1000-1001 Paixão de Cristo (tomos 4 e 5)

 

                        Assistindo o teatro do Máschara, sempre fico muito curiosa sobre de onde vem os roteiros, o processo dramatúrgico, a adaptação das obras... O texto de A Paixão de Cristo, me atrai e muito. Foi a partir de 2018 que comecei a me ater no fato de que havia algumas possibilidades,  raciocínios interessantes e pontuais que deveriam ser levados em conta. No texto dessa turnê, por exemplo, há uma passagem que diz: “Todo o Cristão deve...”, sendo que o termo Cristianismo surgiu apenas muito depois que Jesus morreu na Cruz. Já que o termo é exatamente para se referir àquele que sofre. Será que é por isso que Carol Christ Guma foi escolhida para ser Madalena? Mistérios... Bem ao estilo Máschara de fazer teatro. Cléber Lorenzoni faz uso desses mistérios, dessas entruncadas palavras, para alcançar os  seus objetivos na direção.

                           Mas engana-se quem pensa que a arte de dirigir é fácil. Há três momentos na vida dos atores. O inicio, principiante e desajeitado, curioso e disposto dentro da humildade. O nível médio, de quem dá os primeiros passos e já domina muitas coisas, que já consegue solucionar-se, e finalmente, aquele que praticamente não precisa mais de diretor, pois considera-se pronto, e que com dificuldade se submete às decisões de outros.

                          Nas apresentações de Campos Borges/RS e Ibirubá/RS, o palco foi quase organizado como espaço italiano, ou uma de suas versões. A meu gosto esse espetáculo adapta-se mais ao formato arena. Em Campos Borges, o palco central referiu-se aos blocos mais importantes do espetáculo: Última Ceia e Prisão. Em Ibirubá o diretor preferiu posicionar a ceia a esquerda do palco. Essa última foi para mim a mais funcional, embora tenhamos tido algumas situações complexa que surgiram daí. Henrique Arigony por exemplo conseguiu enganar a plateia e sumir perante o público enquanto Cléber Lorenzoni assumia seu lugar. No entanto ninguém auxiliou o menino e ele atravessou a passos lentos o palco inteiro, sozinho e chamando toda a atenção paras si em um tempo agoniante em que eu quase sai de onde estava, para socorrê-lo.

                           Em Campos Borges, a delicadeza de muitas cenas, oferece a esse tomo o mérito de melhor apresentação da turnê, com direito a beijo em Madalena e lutas corporais entre romanos e mulheres de Jerusalém. Aliás, Eliani e Laura Hoover, estão maravilhosas na cena das chorosas, mas precisam ficar mais ao fundo do palco. Por mais que Salomé e Heródia se convertessem, acredito que não se colocariam na linha de frente, a ponto de serem vistas pelos soldados. Embora claro, mulheres como aquelas possivelmente ao se converter não seriam das que ficam no fundo de fileiras. Mas aqui falamos de limites plausíveis aos olhos da plateia.

                             O beijo de Pilatos e Madalena é interessante, mas a meu ver possibilita um outro aspecto ao espetáculo. O casal Herodes está muito bem em cena, mas dentro do espaço fechado sua gravação é penosa de ouvir. Clara Devi, assim como Eduardo Fernandes, ainda que em lugares muito distintas, vem se destacando muito. Dulce Jorge também evolui a passos largos. Laura Heger é uma façanha, consegue ser uma boa contrarregra e atuar magnificamente. Sempre mantendo a humildade de quem sabe que tudo é passageiro.

                              Stalin Ciotti, Renato Casagrande e Fabio Novello, são grandes atores, mas precisam tomar cuidado, não se trata apenas de um espetáculo de teatro. E um espetáculo de cunho religioso. Se tentarem fazer dele o trabalho de suas vidas, podem estragar tudo.

                              A corte de Herodes, sempre magnifica, ficou prejudicada pelo espaço em que as meninas dançaram na encenação de segunda-feira. Escolha equivocada da direção.

                              Douglas Maldaner precisa de mais coragem nas intenções e decisões rápidas que precisam ser tomadas em cena. Chega de insegurança depois de tanto tempo fazendo teatro. A queda de Dulce Jorge, a saída pelo lado errado de alguns interpretes, o elástico que não está no lugar, o pão que fica pelo palco, a taça sem água. Tudo são aprendizados, mas cuidado com a perniciosidade.  

                                 Lembremos que o teatro não deve e não precisa ser tão formal, ou ele pode perder o frescor. Lembremos também do lúdico, da minha capacidade de acreditar em vocês e que se perde quando um ator da uma volta pelo palco, quando poderia ter ido direto, sem circunlóquios, ou quando toda a plateia os vê saindo de cena e lá  adiante o cristo descendo e saindo correndo.

                                  Uma lástima conter as intenções libertinas das bailarinas de Herodes, “as boas intenções cabem no jardim de infância, o palco  é o lugar da gangrena” e quem disse foi Nelson!

                                  No mais, estou cansada de correr de uma cidade a outra, orgulhosa e curiosa, afinal essa equipe é muito criativa.

 

                                   O melhor sem duvida tem sido o comprometimento e a fé cênica.

                                    O pior por outro lado, é a falta de dignidade que o ator enfrenta em algumas cidades.

 

Campos Borges e Ibirubá

Douglas Maldaner (**)(**)

Clara Devi (**)(***)

Laura Heger (*)(***)

Raquel Arigony (**)(***)

Stalin Ciotti (**)(**)

Laura Hoover (**)(**)

Eliani Aléssio (***)(**)

Jesmar Peixoto (**)(**)

Romeu Waier (***)(**)

Marcel Prates (***)(**)

Henrique Lanes (**)(**)

Carol Guma (***)(**)

Pedro Henrique (***)(**)

Eduardo Fernandes (***)(**)

Maria Eduarda (***)(**)

Leonardo Jorgelewicz (***)(**)

Nicolas Miranda (*)(**)

Biby Prates (***)(**)

Anita Coelho (***)(**)

Antonia Serquevittio (***)(**)

Ellen Faccin (***)(**)

Vitoria Ramos (**)(***)

Allana Ramos (***)(**)

Henrique Arigony (***)(**)

 

Arte é Vida



                                           A Rainha

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