54º Cena às 7

                           Não importa o que se diga, não importa o que se faça, o teatro nasce do ensaio. da repetição, da organicidade, da EXAUSTÃO, da prática. Depois que um espetáculo estréia, não precisa mais de ensaios sistematicamente, seguidamente, afinal, os atores passam a ter aquele espetáculo afixado em sua epiderme, em seus poros, alma. Precisam apenas de alguns poucos ensaios para não deixar o espetáculo se desajustar, "o trem descarrilhar". Mas isso só se refere à temporadas. Quando um espetáculo é apresentado com grandes intervalos de tempo, com outros espetáculos permeando-o e ainda com substituição de elenco, então precisará de ensaios frequentes para que o "jogo" aconteça, para que a afinação de cenas, marcas, textos não se perca. O talento de um ator não se baseia no quanto ele consegue brilhar no momento de uma encenação, mas no quanto ele cria com seus colegas de cena.
                          Tartufo é uma das melhores incursões do Máschara pelos clássicos do teatro, uma comédia elegante, um texto afiado, uma critica indispensável aos nossos dias. Gabriel Wink e Cléber Lorenzoni a dois grandes personagens, Orgon e Tartufo, ambos velhos no texto, mas com um olhar contemporâneo, sua velhice não está na aparência, mas na postura. Farsa (absurdo tratado com naturalidade) é sempre um prato cheio para atores mostrarem sua versatilidade. Dulce jorge alcança vôos altos com sua Dona Elmira e Tatiana Quadros tem em sua Dorina seu melhor papel. Fernanda Peres e Renato Casagrande formam um casal lindo que estreou há pouco no espetáculo e que traz toda uma energia nova à cena. 
                              O visual do espetáculo conta o objetivo de sua montagem, a crença que abafa, o desejo, os segredos, a ignorância, a sobriedade. Tudo está estampado em cena e cumpre sua função iconográfica. O texto francês em cinco atos foi transformado em dois, o primeiro cheio de ação, malabarismos corporais, o segundo com cenas mais longas, cheio de nuances construído de forma a valorizar o melhor de cada ator envolvido. 
                                     Talvez Tartufo seja um belíssimo trabalho do Máschara que deve ser guardado na galeria dos grandes espetáculos da Cia. Sendo assim esperemos que nesse domingo o público aproveite uma das ultimas chances de assistir esse clássico.


Cléber Lorenzoni (**) Fez o básico, mas sempre de forma marcante e incrível.
Gabriela Oliveira (***) No que diz respeito ao seu trabalho de camareira esteve inteira, preocupada em fazer o melhor. O que errou, o fez por não ter ainda aprendido. 
Alessandra Souza (**) Mereceria um * já que em alguns momentos a trilha das aparições de Tartufo entrou baixa de mais. No entanto foi uma ótima parceira em fazer o cena às 7 acontecer nesse mês.
Fernanda Peres (***) Intensa, vívida, com pouquíssimos ensaios tirou de letra os obstáculos. Pode ser logicamente muito melhor.
Tatiana Quadros (***)Uma das melhores e mais profissionais atrizes com que já tive o prazer de contracenar.
Dulce Jorge (*) Elegantérrima, intensa, no entanto a falta de ensaio prejudicou um pouco sua colocação vocal e textual.
Ricardo Fenner (**) Exerceu sua parte de forma eficaz...
Renato Casagrande (**) Esteve muito bem, 
Gabriel Wink (*) É ótimo no que faz, e seu Orgon esteve muito bem, mas a falta de ensaios prejudicou sua precisão e por vários momentos perdeu-se na farsa.
Luis Fernando Lara (**) Exerceu sua parte de forma eficaz.

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