quarta-feira, 30 de maio de 2012
terça-feira, 29 de maio de 2012
Os Saltimbancos II
A maior qualidade do Grupo Máschara
tem que ser sim a coragem...
Poucos grupos do interior do
estado ousam tanto quantoo grupo de Cruz Alta. Nesses vinte anos o Máschara
percorreu as mais variadas linguagens sempre querendo propor algo de diferente
ao público. Em sua ultima incursão, trouxeram “Os Saltimbancos”. Cantando e
dançando.
O público desse domingo fartou-se
no belíssimo espetáculo apresentado. Trabalho corporal de primeira, elenco
coeso, som de primeiríssima qualidade e um encantador momento artístico que
ficará na certa memorizado para sempre pelas crianças que ocorreram ao nosso
“teatro” Prudêncio Rocha. A iluminação
assinada por Cléber Lorenzoni e operada por Ricardo Fenner (**) teve alguns resvalos, mas nada que colocasse
em risco o visual de primeiríssima qualidade.
Algumas cenas apresentavam climas que deviam ser repetidos sempre que a
mesma convenção se estabelecesse. Afinal um espetáculo é uma sequencia de signos,
que estão presentes não só no texto, mas no visual (luz-cenário-figurino), e na
trilha sonora, ou ainda nos sons do espetáculo. Personagens podem sim ter
sombras cobrindo-lhes o rosto, mas quando isso for proposto pela direção do
espetáculo. Cléber Lorenzoni nos dá um Saltimbancos totalmente diferente de
todas as montagens que vi. A direção de elenco de Dulce Jorge
é muitíssimo pertinente, embora alguns atores que se deixam tocar pela
prepotência, acabam não aproveitando tudo o que a delicada e sutil direção da
mesma propõe. Talvez por isso as vezes alguns atores se sobreponham a outros. A
trilha sonora é de Bardotti e Buarque, mas carrega também pequenas alterações
propostas por Gabriela Varone (**)e pelo elenco; Tudo sai a contento, mas as
vezes a mão que toca a mesa de som precisa de mais leveza, sutileza,
delicadeza... Alma.
Os desenhos das cenas, a
construção das cenas, tudo é muito bem pensado, calculado. E Saltimbancos
deslumbra quem assiste. Méritos do texto original e das mais de 40 novas
réplicas adicionadas pelo elenco. Gabriel Wink(**) na pele de jumento, guia
muito bem o elenco. E carrega consigo um aprendizado muito bom de contato com a
plateia que vem crescendo desde Lili Inventa o Mundo (2006). Alessandra Souza (**)
esteve inteira nesse espetáculo, não é ainda uma grande atriz, mas apresenta
qualidades ímpares que a direção pode usar a favor. Renato Casagrande(**) ao lado de Cléber Lorenzoni é quem mais tem
noção do ritmo e consegue auxiliar o elenco na curva que deixou a desejar nessa
apresentação. O último citado, fazendo o papel da gata, me deixou muito
apreensiva, pois durante todo o espetáculo torci para que criança alguma
percebesse tratar-se de um homem seu interprete. Claro que para os já
admiradores de várias outras edições do Cena às 7, Cléber Lorenzoni(***) torna-se
inconfundível em cena. O que também pode muito bem ser o grande diferencial do
espetáculo. As maquiagens são irretocáveis. Verdadeiras. Bonitas! Da vontade de
voltar a ser criança para curtir com mais prazer todas as belezas que o
espetáculo propõe.
A rica cena em que os
animaizinhos cantam sobre a carroça poderia ser mais demorada, para que o
encantamento da chuva de papéis picados fosse mais aproveitada. Mas isso são fillinsde cada um.
Saltimbancos precisa agora é ser
muito apresentado, entrar em longas turnês, para que o espetáculo cresça ainda
mais, para que os atores apoderem-se daquilo que ainda é muito da direção. Da concepção do espetáculo. Mas preciso
encerrar dizendo que somente uma mente com ainda muito de percepção infantil e
delicadeza humana criaria espetáculos infantis tão mágicos e sublimes como os
que o Máschara cria. Pena, a Cia. demorar tanto tempo para apresentar novas
peças infantis.
Também preciso parabenizar Luis
Fernando Lara(**). Um membro do Máschara que já está presente há anos, e em
quem os atuais integrantes deveriam sim espelhar-se mais, teatro é feito de
amor e dedicação, e é preciso ter um senso de obrigação quase que inexplicável,
uma devoção para algo intocável. Impalpável. Poucos possuem isso e são
certamente os que se tornarão inesquecíveis!
A Rainha
domingo, 27 de maio de 2012
48º Cena às 7 - Os Saltimbancos
...Mas é o que nós somos!!!
Espectador, lembre-se que em
espetáculos de bulevar devemos exigir nível técnico excepcional, pois só assim
o espetáculo terá justificado sua existência.
A obra infantil “Os Músicos de
Bremem”, foi escrita pelos Irmãos Grimm, no leste Europeu há mais de duzentos
anos e revisitados por Bardotti e Buarque na década de setenta. Na primeira, um
cão, um galo, um jumento e um gato ( o mundo era machista demais para uma gata
e uma galinha ), uniam-se para sobreviver na floresta e partiam para Bremem,
uma cidade que prometia ser para eles,
algum tipo de paraíso. O panorama social quando “Os Saltimbancos” foi
escrita não era dos melhores, “Os ômi”(DOPS) sumia com as pessoas, os artistas
não podiam “cantar” sua paixão pelo país. As classes mais baixas da sociedade
precisavam trabalhar, e o lazer pouco era permitido. Os revoltados que se opunham a ditadura eram
tratados como bichos e chamados de “pau de arara”. Enfim, a ideia dos quatro
animaizinhos que unem suas forças é um clássico, senão do teatro infantil,
então da literatura universal.
Bremem, “a cidade prometida”,
para nossos atores, pode muito bem ser a ânsia do Máschara em chegar à algum
lugar maior nesses vinte anos de luta pelo ideal artístico. E não apenas quatro
seres unem-se nessa empreitada, mas dezenas de “esforçados animaizinhos”.
Alguns “barões” acham mesmo que para ter sucesso é preciso encontrar um lugar
maior, fazer seu teatro em grandes cidades como a utópica Bremem. Algumas gatas
até já partiram e almejam tornarem-se grandes “Super-Stars”. E torcemos por
isso. No entanto, as vezes as coisas que
procuramos podem estar mais perto do que imaginamos! Aqui há uma casa da
cultura cheia de público interessado (não tão cheia ontem, é verdade), mas é
que “há muito trabalho ”- diz o
jumento. E cada um tem uma função, que é preciso ser bem feita. Há os que
precisam cuidar de tudo, preparar as coisas para os outros. Há os que precisam
propagar, divulgar, vender a ideia. Há os líderes, que devem manter seus ideias
e guiar os có-có-cómpanheiros e há é claro as estrelas. As super-stars. Mas o
trabalho é complicado e difícil. É preciso estar sempre atento, tomar cuidado
com os barões que querem explorar, tirar proveito dos animaizinhos e em troca,
nem uma maçãzinha.
Enfim, um espetáculo cheio
de lições. Para o público e para o Máschara. Só não concordo com a frase que
diz “e afinal não éramos tão bons
cantores assim”. Ir embora nem sempre é sinônimo de ser bom. As vezes é
sinônimo de ser fraco! As vezes!!!
E por isso o teatro é
maravilhoso, por que cada pessoa do público, cada criança, fez a sua leitura, a
sua interpretação. E eu percebi alguns
aquéns do espetáculo. Provenientes é lógico da falta de união que a peça
propõe. Falta de união no elenco e na parte técnica. É preciso afinar as vozes,
alongar o corpo, repassar o texto, ser sensível a arte, enfim arregaçar as
mangas... pois chega um dia que o bicho chia!!!
Tenho que parabenizar ainda
Gabriel Wink pelo maravilhoso contato que criou com o público, e Renato
Casagrande por seu belíssimo trabalho de composição.
Renato Casagrande e Luis Fernando Lara (***)
Cléber Lorenzoni e Dulce Jorge (**)
Alessandra Souza, Gabriel Wink,
Ricardo Fenner, Gabriela varone(*)
segunda-feira, 21 de maio de 2012
sábado, 19 de maio de 2012
sexta-feira, 18 de maio de 2012
quinta-feira, 17 de maio de 2012
O Castelo Encantado
Analisando O Castelo Encantado
...E o Máschara mais uma
vez aventurou-se pelo universo infantil de Erico Verissimo. O inesquecível Elefante Basílio, e Os três
porquinhos pobres, são alguns dos personagens que o espetáculo infantil O
Castelo Encantado carrega em sua narrativa.
A peça foi escrita por Cléber Lorenzoni e Dulce Jorge, adaptando para o
palco cinco livrinhos infantis, ao final de tudo o que se tem é uma miscelânea
organizada que consegue reunir tudo de forma adequada e interessante. Um dos
maiores méritos em O Castelo, é que ali as coisas não são mastigadas, podem até
parecer bobinhas a princípio, infantis demais, mas elas dão vazão a
criatividade das crianças. O espetáculo não preocupa-se em dar muito sentido as
coisas, definir demais, ele quer que as crianças viagem por mundos que elas vão
compor em suas mentes infantis a partir de pequenas ideias, contos curtos que
apresentam em sequência. Ao final de
tudo, O Castelo Encantado fala em fé, não a fé religiosa, mas a fé humana, do
homem em si mesmo, de sua capacidade, não importa sua idade, em acreditar! Rosa
Maria vai acreditando e tudo vai acontecendo como em um passe de mágica.
Durante o espetáculo é impossível não pensar em outra obra do grupo, Lili
Inventa o Mundo, ou ainda em O Mágico de Óz.
O elenco é de cinco atores,
Cléber lorenzoni, Gabriel Wink, Alessandra Souza, Renato Casagrande e a atriz
convidada, Tatiana Quadros. E embora o
espetáculo tenha demasiados méritos, não parece ter funcionado muito bem em sua
primeira incursão ao palco nesta terça feira. Tudo começou acelerado, desigual,
descompassado. O cenário simples de Lusi Fernando lara, já propunha a ideia rápida da construção e
desconstrução de um grupo de contadores de historias. Mas as músicas, embora de
versos simples, estavam mal interpretadas. Não basta ser afinado, ou cantar com
volume, é preciso interpretar quando se é ator.
Os volumes eram desiguais, o elenco masculino tinha boa potência,
Tatiana Quadros falou baixo e Alessandra Souza praticamente berrava. A sonoridade das falas e das frases era
constantemente atropelada pela réplica do colega. Havia no palco uma balburdia,
uma insegurança, ao ponto de certas frases serem ditas incontinuadamente. Isto
é alguém começava a dar um texto e não seguia até o fim. Havia cortes,
deformidades, situações que essa crítica que conhece o espetáculo percebeu. O
público logicamente nada percebeu, mas não reagiu como poderia ter reagido caso
a situação fosse contrária.
Eu conheço o Máschara e o
admiro pelo seu trabalho perfeito, só posso pensar que isso é reflexo de uma
semana de correria para estrear Saltimbancos, a falta de ensaios e a ausência
da atriz principal que, aliás, foi substituída por Tatiana Quadros. Esta,
embora seja uma atriz para papéis mais ousados, grandes coadjuvantes, cumpriu
bem sua função e o fez com profissionalismo a sua altura. Mas tenho certeza que aquele não é um papel
para sua alçada. Prefiro vê-la como Erotildes em O Incidente(2005), ou a
esperta Dorina de Tartufo(2001). Na segunda incursão de O Castelo, Tatiana
conseguiu dar clima a sua personagem,
falou mais alto, (a balburdia diminuiu) e ainda conseguiu jogar, e me
pareceu realmente aproximar-se do que a protagonista buscava.
Cléber Lorenzoni não deu grandes
voos, parecia mais preocupado em guiar a trupe. Sua voz foi logicamente muito
bem ouvida, mas havia uma rouquidão, proveniente suponho de três espetáculos
seguidos ao ar livre. A única personagem que mantem o frescor de sua original
concepção é o porquinho Linguicinha. Na segunda intervenção, assim como Gabriel
Wink e Tatiana Quadros, estava largamente melhor.
As personagens do
espetáculo baseiam-se na imagem dos pequenos adereços que carregam. Nas
máscaras que trazem em cada nova cena. Alguns são personagens estruturados, outros
apenas tipos. Os três porquinhos, o elefante Basílio, Rafael, Fernando, O
ursinho com musica na barriga e logicamente Rosa Maria, são personagens com uma
historia, enquanto o restante são tipos.
As vezes alguns atores perdem a noção do foco da cena e querem super valorizar
tipos, pondo em risco o âmago das cenas. Renato Casagrande traz agilidade,
frescor as cenas, mas precisa tomar cuidado para não tornar “gana, força” em “rispidez,
agressividade”. As vezes ataca suas
frases, confundindo as emoções da personagem sem nos deixar compreender realmente
as inter-relações pelas outras personagens.
O Anãozinho e o
dono do “Circo do Castelo Encantado”, precisam
de jogo, um jogo que infelizmente a atriz Alessandra Souza e o ator Gabriel
Wink, parecem trabalhar muito pouco quando contracenam juntos. Gabriel Wink não
apareceu por inteiro no primeiro espetáculo da tarde, o que felizmente melhorou
no segundo. Eis um ator que tem muito talento, mas que aos poucos parece
relaxar com sua técnica. A arte é um dom, o talento é um presente que alguns
pouco recebem, mas se não trabalha-lo pode acabar por burilar sua profissão.
Alessandra Souza estava muito tensa, acelerada, preencheu bem as necessidades
da peça, mas tem muito mais talento confundido com preocupações e autoanalises
desnecessários quando no palco.
A trilha sonora de
Gabriela Varone pareceu prejudicar
algumas cenas. É preciso alma querida, não é algo prático, é arte! Arte não são
botões, são inspirações! Enfim, O Castelo Encantado, é um belíssimo e divertido
espetáculo, pena que alguns membros do Máschara pareçam não dar-lhe o valor
merecido. As crianças amaram, opinaram, e essa é a prova de que aceitaram,
gostaram e queriam algo bom, algo bom que foi mostrado de forma mais eficaz
para a turma das 15 horas.
Gabriel Wink (*)(**)
Alessandra Souza(*)(**)
Tatiana Quadros(***)(**)
Cléber Lorenzoni(*)(**)
Renato Casagrande(**)(*)
Gabriela Varone(*)(*)
Luis Fernando Lara(***)(**)
A Rainha
Bento Gonçalves, 15 de maio de 2012
quarta-feira, 16 de maio de 2012
Análise de A Maldição do Vale Negro
A Maldição do Vale Negro subiu ao palco atrasada,
não sei se por culpa dos atores ou por desejo da organização da feira. Os
atores começaram bem. Gabriel Wink expontâneo e criativo de inicio, Ricardo
Fenner um tanto formal e Cléber Lorenzoni com a "gana" já conhecida, o que não adiantou já que havia um clima de afobamento e desorganização que
perpassava por todo o espaço. A sonoridade estava agressiva, as mãos do
resaponsável pelas trilhas atacavam os botões. Ser um bom sonoplasta, tecnico de
som, é uma arte!
A luz era obtusa, amarelada, e não se decidiu
durante os cinquenta e tantos minutos de espetáculo. Isto é, havia tentativas
de organizar, de criar algo, climas com as cores e intensidades, mas isso só
piorava.
As primeiras cenas demoraram a cair no gosto.
Talvez o cansaço dos atores tenha colaborado para uma desorganização cênica.
Os diálogos estavam acelerados, o que condizia
com a situação. (noite fria, espetáculo praticamente ao ar livre). A
movimentação da platéia era estressante. O público as vezes não percebe que ao
movimentar-se para ir embora ( o que é direito seu), atrapalha queme stá
interessado em assistir ao espetáculo.
Passadas as primeiras cenas o clima estabeleceu-se de forma mais apropriada. O cenário foi adaptado, eis um agradável mérito do Máschara. Algumas Cias. ao viajarem pelo país, ligam antes e pedem aos organizadores que arrumem sofás, camas, tapetes, enfim, infinidade de materiais para compor os seus cenários. Sem a mínima preocupação se aquilo terá tratamento homogêneo com seu espetáculo, um cenário não é algo que possa ser jogado no palco, é preciso um tratamento adequado para adereços e composições. O Máschara sempre carrega suas coisas, mas se precisa de alguma forma fazer uso de materiais que já estarão no ambiente, o faz de forma tão qualificada, que é impossível detectar o que antes já não fazia parte de seu material cênico. O sofá vermelho adequou-se perfeitamente, e apesar do tamanho, os atores e em um estalar dedos o fizeram ser "o sofá". O palco era pequeno, desajeitado para um espetáculo de grande porte como é o caso de A Maldição, e algumas cenas ficaram prejudicadas pela falta de iluminação, tendo que ser adequadas rapidamente.
O público demorou mas embarcou na piração desse melodrama e o espetáculo passou sua mensagem, que aliás em dias estabanados confunde-se um pouco. O Máschara e já o disse em várias ocasiões, tem que aprender a atuar com microfones. A voz de Ricardo Fenner (**) ficava estridente, e facilmente tornava-se incompreendível. Gabriel Wink (**) improvisou de forma interessante, mas alguns excessos do Marquês me entristeceram, não é necessário ser tão sexual, pesar tanto nas insinuações para ser engraçado. O Máschara na verdade nunca precisou disso e sempre me orgulhei da equipe por essa opção. É uma escolha do ator eu sei, mas Gabriel Wink é um ator tão incrível, com tanto humor a empregar em seus personagens, não precisa de subterfúgios. Cléber Lorenzoni (**) parecia desesperado em salvar o espetáculo, eu que o conheço percebi sua aflição. Esse ator se cobra de mais, se exige em excesso e aproveita de menos. Sua dicção é sempre perfeita, mas fiquei chateada com a forma que resumiu as cenas da louca. Por outro lado tive conhecimento de que a organizadora da feira pediu-lhes que acelerassem o espetáculo. Um espetáculo é uma obra de arte redonda, completa. Se hoje algo é tirado do espetáculo e ainda assim o público compreenderá a cena então aquele algo era uma barriga... Deverá ser o quanto antes suprimido da cena.
Não sei direito opinar sobre esse espetáculo em uma feira de livros, talvez não seja a escolha mais certa. Não compreendo os objetivos com os organizadores em certas feiras. O único interesse é arrancar risadas, ou questionar, ou levantar bandeiras, ou divertir, ou educar... A Maldição do Vale Negro é uma comédia mais que bem feita. Mas em determinadas situações não parece a escolha mais acertada para uma feira de livros. A não ser que com ela venha a análise do texto, de período histórico de quem foi Caio Fernando Abreu. O teatro é uma arte complexa, pode-se tudo sempre, tudo é permitido, mas onde isso chega, para onde estamos caminhando? O que será o futuro do teatro, da arte e de nosso povo?
A contra-regragem de Renato Casagrande e Alessandra Souza merece o céu, pois faz milagres em qualquer palco que a Cia esteja, e nada seriam os três atores sem o apoio dos dois artistas se ambos não estivessem muito afinados. A trilha sonora de Gabriela Varone infelizmente merece o Xeól, foi de minima competência e não me refiro apenas a erros e acertos, mas à insensibilidades e falta de técnica na função.
A Maldição do Vale Negro é um dos melhores espetáculos do Máschara e deveria ser ainda muito assistida, quer por Caio Fernando Abreu, quer pelos três atores em cena, quer pela direção que esmerou-se criando essa linda performance em melodrama. Mas para isso atores precisam de ensaios, ensaios, ensaios, essa é a arte do teatro.
A Rainha
Bento Gonçalves 14 de Maio de 2012.
terça-feira, 15 de maio de 2012
Analise de Os Saltimbancos
O figurino de Dulce Jorge e a maquiagem de Cléber Lorenzoni são destaques a parte de uma das melhores concepções em espetáculos infantis do grupo. O cenário também assinado por Cléber Lorenzoni precisa ainda de certo acabamento, mas simplifica a cena de forma genial, criando ilusões necessárias e colaborando para a criação de planos e cenas. Aprecio a tangencialidade que percorre o CD original de Bardotti, e penso que ainda muita coisa vai se criar.
A trilha é a já conhecida por todo ator que se preste, e sinto não ouvir apenas a voz do elenco, mas acredito que com o tempo a direção aos poucos irá suprimir a trilha em playback.
Cléber Lorenzoni e Dulce Jorge adaptaram a historia em uma sequencia na qual os animais parecem estar contando algo já ocorrido, e eles mesmos interpretam seus barões, creio que aí falte uma melhor solidificação no roteiro. A peça tem duração agradável, mas merece uma curva mais acentuada. Renato Casagrande (***) tem um border-collie muito bem composto. Seu personagem é o mais redondo nessa estréia e também a melhor investida do ator em sua breve carreira. O trabalho corporal de Casagrande é louvável, tem trabalho continuo e seu corpo dançante prende a atenção do público durante toda a encenação. O jogo de cena a personagem da gata é o que mais anima a platéia e nos faz crer na verdade cênica das personagens.
Alessandra Souza está muito bem, precisa ainda nos dar mais da personagem, há muito para se fazer em uma galinácia, uma ave, e tenho certeza que a atriz se dedicará cada vez mais, mas aconselho e cabe a atriz, logicamente, acatar ou não minha sugestão, "cócócomo vão", seria mais interessante do que "côcôcomo vão"! (**) Alessandra está carregando um dos mais bonitos e criativos figurinos do espetáculo, pode tirar mas proveito disso. Há uma infinidade de possibilidades para uma jovem atriz em meio a Saltimbancos.
Gabriel Wink ainda não está totalmente entregue a personagem como em Lili inventa o Mundo, ou mesmo em Feriadão com seu Filipinho. O Jumento é um personagem maduro, inteligente, que precisa de mais peso, e será fácil para esse ator transmutar a presença que tem no peso que necessita. (**) Outra coisa mencionavel é a facilidade com que o mesmo pegou a platéia, me pergunto se Gabriel Wink tem noção da capacidade que tem de elouquencia junto as crianças. Ou se tornará um desses atores que não aproveita todo o talento que tem. Sua capacidade de improviso rápido visto em tantos outros espetáculos e mesmo nessa estréia, aind apode render e muito.
A Rainha.
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Entrevista com Cléber Lorenzoni, feita por esta crítica de teatro...
Então
vocês acabam de estrear Os Saltimbancos de Chico Buarque. Como foi o
processo? Como se sentiram, e quais as expectativas para o futuro?
As
expectativas são as melhores... Apresentar muito... Fechar o ciclo!
As musicas são lindas, são de Chico Buarque e Sergio Bardotti e nos
emociona muito fazê-lo, afinal há muitos anos tínhamos essa
talante. Fomos estrear agora em Bento Gonçalves, para um público
muito legal, em plena 27ª Feira de Livros. O processo foi
maravilhoso e exaustivo, bem ao estilo Máschara de fazer teatro.
Muitos ensaios, pesquisa corporal, construção há várias mãos.
Aliás, esse espetáculo que estreou aqui em Bento Gonçalves,
começou a ser construído, concebido, em 2003, com outra formação
de elenco. E todos eles colaboraram de alguma forma, afinal como tu
sabes, essas criações ficam todas codificadas em nossas mentes,
memorizadas por muito tempo. Na época Lauanda Varone faria a Gata,
que agora é interpretada por mim, Rafael Aranha faria a galinha, e
Alexandre Dill faria o cão e eu o Jumento. Mais tarde em 2009,
Roberta Correa e Angélica Ertel também abraçaram a idéia, mas não
vingou. Sei lá, são os deuses do teatro que decidem essas coisas...
Talvez não fosse o momento, mas claro, ficou-nos muita coisa dessas
tentativas e que agora aparecem na cena.
E quem
são os envolvidos agora? Como tu escolheste o elenco?
Para
grupos do interior não há muito o que escolher, afinal tu vais
trabalhando com quem está ali afim. No elenco somos eu, Gabriel Wink
que é um ator muito criativo, muito intuitivo e que faz o Jumento.
Alessandra Souza, uma atriz que está aos poucos se revelando um
grande intérprete e que faz a Galinha. Há também Renato Casagrande
que é um jovem muito dedicado e desafiador no papel do cão. Na
direção somos eu Dulce Jorge. Na contra-regragem e responsável
pela execução da sonoplastia tenho Gabriela Varone, que é natural
de Julio de Castilhos e que vem se adaptando muito bem ao grupo e é
claro contamos com o apoio de vários outros colegas que nos ajudam a
por tudo em cena. Mas queríamos um elenco pequeno, fácil de
reunir, de trabalhar. Por isso apenas quatro atores. Renato
Casagrande tinha que ser o cachorrinho, seu crescimento é visível,
vai ser com certeza um grande ator. Gabriel Wink era nossa melhor
opção para o Jumento, afinal tem quase seis anos de palco, um bom
trabalho corporal. Alessandra Souza também tem sido uma companheira
de lutas e provou estar a altura do papel.
Na verdade em As Balzaquianas(2011) eu e Angélica Ertel dirigimos
juntos, e em A Maldição do Vale Negro(2009) Dulce Jorge dirigiu ao
meu lado. É uma questão de idéia, de inspiração, da situação
atual. Acho que também há o interesse em dividir algo. Algo que se
quer muito. E a Dulce Jorge é minha irmã de alma, de gostos
teatrais. São anos cirando, compondo, idealizando juntos. Então na
verdade tudo o que dirijo tem a assinatura dela também. Quanto ao
papel principal, durante anos tive que ser a cara dos espetáculos,
mas também por uma questão de disponibilidade. Eu vivo inteiramente
para o teatro, para o Máschara. Posso dedicar 24 horas por dia para
a cena. Então isso me da uma confiança em mim mesmo.Mas claro que
depois de tempos trabalhando com Gabriel Wink, e já que eu queria
fazer o papel da gata, decidimos que ele deveria assumir o primeiro
papel. Mas não vou mentir que não tive milhões de receios. Sou
libriano, indeciso sempre.
E como é dirigir um grupo de jovens artistas?
Não é fácil e não é de todo difícil. Diretor tem que ser meio
psicólogo, meio conselheiro. Tem que ser muito político. Gabriel
Wink é um ator de muita personalidade. Ele sabe o que quer fazer no
palco. Renato Casagrande é o tipo de ator que te desperta a vontade
de desafiá-lo. Alessandra Souza tem algumas dificuldades, e aos
poucos vem revelando muita independência. Por tanto tu não podes
chegar mandando, tu precisas absorver muito dos atores. Afinal eles
tem muito a dar.
Tu me surpreendes, até pouco tempo atrás pensava que tu preferias
trabalhar com atores que omitissem seu ponto de vista e apenas
cumprissem sua vontade cênica, como Charles Chaplin...
Sim, sim, mas acho que isso tem haver com amadurecimento. Agora é
mais vivaz, mais prazeroso saber o que os atores tem para ofertar à
cena. Por exemplo, com Renato Casagrande fazendo o cachorro e eu a
gata, é uma festa, criamos muito juntos. Enfim dirigir é muito
complexo.
E por que Saltimbancos?
Saltimbancos é um clássico do teatro. Foi escrito em plena ditadura
e seu texto está repleto de críticas a política e ao regime da
época. Mas não é texto morto, embora pareça muito datado. Quase
todo mundo já montou ou vai montar e meu preconceito para com esse
texto era enorme e paradoxal. Mas ele me toca em dois aspectos. Ele
fala de união e de diversidade. Não gosto de falar em mensagem do
espetáculo, penso que isso é mastigar o texto, a idéia, no
entanto é indiscutível a força com que Chico representou a
premissa de que a união faz a força. Em O Conto da Carrocinha
(1999) havíamos discutido a fábula de O patinho feio, não me
convencia a idéia de que O “patinho-cisne” precisasse viver com
seus iguais para viver feliz. E por isso ele não quis ficar nem com
os Cisnes nem com os “Patos”. Quis viver com alguém que
simplesmente era outro ser. A diversidade está aí, presente nos
chocando, nos questionando e é hora sim de falar disso. Tenho a
pretensão de mudar o mundo, não no quesito para melhor ou para
pior, quero virá-lo de ponta cabeça ao menos. Em uma cena
maravilhosa de A Dama de Ferro com Meryl Streep, a atriz,
intepretando Margareth Teacher, comenta que as pessoas sentem demais
e pensam de menos. Talvez por isso haja cada vez mais depressivos e
burros no mundo.
E desse ano eleitoral, o que espera para o teatro para as artes?
Que se os políticos não forem ajudar que ao menos não atrapalhem.
Eles passam a arte fica!
Bento Gonçalves 14 de Maio de 2012
A Rainha e Cléber Lorenzoni
sábado, 12 de maio de 2012
domingo, 6 de maio de 2012
quarta-feira, 2 de maio de 2012
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