quinta-feira, 26 de outubro de 2023

'Jurados e organização do Rosário em Cena


 

Entre Loucos- oitavo concorrente – Festival Rosário em Cena

 


 

Àqueles que vieram antes de nós, foi designado pelos Deuses, que eles preparem o caminho, abram sulcos, e finquem pilastras. Os artistas de hoje, são reflexos da geração anterior que por sua vez é reflexo de uma outra que os precedeu. A olhar para o trabalho poderoso nas atuações de Gustavo Engelmann e Pâmela Wiersbitzki, pode-se dizer que Juca, fundador da Cia Vir a ser teatro, fez um bom trabalho. Trinta anos de luta, nos presenteiam com presença, tônus, ritmo, triangulação, élan, ufa...

Entre Loucos, é segundo a direção, um texto de autor desconhecido, que funciona deveras junto ao público jovem, muito pela força e a graça com a qual, a dupla de atores nos apresenta suas personagens. Pâmela possui uma voz muito interessante, bem colocada e que casa com qualquer tipo de trabalho que a atriz se propõe, seja em espetáculos infantis ou adultos.

O espetáculo possui uma sequencia de quadros, alguns melhores executados que outros, mas de qualquer forma, críveis e engraçadíssimos. Há uma perspicácia que certamente provém da direção de Engelmann. Temas pesados são abordados de maneira escrachada e nos fazem pensar inclusive em temas como machismo, e religião. Por outro lado, tudo fica um pouco aquém do que poderia. Veja bem, há direção, há boa atuação e eu diria que até bom roteiro, mas a concepção, o objetivo final precisa ser revisto, se a Cia. busca o máximo retorno que o espetáculo pode lhe trazer. Estamos falando sobre doença, sobre males que afligem a saúde da humanidade, porém a comicidade exacerbada desse espetáculo não nos permite a catarse, a purgação de nossos sentimentos. Caso o objetivo seja o riso, então a comédia pode aprofundar-se mais.

A iluminação é desenhada, mas não nos conta nada e tudo precisa contar algo em seu setor, luz, trilha, figurino, cenário, atuação. Lembrando que ausência de luz também é luz, silêncio também é sonoplastia e palco vazio pode ser cenário. Para que uma única e boa história seja contada.

Entre Loucos encerra após uma sirene tocar, e os dois “loucos” correrem para por tudo de volta no lugar, nos lembrando que tudo sempre se repete, que os ciclos se encerram e recomeçam e que infelizmente as coisas em sua maioria, são imutáveis. Segue-se o mundo, cada um com sua dor e nada pode ser feito...


Cléber Lorenzoni - Crítico teatral

Laysa Taylor- historias de uma diva - sétimo concorrente - Rosário em Cena

Existem dois elencos, um está sobre o palco e sua função é contar uma história, o outro está acomodado nas cadeiras, e sua função é rir, ou chorar, refletir e aplaudir. Se os dois elencos executarem bem suas funções o espetáculo será maravilhoso.




Laysa Taylor não é um espetáculo de meios termos, nem poderia ser, afinal de contas sua vida passou por todo tipo de embates a que um menino pode passar. Violências sexuais e emocionais, solidão, abusos e até mesmo a fome, foram seus companheiros. Em um primeiro momento parece que estamos falando de crianças ou jovens gays, no entanto, todos nós já nos sentimos mal compreendidos, fomos desrespeitados naquilo que somos, ou ainda tivemos que tirar força de nós mesmos ainda que tivéssemos nos encontrado naquilo que consideramos o mais fundo do poço.

Laysa é o próprio patinho feio, elevado a um grau de exagero absurdo, e ela se torna um cisne lindo, forte, poderoso e vencedor. Eis o grande paradoxo: alcançar o topo, a maturidade, aceitação nos arranca pedaços, nos dilacera e nos obriga a fazer a pergunta:-precisávamos passar por tudo isso? Precisava eu ter suportado tudo isso para chegar até aqui?

O público formado em sua maioria por jovens se ensino médio, aprovou o espetáculo e em determinada altura era possível ouvir o som de alfinete, caso esse caísse, muito embora, tudo estava tão coerente, tão intenso e bem dirigido por Pablo Damiam que duvido que um alfinete ousasse tombar.

A atriz Lorasna Valentini tem um poder de atração que conquista e vende qualquer coisa proposta. Mesmo os momentos mais grotescos não agridem e sim emocionam. Voz intensa, curva pontual e finalmente uma deliciosa catarse. Claro que há pontos a serem revisto:, a dublagem, o peso da arma, o uso repetitivo do centro do palco. Enfim, detalhes que podem deixar ótimo o que já é muito bom.


Cléber Lorenzoni - escritor e colunista