quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Análise crítica do segundo concorrente do Vigésimo Terceiro Rosário em Cena - Para onde Voam as Borboletas? - Coletivo Movimento

Ser ator é também seduzir seu público, atrair, apreender, conquistar... Para isso é preciso refletir na forma como nos colocamos no palco. Quando André Antoine criou o termo : "quarta parede", queria nos propiciar uma melhor postura em cena, nós, na evolução das linguagens, das escolas e gêneros, passamos a ver o público com o uma parte importante do teatro que merece ser ouvida. Mas com o a platéia deve ser ouvida? De forma atuante? Falante? Palpitante? Ou a plateia deve ser posicionada ali, em seu lugar, distante, quieta?

Não sei ao certo, mas é preciso conter as claques, ensinar as plateias a ouvir teatro, em silencio, em um exercício de escuta! Só assim haverão transformações! A criança que aprende erroneamente que pode opinar ou falar durante um espetáculo, se torna um péssimo público de teatro.
A narrativa escrita por Gabriel Medeiros, é bastante interessante e conta com interpretes cheios de vida, que precisam investir em uma construção corpórea. O figurino é cuidadoso, a trilha de Jéssica Berdet é lindíssima, porém pouco aproveitada. Júlia Maurante tem uma figura lindíssima, mas deve, ao lado de Dinar Munõz, investir numa preparação corporal. A trama é simples mas acaba por não ser muito aproveitada, pelos pequenos pecados do elenco na área da pronuncia do texto, sua prosódia carece de mais profundidade, esforço em prol de dicção e volume.
Gabriel Medeiros como "Metundere"parece saber o que está fazendo em cena e tem uma presença bastante forte, muito embora as soluções sejam simples e muito superficiais, ao mesmo tempo que ao fim do espetáculo, ficamos a espera de uma "lição", de uma catarse, tão necessária aos públicos, que vão teatro para se transformar.
As linhas podem ser mais trabalhadas e é preciso ficar atento a iluminação quando os atores estão no proscênio.
O coletivo está de parabéns pela luta pelo teatro em Bagé, onde parece-me que poucos grupos estão atuantes. Precisamos todos trabalhar pelo teatro, defendê-lo, protegê-lo. Devemos isso aos que vieram antes de nós, e precisamos tentar avançar em nome dos que virão. No teatro quando um ganha, todos ganham!

Análise do primeiro espetáculo concorrente do Vigésimo Terceiro Rosário em Cena- SCOTCH 33 -COLETIVO KHÁOS


O Espetáculo Scotch 33 da Cia Coletivo Kháos, abriu a 23ª Edição do Festival Internacional Rosário Em Cena. Cinco atores em cena dirigidos por Lizi Fonseca em uma viagem por um mundo caótico e apocalíptico, muito embora tenha inspiração nos romances góticos do século 19. O texto que fala muito do mundo pessoal da diretora e autora nos apresenta Mary, não a Shelley, mas uma Mary que também tenta juntar pedaços para se auto compreender e porque não dizer destruir pedaços de figuras que se formaram durante sua existência: a mãe, o cachorro, o namorado etc. A interpretação de Cândida Canielas no papel central consegue perambular pelo espetáculo com uma interpretação bastante razoável, embora possa investir em uma técnica vocal mais apropriada para o tipo de interpretação que a direção propõe. O público adentra o teatro com cena aberta e vários signos e códigos pontuais colaboram para uma melhor compreensão da experiência semiótica que o grupo propõe. No decorrer de quase uma hora de espetáculo vamos compreendendo o conturbado universo da protagonista que luta principalmente com os fantasmas da própria mãe, que vagueiam sua mente. O espetáculo às vezes perde um pouco do ritmo e vários dos finais apresentados em sequência, poderiam ser trocados por apenas um. De qualquer forma a proposta é muito coerente, e parece agradar os jovens por n motivos. A curva dramática poderia ter sido mais funcional. Ao fim, uma figura sem rosto adentra o palco, igual Deus ex-machina, para finalizar a mise en scene e nos dá um clima apoteótico e reverberante. Trilha sonora funcional, iluminação criativa (que deve ser melhor operada), figurinos e adereços dentro da proposta e uma equipe equilibrada no jogo cênico, possibilitado por um elenco capaz e bem treinado.
Foi sem dúvida um bom inicio de festival.