomenclatura diretor/encenador ou somente diretor ou encenador, é que o encenador possui a função de conceber o espetáculo pensando na sua totalidade, unindo todos os participantes e suas criações, que podem ou não estarem subordinadas a ele, a fim de construir um todo que seja uma obra única. O encenador pode se deixar influenciar pelas criações dos demais integrantes do processo, quando possuírem uma autonomia para isso, modificando a sua concepção ou pode restringir os demais a alcançarem o seu ideal concebido.

                          Durante muito tempo viu-se o dramaturgo, como o maior merecedor da glória, O ‘textocentrismo’ fazia com que o dramaturgo fosse o principal componente do processo de criação, cabendo ao diretor e aos atores interpretarem da melhor maneira possível os elementos presentes na peça, transmitindo a intenção do dramaturgo. 

                              Em a Paixão de Cristo, Cléber Lorenzoni é dramaturgo, diretor, ator, e capacitadamente envovle-se em todos os setores, e ainda prepara os atores que em sua quase totalidade são seus alunos. Somando-se a isso, o olhar de Lorenzoni sobre cada trecho do trabalho, eu diria que ele passeia por formas já buscadas por Meyerhold e Peter Brook. Ambos para suas experiências, precisaram de atores-criadores; ou como diria a atriz Angelica Ertel atores-pensante-atores. E é por isso que o "mestre" Lorenzoni desafia, testa, força, incentiva... Para que os atuais atores da Companhia emanem sua arte. Ora, o ensaiador e o encenador dos séculos anteriores, não importava-se nem um pouco com a arte dos atores. Queria apenas que cada um pronuncia-se com clareza o texto, e preenche-se visualmente os tipos necessários para os papéis, exemplo: Julieta jovenzinha, branca, delicada etc... Kaifaz, velho, levemente gordo, branco, etc... Lady Macbeth, branca, levemente jovem, sedutora, linda, etc... 

                                    O diretor contemporâneo busca talento,  atração, força, mordida, garra, frieza (em alguns aspectos), respeito e amor pelo teatro, compreensão de hierarquia. Além disso, algo a dizer, é imprescindível que atores tenham algo a dizer. O problema é que alguns confundem o espaço de fala, acreditando que é somente através do texto que se fala. Não esqueçamos que muito é dito em um olhar, em uma composição corporal, em uma coreografia, em uma maquiagem...

                     

Cléber Lorenzoni esteve durante essa turnée tão corajosa para um grupo do interior, cercado por artistas corajosos, Renato Casagrande, ator e aspirante a diretor, figurinista e encenador. Em sua função trabalhou com muita entrega e somente em alguns momentos pareceu bater de frente, é preciso nunca esquecer que só há um diretor. Mesmo assim, vem seguindo a escola de Lorenzoni com muito sucesso, aprendendo a dirigir enquanto atua e nos dando grandes personagens(***), o demônio com o qual Jesus se depara ainda jovem é de uma corporeidade brilhante.

Clara Devi vem também seguindo os paços de Cléber Lorenzoni e a metodologia do "palacinho", as vezes prejudica seu trabalho de atriz, colocando a parte técnica a frente. É preciso atuar e ambicionar aquilo que se busca, sem arriscar a vida no palco. A palheta de cores sobre o palco tem muito a ver com sua disponibilidade de dias e dias elencando tecidos e peças que estavam guardadas ou esquecidas. Na apresentação de ontem via-se seu amor e dedicação, em cada cena, quando tirava adereços, apoiava os colegas e brilhava (***).

Laura Heger sobe de status, mostrou que tem muito a dar ao teatro, um olhar doce para com todos, uma gigante em cena. As responsabilidades que assumiu poderiam colcoar em risco suas cenas, no entanto fluiu ainda mais (***).

Douglas Maldaner fez certamente um de seus maiores trabalhos em Paixões de Cristo. Cléber Lorenzoni exigiu-lhe muito e seu sacrifício teve sucesso, ao lado de Romeu, Eliani e Laura, fizeram a corte de Herodes mais poderosa das quatro edições(***). Ellen Faccin é o tipo de contrarregra que um grupo precisa. E embora alguém tenha me dito que ela está prestes a dar um tempo, eu aconselho-a a lutar. O Máschara passa por grandes transformações, é onde eu estaria se pudesse viver de teatro(***). A maneira como a profissional interage, fixando o olhar no diretor. De onde eu estava sentada nem via ela se mexer. Uma profissional.
                           Fabio Novello também diz muito com sua arte, diz por exemplo que o teatro é eterno e colorido, ainda que ele não veja as cores todas. Ele emana cor, e isso me emociona muito, acho que todos os colegas veem assim, Fabio tem consigo o poder das matizes, a sutileza dos tons... Em cena seu Kaifaz deixará saudades e eu o repetiria em 2023 (***), Fabio tem uma percepção que as artes plásticas lhe agregam, de saber como parar, como criar figuras lindíssimas em cena. Outro elogio que preciso dar e que ficou muito claro na tournée, é o amor pelo Máschara, pela instituição que o acolhe, o respeito com seu diretor, ainda que sejam contemporâneos um do outro. 
                                   Raquel Arigony recebeu um papel pequeno, quase uma figuração, e transformou em algo tão lindo, tão necessário, tão expressivo. Uma atriz com coração enorme, capaz de sempre colcoar os outros à frente, (***).   
                              Antonia Serquevittio se joga literalmente, se entrega explosivamente, precisa sim estudar mais, compreender mais os dogmas do teatro. Mas a lealdade para com a direção e  a equipe lhe concedem uma admiração louvável (**), precisa apenas controlar algumas posturas que não combinam com o profissionalismo da equipe. 
                                A ultima encenação da Paixão de Cristo, teve diretor saindo de cena para ajeitar holofote, teve barro no chão do palco, teve banner que ficou para traz, teve emoção, teve figuras dignas de quadros. Teve desentendimento entre colegas, pressão, lágrimas em camarins. Teve planos, novos projetos, debates, surpresas. Enfim, tudo o que o bom teatro traz. Teve pouco público, adaptação, mudança de marca. Foi o bom e velho teatro do Máschara.
                                  Vi quando Cléber se irritou por estar na sombra, uma falha da equipe de luz, percebi quando Cléber abriu a cena, mas Nicolas Miranda como Judas não foi ao seu encontro. Ricardo Fenner vomitando exatamente onde Jesus mais tarde passaria com as mulheres, o que preciso tomar cuidado, principalmente para não causar resbalões. A forma como a quadra foi usada foi uma certo para a equipe e o jogo com o público, foi um dos maiores da tournée. As atrizes Dulce Jorge e Carol Guma, arrancaram lágrimas do público em vários momentos, garantindo cenas inesqueciveis.

           Paixão de Cristo, o Menino entre o Bem e o Mal.
                                Sessão Final
Direção Cléber Lorenzoni
Dramaturgia Cléber Lorenzoni
Assistência Técnica- Renato Casagrande, Clara Devi, Laura Heger, Douglas MAldaner, Fabio Novello, Ellen Faccin, Raquel Arigony, Antonia Serquevitio.
Apoio- Ricardo Fenner e Vitoria Ramos (***)
Elenco:
Dulce Jorge
Stalin Ciotti (**)
Carol Guma (***)
Eliani Alessio (***)
Romeu Waier (***)
Henrique Lanes (**)
Leonardo Georgelewitz (**)
Maria Eduarda (**)
Anita Coelho (**)
Henrique Arigony (**)
Bibi Prates (**)
Allana Ramos (***)
Jesmar Peixoto (**)
Marcel Prates (**)
Nicolas Miranda (**)
Laura Hoover (**)
Eduardo Fernandes (**)
Pedro Henrique (**)


                      Arte é Vida


 A Rainha

sábado, 16 de abril de 2022

1004-Paixão de Cristo (tomo 08)

             Em 1615, no norte de Pádua, um grupo de artistas mambembes partiu em suas carroças para levar sua arte às províncias vizinhas e distritos ao norte do país. O comboio continha três carroças, na primeira viajavam as crianças Lili, Atita e Lhana e idosos da trupe, esses, fundadores da pequena Cia. Na segunda, viajava  o guarda-roupa, Mme Oona e Tuuglas organizavam adereços e cenários, construídos em sistema de cooperativa, onde todos trabalhavam juntos. Dom Eulálio havia criado peças lindíssimas, que deveriam ser valorizadas e protegidas, a trupe era pobre e não poderia se dar ao luxo de  estragar nada. Ainda na mesma carroça Ereato e Claudia levavam com "amor" e apreço: roupas, perucas feitas de algodão desfiado, e bijuterias, herdadas algumas de reis e príncipes italianos.  

              Na terceira  carroça, chamada de carruagem, uma brincadeira dos contrarregras para com grandes estrelas da Cia.  que não costumavam ajudar muito na parte braçal do trabalho. Mas eram grandes atores com grandes personagens, levavam junto um pintor, que nas horas vagas fazia imagens a óleo desses grandes interpretes, que tamanho era seu auto fascínio, que negavam-se a serem esquecidos, e portanto imortalizavam nos quadros, cada gesto ou expressão que faziam. 

                  Montados em jumentos lentos, e outros em cavalos velozes que seguiam as carroças, os outros artistas da trupe seguiam empolgados, algumas vezes brigando quais crianças, em outras se amando e dividindo chás e especiarias que compravam em armarinhos pelo caminho. 

                        Visitaram grandes cidades históricas ou lugares desconhecidos, alguns expressaram-se mais nas cidades históricas, outros valorizaram tanto as históricas quanto os pequenos povoados esquecidos e quase perdidos entre os alpes suíços. A energia era de alegria, salvo algum momento em que Sr. Ereato ou mesmo Flaber, o regente da Cia. explodiam em pequenos brilhantismos autoritários. Havia também os estrelismos das grandes Primas-Donnas da companhia, que acabavam irritando os que as cercavam. Mas eles as perdoavam, afinal as amavam muito e sabiam que talvez algum dia eles também pudessem cair nesse erro.

                         Não havia competição, cada um lutava para fazer sua parte bem feita, alguns confundiam-se em suas ambições e chegavam a crer que Sr. Flaber valorizaria bajulações. Ele era muito, muito velho, ninguém sabia sua idade, mas ele tinha o mérito desagradável de ler as pessoas e muitas vezes desvendar segredos que elas mesmas ainda não compreendiam, tamanha a complexidade de humores entre os artistas. As vezes era percebido qual alquimista e tinha em sua sala vidros repletos de líquidos e vapores. Dividia os atores segundo a teoria dos humores: Fleumáticos: tímidos, apáticos, lerdos, sempre cansados e coerentes;  Coléricos: intensos, irritadiços, impulsivos e rápidos;  Sanguíneos: extrovertidos, confiantes, otimistas, alegres; Melancólicos: tristes, medrosos, dramáticos, introvertidos. Sr. Flaber levava sempre todos a exaustão, sabia que dali nasceriam grandes interpretes. 

                          Eram tempos difíceis,  quase irracionais, guerras, impostos altos, brigas de religiões. Para a trupe, o teatro deveria mudar as pessoas, abrir suas mentes...

                             O espetáculo apresentado era de cunho religioso e levemente satírico. Propunha ideias transloucadas. Todos serem iguais, mulheres empoderadas e o fim do mal... 

                               A "mambenjada" viajou durante dias, e como era de se esperar, fez sucesso em algumas vilas e pequenos fracassos em outras. Até que retornou a sua cidade e ali deu-se um lindo momento de vigor. A cidadela ocorreu para a frente da pequena igreja para assistir as dores e alegrias de Nosso Senhor Jesus Cristo. O figurino de ordem medieval, o bem e o mal, estavam extremamente coerentes com a época da encenação. A sagrada família foi aplaudida em cena aberta, bem como o momento do clímax. O profano e o sacro se misturaram em lindas cenas. Consegui ver ali os entremezes com uma linda cena de danças, os Soties, já que o rei de Judá parecia um tolo. As moralidades e os milagres. Ao Fim uma plateia em pé, aplaudiu com intensidade ao momento especifico em que a catarse se cumpriu. A purgação de todos os males e por que não dizer, quando a fé se renovou. 

                                Obrigada aos atores que mantém viva a chama do teatro de carroças, levando grandes historias aos públicos que de outra forma jamais experimentariam essas emoções. 

                                     O melhor: -A triangulação da jovem ambiciosa Colérica atriz que corria de um palco para outro e se esmerava pela rua, provocando os velhos e carregando a cabeça do "homem que grita nas montanhas".

                                                        -A concentração do ator principal, que misturando com perfeição os quatro humores, como costuma fazer,  conseguiu finalmente alcançar um poderoso grau de concentração.

                                                       - O ancião, que interpretando o pai do salvador, emocionou a todos e ainda se esmera em um poderoso sepulcro caiado e nos da uma deliciosa escatologia.

                                                             

                                           O Pior: - Os estrelismos, a luz de relâmpagos que a meu ver deveria piscar desde o primeiro trovão, quando a cruz sobe. - Os colegas que quando a apresentação se encerra, ficam conversando ou olhando para as estrelas enquanto outros se matam para carregar rapidamente tudo.


Raquel Arigony (***)

Douglas MAldaner (**)

Laura Hoover (***)

Clara Devi (**)

Laura Heger (**)

Stalin Ciotti (**)

Nicolas Miranda (**)

Caroline Guma (**)

Antonia Serquevittio (**)

Ellen Faccin (**)

Vitoria Ramos (**)

Romeu Waier (**)

Rick Artemi (**)

Eliane Alésio (**)

Eduardo Fernandes (**)

Jesmar Peixoto (**)

Anita Coelho (**)

Allana Ramos (**)

BiBY Prates (**)

Henrique Arigony (***)

Maria Eduarda Martins (***)

Pedro Henrique (***)

Alessandro Padilha (**)

Marcel Prates (***)

Leonardo Georgelewitz (***)




A Rainha


 

sexta-feira, 15 de abril de 2022

A Sagrada familia - Dulce Jorge, Henrique Arigony e Ricardo Fenner


 

Grupo Máschara e Prefeita de Cruz Alta


 

1002/1003 Paixão de Cristo (tomos 06/07)

              Depois de dois dias assistindo A Paixão de Cristo, o menino entre o bem e o mal, tive a certeza de que trata-se de um espetáculo para o ar livre. A prova disso, foi a grandeza das atuações e o aproveitamento do público, a emoção e a potencialidade com que Crissiumal e Horizontina visualizaram o teatro. A cena é a união de voz, corpo, plástica, ritmo, luz, cor. Tudo formando uma semiótica que nos conta coisas que vão muito além do enredo, da mensagem, do instinto. Por isso repleta de energia, força, calor, espiritualidade, transcendência. 

            A Capacidade de improvisar os espaços revela a maturidade de Maldaner em cena (**)(***). Devi tem domínio do espetáculo como uma jovem aprendiz de direção, (**)(**) em 2023, merece um papel de maior relevância, embora esteja no caminho de direção.

            Heger é uma assistente de palco incrível, certamente subirá de Status no Máschara o mais depressa possível. Valoriza e muito o espaço de contrarregragem, faz escola(**)(***). Outra que faz escola é Raquel Arigony, Principalmente quando criou partituras lindas como a anciã na frente da igreja de Horizontina (**)(***), Sua possibilidade de evolução no palco tem a ver também com a generosidade para com os colegas.  Stalin Ciotti (**)(**) é um ator maravilhoso, criativo, lúcido. porém parece procurar um espaço solitário no palco, o que as vezes passa uma ideia de egoísmo cênico. Laura Hoover tem mordida em cena, uma força descomunal  (**)(***). Está linda em Salomé, mas acrescenta muito também como mulher de Jerusalém. 

                Eliani Aléssio (**)(**) alcança volumes incríveis, flutua pelo palco. O casal Herodes é praticamente um espetáculo a parte. E o fato de em todas as apresentações ter um número expressivo de pessoas se retirando nesse quadro, mostra, embora assuste, que o espetáculo chegou onde a direção pretendia. Uma cena cinematográfica. Romeu Waier (**)(**), Laura Hoover, Lorenzoni, Batista, as aias de Salomé, Prates, todos acrescentam uma atuação que se mistura com terror e elegância. Aliás, as aias de Salomé acataram ao pedido da direção e surpreenderam com um outro olhar na apresentação de quinta feira. Nicolas Miranda que já brilha como Judas, está inteiro, desafiador como eunuco (**)(***). Serquevitio é a atriz que Lorenzoni quer por perto, não faz um grande personagem, mas quando cai aos pés do Cristo, quando traz a bacia de Pilatos ou quando socorre Madalena aos pés da cruz, tem um comprometimento invejável (***)(***).

                    Acredito que as duas ultimas sessões tenham sido dos figurantes e baixos coadjuvantes, que apoiados pelo elenco principal, sentiram-se tranquilos, a vontade para criar. Maria Eduarda recebeu pequenas funções e entregou-se muitas vezes a uma linda emoção em cena, espero que a jovem siga pelos caminhos da arte (**)(**). 

                        Jesmar Peixoto (***)(**) tem se destacado, crescido, surpreendido, e de onde estou, parece que tem se divertido e muito. Assim como Marcel Prates, que não deixa a desejar em nada (**)(***), jogando e colaborando com tudo e todos. Henrique Lanes  as vezes parece inseguro, (***) (**) pode ter mas confiança, e cumpre uma figura linda em cena. Sua responsabilidade e a seriedade com que assumiu suas funções, foi louvável. Carol Guma (**)(***) que prazer ver uma atriz começar sua carreira, e que privilégio começar essa carreira com uma tournée. As vezes pode ser mais tranquila, mais aberta as possibilidades da direção. Mais confiante e principalmente, torçamos que um dia seja do Máschara. As crianças Anita Serquevitio (***)(**), Allana Ramos (**)(***), Biby Prates (***)(**), as três dispostas a construir, a trabalhar, a aprender arte, cada vez que entravam em cena, arrancavam suspiros do público. Aliás as vezes contracenar com crianças é injusto, elas sempre roubam a cena!

                          No quesito revelação, Pedro Henrique, alcança um espaço único, brilha com detalhes, fragmentos, corporeidade. Perfeito! (***)(***) - Eduardo Fernandes (**) também se destaca, mas precisa estudar, ler, observar(**), o teatro é uma longa caminhada, de muito trabalho e comprometimento. Leonardo Jorgelewicz é a cereja do bolo, não sei como foi no quesito equipe, mas em cena, ajudava, parecia mesmo guiar os colegas. Um arrojo (***)(**).

                             A contrarregragem, os membros desse corpo que se chama espetáculo e que é formado por cabeça/cerebro (direção), coração (ator principal) , outros tantos orgãos e finalmente membros, Vitoria Ramos (***) (**) e Ellen Faccin (**)(***). A primeira totalmente leal, preocupada, observadora e perspicácia pois carrega dentro de si a compreensão do palco que traz de sua carreira de bailarina. A segunda muito esforçada e capaz, Ellen apenas precisa agregar confiança, para não se desestabilizar. Deveria, acredito eu investir na carreira de chefe de palco. O pequeno príncipe Henrique Arigony (**)(**) ganha responsabilidades complexas para sua idade. Cumpre, preocupa-se, dedica-se. Leve sempre a humildade em primeiro lugar, ser bom ator é principalmente colocar os colegas à frente. Se um dia eu voltar aos palcos, quero ter a tranquilidade com que ele pisa no palco. 

                          Para encerrar, aplaudo em pé os anciãos. Pela dedicação, fazer teatro depois de uma certa altura da vida, dividir o palco com os jovens, auxiliá-los, compreender o choque de gerações. Ter energia para uma turnée. Sacrificar-se por tanto tempo pelo teatro do interior que é tão desrespeitado. Tudo isso acrescenta a eles um valor e em nós, plateia, uma gratidão de quem precisa que seu trabalho continue. Parabéns Cléber Lorenzoni, Dulce Jorge, Fabio Novello, Ricardo Fenner e Renato Casagrande. 

                               O melhor: A arte do teatro ao lado da fé.

                               O Pior: Atores com celular enquanto colegas estão em cena, quebrando assim a corrente, e por isso entrando estabanados, desarrumados, etc... A prepotência de alguns jovens que não aprenderam a ter a humildade de reconhecer seus erros e simplesmente ouvir em silencio os mais velhos. 

 

Arte é Vida



                                           A Rainha

quarta-feira, 13 de abril de 2022

Dia de levar alegria com os coelhos do Máschara


 

1000-1001 Paixão de Cristo (tomos 4 e 5)

 

                        Assistindo o teatro do Máschara, sempre fico muito curiosa sobre de onde vem os roteiros, o processo dramatúrgico, a adaptação das obras... O texto de A Paixão de Cristo, me atrai e muito. Foi a partir de 2018 que comecei a me ater no fato de que havia algumas possibilidades,  raciocínios interessantes e pontuais que deveriam ser levados em conta. No texto dessa turnê, por exemplo, há uma passagem que diz: “Todo o Cristão deve...”, sendo que o termo Cristianismo surgiu apenas muito depois que Jesus morreu na Cruz. Já que o termo é exatamente para se referir àquele que sofre. Será que é por isso que Carol Christ Guma foi escolhida para ser Madalena? Mistérios... Bem ao estilo Máschara de fazer teatro. Cléber Lorenzoni faz uso desses mistérios, dessas entruncadas palavras, para alcançar os  seus objetivos na direção.

                           Mas engana-se quem pensa que a arte de dirigir é fácil. Há três momentos na vida dos atores. O inicio, principiante e desajeitado, curioso e disposto dentro da humildade. O nível médio, de quem dá os primeiros passos e já domina muitas coisas, que já consegue solucionar-se, e finalmente, aquele que praticamente não precisa mais de diretor, pois considera-se pronto, e que com dificuldade se submete às decisões de outros.

                          Nas apresentações de Campos Borges/RS e Ibirubá/RS, o palco foi quase organizado como espaço italiano, ou uma de suas versões. A meu gosto esse espetáculo adapta-se mais ao formato arena. Em Campos Borges, o palco central referiu-se aos blocos mais importantes do espetáculo: Última Ceia e Prisão. Em Ibirubá o diretor preferiu posicionar a ceia a esquerda do palco. Essa última foi para mim a mais funcional, embora tenhamos tido algumas situações complexa que surgiram daí. Henrique Arigony por exemplo conseguiu enganar a plateia e sumir perante o público enquanto Cléber Lorenzoni assumia seu lugar. No entanto ninguém auxiliou o menino e ele atravessou a passos lentos o palco inteiro, sozinho e chamando toda a atenção paras si em um tempo agoniante em que eu quase sai de onde estava, para socorrê-lo.

                           Em Campos Borges, a delicadeza de muitas cenas, oferece a esse tomo o mérito de melhor apresentação da turnê, com direito a beijo em Madalena e lutas corporais entre romanos e mulheres de Jerusalém. Aliás, Eliani e Laura Hoover, estão maravilhosas na cena das chorosas, mas precisam ficar mais ao fundo do palco. Por mais que Salomé e Heródia se convertessem, acredito que não se colocariam na linha de frente, a ponto de serem vistas pelos soldados. Embora claro, mulheres como aquelas possivelmente ao se converter não seriam das que ficam no fundo de fileiras. Mas aqui falamos de limites plausíveis aos olhos da plateia.

                             O beijo de Pilatos e Madalena é interessante, mas a meu ver possibilita um outro aspecto ao espetáculo. O casal Herodes está muito bem em cena, mas dentro do espaço fechado sua gravação é penosa de ouvir. Clara Devi, assim como Eduardo Fernandes, ainda que em lugares muito distintas, vem se destacando muito. Dulce Jorge também evolui a passos largos. Laura Heger é uma façanha, consegue ser uma boa contrarregra e atuar magnificamente. Sempre mantendo a humildade de quem sabe que tudo é passageiro.

                              Stalin Ciotti, Renato Casagrande e Fabio Novello, são grandes atores, mas precisam tomar cuidado, não se trata apenas de um espetáculo de teatro. E um espetáculo de cunho religioso. Se tentarem fazer dele o trabalho de suas vidas, podem estragar tudo.

                              A corte de Herodes, sempre magnifica, ficou prejudicada pelo espaço em que as meninas dançaram na encenação de segunda-feira. Escolha equivocada da direção.

                              Douglas Maldaner precisa de mais coragem nas intenções e decisões rápidas que precisam ser tomadas em cena. Chega de insegurança depois de tanto tempo fazendo teatro. A queda de Dulce Jorge, a saída pelo lado errado de alguns interpretes, o elástico que não está no lugar, o pão que fica pelo palco, a taça sem água. Tudo são aprendizados, mas cuidado com a perniciosidade.  

                                 Lembremos que o teatro não deve e não precisa ser tão formal, ou ele pode perder o frescor. Lembremos também do lúdico, da minha capacidade de acreditar em vocês e que se perde quando um ator da uma volta pelo palco, quando poderia ter ido direto, sem circunlóquios, ou quando toda a plateia os vê saindo de cena e lá  adiante o cristo descendo e saindo correndo.

                                  Uma lástima conter as intenções libertinas das bailarinas de Herodes, “as boas intenções cabem no jardim de infância, o palco  é o lugar da gangrena” e quem disse foi Nelson!

                                  No mais, estou cansada de correr de uma cidade a outra, orgulhosa e curiosa, afinal essa equipe é muito criativa.

 

                                   O melhor sem duvida tem sido o comprometimento e a fé cênica.

                                    O pior por outro lado, é a falta de dignidade que o ator enfrenta em algumas cidades.

 

Campos Borges e Ibirubá

Douglas Maldaner (**)(**)

Clara Devi (**)(***)

Laura Heger (*)(***)

Raquel Arigony (**)(***)

Stalin Ciotti (**)(**)

Laura Hoover (**)(**)

Eliani Aléssio (***)(**)

Jesmar Peixoto (**)(**)

Romeu Waier (***)(**)

Marcel Prates (***)(**)

Henrique Lanes (**)(**)

Carol Guma (***)(**)

Pedro Henrique (***)(**)

Eduardo Fernandes (***)(**)

Maria Eduarda (***)(**)

Leonardo Jorgelewicz (***)(**)

Nicolas Miranda (*)(**)

Biby Prates (***)(**)

Anita Coelho (***)(**)

Antonia Serquevittio (***)(**)

Ellen Faccin (***)(**)

Vitoria Ramos (**)(***)

Allana Ramos (***)(**)

Henrique Arigony (***)(**)

 

Arte é Vida



                                           A Rainha

terça-feira, 12 de abril de 2022

999-Paixão De Cristo/ Rodeio Bonito (tomo 3)

 

Grandes Iniciativas

                         Durante muito tempo, a peripécia de Jesus Cristo foi contada de pai para filho, ou ensinada nas catacumbas de Roma. Os Cristãos demoraram muito tempo para realmente conhecer a historia de sua como um todo, principalmente devido a forma como as missas eram realizadas, em latim, e havia ainda a falta de bíblias em linguagem vernácula.

                          Foi somente e graças a idade das trevas, quando monges e abades começaram a realizar encenações catequizadoras, que o conhecimento passou a ser liberado, a sair dos templos e invadir os vilarejos. Buscava-se sempre, antes disso, o mistério.

                         Há paralelo a isso, um outro mistério. O mistério do teatro. Uma aura de energia, de postulados, e dogmas que os seres do palco carregam e somam às suas tradições. Palavras como: merda, galharufa, elan; figuras como: Deuses, musas, Bacco, passeiam por historias e situações que são passadas de gerações a gerações de atores. Então me peguei pensando: Quantas historias, divertidas, inusitadas, tristes, de sacrifícios e vitórias, serão contadas por esses atores.  Sobre palcos improvisados, sobre tombos, sobre secretários de cultura que pouco ou nada se importam com o artista. Nessa turnê, há uma família inteira atuando, bebês, gente que fazia teatro há muito tempo, gente que está passando a semana longe de casa, gente que nunca fez teatro. Gente generosa que está abrindo sua casa para colegas. Artistas que atuam com garra, que esquecem problemas e os transformam em soluções.

                             Há é claro as situações sem soluções, como os grandes ginásios, com eco e ruídos complexos de se solucionar durante o espetáculo. Há colegas que extrapolam no exibicionismo e colocam em risco o todo. Há colegas que cansam rapidamente, e que não sabem disfarçar em cena. Há os que descontam seus fracassos nos que os cercam.

                              Hoje o maior desafio foi o palco de Rodeio Bonito, meio arena, meio tudo e meio nada. Não aprecio rótulos, mas eles ajudam, as vezes na compreensão das regras do jogo. As regras nesse domingo, foram: “simplesmente atuem”. Atuem com a energia e presença que vocês aprenderam a propor em seus corpos e em suas cenas. Adaptem-se ao espaço.

                              Dito isso grandes destaques de atuação surgiram, e hoje Laura Heger nos mostrou por que cresce como interprete a cada dia. Douglas Maldaner também se destacou, seja pela força, pelas intenções ou pela triangulação. A forma como atores como Antonia Serquevittio, Laura Heger, Clara Devi, Renato Casagrande e outros ainda, conseguem atuar e ainda ser contrarregras do espetáculo, é uma aula, senão de generosidade, de concentração e dedicação ao teatro e ao Máschara.

                              De onde eu estava sentada, não consegui visualizar algumas interpretações, apenas as costas de alguns atores, e se essas estivessem ligadas teriam cumprido, mas não estavam. A cena da ceia não foi visível o suficiente, pois além de estar muito para dentro do palco, os atores fecharam muito a meia lua, escondendo o Cristo.

                               A descida de Cléber Lorenzoni da cruz, quase foi um fracasso e a forma como as atrizes se colocaram sobre o palco para a exposição das faixas não ficou apoteótica, nem mesmo cerimoniosa o suficiente. É preciso abrir os tecidos, com  uma plena conexão, emoção, corpo e ambiente ao redor. A marcha final soou longa demais, e a cena do Consul foi muito confusa. O fato de Renato Casagrande adentrar a cena sem capa não atrapalha em nada, viemos em busca do psicofísico e não da perfumaria, essa ao menos foi a aula que ficou para mim ao estudar Grotowski. O jogo entre Carol Guma e Casagrande está aumentando e ficando muito interessante. A atriz deve aprender a cair, correr pelo palco, etc...

                           Vitoria Ramos e Ellen Faccin se esforçaram em criar climas e isso é bom, no entanto as vezes menos é mais. Henrique Lanes compõe muito bem, mas precisa de mais força, gana em cena. Vou elogiar a clã dos Herodes, mas preciso dizer que atuar com fluxo de explosão constante se torna fácil desde que haja atores razoavelmente preparados, mas atuar na sutileza, no sub ritmo, na contenção continua... São tarefas nada fáceis.

                            Fabio Novello esteve muito bem, embora a dublagem mereça cuidados. Maria Eduarda e Eduardo Fernandes tem melhorado muito nisso. E esse é o momento de fazer escola, de aprender observando colegas mais antigos. Leonardo Dias também agrega com uma composição muito interessante, um ritmo interno gracioso e potente.

                           Foi uma apresentação difícil, mas que ensinou muito. Lembremo-nos, teatro é equipe. E as plateias não tem culpa de  não terem as ruínas bonitas de São Miguel das Missões para oferecer.

                               O Melhor: A interpretação sutil de Cléber Lorenzoni, Laura Heger, Leonardo Dias, Henrique Arigony.

                               O Pior: A movimentação desnecessária de alguns atores que iam e vinham tentando vencer o ginásio, esquecendo que quanto mais se movimenta mais se enfraquece nesse tipo de espetáculo.

 

 

 

Rodeio Bonito-Aniversario do Município

Douglas Maldaner (***)

Clara Devi (**)

Laura Heger (***)

Raquel Arigony (**)

Stalin Ciotti (*)

Laura Hoover (**)

Eliani Aléssio (***)

Jesmar Peixoto (***)

Romeu Waier (**)

Marcel Prates (**)

Henrique Lanes (*)

Carol Guma (**)

Jesmar Peixoto (***)

Pedro Henrique (**)

Eduardo Fernandes (**)

Maria Eduarda (***)

Leonardo Jorgelewicz (**)

Nicolas Miranda (**)

Biby Prates (**)

Anita Coelho (**)

Antonia Serquevittio (**)

Elle Faccin (**)

Vitoria Ramos (**)

Allana Ramos (**)

 

Arte é Vida

segunda-feira, 11 de abril de 2022

Os seguidores de Emanuel


 

Jesus encontra as mulheres de Jerusalém


 

998- O menino entre o bem e o mal (tomo 02)

 

Uma constelação de grandes estrelas...

                    Ao olhar para a noite de Sepé Tiarajú, não vi muitas estrelas, mas via  a lua lá embaixo, e o esplendor de uma das grandes maravilhas da humanidade. Erguida a mais de trezentos anos, São Miguel Arcanjo parece teimar em sobreviver. E parodiando Erico, nosso escritor maior, eu diria que nem O Tempo e nem o vento dissiparão a grandeza do que foram os sete povos das missões. Mas quem decide isso? Nós, os atuais donos da terra!

                     Já estive várias vezes na região Missioneira e confesso que meu lugar preferido é o santuário de Caaró. Já assisti também, diversas vezes “som e luz”, mas nunca havia visto dentro do Sítio Arqueológico, algo parecido com o que vi na redução neste fim de semana. Cheguei cedo, orgulhosa que estava para ver meus atores preferidos, e vi rapidamente o espaço ser preenchido por centenas de cadeiras.

                     Emocionei-me, havia três espetáculos acontecendo simultaneamente. O interpretado pelo elenco, que se esparramou pelo terreno acidentado, provando que não há obstáculos que detenham a equipe do Máschara. Outro, que se tratava da imensa construção silenciosa, rodeada pela imensidão. E o terceiro, o som, que fez a passarada voar assustada pelos corredores de árvores e que banhou cada espaço de um texto bem escrito e carregado de passagens tão importantes aos valores cristãos.

                      A iluminação infelizmente foi fraca, e o que poderia ser realçado pela mesma, pareceu precário, talvez por questão de contenção de gastos. Como o teatro é vida, e a vida é mutável, nessa incursão foi a cena de Herodes e a crucificação que ficaram realçadas, valorizadas em palco mais próximo ao público.

                      O casal Herodes e Salomé estiveram intensos e quase assustadores e a violência tão crível que a plateia deve ter ido para casa pensando que Cléber Lorenzoni estivesse realmente machucado. O interprete de Herodes pode tomar mais cuidado para não perder momentos importantes das ações dubladas. Aliás é muito importante que toda a equipe trabalhe com a voz de diafragma, que é clara e intensa.

                      A palheta de cores, casou com perfeição com as tonalidades do cenário, destacando como era de se esperar, algumas personagens. Judas por exemplo, que é o joio caído entre o trigo... Jesus, que tocado por Satã, traz um detalhe em vermelho durante todo o espetáculo.

                       Preciso elogiar aqueles atores que interpretam mais de uma personagem ou tipo, em um espetáculo com tantas complexidades e que muda e adapta-se a cada apresentação, eles acabam tendo um trabalho cercado de maior tensão e exigência. Ricardo Fenner e Jesmar Peixoto por exemplo, em questão de uma cena ou duas, vão de José e Tomé ä Nicodemos e Arimatéia , e brilham no grupo daqueles que pretendem matar Jesus.

                       Renato Casagrande por exemplo chega a fazer dois personagens e um tipo e brilha como Pilatos ao lado da Madalena de Guma. O jogo, a densidade, a triangulação estão ótimas e há uma energia física que muito aprecio. Guma, claro, pode trabalhar mais as quedas, as corridas, o tônus.

                        Cléber Lorenzoni embrenhou-se pelo mundo da dramaturgia em 2006, quando ao lado de Dulce Jorge, criou o texto de Esconderijos do Tempo. Mas sempre acrescentou suas insinuações textuais e adaptações a textos que talvez ao seu olhar precisassem de maior ênfase dada a criação de mundo que ele propõe. Ao contrário das versões anteriores, Cléber Lorenzoni começa o texto com Jesus ainda criança e Henrique Arigony me emociona, tamanha sua leveza e tranquilidade. Não gosto de crianças em cena, mas preciso elogiar o comprometimento de Anita, Allana, Bibi e Maria Eduarda com o palco. São a geração do amanhã, “cuidai-os, protegei-os, tenhais paciência com eles, já fomos todos crianças...

                               Todos podemos ser atores, já que arte é a imitação da vida e a vida nos é cara conhecida. Me toca, a forma como não atores conseguem rapidamente se entregar e portanto produzir, Marcel Prates é de uma humildade e possibilidade incríveis. Jesmar Peixoto consegue planar pelas cenas como se há muito tempo fosse um interprete. Parabéns!

                               Em alguns momentos me preocupei devido as distancias que os atores teriam que percorrer, o que acrescentaria lentidão ao espetáculo, mas atores e não atores se esmeraram e enfrentaram diversos obstáculos. Parabéns também a adaptação do cortejo fúnebre que se tornou muito mais fluído.

                                Foi enfim a primeira de uma semana extenuante que precisará de calma e paciência. Além de muito trabalho.

 

                                     O melhor: A intensidade na prisão de Cristo, com o jogo entre todos os atores em cena. Destaque para Stalin Ciotti, Nicolas Miranda, Antonia Serquevittio e Marcel Prates. O apoio de Marli Guma, ex atriz, que agora colabora com a contrarregragem.

                                    O Pior: Alianças, anéis, brincos, colares... Atrasos e falta de estrutura oferecida aos atores. (Camarins, água, iluminação, etc...)

                          

                              

A Paixão de Cristo, O menino entre o bem e o mal. – Sítio Arqueológico, São Miguel Arcanjo

Aos Anciäos Dulce Jorge, Cleber Lorenzoni, Fabio Novello, Ricardo Fenner, Renato Casagrande, PARABENS

Clara Devi (**)

Raquel Arigony (***)

Antonia Serquevittio (*)

Marcel Prattes (***)

Jesmar Peixoto (***)

Romeu Waier (**)

Vitoria Ramos (**)

Ellen Faccin (**)

Laura Heger (**)

Laura Hoover (**)

Eliane Alessio (**)

Eduardo Fernandes (*)Pelo atraso

Pedro Henrique (***)

Stalin Ciotti (***)

Carol Guma (**)

Nicolas Miranda (***)

Henrique Lanes (**)

Anita Coelho (***)

Allana Ramos(**)

BibY Prates (**)

Maria Eduarda (***)

Henrique Arigony (***)

Leonardo Jorgelewicz (**)

domingo, 10 de abril de 2022

997 - OS Saltimbancos - Erval Seco (tomo 38)

 

Rabos, quatros, braços, dados...

 

                     E Chico Buarque esteve em cena duas vezes durante o dia. Seu circo místico deu vida à trilha de dois espetáculos.  O texto Os Saltimbancos, tem uma essência tão política, que dificilmente se pode negar o que realmente os quatro amigos inspirados nos cantores de Bremen vieram fazer no palco. Trabalhadores braçais, domésticas, artistas e soldados, são a essência de um dos musicais mais montados no Brasil, porém Cléber Lorenzoni usa o enredo para um objetivo menor. Claro que a nível de mensagem subliminar, não há como o público não guardar frases, e impressões lá no fundo da mente... “Sou um pobre Pau de arara...” “Hoje todo mundo canta, como dizem aqueles que não sabem cantar” ”Nós artistas nascemos livres...”     

                       O objetivo do Máschara, no entanto, é levar arte ao público, colocar a criança sentada na frente do palco e oferecer a ela algo novo, algo que ela nunca viu. Bons ou razoáveis atores, a poucos metros, saltando, cantando, dublando, dançando, expressando-se... Algo que a russa Natalia Satz já havia proposto em 1918 no Teatro para Crianças de Moscou e que pipocou pelo mundo em meados do século XX. O objetivo? Preparar plateias?

                       O adulto de hoje, que quase não vai ao teatro, gostou da ideia de oferecer teatro ao filho, ao aluno, ao sobrinho... Assim ele tira de seus ombros a necessidade de ir a um espetáculo. A criança irá! Mas há um belo ditado: Se queres alfabetizar uma criança, comece por sua avó... Ou seja, a criança que vai ao teatro hoje, poderá influenciar as próximas gerações. A pergunta que fica é: haverá atores daqui algumas gerações? O teatro florescerá, ou estamos a caminho do fim dessa arte?

                       Luzes, tablado, som, improviso, alguns metros de tecido, e voilà! A arte acontece. Não ouvi quase nada. Já conheço, mas me coloco no lugar das crianças, que em um momento importante de alfabetização precisam compreender o que é dito. Ao mesmo tempo e me contrariando, não dá para negar as impressões visuais, as sensações, o feeling. Um elenco coeso, formado por Renato Casagrande, Alessandra Souza, Cléber Lorenzoni e Nicolas Miranda, esse último estreando e com desenvoltura de personagem maduro. Mérito também da partitura que a personagem já traz de Renato Casagrande. Mas Nicolas atua a altura dos artistas mais velhos, alguma dublagem perdida, o que na bagunça de uma sonorização parca, não chega a destoar.

                        Jogo de cena perfeito. Alessandra Souza retorna ao palco para nos dar mais um gostinho de sua atuação, talvez antes de despedir-se totalmente do teatro do Máschara. Bons quatorze anos de uma vida dedicada ao palco. Cléber Lorenzoni inteiro, e generoso com colegas e plateia. Abre mão com muita tranquilidade da coreografia que é apenas artifício para aproximar-se e pegar o público.

                       Renato Casagrande, comanda a “festa” e é preciso saber carregar um elenco. Tarefa que o primeiro ator de um espetáculo precisa assumir com muita generosidade, humildade e entrega. É ele que dita o ritmo, que guia e apoia as peças do xadrez teatral. Os saltimbancos é um encanto e me surpreendi vendo a forma como a gata foi ovacionada, ainda que muitos olhares fossem de confusão, já que as questões de gêneros ainda sejam grandes tabus, sobretudo em cidades pequenas.

                      Não vou falar de roteiro e adaptações, mas seria interessante um longo estudo do tema.

                       Na contra-regragem, Laura Heger, Fabio Novello e uma grande equipe de apoio. Tão necessária no teatro precário e sofrido que se faz no interior. Laura Heger vem se mostrando uma “grande”, disposta a todas as proposições do mise em scène. Torçamos que faça da vida do palco, sua profissão por muito tempo. O público merece sua verdade, sua arte.

                         Para encerrar, meu aplauso de admiração, só um grupo de repertório muito organizado, para em uma semana subir ao palco com as peripécias do Cristo Bíblico, estrear um ator em um musical infantil, ainda que dublado e readaptar um espetáculo cheio de estrelas como o Grande Circo Mágico.

 

 

 

Arte é Vida

 

       A Rainha

 

Cléber Lorenzoni

Renato Casagrande

Alessandra Souza

Nicolas Miranda (***)

Laura Heger (***)

Fabio Novello

Grande equipe

 

P.S: Ontem o diretor me avisou que eu havia esquecido de mencionar um dos atores de O Grande Circo Mágico. Parabéns Romeu Waier, é sempre um privilégio ver tua chama viva em cena.