1002/1003 Paixão de Cristo (tomos 06/07)

              Depois de dois dias assistindo A Paixão de Cristo, o menino entre o bem e o mal, tive a certeza de que trata-se de um espetáculo para o ar livre. A prova disso, foi a grandeza das atuações e o aproveitamento do público, a emoção e a potencialidade com que Crissiumal e Horizontina visualizaram o teatro. A cena é a união de voz, corpo, plástica, ritmo, luz, cor. Tudo formando uma semiótica que nos conta coisas que vão muito além do enredo, da mensagem, do instinto. Por isso repleta de energia, força, calor, espiritualidade, transcendência. 

            A Capacidade de improvisar os espaços revela a maturidade de Maldaner em cena (**)(***). Devi tem domínio do espetáculo como uma jovem aprendiz de direção, (**)(**) em 2023, merece um papel de maior relevância, embora esteja no caminho de direção.

            Heger é uma assistente de palco incrível, certamente subirá de Status no Máschara o mais depressa possível. Valoriza e muito o espaço de contrarregragem, faz escola(**)(***). Outra que faz escola é Raquel Arigony, Principalmente quando criou partituras lindas como a anciã na frente da igreja de Horizontina (**)(***), Sua possibilidade de evolução no palco tem a ver também com a generosidade para com os colegas.  Stalin Ciotti (**)(**) é um ator maravilhoso, criativo, lúcido. porém parece procurar um espaço solitário no palco, o que as vezes passa uma ideia de egoísmo cênico. Laura Hoover tem mordida em cena, uma força descomunal  (**)(***). Está linda em Salomé, mas acrescenta muito também como mulher de Jerusalém. 

                Eliani Aléssio (**)(**) alcança volumes incríveis, flutua pelo palco. O casal Herodes é praticamente um espetáculo a parte. E o fato de em todas as apresentações ter um número expressivo de pessoas se retirando nesse quadro, mostra, embora assuste, que o espetáculo chegou onde a direção pretendia. Uma cena cinematográfica. Romeu Waier (**)(**), Laura Hoover, Lorenzoni, Batista, as aias de Salomé, Prates, todos acrescentam uma atuação que se mistura com terror e elegância. Aliás, as aias de Salomé acataram ao pedido da direção e surpreenderam com um outro olhar na apresentação de quinta feira. Nicolas Miranda que já brilha como Judas, está inteiro, desafiador como eunuco (**)(***). Serquevitio é a atriz que Lorenzoni quer por perto, não faz um grande personagem, mas quando cai aos pés do Cristo, quando traz a bacia de Pilatos ou quando socorre Madalena aos pés da cruz, tem um comprometimento invejável (***)(***).

                    Acredito que as duas ultimas sessões tenham sido dos figurantes e baixos coadjuvantes, que apoiados pelo elenco principal, sentiram-se tranquilos, a vontade para criar. Maria Eduarda recebeu pequenas funções e entregou-se muitas vezes a uma linda emoção em cena, espero que a jovem siga pelos caminhos da arte (**)(**). 

                        Jesmar Peixoto (***)(**) tem se destacado, crescido, surpreendido, e de onde estou, parece que tem se divertido e muito. Assim como Marcel Prates, que não deixa a desejar em nada (**)(***), jogando e colaborando com tudo e todos. Henrique Lanes  as vezes parece inseguro, (***) (**) pode ter mas confiança, e cumpre uma figura linda em cena. Sua responsabilidade e a seriedade com que assumiu suas funções, foi louvável. Carol Guma (**)(***) que prazer ver uma atriz começar sua carreira, e que privilégio começar essa carreira com uma tournée. As vezes pode ser mais tranquila, mais aberta as possibilidades da direção. Mais confiante e principalmente, torçamos que um dia seja do Máschara. As crianças Anita Serquevitio (***)(**), Allana Ramos (**)(***), Biby Prates (***)(**), as três dispostas a construir, a trabalhar, a aprender arte, cada vez que entravam em cena, arrancavam suspiros do público. Aliás as vezes contracenar com crianças é injusto, elas sempre roubam a cena!

                          No quesito revelação, Pedro Henrique, alcança um espaço único, brilha com detalhes, fragmentos, corporeidade. Perfeito! (***)(***) - Eduardo Fernandes (**) também se destaca, mas precisa estudar, ler, observar(**), o teatro é uma longa caminhada, de muito trabalho e comprometimento. Leonardo Jorgelewicz é a cereja do bolo, não sei como foi no quesito equipe, mas em cena, ajudava, parecia mesmo guiar os colegas. Um arrojo (***)(**).

                             A contrarregragem, os membros desse corpo que se chama espetáculo e que é formado por cabeça/cerebro (direção), coração (ator principal) , outros tantos orgãos e finalmente membros, Vitoria Ramos (***) (**) e Ellen Faccin (**)(***). A primeira totalmente leal, preocupada, observadora e perspicácia pois carrega dentro de si a compreensão do palco que traz de sua carreira de bailarina. A segunda muito esforçada e capaz, Ellen apenas precisa agregar confiança, para não se desestabilizar. Deveria, acredito eu investir na carreira de chefe de palco. O pequeno príncipe Henrique Arigony (**)(**) ganha responsabilidades complexas para sua idade. Cumpre, preocupa-se, dedica-se. Leve sempre a humildade em primeiro lugar, ser bom ator é principalmente colocar os colegas à frente. Se um dia eu voltar aos palcos, quero ter a tranquilidade com que ele pisa no palco. 

                          Para encerrar, aplaudo em pé os anciãos. Pela dedicação, fazer teatro depois de uma certa altura da vida, dividir o palco com os jovens, auxiliá-los, compreender o choque de gerações. Ter energia para uma turnée. Sacrificar-se por tanto tempo pelo teatro do interior que é tão desrespeitado. Tudo isso acrescenta a eles um valor e em nós, plateia, uma gratidão de quem precisa que seu trabalho continue. Parabéns Cléber Lorenzoni, Dulce Jorge, Fabio Novello, Ricardo Fenner e Renato Casagrande. 

                               O melhor: A arte do teatro ao lado da fé.

                               O Pior: Atores com celular enquanto colegas estão em cena, quebrando assim a corrente, e por isso entrando estabanados, desarrumados, etc... A prepotência de alguns jovens que não aprenderam a ter a humildade de reconhecer seus erros e simplesmente ouvir em silencio os mais velhos. 

 

Arte é Vida



                                           A Rainha

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