A maior qualidade do Grupo Máschara
tem que ser sim a coragem...
Poucos grupos do interior do
estado ousam tanto quantoo grupo de Cruz Alta. Nesses vinte anos o Máschara
percorreu as mais variadas linguagens sempre querendo propor algo de diferente
ao público. Em sua ultima incursão, trouxeram “Os Saltimbancos”. Cantando e
dançando.
O público desse domingo fartou-se
no belíssimo espetáculo apresentado. Trabalho corporal de primeira, elenco
coeso, som de primeiríssima qualidade e um encantador momento artístico que
ficará na certa memorizado para sempre pelas crianças que ocorreram ao nosso
“teatro” Prudêncio Rocha. A iluminação
assinada por Cléber Lorenzoni e operada por Ricardo Fenner (**) teve alguns resvalos, mas nada que colocasse
em risco o visual de primeiríssima qualidade.
Algumas cenas apresentavam climas que deviam ser repetidos sempre que a
mesma convenção se estabelecesse. Afinal um espetáculo é uma sequencia de signos,
que estão presentes não só no texto, mas no visual (luz-cenário-figurino), e na
trilha sonora, ou ainda nos sons do espetáculo. Personagens podem sim ter
sombras cobrindo-lhes o rosto, mas quando isso for proposto pela direção do
espetáculo. Cléber Lorenzoni nos dá um Saltimbancos totalmente diferente de
todas as montagens que vi. A direção de elenco de Dulce Jorge
é muitíssimo pertinente, embora alguns atores que se deixam tocar pela
prepotência, acabam não aproveitando tudo o que a delicada e sutil direção da
mesma propõe. Talvez por isso as vezes alguns atores se sobreponham a outros. A
trilha sonora é de Bardotti e Buarque, mas carrega também pequenas alterações
propostas por Gabriela Varone (**)e pelo elenco; Tudo sai a contento, mas as
vezes a mão que toca a mesa de som precisa de mais leveza, sutileza,
delicadeza... Alma.
Os desenhos das cenas, a
construção das cenas, tudo é muito bem pensado, calculado. E Saltimbancos
deslumbra quem assiste. Méritos do texto original e das mais de 40 novas
réplicas adicionadas pelo elenco. Gabriel Wink(**) na pele de jumento, guia
muito bem o elenco. E carrega consigo um aprendizado muito bom de contato com a
plateia que vem crescendo desde Lili Inventa o Mundo (2006). Alessandra Souza (**)
esteve inteira nesse espetáculo, não é ainda uma grande atriz, mas apresenta
qualidades ímpares que a direção pode usar a favor. Renato Casagrande(**) ao lado de Cléber Lorenzoni é quem mais tem
noção do ritmo e consegue auxiliar o elenco na curva que deixou a desejar nessa
apresentação. O último citado, fazendo o papel da gata, me deixou muito
apreensiva, pois durante todo o espetáculo torci para que criança alguma
percebesse tratar-se de um homem seu interprete. Claro que para os já
admiradores de várias outras edições do Cena às 7, Cléber Lorenzoni(***) torna-se
inconfundível em cena. O que também pode muito bem ser o grande diferencial do
espetáculo. As maquiagens são irretocáveis. Verdadeiras. Bonitas! Da vontade de
voltar a ser criança para curtir com mais prazer todas as belezas que o
espetáculo propõe.
A rica cena em que os
animaizinhos cantam sobre a carroça poderia ser mais demorada, para que o
encantamento da chuva de papéis picados fosse mais aproveitada. Mas isso são fillinsde cada um.
Saltimbancos precisa agora é ser
muito apresentado, entrar em longas turnês, para que o espetáculo cresça ainda
mais, para que os atores apoderem-se daquilo que ainda é muito da direção. Da concepção do espetáculo. Mas preciso
encerrar dizendo que somente uma mente com ainda muito de percepção infantil e
delicadeza humana criaria espetáculos infantis tão mágicos e sublimes como os
que o Máschara cria. Pena, a Cia. demorar tanto tempo para apresentar novas
peças infantis.
Também preciso parabenizar Luis
Fernando Lara(**). Um membro do Máschara que já está presente há anos, e em
quem os atuais integrantes deveriam sim espelhar-se mais, teatro é feito de
amor e dedicação, e é preciso ter um senso de obrigação quase que inexplicável,
uma devoção para algo intocável. Impalpável. Poucos possuem isso e são
certamente os que se tornarão inesquecíveis!
A Rainha
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