999-Paixão De Cristo/ Rodeio Bonito (tomo 3)

 

Grandes Iniciativas

                         Durante muito tempo, a peripécia de Jesus Cristo foi contada de pai para filho, ou ensinada nas catacumbas de Roma. Os Cristãos demoraram muito tempo para realmente conhecer a historia de sua como um todo, principalmente devido a forma como as missas eram realizadas, em latim, e havia ainda a falta de bíblias em linguagem vernácula.

                          Foi somente e graças a idade das trevas, quando monges e abades começaram a realizar encenações catequizadoras, que o conhecimento passou a ser liberado, a sair dos templos e invadir os vilarejos. Buscava-se sempre, antes disso, o mistério.

                         Há paralelo a isso, um outro mistério. O mistério do teatro. Uma aura de energia, de postulados, e dogmas que os seres do palco carregam e somam às suas tradições. Palavras como: merda, galharufa, elan; figuras como: Deuses, musas, Bacco, passeiam por historias e situações que são passadas de gerações a gerações de atores. Então me peguei pensando: Quantas historias, divertidas, inusitadas, tristes, de sacrifícios e vitórias, serão contadas por esses atores.  Sobre palcos improvisados, sobre tombos, sobre secretários de cultura que pouco ou nada se importam com o artista. Nessa turnê, há uma família inteira atuando, bebês, gente que fazia teatro há muito tempo, gente que está passando a semana longe de casa, gente que nunca fez teatro. Gente generosa que está abrindo sua casa para colegas. Artistas que atuam com garra, que esquecem problemas e os transformam em soluções.

                             Há é claro as situações sem soluções, como os grandes ginásios, com eco e ruídos complexos de se solucionar durante o espetáculo. Há colegas que extrapolam no exibicionismo e colocam em risco o todo. Há colegas que cansam rapidamente, e que não sabem disfarçar em cena. Há os que descontam seus fracassos nos que os cercam.

                              Hoje o maior desafio foi o palco de Rodeio Bonito, meio arena, meio tudo e meio nada. Não aprecio rótulos, mas eles ajudam, as vezes na compreensão das regras do jogo. As regras nesse domingo, foram: “simplesmente atuem”. Atuem com a energia e presença que vocês aprenderam a propor em seus corpos e em suas cenas. Adaptem-se ao espaço.

                              Dito isso grandes destaques de atuação surgiram, e hoje Laura Heger nos mostrou por que cresce como interprete a cada dia. Douglas Maldaner também se destacou, seja pela força, pelas intenções ou pela triangulação. A forma como atores como Antonia Serquevittio, Laura Heger, Clara Devi, Renato Casagrande e outros ainda, conseguem atuar e ainda ser contrarregras do espetáculo, é uma aula, senão de generosidade, de concentração e dedicação ao teatro e ao Máschara.

                              De onde eu estava sentada, não consegui visualizar algumas interpretações, apenas as costas de alguns atores, e se essas estivessem ligadas teriam cumprido, mas não estavam. A cena da ceia não foi visível o suficiente, pois além de estar muito para dentro do palco, os atores fecharam muito a meia lua, escondendo o Cristo.

                               A descida de Cléber Lorenzoni da cruz, quase foi um fracasso e a forma como as atrizes se colocaram sobre o palco para a exposição das faixas não ficou apoteótica, nem mesmo cerimoniosa o suficiente. É preciso abrir os tecidos, com  uma plena conexão, emoção, corpo e ambiente ao redor. A marcha final soou longa demais, e a cena do Consul foi muito confusa. O fato de Renato Casagrande adentrar a cena sem capa não atrapalha em nada, viemos em busca do psicofísico e não da perfumaria, essa ao menos foi a aula que ficou para mim ao estudar Grotowski. O jogo entre Carol Guma e Casagrande está aumentando e ficando muito interessante. A atriz deve aprender a cair, correr pelo palco, etc...

                           Vitoria Ramos e Ellen Faccin se esforçaram em criar climas e isso é bom, no entanto as vezes menos é mais. Henrique Lanes compõe muito bem, mas precisa de mais força, gana em cena. Vou elogiar a clã dos Herodes, mas preciso dizer que atuar com fluxo de explosão constante se torna fácil desde que haja atores razoavelmente preparados, mas atuar na sutileza, no sub ritmo, na contenção continua... São tarefas nada fáceis.

                            Fabio Novello esteve muito bem, embora a dublagem mereça cuidados. Maria Eduarda e Eduardo Fernandes tem melhorado muito nisso. E esse é o momento de fazer escola, de aprender observando colegas mais antigos. Leonardo Dias também agrega com uma composição muito interessante, um ritmo interno gracioso e potente.

                           Foi uma apresentação difícil, mas que ensinou muito. Lembremo-nos, teatro é equipe. E as plateias não tem culpa de  não terem as ruínas bonitas de São Miguel das Missões para oferecer.

                               O Melhor: A interpretação sutil de Cléber Lorenzoni, Laura Heger, Leonardo Dias, Henrique Arigony.

                               O Pior: A movimentação desnecessária de alguns atores que iam e vinham tentando vencer o ginásio, esquecendo que quanto mais se movimenta mais se enfraquece nesse tipo de espetáculo.

 

 

 

Rodeio Bonito-Aniversario do Município

Douglas Maldaner (***)

Clara Devi (**)

Laura Heger (***)

Raquel Arigony (**)

Stalin Ciotti (*)

Laura Hoover (**)

Eliani Aléssio (***)

Jesmar Peixoto (***)

Romeu Waier (**)

Marcel Prates (**)

Henrique Lanes (*)

Carol Guma (**)

Jesmar Peixoto (***)

Pedro Henrique (**)

Eduardo Fernandes (**)

Maria Eduarda (***)

Leonardo Jorgelewicz (**)

Nicolas Miranda (**)

Biby Prates (**)

Anita Coelho (**)

Antonia Serquevittio (**)

Elle Faccin (**)

Vitoria Ramos (**)

Allana Ramos (**)

 

Arte é Vida

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