O teatro é dividido em setores, cada setor precisa cumprir sua função com exímia perfeição para que o produto final, ou seja o espetáculo teatral alcance o sucesso almejado. De todas as artes, o teatro é talvez, a mais estreitamente condicionada pelo momento cultural que a produz. E quanto mais válida, mais condicionada e mais expressiva dos fatores condicionantes. Todo dramatista que procurou alcançar ideais literários arbitrários e escrever fora de seu tempo foi irressarcivelmente condenado ao esquecimento: todos os grandes nomes do teatro universal são, acima de tudo, produtos exatos do momento em que viveram. As grandes obras que sobrevivem através dos séculos adquiriram contemporaneidade diacrônica por meio de uma riqueza nascida do profundo conhecimento que o autor teve dos homens de sua época.
Lendas da Mui Leal Cidade agradou principalmente pela linguagem regionalista, uma apelo tão atual quando levada em conta a época de sua encenação, o aniversário do município, tema de suas tramas centrais.
Após o trabalho do ator é que vem as escolhas de figurinos, os cenários, a iluminação, a trilha. E ainda que hajam respectivamente, figurinista, cenógrafo, iluminador ou compositor, ainda assim, é a decisão do diretor que fala mais alto. E a propósito, que figurino mais lindo. Assinado por Renato Casagrande, a palheta de cores, o tom envelhecido. Um arrojo.
O ator Ricardo Fenner, que interpretava o Pe. Antonio, não o Sépe, pois esse era missionário que viveu muito antes de onde a historia se passa. O padre de Ricardo Fenner esteve muito bem em cena, mas pode aprofundar mais a personagem, como se porta um padre, um homem que vai de casa em casa, como é seu jeito de falar, possivelmente ele estudou na Alemanha, Itália ou Espanha. Nesse caso poderia ter um sotaque.
Dulce Jorge acrescenta a cena uma presença de atriz madura, uma força que o público aceita e admira. Adorei a cena de Dona Isaura com a família, mas senti falta de um jogo, jogo que nasce de improvisações, de ensaios, de comunicação na hora de criar um espetáculo.
Stalin Ciotti conseguiu se fazer ouvir na ultima apresentação com força e energia, o público precisa ouvir os atores. Laura Hoover também pareceu aprender a lição e faço juz que os dois compreendam que nós, publico vamos ao teatro para ouvi-los. De nada adianta expressões, gestos, emoções ou partituras se não os ouvimos.
As crianças cumpriram muito bem sua cena, e no grupo das protagonistas Lavínia Antonelli, se continuar na ESMATE, deve aperfeiçoar a comunicação com o público. A índia de Kauane Silva é marcante e forte em seu olhar, mas pode ser menos econômica nas próximas personagens.
A apresentação esteve muito nas mãos de Cléber Lorenzoni que encontrou também uma veia cômica em João Fernandes trazendo graça à cena e calma aos colegas de cena, sem perder o cerne da personagem.
Sem dúvida uma das melhores cenas foi a das carolas, criativa e extremamente expressionista em um espetáculo que passeia por várias linguagens. Ah como o teatro é divino, com a viagem que nos propõe. Eu chorei, chorei no domingo, na quinta, na sexta pela manhã e na sexta a tarde que soube de crianças que entregaram o dinheiro a professora e não foram assistir. Chorei ao ver que professoras, que deveriam dar exemplo, não quiseram pagar seu ingresso. Chorei quando percebi que o céu escuro da manhã abriu-se para que o espetáculo acontecesse. Chorei de orgulho, de pena, de esperança;
Obrigado Cléber Lorenzoni e Renato Casagrande por lutarem tanto pela continuidade do teatro em Cruz Alta.
A Rainha
Aplausos a interpretação de Cléber Lorenzoni, coerente, divertida e emocionante. Parabéns à Nicolas Miranda que esteve tão inteiro em cena. Parabéns à Maria Antonia Silveira Neto pela coragem em aceitar o humor. Parabéns a Renato Casagrande pelo lindo figurino.