domingo, 31 de março de 2024

1171- Paixão de Cristo - O Julgamento do Messias (tomo II)

                    Quando uma instituição dura tanto tempo, ela cria alicerces baseados nos pontos de vistas de pessoas, que a fundaram, muitas vezes isso não é compreendido por quem chega e que está em busca das técnicas que leu em algum livro ou dos princípios estéticos que veio buscar. O Máschara foi fundado em 1992, ano  de impeachment de Collor, ano de Bill Clinton, de ECO 92, ano do fim da guerra da Coréia, ainda não havia sido criado a moeda "real", e a atriz Daniela Perez era encontrada morta em sua casa. Cléber Lorenzoni era palhacinho do sesc, Renato Casagrande não nascera, Ricardo Fenner ainda não morava em Cruz Alta e Fábio Novello era um adolescente que ainda iria descobrir o teatro. Por outro lado um jovem mulher, reunida em sua casa com um grupo de amigos, queria muito fazer teatro. Cruz Alta não respirava teatro, não respirava muita arte. Havia sim o grupo de danças Chaleira Preta e uma grande mestra da dança chamada Jussara Miranda, que fazia grandes espetáculo de final de ano na Casa de Cultura. Uma mulher tão a frente de seu tempo, que precisou ir embora para Porto Alegre, para se sentir bem com a arte, para poder alcançar o que busca. Sim, naquela época ia-se embora quando se queria brilhar. Não havia oportunidades, não havia lugar onde buscar conhecimento teatral. Não havia chegado nem o curso superior de danças em Cruz Alta. A sociedade olhava com maus olhos quem ousa-se se maquiar com cores tão divertidas quanto as que o Máschara usa hoje em dia. O preconceito era demasiado. Um menino vestindo calças coloridas, ou uma menina vestida de coelhinha, eram coisas de revistas adultas. A arte teatral que havia florescido nas décadas de quarenta, cinquenta e sessenta em nossa cidade, estava adormecida. Digo, que era uma cidade triste... 

                  Nesse primeiro grupo formado em 1992, havia o desejo de expressar-se, de buscar espaço, de dizer: -Ei, estamos aqui!- Em serem aceitos por seus pais, em serem aceitos por uma sociedade. Havia homossexuais, havia a equivocada ideia de que o teatro seria um bom lugar para libertinagem, drogas, e uma gama de outras posturas condenadas pela comunidade. Havia pouco conhecimento, não havia internet, não havia o google, ou a wikipédia. Tudo era muito artesanal. 

                   Nesse cenário forma-se a  estrutura do Máschara. O primeiro dogma que se forma é o de que é preciso perfeição para ter respeitabilidade. De que se precisa fazer sucesso, para que pais e mães parem de dizer que é perda de tempo, ou que só na capital ou em grandes cidades é possível viver "disso". Descobre-se logo de inicio que é do sacrifício e do extremo esforço físico, que nascem os grandes atores. O corpo é base do trabalho do Máschara. Mais tarde a estética visual vem somar-se. Eugênio Barba e Artaud são tidos como a base sólida de onde um ator deve iniciar seu trabalho. Um trabalho que precisa se renovar a cada ano. Reciclar-se. Olhe para sua atuação e sua capacidade criativa, é a mesma há mais de seis anos? Mas também é preciso somar percepção de mundo, compreensão de direitos e deveres, respeito à outras instituições. Compilação de múltiplas técnicas, macetes, hábitos. Regras, regras e mais regras, que ajudam a firmar estruturas. 

                           Ontem sentada na primeira no gramado da praça, mais longe do palco do que eu gostaria, vi rostos conhecidos no público: Gabriel Giacomini, Laura Hoover, Laura Heger, Eliani Aléssio e ainda Henrique Lanes, que subiu par ao palco nos ultimos momentos da turnê. Estes certamente aprenderam a amar o teatro e vieram assistir, teatro. Eis a maior conquista do trabalho do Máschara e que muito me emocionou. A plateia foi agradavelmente boa, na verdade eu esperava ter assistido ao espetáculo na sexta e no sábado viajaria logo cedo. Mas como não matar minha curiosidade, pelo sexto ano consecutivo, ver Lorenzoni recontar A Paixão de Cristo. 

                              Que prazer alucinógeno, quantas possibilidades... Quanto verdade embutida em cada palavra. Quanto do teatro do Máschara. Realmente, viveu-se trinta e um anos para se chegar àquele momento da noite de sábado. Somou-se ali o expressionismo de Antígona, a antropologia de Macbeth e Dorotéia, o minimalismo de A Serpente, o épico de Incidente em Antares. Parabéns. Parabéns!

                                As Érinias estiveram magníficas. Grandiosas. Principalmente Ana Clara(***) e Nic(***). Uma noção espacial, uma capacidade de adaptação ao palco. O grupo estava entrosado e a sensação é de que haviam ensaiado muito para alcançar o produto. Cada coreografia, cada movimento parecia orquestrado, até quando alguma parecia atrasar. A água virou vinho! Literalmente sobre o palco, uma belíssima cena de ilusionismo. Lembrando que o público absorve cinquenta por cento do que o ator faz no palco. Se os atores querem que o público absorva 100 por cento, precisam elevar a cento e cinquenta por cento a cena, ou seja serem extremamente dramáticos. É isso que nós queremos!  Assim como na cena do pequeno Thiago Menor. Exagero meus senhores. Quase histeria. Vocês precisam repetir o clima que Angélica Erthel, Clara Devi e Raquel Arigoni ao lado de Pedro Presoto em Lázaro em 2023. Uma criança ressuscitou!!!

                                  Os apóstolos estão muito bem, mas precisam se colocar nas cenas sem cobrir os colegas, do lugar onde eu estava sentada, quase não consegui ver a cena em que o menino volta dos braços da morte. Lorenzoni não levou muito em conta a hagiografia de cada um dos doze seguidores de Cristo e se permitiu em uma licença poética, envolver Labão, duas crianças e o próprio noivo entre os seguidores. Mas é isso que mais nos atrai nesse teatro. A capacidade de contar uma historia que acaba por ter sentido. Labão (***) tem se mostrado um ótimo ator. Thiago Maior (***)também teve seu ano de graça, uma linda presença cênica. 

                                 Nesse ano tivemos a terceira Maria do espetáculo, uma construção diferente, delicada. Falta ainda mais densidade, por exemplo o gesto de cobrir-se com o véu não teve força. Ora, largar um véu sobre o rosto quando alguém morre, é só um gesto. Mas como MAria faria? Como fazer esse gestos er carregado de memória emotiva e ser um gesto emocional? Há um texto por trás de cada gesto (Laban), que texto o gesto de Maria nessa apresentação ao cobrir o véu disse? Foi um gesto gago! E quanto a taça errada nas mãos de Herodes? Não coloquem taça nenhuma se colocarão a taça errada. Concertar erros promovendo outros é inútil. O que o gesto de Cláudia e Herodes derramando vinho pelo palco disse? Ele disse: -Somos dois atores atrapalhados e ansiosos. Ora, mas essas não são características das personagens, então os atores estão misturando coisas.

                                           Zebedeu, Tomé e Judas estão perfeitos... como  devem  ser, pois são atores do Máschara! Herodes está muito bom, intenso, depois, pelo que soube, de uma longa construção. Não ficou aquém do trabalho de outros grandes Herodes. No entanto é preciso se ater à dublagem. Desenvolver certos hábitos. Quando nãos e ensaiou o suficiente, é necessário pisar em ovos! Ir com cuidado! Coreografar os gestos da pausa para acertar. É isso que bons atores devem fazer. A Samaritana está muito bonita também, mas quando interpreta uma das fúrias (mit. romana), Raquel precisa não permitir que a expressão facial lhe distancie da emoção. Lorenzoni nos deu um novo Jesus, de cabelos curtos e com muito mais emoção e dor. Talvez um tanto dramático e vitimista. Mas mais humano certamente. A pergunta que fica é: -Eles querem ver seu Deus como um homem frágil?

                                  Havia uma atriz, que dizia: -Não tente competir com crianças e animais em cena, eles sempre vencem. Não coloquem animais e crianças em cena. Eles são "fofos demais" e nos tiram da narrativa. Nos impedem de seguir com a catarse. Parabéns ao Máschara por ir semeando nas crianças o amor e respeito pela arte. Kaifaz está perfeito, vivo. Mas não entendi por que não bateu no rosto do Cristo. 

                               Arimatéia é uma grande construção do mesmo ator que interpretou o mendigo, e sua saída conduzindo o cortejo é muito bonita, já que foi ele que deu o manto e o sepulcro à família de Jesus. Ainda que isso tenha causado sua prisão, arquitetada por Kaifaz e Herodes. Madalena e Claudia precisam marcar melhor suas presenças, palmas para um determinado toque de mãos entre Madalena e Jesus, e pena que tirem sempre Claudia de cena, antes de ela encerrar seu momento. 

                                Foi sem duvida um espetáculo lindo. O máschara, como todos dizem, tem um diferencial, que começa nas exigências de sua diretoria, na complexa relação entre seus membros e nas possibilidades que oferecem aos que ali buscam saciar a sede com a arte. Não vou mencionar um a um, ou essa coluna durará três páginas. Mas estendo meus votos de admiradora à todos. Vocês tem um tesouro nas mãos, não o deixem ruir.


                        O melhor: O coro lindíssimo com mascaras boladas por Fabio Novello e  interpretado por um grupo incrível. Raquel Arigony, Ellen Faccin, Clara Devi, Antonia Serquevitio, Duda Martins, Ana Kremer, Luísa Kremer, Mari Valandro e Nic Miranda.

                      O pior: Arrastar o colega de cena pelo asfalto, correndo o risco de assim não ter apresentação no dia seguinte e ainda colocando em risco sua integridade física.

Jesus e seus seguidores


 

A Cozinha da Super Toca, com Raquel Arigony e Carol Guma


 

Às portas da Catedral Diocesana de Cruz Alta, o elenco Paixão de Cristo 2024


 

Os Amigos do Máschara


 

Carol Guma, vencendo desafios para o teatro não parar


 

Três jovens atrizes- Ana Clara Kraemer, Duda Martins e Valentina Lemes


 

Um click do senhor coelho com nossas crianças cruzaltenses


 

domingo, 24 de março de 2024

1167 - A Paixão de Cristo - O Julgamento do Messias (tomo I);

                  Pré - estreia 

                 Sentada em uma cadeira na avenida principal, de frente para a conhecida Matriz São José, pude avaliar cada detalhe de um espetáculo que chega a sua sexta versão, sempre com algo novo, com o frescor de algo não contado, com textos que se cruzam, frases tiradas de inúmeras passagens bíblicas ou litúrgicas, contando passagens simbolistas e com grade licença poética. Não é definitivamente a melhor versão feita pelo Máschara, muito embora, a partir de 2029, o Grupo desenvolveu uma fórmula, muito funcional.

               O espetáculo tem como objetivo, fazer refletir, emocionar e dar espaço a novos artistas, além é claro de perpetuar a tradição desse tipo de teatro. Lorenzoni mantém presentes alguns personagens indispensáveis e soma outros novos. Destaque para Junior Lemes, no papel de Tio Labão, com uma presença cênica admirável. O espetáculo é dividido em dois grandes atos: o primeiro voltado para o sermão da montanha e o segundo denominado Julgamento. Envolvi-me do começo ao fim, embora tenha visto alguns deslizes, que vão de detalhes de figurinos à dublagens mal operadas. Os dois Pedros precisam se antenar mais em alguns momentos em que a plateia percebe a inexatidão de suas falas com a movimentação de seus lábios e das palmas de Oriati.

                     Oriati saiu-se muito bem como Herodes, mas precisa buscar maior comunicação com o público. No aspecto caracterização, o visual do elenco que leva assinatura de Renato Casagrande(Stat.I) e Clara Devi(Stat.III), é muito funcional, e enche os olhos, mas há nos calçados um descuido, uma falta de acabamento que peca e muito. 

                      Todos os anos, um dos exercícios humanos mais interessantes que pratico, e que se estende imagino, a muitos que admiram e acompanham o grupo, é controlar a curiosidade em quais atores,  a direção do espetáculo elencará para ocupar as personagens. Poucas foram as surpresas, quando compara-se a outros anos: Carol Guma interpretando Maria de Nazaré, o que faz bem, embora, a atriz ainda seja muito jovem para o papel. Antonia Serquevitio (Stat.IV) elencada para uma Madalena que é espremida entre a cena do julgamento e que a meu ver não deveria ter interpretado a noiva na primeira cena, pois isso confunde a plateia. A repetição de Ricardo Fenner(Stat. III), Fabio Novello (Stat.II), Douglas Maldaner(Stat.IV) e Renato Casagrande (Stat.II) em papeis que já haviam interpretado em edições anteriores. Ninguém tem grande destaque, talvez por que o grande trunfo do ano, sejam as feiticeiras. Essas sim, roubam a cena ao lado de Nicolas Miranda que se destaca como "a tentação", que muitos chamarão de demônio, mas que para mim parece muito mais a "consciência do Cristo".

                            Jesus interpretado pelo pequeno Ravi Dantas e depois por Cléber Lorenzoni, está diferente, mais leve, mais frágil, diferente das versões de 2022 e 2023. Aliás o prelúdio do espetáculo é de muito bom gosto e o público ao meu redor na plateia, estava completamente seduzido pelas peripécias do pequeno Dantas. Uma pena, Lorenzoni ter ausentado do espetáculo a cena de embate entre Jesus e os velhos do templo, o que temos é um salto temporal que nos tira do Getsêmani direto para o que seria a "Fortaleza Antônia" (local do julgamento). O salto temporal é ditado pela narração das "mulheres de vermelho", que supostamente são algum tipo de pranteadeiras. 

                              Destaque para Ana Clara Kraemer e Ellen Faccin, embora todas estejam muito bem, claro, com mais ensaios podem ficar ainda mais intensas. Preciso elogiar, Felipe Brandão, Valentina Lemes, Kleberson Bem Borges, Bibi Prates, Henrique Arigony, Duda Martins, Ana Luísa Kraemer, Rafaelo Fiuza, Mari Valandro e Anderson Botega, toda uma geração jovem que sobe ao palco com uma garra linda. Ainda em cena a energética Marli Guma e o velho colega Stalin Ciotti (que maltratou o cristo).

                                 Destaque também para a caracterização de Romeu Waier e o jogo entre os velhos do templo, Kaifaz (Renato Casagrande), Anaz (Romeu Waier) e Arimatéia (Pedro Loso).

                              Lorenzoni e a direção, optaram por uma grande cena, das bodas de canaã, onde acredita-se tenha ocorrido o inicio da vida pública de Jesus. A nível de roteiro, o grupo optou por uma narrativa na qual o jovem Jesus sente o peso em ter que entregar-se ao destino decidido por seu pai. Jesus deixa de ser o herói para ser um homem que teme o que lhe espera na via dolorosa. Isso pode não agradar aos mais religiosos, pois humaniza-se por demais o Cristo. 

                                Arigony e Devi, ficaram com dois destaques: Samaritana e Prócula, amas conseguem bons resultados e alcançam os propósitos. 

                                 Finalizando diria que houve um bom equilíbrio de interpretações, o que é bom para o elenco e ruim para a direção desse espetáculo. Meus parabéns a todos que ergueram cada caixote, que desenharam cada mascara, que empacotaram cada figurino, pois eles trabalham silenciosamente, ou não, ano após ano, para que a Paixão de Cristo do Máschara seja um verdadeiro ponto de cultura.


O melhor: A garra de Carol Guma vencendo suas próprias barreiras, interpretando com o pé machucado.

O pior: O final muito repentino do espetáculo, ou seja, após a via dolorosa, tudo acontece muito depressa.

                            


Arte é Vida


A Rainha

Labão, pai da noiva de Canaã


 

Elenco da Paixão 2024


 Henrique Arigony, Rafaelo Fiuza, Anderson Bottega, Duda MArtins, Ana Luíza Kraemer, Carol Guma, Marli Guma, Júnior Lemes, Douglas MAldaner, Ricardo Fenner, Fabio Novello, Renato Casagrande, Dudu Pressoto, STalin Ciotti, Pedro Oriati, Romeu Waier, Kleberson Bem Borges, Antonia Serquevitio, Ricardo Fenner, Ellen Faccin, Mariana, Clara Devi, Ana Clara Kraemer, Nic Miranda, Ravi Dantas, Cléber Lorenzoni, Gabriel Prates, Valentina Lemes, Felipe Brandão.

Jesus e os apóstolos 2024.


 

quarta-feira, 6 de março de 2024

Foto de Divulgação - A Paixão de Cristo Ano VI - O Julgamento do Messias


 

1164- Lili Inventa o Mundo - tomo CXXVI - Humaitá.

                     O que falar de um espetáculo com mais de cem apresentações? Talvez não haja realmente mais nada a ser dito sobre o espetáculo Lili Inventa o Mundo. Porém o espetáculo tem muito a dizer para o público infantil, afinal de contas, fala sobre leitura, sobre poesia, sobre amizade, sobre coragem, fé, e outros múltiplos temas que são um verdadeiro presente às nossas crianças; O texto de Cléber Lorenzoni, inspirado na obra de Quintana, chega a 125ª apresentação, e é uma porta de entrada para o tipo de interpretação do Máschara. Praticamente todos os integrantes a partir de 2006, vestiram os costumes de Lili Inventa o Mundo. 

                           A inesquecível Angélica Erthel, Gabriel Wink, Gelton Quadros, Tatiana Quadros, são alguns dos tantos talentos que a cada geração agregaram e aprenderam com a cena. 

                           Mas por que Lili nos toca tanto? Porquê nos sentimos crianças?! Porquê o universo do espetáculo passeia pela nossa mente. Mario colocou no texto duas fadas, ao que parece uma boa e uma má. Uma paródia eu diria de O Mágico de Óz, onde há duas bruxas. A boa do oeste e a má do leste.

                                   No tomo da vez, mais uma estreia, Carol Guma, divide o palco com veteranos e jovens atores e prometheus. São mais de quarenta minutos de uma delicada trama que envolve canções, musicadas por Dulce Jorge, brincadeiras, e claro um bufo e um clown. O bufão, apropria-se da cena e comanda visivelmente a festa. Aliás, o prólogo proposto pelo "senhor poeta" nos mostrou a importância do bom diálogo com as crianças, reforçou também o poder do lúdico.

                               Alguns atores aliás precisam buscar esse lugar, ele é importantíssimo aos bons atores, ele nasce lá na iniciação teatral, ou não. O clown de Serquevitio, pode e deve ser mais efetivo, mais presente, brincalhão. A psique da personagem deve ser mais rápida que sua ação. Malaquias é uma criatura que nos lembra aqueles mascotes de filmes de fábulas. Uma criatura encantada. Indico ao elenco aprender percussão e afinar o ouvido, junto aos expoentes mais antigos da trupe. A rainha das rainhas de Carol Guma é muito doce e tem um gestual encantador, precisa agora apropriar-se do espetáculo como um todo. Torço que a decima segunda rainha das rainhas da peça, permaneça. 

                                    Nicolas Miranda pode buscar mais emoção na transformação, mas o mais importante a todos do elenco: ouvir, ouvir, ouvir!!! A ausência de "ouvir", está visível e audível, no fato de que em quase todas as piadas do elenco atropelou-se o riso da plateia. Isso se chama triangulação! A piada é dada, bate na plateia e volta para que o outro ator encerre. Renato Casagrande carrega o mérito de uma personagem bem constituída que não cai no lugar fácil da interpretação infantil.

                                       Lili Inventa o mundo tem uma leveza, um visual delicado, inspirado em cores, movimentos e desenhos vocálicos que nos fazem ver o teatro com outro olhar. Lili é uma menina curiosa, mas intimidada por não conseguir compreender a poesia, talvez por que os adultos a tenham elitizado e a tornado algo quase inalcançável. Porém a poesia está em toda a parte, ela é a natureza versos o homem, vivendo junto e se indagando sobre a beleza e a dor da existência. Tudo é poesia e por isso Lili vai inventando seu mundo.

                                       E pensar que a estreia desse espetáculo foi na cidade de Sinimbu em abril de 2006, o mundo mudou muito de lá pra cá, mas não mudou a certeza de que o bom teatro não passa...

                                    O Melhor: O diálogo entre o Senhor Poeta e o público, mostrando que no palco atores são reis e devem ser respeitados.

                                     O Pior: O ato do elenco fazer perguntas ao público e depois não conseguir dominá-los.


Arte é Vida

                        A Rainha

LilI Invent ao Mundo (2006)

Direção: Cléber Lorenzoni

Elenco: Clara Devi (**)

              Cléber Lorenzoni (***)

              Renato Casagrande (***)

              Nicolas Miranda (**)

              Antonia Serquevitio (**)

              Carol Guma (***)


Contra-regragem - Ellen Faccin

                               Ana Kraemer





                


segunda-feira, 4 de março de 2024

A diretora Giane Ries, em visita ao Palacinho


 

Antonia Serquevitio- A Beatriz de O Grande Circo Mágico


 

Éllen Faccin em cena como Macabéa


 

1163- A Hora da Estrela - (tomo VIII)

Um espetáculo que precisa ser visto e revisto.


                    Lorenzoni troca a atriz, mas mantém a vigorosa mensagem de A Hora da Estrela. Observando as dificuldades enfrentadas para o espetáculo subir ao palco, senti por um momento um certo condoimento pelos artistas de teatro. Devido as péssimas qualidades arquitetônicas dos espaços teatrais pelo interior, os espetáculos não conseguem exercer com toda a qualidade seus trabalhos, afinal de contas, tamanhos de palcos, ausência de pé direito (urdimento), pouco material de luz, tudo isso e muito mais, acabam por diminuir a qualidade da cena ofertada. A arte do artista sai prejudicada, e a mensagem não se conclui. Um exemplo disso foram as duas cadeiras, que nada tem a ver com a visão do encenador e que destoam o tempo todo.

                     Mas nos atenhamos ao que temos, sob a luz poderosa de Grotowski e seu teatro pobre, sobre os ensinamentos de que teatro é uma historia bem contada. Macabéa nos conta grandes coisas, auxiliada por um elenco forte e unido. Lorenzoni, Casagrande, Miranda, Waier, Novello, Serquevitio, Devi, Arigony e Guma, se esmeraram para preencher frestas, e assim conduzir a estreante na peça Ellen Faccin. Conduzir para o grande final que já conhecemos. 

                       Ellen Faccin já surpreendera nos ensaios e agora surpreende como mulher desprovida de vaidade,  sem poesia alguma e muito simples. Houve alguns pecados em relação à curva dramática, acarretados possivelmente pela falta de ensaios. 

                         Há em A hora da Estrela um lado bom em cada personagem, o médico que aconselha, o chefe que acaba por não demitir, a dona da pensão que oferta estadia gratuita, até as colegas de quarto têm seu lado humano. Ou seja, há esperança em vários personagens. Serquevitio substitui bem, mas fica uma pergunta, a interprete está interpretando Marilyn ou Laura Hoover dirigida por Cléber Lorenzoni.

                         Clara Devi retorna ao palco com uma deliciosa veia cômica, mas precisa interagir mais com os colegas e Raquel Arigony precisa de mais ensaios. As cores todas são muito bem escolhidas, o visual de cada lugar compõe  muito bem, e é interessante ver uma cidade que não tem o costume do teatro, assistindo um espetáculo que esbanja códigos típicos do mise en scene. Também por isso A hora da estrela é um grande espetáculo, por que carrega o lugar magistral do teatro,  irredutível, irrepetível. Alí é o corpo energizado do ator que dá formas e não um corpo torneado por phtoshop, mas formado por interpretação e reflexão. As cenas mais amargas, dolorosas do espetáculo, são lindas. Claro que senti em mim a extirpação da personagem da tia, por outro lado as pontuais personagens em status um e dois do espetáculo preencheram vazios. Cléber Lorenzoni consegue ser muito rápido em caracterização e mal deu para perceber que Olimpio e Madame Carlota eram a mesma pessoa. Kleberson, o aprendiz, por outro lado assumiu a sonoplastia praticamente em cima da hora, mas foi bem guiado por mestres. 


O Melhor: A conversa do diretor com a plateia

O Pior: A ausência da personagem da tia.


Arte é VIda                                                             A Rainha


A Hora da Estrela

Direção: Cléber Lorenzoni

Elenco: Ellen Faccin  (***)

              Renato Casagrande (**)

              Cléber Lorenzoni (**)

              Carol Guma (**)

              Antonia Serquevitio (**)

              Romeu Waier (**)

              Clara Devi (**)

              Nicolas Miranda (**)

              Raquel Arigony (**)

              Fabio Novello (**)

Contra-Regragem : Kleberson Ben Borges (**)

                                Ana Clara Kraemer (***)




                               

Três atores de A Paixão de Cristo em prova de costumes


Na foto Pedro Oriati, Junior Meirelles, Renato Casagrande

 

domingo, 3 de março de 2024

1162 - O Grande Circo Mágico - Tomo 14- Humaitá

                Confesso que quando frequentava o circo durante a infância, meu maior objetivo era render vivas aos animais. Elefantes, pôneis, leões e macaquinhos. Certamente  que outras números também prendiam minha atenção, no entanto quase sempre acabava por me cansar em assistir números de palhaços ou mesmo trapezistas morosos. A azáfama por números repetitivos, conhecidissimos. É necessário que artistas sempre se renovem. Mais tarde, já adulta, quando voltava com as crianças, eu ficava irritada quando eram pessoas que se vestiam de animais, já que estes haviam sido banidos para seu proprio bem (dizem), dos circos. No entanto lá no fundo, na menina que carrego dentro de mim, há um carinho quase venerável pelo clima circense, pela grande cortina que cobre o fundo do picadeiro e de onde podem sair as mais transloucadas criaturas, as invenções mais inimagináveis. 

                    O circo do Grupo Máschara, possui uma verdade muito propria e eu diria iquestionável, afinal, conta-se alí o que se quiser contar, com sacrifico, verdade e criatividade. Um circo estabeleceu-se em Humaitá. Como não pude estar presente, assisti por vídeo, o que não é a mesma coisa, no entanto deu para sentir o clima lúdico-fantástico que o circo propõe. Mestre Lorenzoni abriu a cena e foi seguido por um Romeu Waier muito capacitado no papel de cicerone. Ainda que com uma atuação mórbido-cômica, Waier triangula muito bem com os cômicos, Fabio Novello e Renato Casagrande. Aliás a noite foi dese trio que segurou as pontas de um espetáculo muito pouco ensaiado. Confiamos todos no mestre Cléber, mas jogar um elenco sobre o palco com poucos ensaios é assustador. Claro que se levarmos em conta o tempo de palco desses artistas, versos o quanto ensaiam, preparam-se, jogam juntos, realmente parecerá plausível. Cão e Galinha cumprem, e empolgam as crianças, e mesmo a confusão que mais parece "falta de ensaios", deixa a cena galinacea interessante.

                      A cena de Esmeralda, pode ser mais precisa, e d efla pergunta: - Trata-se de uma bailarina de flamenco, ou uma palhaça? - Ambas as escolhas são coerentes, mas precisam ser definidas. Um trágico acidente de percurso tirou a anterior cena da boneca, a levou para o mundo das lendas, juntamente com a interprete de Beatriz e o trapézio da "gata". Ainda assim o espetáculo se mantém, já que seus quatro pilares se mantém. E esses não devem ser tirados ou mechidos em meu entendimento. Sào eles: Casal chaplin, apresentador, palhaços e cena do tecido. É claro que o todo é muito importante, mas números novos podem ser incluídos, outros tirados. Mas há uma base imutável que define esse circo. 

                          O número oriental é interessante e em uma cidade pequena convence, mas precisa d emais ensaios. Precisão. Gente de circo não faz  "bonitinho", faz bem executado!

                              Quando chegamos ao número da barbearia, os artistas parecem levemente cansados. Falta de hábito com esse espetáculo? É preciso que atores treinem todos os dias suas técnicas, ou elas enferrujarão. 

                               Carlitos e Carlita abrem e encerram de forma bastante poética. Uma lindissima homenagem ao silêncio do palco, ao lúdico, à máscara e à historia do palhaço. Lorenzoni no entanto pareceu-me pouco a vontade na cena, e Romeu Waier optou por não dar encerramento ao espetáculo.

                                  Uma linda noite, de circo e me fantasia.


O melhor: a ousadia da equipe em colocar um espetáculo daqueles sobre o palco apesar de tudo.

O pior: A iluminação que prejudicou mutio da cena.

Arte é Vida  

                                        A Rainha


O Grande Circo Mágico

Direção: Cléber Lorenzoni (**)

Elenco: Cléber Lorenzoni (*)

              Raquel Arigony (**)

               Romeu Waier (***)

             Renato Casagrande (***)

              Fabio Novello (***)

              Antonia Serquevitio (**)

              Clara Devi (**)

              Nicolas Miranda (**)

              Ana Clara Kraemer (**)

               Ellen Faccin (**)


Contra-regragrem:

Carol Guma (***)

Ellen Faccin (***)

Kleberson Ben Borges (**)

Ana Clara Kremer (**)