A telefonista Shirley Terezinha, leitora assídua da revista Grande Hotel (kelem Padilha), Uma das ambiciosas herdeiras Campolargo (Lilian Kempfer), Dona Quitéria Campolargo morta de infarto no miocárdio (Dulce Jorge), o pianista Menandro Olinda, que cortou as veias dos pulsos, uma das mais incríveis criações de Erico Verissimo (Cléber Lorenzoni), O Advogado Cícero Branco, traído pela esposa, corno póstumo, lider do bando (Alexandre Dill), O sapateiro espanhol José Ruiz vulgo Barcelona, que morreu de ruptura de aneurisma (Rafael Aranha), O esquerdista João Paz, preso injustamente e morto sob tortura (Gelton Quadros), Rita Paz, a esposa grávida de João, que também foi vítima de tortura (Miriam Kempfer), O Coronel Tibério Vacariano, um dos líderes Antarenses, inimigo número um dos sete mortos (Ricardo Fenner), A Prostituta Erotildes da Conceição, morta de tuberculose (Lauanda Varone), e Pudim de Cachaça, o beberrão mais famoso de Antares, envenenado pela esposa (Cristiano Albuquerque).
sexta-feira, 30 de abril de 2010
O Artista do palco se expõe ao vivo, ao passo que os outros artistas não precisam estar presentes quando "desnudados" pelo público, quando suas fragilidades são expostas por meio de suas obras.
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Textos técnicos
Diário de Bordo IX - A Maldição do Vale Negro em Horizontina 29/04/2010
O teatro é feito pelos atores e o público, juntos eles promovem o espetáculo. Os atores com sua interpretação, o público com sua compreensão e resposta à narrativa. Quando um espetáculo começa, o público leva uns dez minutos para fazer a codificação do que está prestes a assistir. Se será um drama ou uma comédia; se será nonsense ou realista; se os atores falarão normalmente ou se a comunicação se dará por gramelô; enfim, quando o intérprete de Rosalinda adentra o palco, o público mais conservador leva um susto - é um espetáculo de "travestis"? Somente quando Gabriel Wink, intérprete de Ágatha entra em cena vestido de Rafael D'Alançon, é que a assistência respira aliviada - "muito bem, eles farão vários papéis..." Mas A Maldição do Vale Negro é também um espetáculo de travestis sim, é a resposta ao conservadorismo fajuto de muitas platéias. O Teatro não tem lugar para o preconceito, para o racismo, e outras formas de intolerância, ele é o ambiente da diversidade, tanto de idéias, quanto de tipos. Os atores sobre o palco falam antes de tudo de tolerância e de respeito.
O Centro Cultural de Horizontina estava abarrotado, platéia de todas as idades, alguns velhos conhecidos, o Máschara já estivera ali em 2008 com Esconderijos do Tempo; e o espetáculo aconteceu, chocando alguns, divertindo outros, exatamente como deve ser, uma peça de teatro não foi feita apenas para agradar, ela precisa antes de tudo despertar pontos de vista. O aplauso foi caloroso, gentil, deixando os atores atraídos para mais uma incursão. Horizontina faz parte agora daquele seleto grupo de cidades que possuem um bom espaço e um bom público. Claro que grandes Cias. dificilmente se apresentariam ali, hoje em dia as trupes das grandes cidades só se motivam a fazer seus espetáculos em grandes teatros, abarrotados de material técnico e centenas de refletores. Contudo eles perdem um público ansioso por teatro, por arte, por novidades. Um público carente de uma das mais antigas artes da humanidade.

Mas o fim da noite chegou, e mais uma vez o cenário foi desmontado, a sprinter carregada, e o teatro seguiu para outras paragens. Em busca de outros públicos, de outros teatros, de outras historias. Essa é a vida dos artistas... Penosa, árdua, cheia de altos e baixos.
O homem que aceita tais condições não pode ser comum, não pode ser como os outros. Dar tanto e receber tão pouco em troca... Na falta de outra coisa há o aplauso, é claro. Como ondas de amor que nos invadem dos pés a cabeça...
"Anne Baxter em A Malvada"
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quinta-feira, 29 de abril de 2010
quarta-feira, 28 de abril de 2010
A Rainha das Rainhas sob ótica de Mario Quintana
A Rainha das rainhas, no altar tem um ar tão bom e paciente...
Alessandra Souza como a Rainha das rainhas
terça-feira, 27 de abril de 2010
segunda-feira, 26 de abril de 2010
domingo, 25 de abril de 2010
Diário de Bordo IX - Esconderijos do Tempo em Ijuí
Mas veio um vento de desesperança...
O que pode o ator sobre o palco durante um espetáculo? Alguém dirá, pode tudo, se for bom ator, terá domínio da cena, terá gana e vigor; sua voz potente se estenderá até a ultima fileira do teatro, seu trabalho corporal será polivalente; Sua compreensão do texto será verdadeira, será senhor do ato. Mas que pode um ator em cena, se tudo ao seu redor é caos?

E em um instante a “moral” da apresentação ficou muito clara... Era desafiá-los. Baco, ao lado de Thalía e Melpômene, ria-se no Olímpo, esperando seu melhor.

A Rainha.
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sábado, 24 de abril de 2010
Diário de Bordo VIII - Lili Inventa o Mundo em Três de Maio
Quantas crianças ficam embasbacadas pelos palhaços, pelo artista, pelas formas e cores da arte. Quantos meninos gostariam de ser bailarinos, mas não podem por convenções prosaicas de seus pais. Quantas jovens gostariam de ser atrizes, mas se aquetam em seus deveres de esposas e mães. Quantos jovens talentosos músicos, abriram mão de suas ideologias e se frustraram em suas profissões rentosas... Quantas donas de casas assistem televisão nostalgicamente lembrando de quando sonhavam em brilhar, não sob o aplauso, mas sobre a arte em si mesmas...
Hoje fiquei “só analisando” o elenco de Lili Inventa o Mundo, o público infantil e o público de professores. E “me desliguei”. Havia no olhas dos “pimpolhos”, um brilho, uma melodiosa confusão entre, o que viam e o que pensavam. Havia pontos de interrogação no ar.
A arte é realmente mágica... Uma cortina, alguns atores maquiados e faz-se todo um universo, de sonho, de magia.
Mas o que queriam todas aquelas pessoas¿

Uma vida não é apenas para ser vivida, ela precisa ser sonhada. Mas de que adianta sonhar se os que estão a nossa volta não nos permitem...
Hoje fez-se a luz. Sob o palco, gana, ritmo, cadencia motora, musicalidade... Som e Fúria e o silêncio.
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quinta-feira, 22 de abril de 2010
quinta-feira, 15 de abril de 2010
quarta-feira, 14 de abril de 2010
terça-feira, 13 de abril de 2010
Diário de Bordo VI - A Maldição do Vale Negro em Itaqui
"Se eu fosse poeta, afirmaria que o segredo da origem do teatro nos é revelado pelo fogo em torno do qual se forma o círculo silencioso da comunidade familiar. Nem todo o teatro está aí, mas a sua armadilha irresistível aí se mostra: o prestígio do ato. Esta chama que dança sem cessar, este ato puro, gratuito, sem fim reconhecível, basta para reter e cativar a atenção da criança, do homem e do velho. Um jogo colorido, misterioso e sempre em constante mutação: nada mais é preciso para que fiquemos fascinados. Eis-nos ao redor da cena do fogo, retendo a respiração, aproximando nossas poltronas, umas das outras, na obscuridade mágica e fraternal."
Pierre-Aimé Touchard
O Milagre chamado Teatro...
Parada no centro do palco, com a imponência do teatro melodramático do fim do século XIX, a jovem Rosalinda era observada pelo olhar atento de quase 500 pessoas. Os camarotes jaziam abarrotados, o público não dava um pio, queria ouvir cada gag das personagens, cada palavra de seu precioso texto escrito por Caio Fernando Abreu. O silêncio era cortado apenas pela voz potente dos três atores em cena, e pelas constantes gargalhadas de uma platéia muito satisfeita com o que via.
Mas essa platéia não fazía idéia do quão difícil fora chegar até alí. Há menos de 24 horas antes, um diretor sempre preocupado em fazer o melhor sobre o palco, inquiria os atores quanto a desistir da apresentação. Sim, o teatro é feito por pessoas, para pessoas. E havia sobre o palco do teatro Prezewodowski, no sábado à noite, oito pessoas decididas a fazer o melhor, ainda que pela última vez.
Na arte não há certo e errado, mas há o bom senso. Existem textos que foram escritos com finalidas, textos que tinham sentido e não tem mais, e ainda textos que tornaram-se clássicos por que seu apelo se presta há qualquer época. O sonho de montar A Maldição do Vale Negro, acompanha o grupo Máschara há mais de dez anos, e somente agora com Ricardo Fenner, Cléber Lorenzoni e Gabriel Wink se pode concretizar.O Jogo em cena é brilhante, a versatilidade corporal que muitos pensam ter vindo da dança vem na verdade dos ensaios exaustivos e contínuos do grupo.
mas quem pensa que o espetáculo nasceu unicamente da vontade fazer comédia está enganado. Dar ao público a possibilidade do rkiso é algo que qualquer um pode fazer. Há no Máschara uma nescessidade de desafio, de buscar mais fundo linguagens novas, técnicas e desdobramentos que somente com muito esforço pode dar certo.
A Farsa, o Besteirol, a chanchada, e o melodrama em cena, vem de anos de pesquisa, de disposição a essa arte encantadora. Vem da imaginação de Cléber Lorenzoni, da direção de atores feita por Dulce Jorge e ainda da assistência de Angelica Ertel. Enfim, um novo brilhante espetáculo para rodar os palcos levando o que há de melhor em comédia.
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Itaqui
segunda-feira, 12 de abril de 2010
Festival de Itaqui
As Areias do Tempo
Em Itaqui, ao parar em frente ao teatro Prezewodowski , você tem a nítida impressão de que voltou no tempo, de que está no inicio do século XX. Que damas vão descer de seus coches ornadas de jóias e vão adentrar pelo tapete vermelho em direção aos camarotes imperiais do teatro. As cortinas de veludo, o lustre, as galerias, tudo evoca o tempo que incansavelmente vai passando levando com ele o melhor de cada época.
Dos três dias de festival participei de dois, e assisti há quatro espetáculos: Surrealice, Olhos mortos de sono, O galo Tião e a Dinda raposa, e Ir rita ação. E apesar da pouca idade da maioria dos intérpretes, ví sobre o palco, o tempo. Sim o relójio surreal marcava lentamente que aquele momento mágico da arte também passaria, a arte-cênica tem carater momentâneo, o que se vê hoje em cena, talvez não seja visto nunca mais, e não há como guardar nem mesmo com a tecnologia, os preciosos momentos de uma interpretação sobre o palco.
O texto de Charles Lutwidge Dodgson escrito na era Vitoriana fala de uma menina que não compreende o mundo dos adultos, já que esses mais parecem malucos tomando chá o tempo inteiro e falando de uma rainha autoritária, me faziam pensar no tempo, na diferença da infancia e da idade adulta, do choque que lentamente vamos tendo ao percebermos que fazemos agora parte dos convidados do chá. Que perdemos a graça das crianças para nos tornarmos malucos perante elas. A criada que não consegue suportar as reclamações e atribulações acentuadas pelo choro de uma criança que não a deixa dormir dia após dia, cansaço a cansaço, tempo a tempo... Mesmo a paixão que sempre começa tão maravilhosa e vai se perdendo pelo tempo como com o casal de ir rita ação, ou a mudança de valores surpreendente de um mundo onde a tolerância entre as diferenças desponta por todos os lados como entre a rapoza e a familia galinácea.
O Tempo enfim estava ali presente, as evoluções, a arte. O velho ator que conduz a sua bengala, o jovem ator que surpreende a todos com seu talento, o ator que ve depois de vinte anos vê seu papel sendo reinventado, a atriz que vense barreiras para continuar levando teatro as crianças, os amigos de anos que vão se reencontrando a cada ano nos festivais, ou um mestre que é superado por seu aluno. Assim se mostra a arte, e apesar de ouvir no dia da premiação constantemente a frase: "Está chegando a hora mais esperada", ouso dizer que no dia do galardoamento, a hora esperada já havia passado, fora durante cada abrir de cortinas, foi por isso que este libelo ao teatro aconteceu, para valorizar, apresentar cada obra criada em cada canto do estado.
Foi para que mais gente visse e ajudasse a manter imortal aquele momento do tempo, o momento do teatro.
A Rainha
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quarta-feira, 7 de abril de 2010
O Elenco de Bodas de Sangue
Ricardo Fenner, Marcele Franco, Angelica Ertel, Gabriel Wink, Dulce Jorge, Gelton Quadros, Tatiana Quadros, Cléber Lorenzoni e Kelem Padilha
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Fotos de Espetáculos
segunda-feira, 5 de abril de 2010
Diário de Bordo V - O Castelo Encantado em Capão da Canoa
Pontes que sobem e descem...
O Teatro é absurdamente magnífico, já que é a arte do momento, já que nos surpreende a todo o instante. O que eu vejo hoje, ninguém mais verá amanhã, no outro dia, haverá sobre o palco, outro espetáculo, outras cenas, outras micro-ações, salvo quando os atores são papagaios robóticos que repetem tudo igual dia após dia.
A colcha de retalhos de O Castelo Encantado extende-se pela narrativa até os figurinos, delicadamente desenhados por Dulce Jorge. Os versáteis atores, transforman-se rapidamente apenas com o auxílio de uma cortininha, e de dentro da "carroça" da trupe, saltam porquinhos, elefante, ursinhos, crianças medonhas e uma infinidade de tipos de existência curta que formam a historia da visita de Rosa Maria ao Castelo Encantado.
O espetáculo propõe a viagem de uma menina depois que ela começa a ler um livro, ela se perde no mundo encantado da leitura, das historias infantis e aos poucos vai encontrando várias figuras que povoam a obra infantil de Erico Verissimo.
Hoje eu vi jogo, os atores foram rápidos e tudo parecia colaborar para um melhor entendimento da cena.
Gabriel Wink parece ter encontrado seu lugar e me surpreendeu diferenciando muito bem cada um dos seus quatro personagens. Renato Casagrande começa a estar presente em cena como um ator profissional e Angelica Ertel soube nos apresentar uma coesa Rosa Maria, tão sutilmente diferente de sua personagen infantil anterior.
O Castelo Encantado é um espetáculo delicioso e se seguir pelo caminho que vi hoje se tornará rapidamente um espetáculo inperdível como Lili Inventa o Mundo.
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domingo, 4 de abril de 2010
Diário de Bordo IV - O Incidente em Capão da Canoa
Palco Vazio
Ainda na marcha dos mortos sobre Capão da Canoa, enquanto o público ia abrindo o corredor humano para dar passagem aos sete atores do Máschara, eu ví o palco. E o palco era frio, nele não subiriam os mortos de O Incidente. Nele não estaría o Barcelona cabeludo de botas marrons interpretado por Rafael Aranha; Nele não estaria o Pudim de Cachaça de Barba preta cerrada e dedos atrofiados de Cristiano Albuquerque; Nem o coronel baixinho com timbre quase certanejo criado por Ezequiel Mattos; ou a Erotildes de longos cabelos soltos composta por Lauanda Varone; a interpretação magistral de Cícero por Alexandre Dill; ou ainda as mãos de Cléber Lorenzoni dedilhando um piano imaginário pelo ar em Menandro Olinda.
Que a vida é passageira, que as coisas acontecem depressa demais, e que nada dura para sempre... Isso eu já havia aprendido. Mas precisei me perguntar o que estava fazendo ali se meus companheiros de jornada haviam me abandonado. Como então dar vida, chocar, causar espanto, se só me restavam Dulce Jorge e Gelton Quadros, e arriscaria dizer apenas a Dona Quitéria de 2005. O Teatro é uma arte que se renova a cada encenação, a cada abertura de cortinas. Mas a renovação não pode perder sua linha objetiva.
Quando um ator substitui um intérprete, precisa compreender muito bem a narrativa em que está embarcando... Precisa saber os objetivos de tal montagem, compreender que faz parte de uma engrenagem que deverá estar afiada. Ou estará apenas fazendo a encenação de uma interpretação e isso cheira a cópia e cópia meus queridos, é um dos fantasmas malévolos do teatro.
O público aplaude meu melhor e ovaciona com a mesma admiração meu fracasso...
Nesse dia não tenho certeza do que foi aplaudido... Ora eu sei, foi o novo, o diferente, foi a morte, a viceralidade da cena, o medo do desconhecido, a sagacidade de Erico Verissimo, foram mil coisas... Mas o ator em cena precisa correr em busca da certeza única de que o aplauzo vem pela sua performance.
O verdadeiro ator é como um profeta que recebe um chamado... E ele levanta e vai, não se sabe ao certo fazer o que, ele procura um motivo, as vezes usa como pretexto seu cachê, as vezes sua carencia que corre em busca do aplauso de uma platéia desconhecida, a admiração pelo trabalho de sua equipe, a praia, a festa, o prazer... Mas afinal por que ele vai?
No palco ocorre um frenesí, uma vertigem de emoções e sensações que felizmente alguns jamais sentirão. No palco existe um mundo paralelo, repleto de convenções, de signos, de macetes que somente os atores conhecem, de códigos que passam de um para o outro, de microgestos, de olhares que os interpretes cruzam ali, aos olhos da platéia, mas ele, inebriada pela encenação não percebe... Esses códigos são chamados de "jogo". E não há bola ou tabuleiro mais excitante que tal jogo. É uma disputa, quase sempre honesta, pela atenção da assistência, pela sua emoção, pelo seu apláuso.
Naquele palco as 20 horas do dia 31 de março, eu reconheci muito pouco desses códigos. E um deles nem mesmo estava no palco comigo, estava sentado junto ao público. De resto eu ví atores robóticos fechados em sí mesmos, eu ví atores a espera de deixas, eu ví atores preocupados em acertar coisas que eles nem sequer tinham compreensão,eu ví atores que poderiam depois de tantas tentativas acertar a emoção de uma frase, eu ví interpretações enfadonhas e arrastadas, eu ví confusão de reações. Eu ví um novo Incidente. E como eu disse, do outro só restou Dona Quitéria Campolargo.
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sábado, 3 de abril de 2010
Diário de Bordo III - O Castelo Encantado em Capão da Canoa
Torre de Babel
"E Ninrode decidiu construir uma torre tão alta que chegasse aos céus. Mas o senhor se enfureceu e fez com que cada homem falasse uma lingua diferente..." Mas se os homens tivesses se olhado nos olhos e por algum momento a corrente chamada jogo tivesse se estabelecido, Babilônia não teria sido um dilema.
E a confusão foi avassaladora. Havia microfones, mas eles estavam assonoros, havia cenário mas ele não se movimentava, havia adereços, mas não estavam coesos; havia sonoridade, mas faltava musicalidade; Nesse dia não estou certa de que houvessem atores, faltavam com certeza personagens e todos se movimentavam quais baratas zonzas.
Da beira do palco o que se percebia era a falta extrema de ensaios, e todo o bom ator sabe que o lugar do teatro é o ensaio, que é lá na concentração diária, na repetição metódica que nasce a beleza que será depois mostrada no palco.
O Remake de O Castelo Encantado fala da obra infantil de Erico Verissimo, e há algo de mágico em cada personagem, em cada cena... Mérito da direção do Máschara, que sempre agrega muita emoção e sensibilidade aos seus espetáculos. No entanto, a ação deste dia era afoita, ríspida, imediativa demais. Se alguem tinha medo de comparar O Castelo Encantado à Lili Inventa o Mundo, pode ficar descançado, os "palhacinhos" de Lili Inventa o Mundo povoam espaço bem distante No imaginário das crianças.
Mas estréias são cheias de perscalços, o que me assusta é ver que há crianças na cena. Aliás a "belle époque" povoa demais o Grupo Máschara atualmente. O que deve ser buscado nos ensaios é o amadurecimento. O saber ouvir, o retrucar menos, o deixar-se tocar pela sutileza e delicadeza dos integrantes mais antigos. Teatro é uma sabedoria que vem com o tempo.
Teatro, como a dança e outras expressões que formam as Artes Cênicas, é a arte do corpo. Da psicomotricidade, da versatilidade dos músculos.
O Teatro está em todo nosso corpo, está onde passa nosso alimento, nosso prazer, nossa dor e nossos dejetos. Será por isso que teimamos que ele deve ser sentido em todo o corpo?
Teatro é uma fogueira que queima por dentro, teatro é a gangrena humana...
Mas se não compreendemos nosso corpo, se não temos controle sobre o que sai dele para esparramar-se pelos figurinos e pelo palco, então como dominaremos a cena e o público?
Para a intérprete de "Rafael", existe algo chamado convenção, e essa convenção deveria estar presente no epílogo...
Para o intérprete de "Fernando", quando Stanislavski criou a quarta parede, imaginou que os atores fossem respeitá-la.
Para os atores mais antigos, atuar não é apenas queimar no centro do palco em sua furia, cheios de seu talento, mas ser generosos com os jovens atores.
Enfim, em Babilônia as pessoas falavam todas ao mesmo tempo, gesticulavam confusas, gritavam tentando se fazer compreender em uma cena absurdamente digna de uma farsa. Mas não havia graça, havia o desespero da perda de contato. O medo da estagnação. De ser uma ilha...
E vocês, sentem esse medo?
A Rainha
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