Um Amigo de nossa cidade

Um Amigo de nossa cidade.Falar de arte em Cruz Alta por vezes parece um despautério, fala-se muito em cultura, quanto a isso não há duvida, mas nem sempre arte e cultura são sinônimos em nossa língua. Na noite de domingo último, munida de um casaquinho, pois o minuano que soprava parecia anunciar o retorno do frio, dirigi-me a “antiga capoeira”, como diz o colunista Paulo Pinto. Era mais uma edição do Cena às 7, noite de teatro, total tributo à arte cênica.Os setenta minutos nos quais fiquei entretida pelos atores do Máschara, pareceram vinte devido à força temática do espetáculo. Méritos de Ibsen e da direção. O texto era claro, sem circunlóquios, vigoroso, bem a gosto do engendrador norueguês.O elenco era o de sempre. Em cidade do interior os atores são versáteis, o que é um ganho para eles. Na pele do Dr. Stockmann, Cléber Lorenzoni não deu a aula de interpretação que vi em Esconderijos do Tempo, mas era no mínimo uma personagem complexa. Por vezes via-se a preocupação do intérprete em defender ume tese tão socialista em meio a um mundo tão capitalista. Dulce Jorge foi assaz contundente como é de seu feitio, mas confesso esperar um brilhantismo que com certeza virá com a maturidade da obra. Surpreendi-me com Kauane Linasse, aluna de dança do Colégio das Irmãs e o prefeito de Gabriel Wink, sem dúvida a nova geração da companhia, cheios de energia como seus antecessores. Elenco coeso, Marcele Franco bárbara como “a mulher por traz do homem”. Enfim alguns aquéns que caso mencionados soariam como ranzinisse. Cenário simples, mas funcional, impactante. Até o mais desatento compreenderia o apelo do espetáculo sobre o poder da mídia. Fiquei confusa quanto à sonoplastia e o figurino me insinuava algo como os anglicanos que vieram para a américa no século dezessete.
O apelo final foi potente e deveria ser gritado na praça pública. Talvez assim alguns compreenderiam que teatro não é uma simples diversão, é um pleito, onde uma parte da população, ainda que pequena, grita suas necessidades, fala de suas mazelas. Mas esses atores já fizeram demais e torço que continuem com o Cena às 7. “ Por que sim, algumas pessoas querem teatro na cidade!”Um Inimigo do Povo é um libelo ao teatro naturalista e uma impiedosa crítica as elites, aos governos e ao pensamento único.E levando em conta a importância do teatro para a humanidade esses jovens atores cheios de garra só podem ser “Amigos de nossa cidade”.
A Rainha

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