Analise de Os Saltimbancos

Animais cantando, atores dançando, personagens enchendo de magia o palco, e que lindos costumes. Dulce Jorge e Cléber Lorenzoni acertaram novamente. É de longe a mais linda montagem de Os Saltimbancos que já tive o prazer de assistir. Não digo a melhor interpretada, não entro nesse mérito, mas sem dúvida não sei de outra montagem desse texto que tenha tão delicadas e perfeitas composições para esses já conhecidos quatro personagens de Chico Buarque. O texto do musical é simbólico: O Burro representa o inteligentista: a galinha a classe operária; o cachorro, os militares e a gata os artistas. Os barões, inimigos dos animais, são a personificação da elite, ou "os detentores do meio de produção". Mas a peça, embora tenha sido composta para determinada situação social do país, não pode ficar restrita a tal leitura, uma obra artística é imortal pela sua reinvenção em todas as épocas e quaisquer situações.
No elenco, Renato Casagrande de quem estou virando fã assumida, Cléber Lorenzoni me surpreendendo novamente, esse ator simplesmente ousa e faz qualquer coisa! Gabriel Wink com um trabalho delicado, e a Alessandra Souza, me surpreendendo positivamente. 
O figurino de Dulce Jorge e a maquiagem de Cléber Lorenzoni são destaques a parte de uma das melhores concepções em espetáculos infantis do grupo. O cenário também assinado por Cléber Lorenzoni precisa ainda de certo acabamento, mas simplifica a cena de forma genial, criando ilusões necessárias e colaborando para a criação de planos e cenas. Aprecio a tangencialidade que percorre o CD original de Bardotti, e penso que ainda muita coisa vai se criar. 
A trilha é a já conhecida por todo ator que se preste, e sinto não ouvir apenas a voz do elenco, mas acredito que com o tempo a direção aos poucos irá suprimir a trilha em playback. 
Cléber Lorenzoni e Dulce Jorge adaptaram a historia em uma sequencia na qual os animais parecem estar contando algo já ocorrido, e eles mesmos interpretam seus barões, creio que aí falte uma melhor solidificação no roteiro. A peça tem duração agradável, mas merece uma curva mais acentuada. Renato Casagrande (***)  tem um border-collie muito bem composto. Seu personagem é o mais redondo nessa estréia e também a melhor investida do ator em sua breve carreira. O trabalho corporal de Casagrande é louvável, tem trabalho continuo e seu corpo dançante prende a atenção do público durante toda a encenação. O jogo de cena a personagem da gata é o que mais anima a platéia e nos faz crer na verdade cênica das personagens. 
Alessandra Souza está muito bem, precisa ainda nos dar mais da personagem, há muito para se fazer em uma galinácia, uma ave, e tenho certeza que a atriz se dedicará cada vez mais, mas aconselho e cabe a atriz, logicamente, acatar ou não minha sugestão, "cócócomo vão", seria mais interessante do que "côcôcomo vão"! (**) Alessandra está carregando um dos mais bonitos e criativos figurinos do espetáculo, pode tirar mas proveito disso. Há uma infinidade de possibilidades para uma jovem atriz em meio a Saltimbancos. 
Gabriel Wink ainda não está totalmente entregue a personagem como em Lili inventa o Mundo, ou mesmo em Feriadão com seu Filipinho. O Jumento é um personagem maduro, inteligente, que precisa de mais peso, e será fácil para esse ator transmutar a presença que tem no peso que necessita. (**) Outra coisa mencionavel é a facilidade com que o mesmo pegou a platéia, me pergunto se Gabriel Wink tem noção da capacidade que tem de elouquencia junto as crianças. Ou se tornará um desses atores que não aproveita todo o talento que tem. Sua capacidade de  improviso rápido visto em tantos outros espetáculos e mesmo nessa estréia, aind apode render e muito.
Quanto à Cléber Lorenzoni, (***) esse tem um tino muito bom para sua carreira, escolhendo muito perspicazmente as personagens que interpretará. Sua gata é simplesmente inigualável. E muito inteligente se faz sua inspiração no conhecido musical Cats. O jogo entre Gata e Cachorro é bem construído e ninguém percebe que um ator faz a personagem que é feminina. Não suporto atores que  embora interpretem papéis femininos, o façam pelo simples prazer de usar um "vestido", teatro é mais que desculpa para travestir-se. Ou também teatro é desculpa para o qualquer coisa. Mas Cléber Lorenzoni o faz com o respeito e a distinção que o público e os Deuses do teatro merecem. O elenco enfim é de bailarinos! Falta afinar um pouco a vóz e ouvir com calma a sonoplastia de Gabriela Varone (***) e não esquecer nunca desse jogo poderoso que os quatro possuem. Os Saltimbancos já é um dos melhores espetáculos do Máschara.



                                                 A Rainha.


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