domingo, 5 de outubro de 2025

1265 - O Castelo Encantado - Alegrete - (TOMO 142)

Um espetáculo infantil com cara de performance. 

                  Tudo funciona perfeitamente enquanto há gente perfeita funcionando. O Castelo Encantado foi se transformando desde que o assisti pela primeira vez em maio de 2005. Lá, sete contadores de historias abriam o palco dentro de uma carroça, suas roupas eram retalhinhos, que acentuavam o fato de a narrativa ser uma união de vários retalhos de historias. O tempo passou e hoje O castelo Encantado é reflexo de muitas coisas, muitas outras historias, muitos artistas pelos quais por ali passaram, muitos novos adereços, criados pelo Palacinho do Máschara. Na cena vou recordar das dezenas de pessoas, artistas, iniciantes ou não, que já fizeram parte do espetáculo: Cléber, Alexandre, Lauanda, Kelem, Liliam, Miriam, Gelton, Tatiana, Rafael, Angélica, Gabriel, Alessandra, Roberta, Cristiano, Fernanda, Luis Fernando, Fabio, Raquel, Gabriel, Bruna, Pâmela, Antonia, Nilton, Evaldo, Douglas, Kauane, Vagner, e talvez outros que eu tenha esquecido. Todos eles com suas verdades, Todos eles contando e recontando um espetáculo que é mutável, vivo, vibrante. Quando o bonequinho de marionete surgiu sobre a cortina eu pensei: Pronto, um novo espetáculo está surgindo. 
                        O Máschara se reinventa, e me emociona a cada novo momento. 
                       Falemos então dessa inserção, escura, pouco iluminada. Atores preparados, ritmo interessante. Alguns detalhes chamam a atenção pela falta de cuidado. O ursinho não deveria estar sem luvas. Rosa Maria precisa pensar nos limites da personagem: Quando a cozinheira caiu, a improvisação não soou bem, na cena dos porquinhos Rosa Maria pareceu mais uma menina birrenta que quer vencer os porquinhos do que uma menina curiosa e feliz em estar no Castelo Encantado. Já na cena do Elefante, um conflito de diálogos que deveria ser: - Eu queria ser uma barbuleta...
                          - Barbuleta?
                          - Daquelas que voam lá no céu...
                          -Você não é meio grandinho para ser uma barbuleta?
                          -Ah, você não precisava ter me lembrado disso...
O texto que saiu no entanto, misturou insetos, e questionou de certa forma o sonho de Basilio. Rosa Maria deve ser como uma menina que encontra pela primeira vez uma aula de teatro, curiosa, feliz, empolgada e principalmente, gentil!
                            Quando Rosa volta, e conversa com o Duende, não deve perguntar se ele que ser borboleta, esse não é o sonho dele. Ela apenas conta feliz que Basílio virou borboleta. O duende não fica chateado com isso, apenas não acredita. Então Basílio entra bramindo, o anão se emburra e Basílio dá sua fala. Ninguém deve ficar feliz com o mal acontecendo aos outros. Essa é a maior característica do espetáculo. 
                            Ao fim do espetáculo outro problema de comunicação que reflete falta de estudo e ensaio: - Conheci vários seres incríveis. O FERNANDO
                          - Capitão Tormenta!!!!
                          - O Ursinho com música na barriga...
                         - E o RRRRRRRRRafael!
                          -Conheci também os três porquinhos...
                          -Super Leitão...
                          -E o elefante Basílio
                          -(bramido)
                            Esse trecho todo é tão importante quanto qualquer outro e os atores parecem fazer de qualquer jeito. Claro, há corpo, há energia, mas falta cuidado nos detalhes. As expressões de Gabriel Ben foram ótimas e Antonia Serquevitio deve colocar mais volume.
                           Parabéns à cena dos três porquinhos, foi sem dúvidas a melhor. 
                             Atenção, não se iludam ou se corrompam, pelas risadas do público adulto que admira vocês, são as crianças que darão a verdadeira temperatura do espetáculo.
                              Lembrar de não esquecer detalhes, conhecer melhor o texto, auxiliar na hora da montagem, se esforçar. 

Arte é vida

A Rainha



O Castelo Encantado
Texto e Direção - Kleber Lorenzoni
Elenco:
               Kleber Lorenzoni
               Ana Clara Kraemer(*)
               Renato Casagrande
               Clara Devi (*)
               Antonia Serquevitio (**)
               Gabriel Ben (*)
               
Contra regragem : Roberta Teixeira (**)
                              Junior Lemes (***)
                              Felipe Brandão (*)
               
                
                                      

Vultos de Santa Fé


 

Ana Clara Kraemer como Rosa Maria


 

Programação 4º FesTeatro


 

Clara Devi em O Castelo Encantado


 

O Castelo Encantado - Os três porquinhos pobres


 

1264-Esconderijos do Tempo - Alegrete - (tomo 95)

                              O espetáculo Esconderijos do Tempo aproxima-se da centésima apresentação. Apesar de mudanças significativas, trocas de elenco e viagens por diferentes tipos de palcos, consegue manter o mesmo clima da estreia. Ao descerrar as cortinas, (sei que não havia cortinas) mas quando soa o sinal, criado por Molière a mais de trezentos anos, é como se um lindo cortinado vermelho desce espaço a narrativa que se segue. Uma narrativa que poderia chamar-se Adágio para Mario Quintana, talvez pelo fato do Espetáculo conter dois adágios, talvez pelo ritmo das cenas e pela energia dos atores. 

                               Clara Devi esteve belíssima(**), ainda que um pouco acelerada para um adágio. Serquevitio pareceu conter demais as emoções; Ana Clara teve um lapso; Casagrande arrastou um pouco sua cena e Lorenzoni pareceu desconcentrado. Sabe o que isso nos lembra? Que teatro é sempre uma arte viva. Que existe um texto, uma dramaturgia, existe as rubricas de um diretor, mas principalmente, existe a energia humana verdadeira, no momento do espetáculo, e essa meus queridos, ah! essa é única. Por isso é importante estudar tanto. Estudar a humanidade da plateia e dos atores. Dominar essa humanidade. Aprender a arrebatá-la. 

                              Quando a luz caiu, percebi o clima de frustração que emanava da coxia, os pequenos sinais, e finalmente a desconcentração. Problemas técnicos tendem a reverberar nos grandes atores, aqueles que estão atentos a tudo, que tem noção do todo. E deve ser assim, para que eles saibam como se solucionar. Já vi atores em espetáculos, que ao cair a luz, continuaram atuando normalmente e não foram capazes de mudar de lugar no palco. Amadores...

                               As soluções criadas pela direção, resolveram muitos dos problemas enfrentados por uma encenação que ocorre em um espaço tão pequeno, para um espetáculo de médio para grande porte. Um dia faremos as pessoas entenderem qual a função do diretor, e que sem ele não há nada. É o diretor quem une tudo: talentos, pontos de vista, possibilidades cênicas, figurino, luz, trilha, capacidades técnicas e humanas, referências, texto e depois adapta para cada novo palco... 

                             Esconderijos do Tempo entrega o bolo no inicio, antes da refeição. Seu prologo é tão funcional que você já sabe que Mario Quintana morrerá. Basta ter um pouco de sensibilidade, para saber que o aquele painel ao fundo, será palco para grandes emoções. Pena que a luz geral não apagou juntamente com o lampião. Esse impacto rápido, ajuda a gente a sentir a morte de Quintana, seu descansar. Dulce Jorge é uma pintura cênica, uma atriz delicada e precisa. 

                              Gabriel Ben (**) estreou como anjo, em um papel no qual nos acostumamos a ver Casagrande por muitos anos, foi bem feito, mas é preciso investir na força contrária que certamente virá com o tempo. Ana Clara Kraemer (**) foi muito imponente quando declarou a morte do peixinho, qual sacerdotisa, precisa acalentar a informação final do bife. Felipe Brandão (**) deveria ter entrado ainda quando Lorenzoni, que felizmente não acendeu o cigarro, está mexendo nos bolsos. Este tem que se surpreender com as batidas dos chutes do menino, são os chutes que fazem Mario voltar o olhar. 

                                 O Adágio é um estado de espirito.  Uma forma de fazer música. A Paixão e Morte de Mario Quintana, pela vida, pela existência... O menino de aquário faz um  acordo com a morte quando ela cruza o palco, (sei que Kleber não gosta que use o termo morte e sim espectro), e assim, Mario aceita assim como Virgínia Wolf, a morte em sua existência. Ainda que Lorenzoni faça esforço para manter o Parnasiano, o Quintana de Esconderijos nos leva ao estilo modernista, o que fica é a percepção de que o ordinário pode ser extraordinário. O lampião de esquina, o brumoso mundo das lendas, a musa do tempo, os anéis de saturno, o defunto que rói as velas, ou a morte, semelhante a um céu enorme que vai ficando escuro e " a gente nem percebe que era o fim"... 

                               Parabéns ao tom cômico que Casagrande consegue trazer para a cena, e para Lorenzoni quando mergulha em uma dor profunda, que arranca lágrimas até dos menos crédulos, inclusive adolescentes. Parabéns a dedicação do artista Junior Lemes, ainda que a questão da luz tenha fugido às suas mãos.

                            Ao final do espetáculo, Lorenzoni fez uma verdadeira homilia, sobre posturas, tanto do público, quanto dos atores. Um momento importante, quase tão importante quanto o espetáculo. Os artistas muitas vezes criam regras, signos, fórmulas, dogmas, mas não se dão conta que o público não tem como conhecer todas essas regras, então é preciso ensinar. Claro que precisamos que o público esteja interessado em aprender. 

Arte é Vida



A Rainha


Esconderijos do Tempo

Texto e direção Kléber Lorenzoni

Elenco: Kléber Lorenzoni

              Clara Devi

              Dulce Jorge

              Renato Casagrande

              Antonia Serquevitio (**)

              Gabriel Ben

              Ana Clara Kraemer

              Felipe Brandão

     

Contra regragem : Roberta Teixeira (***)

                              Junior Lemes (**)

             


 




Dona Flica interagindo com amigas na FENATRIGO


 

O Ator Renato Casagrande em "act" de Menandro Olinda


 

A chegada... O Incidente -