terça-feira, 18 de abril de 2023
sábado, 8 de abril de 2023
1102-Paixão de Cristo (tomo IV) A mãe do Redentor
Das mais de duzentas e cinquenta linhas do texto entre réplicas e tréplicas, escritas por Cléber Lorenzoni, destacam-se passagens como: "Não apontais teu dedo Tomé!" "Não cobrais tanto do teu próximo". "Cada um tem a medida exata do que pode dar". As vezes pensamos que sabemos o que é melhor para o outro...". Essas e muitas outras parecem se enquadrar perfeitamente à filosofia do Máschara. Uma filosofia que vem sendo desenvolvida já há alguns anos. Poderia dizer a filosofia Cléber Lorenzoni? Onde em primeiro lugar vem sim o público, as plateias; E não são os atores, públicos de si mesmos?
A filosofia de Lorenzoni começou a ser criada em 1998, ainda durante os ensaios de Dorotéia de Nelson Rodrigues. Ela se resume em doação e arte em primeiro lugar. Talvez por isso, hoje pela manhã enquanto fazia compras, surpreendi-me com os coelhos do Máschara, mesmo após aquele exaustivo trabalho na noite da sexta feira santa. Comandando a festa, o próprio diretor, explosivo, intenso, senhor de seu palco. Cercado de outros grandes talentos: Fabio Novello, Renato Casagrande e Ellen Faccin em seu melhor momento. O teatro é assim, uma atriz vem, outra vai; um ator surge, encanta e então é a vez de outro. Poucos mantém-se sempre no podium.
Mas voltando a noite anterior, vemos uma multidão, a maior da turnê. Talvez isso reforce a percepção de que o teatro é em si o reflexo de uma comunidade, seus talentos, sua cultura, suas revoltas... E o Máschara é muito a voz de Cruz Alta. Três palcos! Atores e atrizes que subiam e desciam, portas que se abriam e fechavam. Um longo manto azul, roupas negras, desbotadas ou enlameadas, uma escuridão que só era quebrada por Jesus, ou por Salomé, que aliás foi a figura mais atraente do espetáculo. Quem estava perto do palco jura tê-la ouvido gritar por João enquanto torturava Jesus. Seria ela a criatura que mais precisava de amor em todo o espetáculo? O amor inalcançável de Yocanaã?
Algo que me atrai muito no texto perspicaz de Lorenzoni, é sua delicada opção de a cada ano nos contar novos detalhes, conhecimentos gerais sobre o contexto bíblico, e já que falamos demitologia cristã, é importante nos atermos a alguns acontecimentos. O espetáculo fala muito de amizade. Jesus chama os discípulos de amigos, Pedro, o amigo mais querido, ergue o braço de Judas como outra amizade importante, ainda encontra o primo João Batista e nos contextualiza a importância do mesmo, que o batizou e é filho de Zacarias, João cresceu no Nazireu, não bebia vinho, nem tocava em mortos, o que dizem o fez sofrer muito quando seu pai morreu e não pode ajudar nos serviços fúnebres. O joão Batista de Renato Casagrande seu segundo aliás, abre o espetáculo falando daquele que virá, e com muita alegria derrama a água do Jordão em Cristo. Este, está cercado por Lazaro e por um de seus apóstolos. Eis aí o grande poder da convenção, que nos convence de que estamos em Jerusalém, de que aquele pequeno caminhão é nada menos que a corte de Herodes. A passagem de tempo também, embora siga a ordem cronológica dos eventos, segue aos saltos, para que compreendamos o âmago da trama.
As mulheres estavam um tanto exageradas em suas maquiagens, como se todas estivessem indo a alguma festa na noite de Jerusalém, o que aliás enfeiava seus rostos quando o delineador escorria. Rostos melecados de delineador nada tem a ver com grandes atuações. No palco do sinédrio boas atuações, no palco da crucificação a pesar de um diretor que vê as cruzes não sendo elevadas, também boas intepretações.
O Kaifaz de Romeu Waier foi construído com uma sutileza que abriu bastante espaço para o Anaz de Casagrande. Talvez pudéssemos ter visto mais da personagem. Os sacerdotes do templo todos se esforçam e conseguem mostrar a corrupção religiosa da época. É importante também pensar que religião é um conjunto de práticas e conceitos, baseados em escrituras sagradas. A religião Judaica nos vem de Moisés, e da Torá. jesus não é rei dos Judeus, mas de uma doutrina que se estabelece e que se tornará o cristianismo. Obrigado Grupo Máschara por nos salpicar conhecimento para que busquemos aprender ou abramos nossa cabeça para tantas coisas e conceitos.
O teatro tem um poder tão grande, o palco, o microfone, a câmera. A plateia vai se envolvendo, o ator vai se entregando e isso fica visível principalmente em Anderson e Gabriel, também em Ana Clara, Rafelo e Clebersom que após quatro apresentações seguem com expressões muito mais valentes, com personalidades cênicas em desenvolvimento acelerado. Espero que continuem trabalhando e buscando o conhecimento cênico.
Devo parabenizar aqueles que interpretaram mais de um personagem. Ricardo Fenner, Renato Casagrande, Nicolas Miranda, Gabriel Teixeira, Anderson Botega, Jesmar Peixoto, Henrique Arigony, Douglas Maldaner, que aliás interpretou quatro papéis, assim como Renato Casagrande. Talvez as maquiagens pudessem ajudar um pouco mais nessas transformações, afinal na rua, o que mais pesa é o visual, grandes figuras são dificilmente confundidas, mas quando e interpreta na rua, com um figurino um tanto semelhante, a dificuldade do público diferenciar um e outro personagens é alta.
Chegamos ao final do espetáculo com uma surpresa, a mim, apoteótica, Jesus surgiu por detrás da multidão e nos emocionou de forma ímpar. Foi sem dúvidas um curso intensivo de teatro, cansativo possivelmente se levarmos em conta os ensaios. Com grandes somas de conhecimento e ensinamento. Nos vemos em 2024, com um desafio muito grande para esses artistas, surpreender novamente e nos contar outras peripécias e outros personagens.
O Melhor: A corte de Herodes e a ressureição de Lázaro além da capacidade de tanto atores em interpretar mais de um personagem.
A Capacidade de Cléber Lorenzoni em ser dramaturgo, diretor, ator, produtor e professor de teatro, tudo ao mesmo tempo.
O Pior: As cruzes que não foram elevadas, a escada que revelava o tempo todo a insegurança do elenco.
Arte é Vida
A Rainha
sexta-feira, 7 de abril de 2023
1101-Paixão de Cristo - A Mãe do Redentor (tomo III)
Dor...
Revolta...
Tristeza...
Culpa...
Muitas são as emoções que me ocorreram na noite de teatro em Quinze de Novembro...Certamente a purgação a qual fui exposta me fez sair mais leve, mais tranquila do teatro, a ponto de chegar em casa e dormir um dos sonos mais leves de que me lembro. Ao contrário das outras noites em que assisti o espetáculo nessa temporada, nesta quinta feira, esqueci a analise por um momento e tentei absorver apenas as emoções.
Atores e não atores, grandes atores e pequenos atores, atores de carreira e principiantes, todos deram um show. Um espaço tão confortável para assistir a mise en scene que quase esqueci que o espetáculo fora feito para a rua. A narrativa pode ser dividida em dois grandes atos, um prólogo e um epílogo, bem a maneira Cléber Lorenzoni de compor sua dramaturgia. Compreendo a tentativa de tornar a Maria principal ainda maior com sua grande túnica azul "royal", mas não é necessário, a mãe do redentor é enorme, ocupa todo o teatro. Vi em Alessio o gozo, a dor e a gloria, todas as três estações do rosário. Eliani Alessio (***) aspergiu luz sobre todos com uma interpretação salutar, talvez não precise subir tanto na cena em que ergue Jesus no chão da corte, ali funciona mais a altivez! Esta Paixão de Cristo é sem duvida feminina. Não pelo número de mulheres em cena, ou pelo texto, mas pela presença das atrizes e como a dramaturgia as coloca no palco. As irmãs da Bethânia (***)destacaram-se muito hoje, talvez pela disposição dos palcos. Haviam colunas, várias e elas deram todo o charme ao espetáculo.
Cléber Lorenzoni (***) deve ter mais cuidado com pão que fica caído no chão e que ao final quando me aproximei mais, julguei ser alguma escatologia. Veja bem, o vinho que escorre quando jesus fraqueja é lindo, mas não fica bem depositar o pão dentro do Santo Graal. A iluminação estava diferente, mérito de Vitoria Ramos(***), Angelica Ertel (***) e da equipe técnica. Contra-luz é obrigação no bom teatro! A trilha funcional carece de silêncios, algo para se pensar para 2024. Parabéns sobre tudo pelos detalhes, as riquezas cênicas, o econômico e o luxuoso. Paralelos maravilhosos. A plástica do espetáculo está tão refinada, funcional que mesmo olhando fotos, você já tem uma aula de artes. Parabéns Lorenzoni, Casagrande, Novello (***)e Devi(***). Ouso dizer que é o ano mais lindo no quesito plástica.
Quando escuto a grande atriz Angelica Ertel cantando, me questiono o por que não há mais momentos assim no espetáculo.
A participação da menininha foi linda, mesmo sabendo que ela faz parte da família Máschara. A gana, a intensidade de Alessandra Souza(***), a força do SInédrio, apenas prejudicada pelo bolo humano entre Anaz e Kaifaz(**) . Algo deu errado ali, não?
Hoje percebi melhor o paralelo entre a benção entre os primos crianças e depois adultos. Parabéns Rento Casagrande pela facilidade em fazer tantos personagens. Salomé (***) é demoníaca, abraçando jesus fazendo-nos acreditar que o acolherá, e depois brincando com ele como gata e rato. Ainda um grande elogio a equipe por trás das cortinas, soube que são três queridas Marli, Luana e Neiva (***). Os irmãos Prates destacam-se pela humildade com que recebem conselhos e dicas da direção, e a rapidez com que se adequam ao que lhes é pedido.
Para encerrar, parabéns Cléber Lorenzoni por reinventar-se com seu jesus louro.
O melhor: todas as interpretações femininas. Destaque para a entrega de Antonia Serquevitio.
O Pior: as dublagens equivocadas de vários atores.
Arte é Vida
quinta-feira, 6 de abril de 2023
1100- Paixão de Cristo-A mãe do redentor (tomo II)
Em Boa Vista do Incra, na noite de 5 abril, foi possivel assistir mais uma edição do espetáculo sobre a vida de Jseus. Enquanto assistia as cenas, refletia quanto ao poder do homem, do poeta, do visionário Jesus Cristo. O poder desse homem estava em sua mensagerm? Em sua capacidade de convencimento? Na sua espiritualidade? O fato é que ele conseguiu renir multidões ao seu redor, que estavam ávidas por atenção, compaixão, amor. E o que era o amor? Uma palavra desconhecida para a maioria.
Jesus tinha milhares de seguidores, dentre eles os mais próximos, os de confiança, como em qualquer sociedade organizada. O que apoia o mestre; o que critica o mestre em sua ausencia; o que nunca está satisfeito com as regras; o que diz coisas, gerando intrigas; o que se coloca como leal, mas cira pequenas rusgas entre o todo. A sociedade humana não evoluiu, a humanidade não compreendeu a mensagem...
Sobre o palco um grande trabalho de equipe, vinte e poucos artistas interpretam mais de cinquenta personagens. Destaque de hoje para Ricardo Fenner, Carol Guma e Ellen Faccin. Os três com uma intensidade avassaladora. Ricardo Fenner triangulamente com imponencia de rei, Carol Guma se transforma e nos brinda com uma desfiguração digna de grandes atrize. Ellen Faccin surpreende como se foe socorrer o Cristo e então coroa a cena com toda a maldade de sua personagem.
O núcleo dos apostolos é pontual e Fabio Novello está visceral na cena final. Parabéns! Nicholas Miranda tem sem duvidas a melhor dicção da equipe, a ponto de uma pessoa com deficiencia auditiva, ser capaz de compreender todas as suas cenas, apenas pela poderosa pronuncia labial. Angelica Ertel etá perfeita cantando Sentinela na ressureição de Lázaro, e interage brilhantemente ao lado da atrizes Raquel Arigony e Clara Devi. Pedro Moraes nos arrepia ao inspirar o ar da vida em seu retorno a vida.
Destaque para Ana Clara, a pequena vai lentamente tornando-se atriz, aprendendo e marcando presença. O teatro ensina com exemplos, com a postura dos atores mais velhos que inspiram os novos. Claro que ainda assim algumas maquiagens precisam ser mais delicadas, os atores devem tomar cuidado quanto a ítens que não fazem parte do figurino, adereços não pdoem ser perdidos ou esquecidos. Mais atenção!
Foi uma noite memorável de festa em Boa Vista do Incra, seria muito melhor se o pano de fundo fosse o céu, ainda assim, o Máschara é o Máschara.
Carol Guma, Raquel Arigony, Ellen Faccin, Ana Clara, Ricardo Fenner, Vitoria Ramos, Renato Casagrande, Nicolas Miranda, Gabriel Teixeira, Felipe Brandão , Pedro Moraes(***)
Cléber Lorenzoni, Angelica Ertel, Eliani Alessio, Douglas MAldaner, Fabio Novello, Romeu Waier, Anderson Botega, Henrique Arigony, Bibi Prates, Kleberson Bem, Rafaelo Fiuza, Eduardo Fernandes, Samuel Ciotti, Jesmar Peixoto. (**)
Arte é Vida
A Rainha
terça-feira, 4 de abril de 2023
1097-A Paixão de Cristo - (tomo 1)
1097- A Mãe do Redentor
Esteio/RS
Estreia
Um mundo totalmente novo...
Todas as vezes que me surpreendi com o Máschara, eu pensei: -"Pronto, chegamos ao máximo que se pode esperar de tal montagem." Hoje, na apresentação de Esteio/RS, estreia de um dos maiores projetos do Grupo, eu tive certeza de que ainda vou me surpreender muitas vezes. Quando eu assisti a primeira versão em 2017 eu me senti em frente a um colosso, um milagre, um estrondo dos Deuses, algo que imaginei que jamais alcançaria novamente o frescor.
À frente um único palco, uma praça pequena, às minhas costas uma chama acessa por todo o tempo em que o espetáculo aconteceu. Uma hora e quarenta e sete minutos de emoção, de desafios e de uma plateia concentradíssima. Ávida pelo desenrolar de uma historia que embora muitos conheçamos, nos renovam esperanças e mechem com grandes estruturas ancestralizadas em nosso íntimo.
A mãe do redentor, certamente não é a mulher sobre o altar da igreja, vestida de azul e cercada de flores, mas a mãe, que mesmo em uma sociedade patriarcal, preparou aquele menino para ouvir, suportar, amar... Custe o que custar. Eliani Aléssio abre o espetáculo ao lado de Jesmar Peixoto, Bibi Prates e Henrique Arigony. Uma cena encantadora, que fala em hierarquia, em fé, em família, em humildade e é claro na devoção. Eliani substitui Dulce Jorge, que pela primeira vez não conseguiu participar da turnê. E está brilhante. Intensa. Digna de usar o centro do painel de divulgação do espetáculo. Os olhares, o corpo, a força, Tudo emana seu talento. Os pequenos herdeiros da clã Arigony Prates, destacam-se pelo respeito ao palco e aos diretores, destacam-se pela seriedade com que enfrentam as dificuldades que o teatro lentamente vai lhes impondo e que são muitas. O teatro ocupa esse lugar complexo e nos desafia todos os dias, desafia nossos medos, nossas sabedorias. Peixoto luta com elas e tem alcançado bons progressos. Mas o teatro fala de espaços, cada um conquista o espaço que merece. Talvez por isso Peixoto abra o espetáculo.
Essa senhora, como já contei em outros momentos, subi no palco apenas uma única vez, há muito tempo atrás e fui terrível, senão pelo despreparo, então pela voz fraca que sempre tive. A voz é quem conta, explica, educa e envolve. Que vez é aquela que ecoa pelas montanhas e vem se encontrar com outra voz, tão poderosa também. A voz dos interpretes de João Batista e Yeshua são vozes que personificam criaturas. Talvez por isso seja ainda Lorenzoni quem interprete o papel mais difícil do espetáculo, ou é por que ele precisa se entregar sob qualquer situação? Ou por que ele consegue dirigir os colegas enquanto atua? Ou por que ele tem uma compreensão do espetáculo como mais ninguém, já que ele escreveu? Ou por que no fim das contas ele dentro todos é o que merece o melhor e o pior desse espetáculo? A grande Marquise, atriz da Comedia Francesa do século XVII, costumava dizer que ser um ator trágico é aceitar morrer um pouco a cada vez que se sobe no palco.
Ainda no elenco principal, a volta da grande Atriz Angélica Ertel, outra surpresa que nos puxa o chão e nos joga na prazerosa nostalgia que só o palco oferece. Glorinha e Mario se reencontraram em outra época, como Jesus e Maria de Magdalem. E agora ela canta e atua com o peso de uma atriz monstra. Dessas que engolem colegas de cena com sua força quando eles não sabem oque fazem ali. O lindo, é que Ertel tem a generosidade de subir levando juntos os colegas ao seu redor para que brilhem com ela. Como se faz isso? Anotem, devolvendo réplicas cheias de intenção, quais pequenas explosões, para que os colegas de cena possam mostrar seu talento.
Ainda no elenco principal, Romeu Waier como Kaifaz, Renato Casagrande como João/Anaz/Soldado. Como esses atores conseguem se espalhar pelas praças interpretando, montando cenários, compondo e organizando? Não sei, parecia uma grande avalanche de emoções. Romeu Waier precisa ficar atento para que a estética não queira ser mais poderosa do que sua atuação. Essa é uma preocupação que Ellen Faccin também deve observar. A estética é de suma importância, mas deve conversar com os outros lados da esfera. Essa última guardou-se por muito tempo e nos brindou com uma personagem muito rica em peculiaridades e que me fez lembrar muito da rainha Jezebel, antecessora de Herodes e que também odiava profetas. A Salomé de 2023 é uma psicopata apaixonante. Ao lado dela Douglas MAldaner brilha com um dos papéis mais exigentes do espetáculo, o Rei Herodes, todos os anos eu fico aguardando. É meu personagem preferido, guardo todos comigo, Fabio Novello , Samuel Ciotti, Vagner Nardes, e Romeu Waier. Douglas Maldaner cumpre e preenche, com possibilidades de grandes atores, talvez seus colegas pudessem incentivá-lo mais, este atore entrega-se de uma forma muito doce e o público tende sempre a gostar muito dele. Confesso que ja aguardo ansiosa para saber quem será o Herodes de 2024.
O visual do espetáculo, e é impossível não mencioná-lo durante toda a análise, pois ele compõe também o elenco. A direção e a equipe de figurinos criaram uma obra artística única. Os visuais conversam com a postura dos artistas. O universo medieval da corte, foi ímpar. Talvez a cabeça de Claudia pudesse ser mais europa do século XII para conectar-se com a torre perfeita que está representada por Pilatos. A coroa do Bárbaro rei Herodes, e o visual druída da Feiticeira, completam-se com a riqueza de detalhes na nórdica princesa Salomé. Se compreendi a concepção, para os Romanos, europeus, aqui representados com o visual medieval de Pilatos, os povos da Judeia eram como os povos Bárbaros (gauleses, bretões, dinamarqueses) e foi aí exatamente que Lorenzoni posicionou sua corte. Fantástico.
Alessandra Souza nos emociona a todos com sua dor, precisa apenas encontrar outra forma de carregar a "efigie" do redentor. É preciso também que as mulheres atenham-se a não abrir seus mantos ao contrário. Carol Crhistie está em outro grande papel, e pareço sentir, se bem o conheço, a agonia de Cléber em apenas poder ouvir as atuações na corte, já que está posicionado de costas. Fique tranquilo senhor diretor, estão todos perfeitos. Talvez alguns pequenos equívocos, causados por falta de recursos... Coisas que devem ser buscadas pelos atores a vida inteira. Ana Clara ainda se destaca em cena como a frágil escrava, mas até o final da turnê, pode e deve pesquisar-se mais. Fenner ainda brilha como um dos senhores do sinédrio. Aliás, Sinédrio e Cenáculo são duas cenas de pesos muito paralelos. Cenas cheias que nos tocam pelo poder da aglomeração. Cenas épicas. Parabéns ao pequeno Felipe Brandão e a leveza dos atores ao interpretar os discípulos.
Raquel Arigony, Clara Devi, e Antonia Serquevitio fazem as vezes de atrizes e contrarregras. Atuar e cuidar é um grande mérito, Louros à Serquevitio pela força com que interpreta a adultera. Outros artistas brilham, Nicolas Miranda, Pedro Moraes, e Samuel Ciotti. Talvez seja preciso que esses dois tenham mais leveza na dublagem, assim alguns equívocos no tempo não apareça tanto. Fabio Novello nos dá outro Judas tão grandioso quanto os anteriores. Mas sua maturidade agrega ao comportamento uma postura fracassada poderosa e a escolha em trazer Judas à cena da ressureição, nos prova que o discurso Cristão do perdão, não é demagogia.
Os jovens Gabriel, Rafaelo e Eduardo, se esforçam e são dignos de elogios. Mas o teatro é caminhada longa, subir no palco e interpretar algo que foi te dado pronto para repetir é o começo, aos poucos vai virando hábito que dominamos e mais tarde experiência que somamos. O teatro é exigente, ciumento e rígido. Ele não oferece segundas chances, é importante adentrar na vida teatral não esquecendo essa premissa.
Impossível não elogiar Gabriel Teixeira e Anderson Bottega, que em poucos dias envolvidos no projeto, correram atrás, e destacaram-se. Visual impecável e presença marcante. Há o que melhorar? Muito e por isso são caminhos a serem percorridos com prazer.
Obrigado meu grupo preferido de atuadores, obrigado às escolhas acertadas, ao Cristo de Branco em contraste com a escuridão, obrigado ao Lazaro que volta, e a esperança que isso no agrega. Obrigado à trilha tão correta, às aglomerações cênicas e as adaptações pontuais.
Foi sem duvida, para mim a mais madura das Paixões de Cristo. Perdendo apenas para cenas memoráveis, como Jesus e José em 2022, ou os demônios de 2019.
O Melhor: A interpretação de Cléber Lorenzoni que se renova e o brilhantismo em unir Pilatos e Herodes em uma só cena.
O Pior: A ausência de uma equipe técnica unicamente voltada para executar som e luz.
Texto e Direção: Cléber Lorenzoni
Produção: Cléber Lorenzoni, Raquel Arigony, Antonia Serquevitio e Fabio Novello
Suporte em Direção: Renato Casagrande
Figurinos: Cléber Lorenzoni, Renato Casagrande e Fábio Novello - Apoio Clara Devi
Trilha Sonora: Cléber Lorenzoni, Raquel Arigony, Ellen Faccin, Clara Devi
Maquiagens e Cabelos: O Grupo
Adereços: Fabio Novello- Apoio Ellen Faccin
Suporte de Camarins: Luana Brandão, Marli Guma e Neiva Xavier
Organização: Angélica Ertel, Carol Guma, Romeu Waier, Eliani Alessio, Vitoria Ramos, Alessandra Souza
Elenco: Cléber Lorenzoni, Romeu Waier, Eliani Alessio, Angelica Ertel, Renato Casagrande, Fabio Novello, Pedro Moraes, Douglas Maldaner, Ricardo Fenner, Ellen Faccin, Alessandra Souza, Carol GUma, Raquel Arigony, Clara Devi, Nicolas Miranda, Jesmar Peixoto, Samuel Ciotti, Ana Clara, Eduardo Machado, Felipe Brandão, Henrique Arigony, Bibi Prates, Kleberson Gabriel, Rafaelo Fiuza, Gabriel Teixeira, Anderson Bottega.
Arte é Vida
A Rainha






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