Analisando O Castelo Encantado
...E o Máschara mais uma
vez aventurou-se pelo universo infantil de Erico Verissimo. O inesquecível Elefante Basílio, e Os três
porquinhos pobres, são alguns dos personagens que o espetáculo infantil O
Castelo Encantado carrega em sua narrativa.
A peça foi escrita por Cléber Lorenzoni e Dulce Jorge, adaptando para o
palco cinco livrinhos infantis, ao final de tudo o que se tem é uma miscelânea
organizada que consegue reunir tudo de forma adequada e interessante. Um dos
maiores méritos em O Castelo, é que ali as coisas não são mastigadas, podem até
parecer bobinhas a princípio, infantis demais, mas elas dão vazão a
criatividade das crianças. O espetáculo não preocupa-se em dar muito sentido as
coisas, definir demais, ele quer que as crianças viagem por mundos que elas vão
compor em suas mentes infantis a partir de pequenas ideias, contos curtos que
apresentam em sequência. Ao final de
tudo, O Castelo Encantado fala em fé, não a fé religiosa, mas a fé humana, do
homem em si mesmo, de sua capacidade, não importa sua idade, em acreditar! Rosa
Maria vai acreditando e tudo vai acontecendo como em um passe de mágica.
Durante o espetáculo é impossível não pensar em outra obra do grupo, Lili
Inventa o Mundo, ou ainda em O Mágico de Óz.
O elenco é de cinco atores,
Cléber lorenzoni, Gabriel Wink, Alessandra Souza, Renato Casagrande e a atriz
convidada, Tatiana Quadros. E embora o
espetáculo tenha demasiados méritos, não parece ter funcionado muito bem em sua
primeira incursão ao palco nesta terça feira. Tudo começou acelerado, desigual,
descompassado. O cenário simples de Lusi Fernando lara, já propunha a ideia rápida da construção e
desconstrução de um grupo de contadores de historias. Mas as músicas, embora de
versos simples, estavam mal interpretadas. Não basta ser afinado, ou cantar com
volume, é preciso interpretar quando se é ator.
Os volumes eram desiguais, o elenco masculino tinha boa potência,
Tatiana Quadros falou baixo e Alessandra Souza praticamente berrava. A sonoridade das falas e das frases era
constantemente atropelada pela réplica do colega. Havia no palco uma balburdia,
uma insegurança, ao ponto de certas frases serem ditas incontinuadamente. Isto
é alguém começava a dar um texto e não seguia até o fim. Havia cortes,
deformidades, situações que essa crítica que conhece o espetáculo percebeu. O
público logicamente nada percebeu, mas não reagiu como poderia ter reagido caso
a situação fosse contrária.
Eu conheço o Máschara e o
admiro pelo seu trabalho perfeito, só posso pensar que isso é reflexo de uma
semana de correria para estrear Saltimbancos, a falta de ensaios e a ausência
da atriz principal que, aliás, foi substituída por Tatiana Quadros. Esta,
embora seja uma atriz para papéis mais ousados, grandes coadjuvantes, cumpriu
bem sua função e o fez com profissionalismo a sua altura. Mas tenho certeza que aquele não é um papel
para sua alçada. Prefiro vê-la como Erotildes em O Incidente(2005), ou a
esperta Dorina de Tartufo(2001). Na segunda incursão de O Castelo, Tatiana
conseguiu dar clima a sua personagem,
falou mais alto, (a balburdia diminuiu) e ainda conseguiu jogar, e me
pareceu realmente aproximar-se do que a protagonista buscava.
Cléber Lorenzoni não deu grandes
voos, parecia mais preocupado em guiar a trupe. Sua voz foi logicamente muito
bem ouvida, mas havia uma rouquidão, proveniente suponho de três espetáculos
seguidos ao ar livre. A única personagem que mantem o frescor de sua original
concepção é o porquinho Linguicinha. Na segunda intervenção, assim como Gabriel
Wink e Tatiana Quadros, estava largamente melhor.
As personagens do
espetáculo baseiam-se na imagem dos pequenos adereços que carregam. Nas
máscaras que trazem em cada nova cena. Alguns são personagens estruturados, outros
apenas tipos. Os três porquinhos, o elefante Basílio, Rafael, Fernando, O
ursinho com musica na barriga e logicamente Rosa Maria, são personagens com uma
historia, enquanto o restante são tipos.
As vezes alguns atores perdem a noção do foco da cena e querem super valorizar
tipos, pondo em risco o âmago das cenas. Renato Casagrande traz agilidade,
frescor as cenas, mas precisa tomar cuidado para não tornar “gana, força” em “rispidez,
agressividade”. As vezes ataca suas
frases, confundindo as emoções da personagem sem nos deixar compreender realmente
as inter-relações pelas outras personagens.
O Anãozinho e o
dono do “Circo do Castelo Encantado”, precisam
de jogo, um jogo que infelizmente a atriz Alessandra Souza e o ator Gabriel
Wink, parecem trabalhar muito pouco quando contracenam juntos. Gabriel Wink não
apareceu por inteiro no primeiro espetáculo da tarde, o que felizmente melhorou
no segundo. Eis um ator que tem muito talento, mas que aos poucos parece
relaxar com sua técnica. A arte é um dom, o talento é um presente que alguns
pouco recebem, mas se não trabalha-lo pode acabar por burilar sua profissão.
Alessandra Souza estava muito tensa, acelerada, preencheu bem as necessidades
da peça, mas tem muito mais talento confundido com preocupações e autoanalises
desnecessários quando no palco.
A trilha sonora de
Gabriela Varone pareceu prejudicar
algumas cenas. É preciso alma querida, não é algo prático, é arte! Arte não são
botões, são inspirações! Enfim, O Castelo Encantado, é um belíssimo e divertido
espetáculo, pena que alguns membros do Máschara pareçam não dar-lhe o valor
merecido. As crianças amaram, opinaram, e essa é a prova de que aceitaram,
gostaram e queriam algo bom, algo bom que foi mostrado de forma mais eficaz
para a turma das 15 horas.
Gabriel Wink (*)(**)
Alessandra Souza(*)(**)
Tatiana Quadros(***)(**)
Cléber Lorenzoni(*)(**)
Renato Casagrande(**)(*)
Gabriela Varone(*)(*)
Luis Fernando Lara(***)(**)
A Rainha
Bento Gonçalves, 15 de maio de 2012
Comentários
Postar um comentário