quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Contos do Vovô Erico - Episódio final

 

                              Os excelentes aspectos visuais dos trabalhos do Máschara não são novidades para quem assiste seus espetáculos, sempre acostumados às direções cheias de detalhes e signos propostos por Cléber Lorenzoni. O último episódio de Contos do Vovô Erico me tocou profundamente pelo perspicaz detalhe na capa do livro nas mãos do ator Renato Casagrande e pela forma como os personagens foram voltando ao livro. A trama certamente é simplória, e foi graças a versátil escolha de figuras que conseguimos assistir até o final.  À Alessandra Souza falta domínio perante a câmera, e a Renato Casagrande, mais maturidade na hora de compor uma figura idosa. Coisas que certamente virão com o tempo e a prática. Por outro lado, a forma como Renato Casagrande trabalha as edições e apara as cenas propostas por Cléber Lorenzoni é louvável. A caracterização de Kauane Silva e Laura Hoover como Japonesa e Indiana respectivamente foram bastante delicadas e assertivas.  Outro mérito do episódio foram as escolhas dos bonecos e sua manipulação mas principalmente a escolha pela técnica de ventriloquismo, que consiste em falar sem mexer os lábios, para que a voz pareça vir de outro lugar. Algo difícil que nasce ainda na época medieval em grupos mambembes. Cléber Lorenzoni pelo que percebi fala pelos três bonecos presentes na historia proposta. Não vou ficar aqui elogiando, mas torço que os atores jovens que a sua volta perambulam, aspirem toda sua arte e aprendam muito do que esse artista tem para ensinar. A cada nova ideia, a cada novo mergulho, uma nova descoberta, um novo talento.

                                     A mente de Erico Verissimo era sem duvida de extrema capacidade inventiva. Li sua obra infantil logo na primeira edição e foi para minha filha que comprei no século passado as aventuras do avião vermelho. Acredito que ao contrário das grandes profundidades e transcendências que se busque ao se adaptar uma obra, Erico queria escrever algo gostoso para entreter filhos e netos...  Erico consegue e nossa função é descobrir o que de Erico devemos realmente teimar em manter vivo para as próprias gerações.

                                      Na boca dos contadores de historia do Máschara as historias tornaram-se extremamente vivas, coloridas e então me questiono o que é ser diretor, qual a função do artista e qual a diferença entre cada um.  Qual a função de cada área da arte. Certamente todas se completam. O que se pode criar emparedados por uma pandemia, o que se pode criar com um pouco de criatividade e generosidade pela arte do outro.

                                      Parabéns a todo o elenco que participou dos contos do vovô Erico, um exemplo da capacidade do Máschara em criar...



Arte é Vida



                           A Rainha

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

A aparição da Madrinha de quem não a tem!


 

A Lenda do Menino do Pastoreio - 906 - Críticas da rainha

Teatro em meio a pandemia


                              Falar de temas de escravidão no Brasil (ultimo país onde os escravos foram oficialmente liberados) é extremamente audacioso, pois as questões raciais podem gerar debates acirrados e complexos. Cléber Lorenzoni dirigiu em quatro dias uma peça simples, mas singela, eficaz mas com um leve resbalão no melodrama. A Lenda do Negrinho do Pastoreio, aqui adaptada para "menino do pastoreio" quer realçar que antes de qualquer questão de raça trata dos sofrimentos de um menino, uma criança. 

                                            O espetáculo profundamente humano, carrega a estrutura medieval de sottie ou auto, tudo se encaminha para que uma figura religiosa se apiede dos sofrimentos do homem. Aqui, no caso, de um escravo, o que torna ainda mais emblemática  a lenda. Um grito certamente humanista em relação ao desumano tratamento relegado aos escravos. 

                                           A dramaturgia assinada por Lorenzoni revela um senhor de escravos que se apega ao menino domador dos cavalos e quase o considera como filho. Olga interpretada por Clara Devi faz a linha abolucionista que não compreende como alguém pode ser "dono de pessoas".  Mesmo na ação inicial Cléber Lorenzoni já troca os clichês gerados por nossos preconceitos, nos oferecendo uma realidade muito ousada, a afilhada da empregada é branca e os patrões são negros. 

                                             Porém é a poesia de Vitoria Santa Cruz que vai se transformando em outra coisa muito mais questionadora, que mais me atrai no espetáculo. Eu sou branca, e o homem ao meu lado é preto. São duas cores... Não é moreno, ou pardo, ou caboclo...  A raça branca subjuga até mesmo a cor do outro pois não a tolera enquanto raça... 

                                              Agora o que essa senhora precisa realçar é que esse trabalho, sensível, foi concebido em apenas quatro dias. No palco atores conhecidos ao lado de jovens iniciantes. Cléber Lorenzoni, Renato Casagrande e Alessandra Souza são atualmente a cara do Máschara, os três estão em praticamente todos os trabalhos da companhia. São atores tradicionais já, quando um deles está no trabalho você sabe que no mínimo haverá profissionalismo. Por isso é tão bom ver Clara Devi despontando, a Alice de Tem Chorume no Quintal nos oferece uma composição muito mais madura e definida. Seu jogo em cena com o ator Renato Casagrande é gostoso, ritmado. 

                                                No elenco mais jovem, Beraldo e Toninha estão de volta, dessa vez ele como protagonista. Nicholas Miranda recebeu o texto no domingo e na sexta ocupa espaço central da nova montagem do Máschara. Uma confiança delegada há poucos desde que conheço o grupo. Não sabemos se o jovem ator pretende continuar, se realmente sentiu a arte lhe escolher, mas nós enquanto plateia gostamos do que vimos. Laura Heger se destaca na pequena Xiquinha, mas pode e deve se dedicar mais para extrair tudo o que Pinguancha pode lhe oferecer.  Alessandra Souza pode buscar mais maturidade para sua personagem, talvez mais humanismo.

                                               A lenda do Pastoreiro já foi contada por muitos escritores, destacando-se a versão de Simões Lopes Neto e ainda Clarice Lispector. Lorenzoni nos dá nova versão, aqui o menino "Nerêncio" tem como inimigo o revoltado Neco que por inveja  acaba impondo sobre ele um terrível mal. 

                                         A grande dificuldade em assistir teatro através de plataformas ou redes sociais, é o fato de que na maioria das vezes os grupos que dominam tanto o palco, não estão preparados, ou não tem equipes técnicas capazes para executar um bom trabalho frente às câmeras. 

                                        O espetáculo passeia por algumas linguagens bastante distintas, a própria farsa  parece muito presente na dramaturgia e na atuação de alguns personagens. A maquiagem reflete isso de forma um tanto imprecisa, não funcional. Talvez a simbologia pudesse ser mais pontual. O cenário é bonito, mas os rasgões dos painéis precisam ser mais expressivos ou então tirados da peça. 

                                              A trilha sonora  é bastante eficaz, embora muitas vezes apenas sublinhe a cena. O figurino é repleto de acertos  típicos de Renato Casagrande e de sua assistente. Porém no prologo a escolha das roupas poderia ser mais precisa. Quanto a iluminação, o que posso dizer é que certamente houve uma rascunho de uma ideia, no entanto na filmagem que assisti, mais atrapalhou do que pontuou.                       

                                              A simbologia, o lúdico, a poesia, tudo converge para um bom efeito que será certamente objetivado com mais tempo de pesquisa e trabalho. As rápidas transformações, a corrida de cavalos de pau, a composição dos velhos, são méritos dessa capacidade do grupo em compor produtos rápidos, mas tudo deve ser mais ensaiado para chegar ao padrão do Máschara.

                                              Terminei o espetáculo tocada pela forma cândida como  o enredo foi fechado e parabenizo a atitude corajosa de manter viva a chama do teatro. O Máschara sempre desponta se reinventando e impedindo que esqueçamos a necessidade da arte.



                                                           Arte é vida


Clara Devi (***)

Laura  Heger (**)

Nicholas Miranda (***)

MArtha Medeiro (***)     

Kauane Silva (***)                                          

Elenco de Menino do Pastoreio, mais um sucesso do Máschara


 

domingo, 13 de setembro de 2020

Sob o olhar de Martha Medeiro - Electra de Sófocles

A importância da semiótica dentro de uma obra artística é visível na cena da aluna Martha Medeiro que sob orientação do diretor Cléber Lorenzoni da voz à signo, simbolo e apelo visual as sensações ditadas por Sófolces em Electra

 

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

O ator Romeu Waier dando vida a dor de Medeia

Cristo deu a vida por seus filhos, e Medéia? 
Esse raciocínio parte de uma reflexão muito interessante que merece ter espaço entre as discussões propostas pelo teatro da ESMATE . Eurípedes nos deu uma princesa feiticeira repleta de mistério, força e passionalidade, Romeu Waier nos fala dessa mulher com uma vivacidade, uma força incríveis. 
Quem são as Medéias entre nós?


 

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Hécuba por Raquel Arigony

Raquel Arigony busca em mulheres oprimidas e vitimas de atrocidades no lar, inspiração para uma passagem da obra de Eurípedes, Hécuba. O discurso da atriz é recheado de força e de compaixão por um tema tão atual.

 

domingo, 6 de setembro de 2020

O diretor e ator Cléber Lorenzoni vive Andrômaca em uma versão totalmente atual

 Para mim não há como fazer teatro sem procurar conexões com nosso dia a dia, com nossa realidade. A civilização que cai em Tróia vai se repetindo guerra após guerra, e sem dúvida uma dessas civilizações mais sofridas, injustiçadas, é a civilização indígena. Esse foi o ponta pé para me inspirar em minha performance. 

                                 Cléber Lorenzoni


 

Caravana da Solidariedade


 

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Eliani Aléssio como Antígona de Sófocles

A aluna da ESMATE, Eliani Aléssio da voz à princesa tebana que se vê perdida entre a lei e seus princípios. A cena tem uma roupagem romântica, quase um olhar renascentista. Impossível não ver na construção da atriz um pouco de Ofélia ou Fedra... 

 

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Renato Casagrande serve de corpo para o oráculo dos Deuses

Tirésias profetizou as dores e os sucessos dos Labdácidas todos, Creonte, Laio e Édipo ouviram, mas preferiram dar as costas ao homem dos deuses. Todos pagaram um alto preço. Nessa passagem, Renato Casagrande dá vida ao ser mais enigmático da tragédia grega, mas o mais incrível é certamente a entrelinha das palavras, será que estamos abandonados pelos deuses?

 

terça-feira, 1 de setembro de 2020

905- Análise do quarto episódio dos contos do vovô Erico - Os três porquinhos pobres.

                    A obra infantil de Erico Verissimo passeia visivelmente por outros clássicos da literatura e do cinema de sua época, por isso mesmo não poderia ser diferente com o  texto de Os três porquinhos pobres. O intrigante para mim enquanto assistência, foi ver a forma como a direção mesclou o código cinematográfico no trabalho, usando ainda a ludicidade. 

                      Uma vez ouvi de alguém que a obra infantil de Verissimo é difícil, inferior à sua produção adulta. Triste análise, sua obra é exatamente a variante, a metamorfose e olhar único sobre cada personagem. 

                      Nesse livro especificamente, há para mim uma armadilha no curso dos acontecimentos. Os três porquinhos saíram do "chiqueirinho" e apesar de serem curiosos e aventureiros, pararam no mesmo lugar; ora quando Erico lança essa  obra, Jean-Paul Sartre já perambulava entre nós com seus ensaios filosóficos, já nos questionávamos de onde vinhamos dentro dos vieses do existencialismo. Os três porquinhos são senhores de suas escolhas e radicalmente após perambular pelo mundo obscuro que nos espreita lá fora, decidem ficar em outro "chiqueirinho". O mundo é vasto e Lorenzoni tenta mostrar isso usando uma gama de personagens bem maior que nos outros episódios da franquia. 

                               O jumento, a galinha e Missis Gata são o primeiro trunfo da narrativa. Os três juntos tentam esclarecer as ideias confusas do porquinho Linguicinha, porém as mesquinhezas e inseguranças dos três animais ficam claras quando eles se mostram incapazes de aconselhar. O porquinho acaba precisando sanar sozinho sua duvida. 

                                          Juntos os três "heróis" da historia, heróis por que sofrem todas as influencias e intempéries da narrativa, e por que devem cumprir a "jornada", aquela a que todo herói esta fadado. Nessa jornada os porquinhos divertem-se, sentem medo, entrem em contato com o desconhecido. Não há  vilões, o vilão (lobo) está no filme, na "disney" a vida real é repleta de uma fauna absolutamente atraente e amedrontadora, mas não passa de vida real.

                                    Lorenzoni, Casagrande e Nardes estão muito conectados o que dá ritmo e veracidade a historia. Um jogo a três difícil de ser encontrado. Assistindo da para perceber com facilidade o quanto Vagner compreende bem os códigos de Cléber e vice-versa; do mesmo jeito, Renato consegue criar e pavonear-se sobre as criações dos dois colegas. Uma pena a historia ser tão curta, pois é extremamente prazeroso ver a equipe atuando. 

                                   Clara Devi, Alessandra Souza e Martha Medeiro são coadjuvantes de alto nível. Devi com sua maturidade para com a câmera. Souza com uma cena que foi um delicioso presente de candura e delicadeza. Medeiro rouba a cena e nos deixa um gostinho de quero mais. Talvez um cuidado maior com a dicção abrilhantaria ainda mais a sua cena.

                                       Roteiristicamente há alguns entraves que para o palco não chegam a ser problemas, mas que frente ao vídeo deixam a desejar.  A solução da menina, o ovo que surge do nada, a informação de que eles voltaram ao mesmo lugar, são alguns dos detalhes que poderiam ser melhor alinhavados. 

                                       É preciso ainda voltar o olhar para a iluminação, que melhora a cada episódio, Há sim, sombras, densidades equivocadas de brilho em cenas alternadas. Mas há cuidado com continuidade, ritmo de câmera, troca de focos com precisão. As cenas do filmezinho dentro da historia,  onde os três porquinhos se vêem refletidos, é um escopo memorável, principalmente quando faz alusão ao cinema mudo. O máschara se reinventa e isso nos orgulha. A cada geração, a cada novo ciclo, a cada nova equipe de interpretes que surgem. 

                      O teatro não pode parar nesse momento, mas felizmente os ESMATIANOS conseguem sempre nos surpreender. Hoje eu assisti o vídeo por que Cléber Lorenzoni  me enviou um link, mas acredito que a divulgação deveria ser mais eficaz, mais abrangente. Há muita gente em casa recebendo uma enxurrada de opções, para atrair o público é necessário concorrer, empreender. 

                            Outro pensamento reflexivo que passou pela cabeça dessa senhora, foi quanto à continuação: Outra vez os três porquinhos pobres. Será que a direção do projeto pretende confeccionar um produto que beneficie, que abranja a continuação das peripécias de nossos "heróis"? 

                          O melhor: A criatividade que envolve tantas figuras inusitadas no quarto episódio e a versatilidade do elenco. 

                         O pior: A fragilidade do roteiro de Cléber Lorenzoni.


Clara Devi (**)

Martha Medeiro (***)

Vagner Nardes (***)


                           

                       

Hêmon de Sófocles pelo olhar de Ellen Faccin

O diálogo de Hêmon e seu pai Creonte é um dos mais consistentes e marcantes de toda a tragédia grega, o filho que tenta iluminar a mente do pai, embora seja considerado pela regra natural, imaturo por sua juventude. A aluna Ellen Faccin, orientada por Cléber Lorenzoni, apresenta seu ponto de vista nos primeiros segundos do vídeo e então incorre pela cena com o se estivesse jogando uma partida de Xadrêz. 

 

Em homenagem à atriz Laura Hoover

Parabéns ä atriz Laura Hoover que há quatro anos emociona através de seu talento