998- O menino entre o bem e o mal (tomo 02)

 

Uma constelação de grandes estrelas...

                    Ao olhar para a noite de Sepé Tiarajú, não vi muitas estrelas, mas via  a lua lá embaixo, e o esplendor de uma das grandes maravilhas da humanidade. Erguida a mais de trezentos anos, São Miguel Arcanjo parece teimar em sobreviver. E parodiando Erico, nosso escritor maior, eu diria que nem O Tempo e nem o vento dissiparão a grandeza do que foram os sete povos das missões. Mas quem decide isso? Nós, os atuais donos da terra!

                     Já estive várias vezes na região Missioneira e confesso que meu lugar preferido é o santuário de Caaró. Já assisti também, diversas vezes “som e luz”, mas nunca havia visto dentro do Sítio Arqueológico, algo parecido com o que vi na redução neste fim de semana. Cheguei cedo, orgulhosa que estava para ver meus atores preferidos, e vi rapidamente o espaço ser preenchido por centenas de cadeiras.

                     Emocionei-me, havia três espetáculos acontecendo simultaneamente. O interpretado pelo elenco, que se esparramou pelo terreno acidentado, provando que não há obstáculos que detenham a equipe do Máschara. Outro, que se tratava da imensa construção silenciosa, rodeada pela imensidão. E o terceiro, o som, que fez a passarada voar assustada pelos corredores de árvores e que banhou cada espaço de um texto bem escrito e carregado de passagens tão importantes aos valores cristãos.

                      A iluminação infelizmente foi fraca, e o que poderia ser realçado pela mesma, pareceu precário, talvez por questão de contenção de gastos. Como o teatro é vida, e a vida é mutável, nessa incursão foi a cena de Herodes e a crucificação que ficaram realçadas, valorizadas em palco mais próximo ao público.

                      O casal Herodes e Salomé estiveram intensos e quase assustadores e a violência tão crível que a plateia deve ter ido para casa pensando que Cléber Lorenzoni estivesse realmente machucado. O interprete de Herodes pode tomar mais cuidado para não perder momentos importantes das ações dubladas. Aliás é muito importante que toda a equipe trabalhe com a voz de diafragma, que é clara e intensa.

                      A palheta de cores, casou com perfeição com as tonalidades do cenário, destacando como era de se esperar, algumas personagens. Judas por exemplo, que é o joio caído entre o trigo... Jesus, que tocado por Satã, traz um detalhe em vermelho durante todo o espetáculo.

                       Preciso elogiar aqueles atores que interpretam mais de uma personagem ou tipo, em um espetáculo com tantas complexidades e que muda e adapta-se a cada apresentação, eles acabam tendo um trabalho cercado de maior tensão e exigência. Ricardo Fenner e Jesmar Peixoto por exemplo, em questão de uma cena ou duas, vão de José e Tomé ä Nicodemos e Arimatéia , e brilham no grupo daqueles que pretendem matar Jesus.

                       Renato Casagrande por exemplo chega a fazer dois personagens e um tipo e brilha como Pilatos ao lado da Madalena de Guma. O jogo, a densidade, a triangulação estão ótimas e há uma energia física que muito aprecio. Guma, claro, pode trabalhar mais as quedas, as corridas, o tônus.

                        Cléber Lorenzoni embrenhou-se pelo mundo da dramaturgia em 2006, quando ao lado de Dulce Jorge, criou o texto de Esconderijos do Tempo. Mas sempre acrescentou suas insinuações textuais e adaptações a textos que talvez ao seu olhar precisassem de maior ênfase dada a criação de mundo que ele propõe. Ao contrário das versões anteriores, Cléber Lorenzoni começa o texto com Jesus ainda criança e Henrique Arigony me emociona, tamanha sua leveza e tranquilidade. Não gosto de crianças em cena, mas preciso elogiar o comprometimento de Anita, Allana, Bibi e Maria Eduarda com o palco. São a geração do amanhã, “cuidai-os, protegei-os, tenhais paciência com eles, já fomos todos crianças...

                               Todos podemos ser atores, já que arte é a imitação da vida e a vida nos é cara conhecida. Me toca, a forma como não atores conseguem rapidamente se entregar e portanto produzir, Marcel Prates é de uma humildade e possibilidade incríveis. Jesmar Peixoto consegue planar pelas cenas como se há muito tempo fosse um interprete. Parabéns!

                               Em alguns momentos me preocupei devido as distancias que os atores teriam que percorrer, o que acrescentaria lentidão ao espetáculo, mas atores e não atores se esmeraram e enfrentaram diversos obstáculos. Parabéns também a adaptação do cortejo fúnebre que se tornou muito mais fluído.

                                Foi enfim a primeira de uma semana extenuante que precisará de calma e paciência. Além de muito trabalho.

 

                                     O melhor: A intensidade na prisão de Cristo, com o jogo entre todos os atores em cena. Destaque para Stalin Ciotti, Nicolas Miranda, Antonia Serquevittio e Marcel Prates. O apoio de Marli Guma, ex atriz, que agora colabora com a contrarregragem.

                                    O Pior: Alianças, anéis, brincos, colares... Atrasos e falta de estrutura oferecida aos atores. (Camarins, água, iluminação, etc...)

                          

                              

A Paixão de Cristo, O menino entre o bem e o mal. – Sítio Arqueológico, São Miguel Arcanjo

Aos Anciäos Dulce Jorge, Cleber Lorenzoni, Fabio Novello, Ricardo Fenner, Renato Casagrande, PARABENS

Clara Devi (**)

Raquel Arigony (***)

Antonia Serquevittio (*)

Marcel Prattes (***)

Jesmar Peixoto (***)

Romeu Waier (**)

Vitoria Ramos (**)

Ellen Faccin (**)

Laura Heger (**)

Laura Hoover (**)

Eliane Alessio (**)

Eduardo Fernandes (*)Pelo atraso

Pedro Henrique (***)

Stalin Ciotti (***)

Carol Guma (**)

Nicolas Miranda (***)

Henrique Lanes (**)

Anita Coelho (***)

Allana Ramos(**)

BibY Prates (**)

Maria Eduarda (***)

Henrique Arigony (***)

Leonardo Jorgelewicz (**)

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