905- Análise do quarto episódio dos contos do vovô Erico - Os três porquinhos pobres.

                    A obra infantil de Erico Verissimo passeia visivelmente por outros clássicos da literatura e do cinema de sua época, por isso mesmo não poderia ser diferente com o  texto de Os três porquinhos pobres. O intrigante para mim enquanto assistência, foi ver a forma como a direção mesclou o código cinematográfico no trabalho, usando ainda a ludicidade. 

                      Uma vez ouvi de alguém que a obra infantil de Verissimo é difícil, inferior à sua produção adulta. Triste análise, sua obra é exatamente a variante, a metamorfose e olhar único sobre cada personagem. 

                      Nesse livro especificamente, há para mim uma armadilha no curso dos acontecimentos. Os três porquinhos saíram do "chiqueirinho" e apesar de serem curiosos e aventureiros, pararam no mesmo lugar; ora quando Erico lança essa  obra, Jean-Paul Sartre já perambulava entre nós com seus ensaios filosóficos, já nos questionávamos de onde vinhamos dentro dos vieses do existencialismo. Os três porquinhos são senhores de suas escolhas e radicalmente após perambular pelo mundo obscuro que nos espreita lá fora, decidem ficar em outro "chiqueirinho". O mundo é vasto e Lorenzoni tenta mostrar isso usando uma gama de personagens bem maior que nos outros episódios da franquia. 

                               O jumento, a galinha e Missis Gata são o primeiro trunfo da narrativa. Os três juntos tentam esclarecer as ideias confusas do porquinho Linguicinha, porém as mesquinhezas e inseguranças dos três animais ficam claras quando eles se mostram incapazes de aconselhar. O porquinho acaba precisando sanar sozinho sua duvida. 

                                          Juntos os três "heróis" da historia, heróis por que sofrem todas as influencias e intempéries da narrativa, e por que devem cumprir a "jornada", aquela a que todo herói esta fadado. Nessa jornada os porquinhos divertem-se, sentem medo, entrem em contato com o desconhecido. Não há  vilões, o vilão (lobo) está no filme, na "disney" a vida real é repleta de uma fauna absolutamente atraente e amedrontadora, mas não passa de vida real.

                                    Lorenzoni, Casagrande e Nardes estão muito conectados o que dá ritmo e veracidade a historia. Um jogo a três difícil de ser encontrado. Assistindo da para perceber com facilidade o quanto Vagner compreende bem os códigos de Cléber e vice-versa; do mesmo jeito, Renato consegue criar e pavonear-se sobre as criações dos dois colegas. Uma pena a historia ser tão curta, pois é extremamente prazeroso ver a equipe atuando. 

                                   Clara Devi, Alessandra Souza e Martha Medeiro são coadjuvantes de alto nível. Devi com sua maturidade para com a câmera. Souza com uma cena que foi um delicioso presente de candura e delicadeza. Medeiro rouba a cena e nos deixa um gostinho de quero mais. Talvez um cuidado maior com a dicção abrilhantaria ainda mais a sua cena.

                                       Roteiristicamente há alguns entraves que para o palco não chegam a ser problemas, mas que frente ao vídeo deixam a desejar.  A solução da menina, o ovo que surge do nada, a informação de que eles voltaram ao mesmo lugar, são alguns dos detalhes que poderiam ser melhor alinhavados. 

                                       É preciso ainda voltar o olhar para a iluminação, que melhora a cada episódio, Há sim, sombras, densidades equivocadas de brilho em cenas alternadas. Mas há cuidado com continuidade, ritmo de câmera, troca de focos com precisão. As cenas do filmezinho dentro da historia,  onde os três porquinhos se vêem refletidos, é um escopo memorável, principalmente quando faz alusão ao cinema mudo. O máschara se reinventa e isso nos orgulha. A cada geração, a cada novo ciclo, a cada nova equipe de interpretes que surgem. 

                      O teatro não pode parar nesse momento, mas felizmente os ESMATIANOS conseguem sempre nos surpreender. Hoje eu assisti o vídeo por que Cléber Lorenzoni  me enviou um link, mas acredito que a divulgação deveria ser mais eficaz, mais abrangente. Há muita gente em casa recebendo uma enxurrada de opções, para atrair o público é necessário concorrer, empreender. 

                            Outro pensamento reflexivo que passou pela cabeça dessa senhora, foi quanto à continuação: Outra vez os três porquinhos pobres. Será que a direção do projeto pretende confeccionar um produto que beneficie, que abranja a continuação das peripécias de nossos "heróis"? 

                          O melhor: A criatividade que envolve tantas figuras inusitadas no quarto episódio e a versatilidade do elenco. 

                         O pior: A fragilidade do roteiro de Cléber Lorenzoni.


Clara Devi (**)

Martha Medeiro (***)

Vagner Nardes (***)


                           

                       

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