A Maldição do Vale Negro subiu ao palco atrasada,
não sei se por culpa dos atores ou por desejo da organização da feira. Os
atores começaram bem. Gabriel Wink expontâneo e criativo de inicio, Ricardo
Fenner um tanto formal e Cléber Lorenzoni com a "gana" já conhecida, o que não adiantou já que havia um clima de afobamento e desorganização que
perpassava por todo o espaço. A sonoridade estava agressiva, as mãos do
resaponsável pelas trilhas atacavam os botões. Ser um bom sonoplasta, tecnico de
som, é uma arte!
A luz era obtusa, amarelada, e não se decidiu
durante os cinquenta e tantos minutos de espetáculo. Isto é, havia tentativas
de organizar, de criar algo, climas com as cores e intensidades, mas isso só
piorava.
As primeiras cenas demoraram a cair no gosto.
Talvez o cansaço dos atores tenha colaborado para uma desorganização cênica.
Os diálogos estavam acelerados, o que condizia
com a situação. (noite fria, espetáculo praticamente ao ar livre). A
movimentação da platéia era estressante. O público as vezes não percebe que ao
movimentar-se para ir embora ( o que é direito seu), atrapalha queme stá
interessado em assistir ao espetáculo.
Passadas as primeiras cenas o clima estabeleceu-se de forma mais apropriada. O cenário foi adaptado, eis um agradável mérito do Máschara. Algumas Cias. ao viajarem pelo país, ligam antes e pedem aos organizadores que arrumem sofás, camas, tapetes, enfim, infinidade de materiais para compor os seus cenários. Sem a mínima preocupação se aquilo terá tratamento homogêneo com seu espetáculo, um cenário não é algo que possa ser jogado no palco, é preciso um tratamento adequado para adereços e composições. O Máschara sempre carrega suas coisas, mas se precisa de alguma forma fazer uso de materiais que já estarão no ambiente, o faz de forma tão qualificada, que é impossível detectar o que antes já não fazia parte de seu material cênico. O sofá vermelho adequou-se perfeitamente, e apesar do tamanho, os atores e em um estalar dedos o fizeram ser "o sofá". O palco era pequeno, desajeitado para um espetáculo de grande porte como é o caso de A Maldição, e algumas cenas ficaram prejudicadas pela falta de iluminação, tendo que ser adequadas rapidamente.
O público demorou mas embarcou na piração desse melodrama e o espetáculo passou sua mensagem, que aliás em dias estabanados confunde-se um pouco. O Máschara e já o disse em várias ocasiões, tem que aprender a atuar com microfones. A voz de Ricardo Fenner (**) ficava estridente, e facilmente tornava-se incompreendível. Gabriel Wink (**) improvisou de forma interessante, mas alguns excessos do Marquês me entristeceram, não é necessário ser tão sexual, pesar tanto nas insinuações para ser engraçado. O Máschara na verdade nunca precisou disso e sempre me orgulhei da equipe por essa opção. É uma escolha do ator eu sei, mas Gabriel Wink é um ator tão incrível, com tanto humor a empregar em seus personagens, não precisa de subterfúgios. Cléber Lorenzoni (**) parecia desesperado em salvar o espetáculo, eu que o conheço percebi sua aflição. Esse ator se cobra de mais, se exige em excesso e aproveita de menos. Sua dicção é sempre perfeita, mas fiquei chateada com a forma que resumiu as cenas da louca. Por outro lado tive conhecimento de que a organizadora da feira pediu-lhes que acelerassem o espetáculo. Um espetáculo é uma obra de arte redonda, completa. Se hoje algo é tirado do espetáculo e ainda assim o público compreenderá a cena então aquele algo era uma barriga... Deverá ser o quanto antes suprimido da cena.
Não sei direito opinar sobre esse espetáculo em uma feira de livros, talvez não seja a escolha mais certa. Não compreendo os objetivos com os organizadores em certas feiras. O único interesse é arrancar risadas, ou questionar, ou levantar bandeiras, ou divertir, ou educar... A Maldição do Vale Negro é uma comédia mais que bem feita. Mas em determinadas situações não parece a escolha mais acertada para uma feira de livros. A não ser que com ela venha a análise do texto, de período histórico de quem foi Caio Fernando Abreu. O teatro é uma arte complexa, pode-se tudo sempre, tudo é permitido, mas onde isso chega, para onde estamos caminhando? O que será o futuro do teatro, da arte e de nosso povo?
A contra-regragem de Renato Casagrande e Alessandra Souza merece o céu, pois faz milagres em qualquer palco que a Cia esteja, e nada seriam os três atores sem o apoio dos dois artistas se ambos não estivessem muito afinados. A trilha sonora de Gabriela Varone infelizmente merece o Xeól, foi de minima competência e não me refiro apenas a erros e acertos, mas à insensibilidades e falta de técnica na função.
A Maldição do Vale Negro é um dos melhores espetáculos do Máschara e deveria ser ainda muito assistida, quer por Caio Fernando Abreu, quer pelos três atores em cena, quer pela direção que esmerou-se criando essa linda performance em melodrama. Mas para isso atores precisam de ensaios, ensaios, ensaios, essa é a arte do teatro.
A Rainha
Bento Gonçalves 14 de Maio de 2012.
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