1004-Paixão de Cristo (tomo 08)

             Em 1615, no norte de Pádua, um grupo de artistas mambembes partiu em suas carroças para levar sua arte às províncias vizinhas e distritos ao norte do país. O comboio continha três carroças, na primeira viajavam as crianças Lili, Atita e Lhana e idosos da trupe, esses, fundadores da pequena Cia. Na segunda, viajava  o guarda-roupa, Mme Oona e Tuuglas organizavam adereços e cenários, construídos em sistema de cooperativa, onde todos trabalhavam juntos. Dom Eulálio havia criado peças lindíssimas, que deveriam ser valorizadas e protegidas, a trupe era pobre e não poderia se dar ao luxo de  estragar nada. Ainda na mesma carroça Ereato e Claudia levavam com "amor" e apreço: roupas, perucas feitas de algodão desfiado, e bijuterias, herdadas algumas de reis e príncipes italianos.  

              Na terceira  carroça, chamada de carruagem, uma brincadeira dos contrarregras para com grandes estrelas da Cia.  que não costumavam ajudar muito na parte braçal do trabalho. Mas eram grandes atores com grandes personagens, levavam junto um pintor, que nas horas vagas fazia imagens a óleo desses grandes interpretes, que tamanho era seu auto fascínio, que negavam-se a serem esquecidos, e portanto imortalizavam nos quadros, cada gesto ou expressão que faziam. 

                  Montados em jumentos lentos, e outros em cavalos velozes que seguiam as carroças, os outros artistas da trupe seguiam empolgados, algumas vezes brigando quais crianças, em outras se amando e dividindo chás e especiarias que compravam em armarinhos pelo caminho. 

                        Visitaram grandes cidades históricas ou lugares desconhecidos, alguns expressaram-se mais nas cidades históricas, outros valorizaram tanto as históricas quanto os pequenos povoados esquecidos e quase perdidos entre os alpes suíços. A energia era de alegria, salvo algum momento em que Sr. Ereato ou mesmo Flaber, o regente da Cia. explodiam em pequenos brilhantismos autoritários. Havia também os estrelismos das grandes Primas-Donnas da companhia, que acabavam irritando os que as cercavam. Mas eles as perdoavam, afinal as amavam muito e sabiam que talvez algum dia eles também pudessem cair nesse erro.

                         Não havia competição, cada um lutava para fazer sua parte bem feita, alguns confundiam-se em suas ambições e chegavam a crer que Sr. Flaber valorizaria bajulações. Ele era muito, muito velho, ninguém sabia sua idade, mas ele tinha o mérito desagradável de ler as pessoas e muitas vezes desvendar segredos que elas mesmas ainda não compreendiam, tamanha a complexidade de humores entre os artistas. As vezes era percebido qual alquimista e tinha em sua sala vidros repletos de líquidos e vapores. Dividia os atores segundo a teoria dos humores: Fleumáticos: tímidos, apáticos, lerdos, sempre cansados e coerentes;  Coléricos: intensos, irritadiços, impulsivos e rápidos;  Sanguíneos: extrovertidos, confiantes, otimistas, alegres; Melancólicos: tristes, medrosos, dramáticos, introvertidos. Sr. Flaber levava sempre todos a exaustão, sabia que dali nasceriam grandes interpretes. 

                          Eram tempos difíceis,  quase irracionais, guerras, impostos altos, brigas de religiões. Para a trupe, o teatro deveria mudar as pessoas, abrir suas mentes...

                             O espetáculo apresentado era de cunho religioso e levemente satírico. Propunha ideias transloucadas. Todos serem iguais, mulheres empoderadas e o fim do mal... 

                               A "mambenjada" viajou durante dias, e como era de se esperar, fez sucesso em algumas vilas e pequenos fracassos em outras. Até que retornou a sua cidade e ali deu-se um lindo momento de vigor. A cidadela ocorreu para a frente da pequena igreja para assistir as dores e alegrias de Nosso Senhor Jesus Cristo. O figurino de ordem medieval, o bem e o mal, estavam extremamente coerentes com a época da encenação. A sagrada família foi aplaudida em cena aberta, bem como o momento do clímax. O profano e o sacro se misturaram em lindas cenas. Consegui ver ali os entremezes com uma linda cena de danças, os Soties, já que o rei de Judá parecia um tolo. As moralidades e os milagres. Ao Fim uma plateia em pé, aplaudiu com intensidade ao momento especifico em que a catarse se cumpriu. A purgação de todos os males e por que não dizer, quando a fé se renovou. 

                                Obrigada aos atores que mantém viva a chama do teatro de carroças, levando grandes historias aos públicos que de outra forma jamais experimentariam essas emoções. 

                                     O melhor: -A triangulação da jovem ambiciosa Colérica atriz que corria de um palco para outro e se esmerava pela rua, provocando os velhos e carregando a cabeça do "homem que grita nas montanhas".

                                                        -A concentração do ator principal, que misturando com perfeição os quatro humores, como costuma fazer,  conseguiu finalmente alcançar um poderoso grau de concentração.

                                                       - O ancião, que interpretando o pai do salvador, emocionou a todos e ainda se esmera em um poderoso sepulcro caiado e nos da uma deliciosa escatologia.

                                                             

                                           O Pior: - Os estrelismos, a luz de relâmpagos que a meu ver deveria piscar desde o primeiro trovão, quando a cruz sobe. - Os colegas que quando a apresentação se encerra, ficam conversando ou olhando para as estrelas enquanto outros se matam para carregar rapidamente tudo.


Raquel Arigony (***)

Douglas MAldaner (**)

Laura Hoover (***)

Clara Devi (**)

Laura Heger (**)

Stalin Ciotti (**)

Nicolas Miranda (**)

Caroline Guma (**)

Antonia Serquevittio (**)

Ellen Faccin (**)

Vitoria Ramos (**)

Romeu Waier (**)

Rick Artemi (**)

Eliane Alésio (**)

Eduardo Fernandes (**)

Jesmar Peixoto (**)

Anita Coelho (**)

Allana Ramos (**)

BiBY Prates (**)

Henrique Arigony (***)

Maria Eduarda Martins (***)

Pedro Henrique (***)

Alessandro Padilha (**)

Marcel Prates (***)

Leonardo Georgelewitz (***)




A Rainha


 

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