segunda-feira, 30 de setembro de 2019
domingo, 29 de setembro de 2019
sábado, 28 de setembro de 2019
867- Infância Roubada - 04
O jeito Máschara de se fazer as coisas...
Hoje vou pedir auxilio aos diretores do Máschara para escrevermos essa critica há oito mãos. Então não assino sozinha o que abaixo escrevo. Até por que desconheço alguns dos entraves e as peculiaridades do grupo.
O teatro é o mesmo em qualquer lugar, mudam as pessoas, muda-se o teor, a intensidade, mudam-se os objetivos secundários, mas o teatro continua o mesmo. Em um bairro qualquer em Maceió, em que haja teatro, fala-se em Stanislavski. Um grupo de teatro de rua em Goiás, também estudará Brecht; a UFSM certamente dará espaço para falar-se em Eugênio Barba. O teatro é um só. Dependerá apenas do que se busca, da quantidade de patrocinadores, da garra de atores que será distinta de acordo com suas culturas, o grau de instrução ou a ótica com a qual se quer trabalhar.
Dito isso, certamente o trabalho do Máschara é parecidíssimo com o "status quo" do teatro de qualquer lugar. Ou seja: com as técnicas adquiridas, as práticas de palco, o enfrentamento do público que você conhece ali, você estará apto a ser contratado por qualquer companhia. Poderá fazer teste em qualquer lugar.
Mas em 2000 começou a ser construída mutuamente uma cartilha, um formato de se fazer as coisas nessa companhia. Com dedicação, entrega, busca pela perfeição, respeito ao público. Somou-se aí talentos, estudo, sacrifícios. Tudo em prol do teatrão. Com esse formato o Máschara tornou-se entre 2003/2006, uma das Cias. teatrais mais importantes e respeitadas do rio grande do sul. Tournês em Porto Alegre, troféu Cultura Gaúcha, respeito da classe artística, convites para as mais variádas ações na área. Cléber Lorenzoni ainda somou aí performances, danças, criação da ESMATE, comissões de frente de agremiações carnavalescas. Hoje o Máschara é um nome. Uma marca. Que ultrapassa fronteiras e está acima de picuinhas, egoísmos, egocentrismos, Quando há uma apresentação qualquer, não é fulano ou beltrano que está se apresentando. Quem está se apresentando é a marca. E essa mesma marca é que tem poder de abrir espaços, de dar suporte, de criar opções para que cada um brilhe ao sol.
É difícil? É impossível!
Por que? Por que as vezes, em situações assim, perde-se a personalidade própria em prol de algo maior. As vezes é preciso deixar amizades para trás, as vezes magoa-se, as vezes a necessária rapidez do trabalho passa por cima de pessoas, as vezes você se sente pequeno em meio a um turbilhão de obrigações. E no mundo atual ninguém quer ser obrigado a nada. Para completar há o pouco dinheiro que se ganha fazendo teatro. A humilhante situação de tantos atores, que entregam-se de corpo e alma, mas ao voltar para casa tem poucas opções de conforto. Difícil manter-se assim, dedicado ao teatro. No ar há uma velada competição, todos querem ser aplaudidos, reverenciados, amados. Afinal de contas se não há dinheiro, que se anime o ego. Forma-se então a fogueira das vaidades: Todos querem saber, saber mais que seu colega. Saber é poder, só não sabiam que aquele que propaga sabedoria aos quatro ventos passa por tolo mesmo sem querer.
Como manter essa estrutura funcionando com tantos estopins? Nunca saberemos. Mas a cartilha segue afiada, e pessoas sobem e descem a todo instante. Será que perceberam que dentre tudo o que usam para tentar escalar, o que marca unicamente e fica é o trabalho? Esse sim, esse é reflexo de capacidade e talento. Trabalho e mais trabalho.
Cada vez que alguém precisa desistir do teatro para seguir o dito sistema, cada vez que alguém se curva, sente-se fraco e corre para outro lugar, baixamos a cabeça, sentimos no fundo do peito. Será que não deveríamos fazer o mesmo? Mas seguimos, seguimos por nós e por todos aqueles que não conseguiram lutar, por todos aqueles que foram vencidos. Mas a arte precisa seguir. Se fossemos correr a cada empecilho, o teatro não teria vencido seus mais de três mil anos.
Quando o diretor escolheu Infância Roubada, precisava de um elenco capaz. Precisava de bons atores. Uma boa "equipe". Alguns arrependimentos? Alessandra Souza substituiu Raquel Arigony. Afinal nos últimos tempos essa atriz vem se tornando muito mais madura e capaz. Mas ela também se formou na cartilha antiga e está ali por que a acham capaz de fazer grandes coisas, de segurar as pontas, de erguer a "lona do circo". Souza está ali para ser braço direito. É isso que se espera dela. Por isso talvez Cléber Lorenzoni exija tanto e espere tanto da colega. O trabalho da atriz em cena tem crescido muito, no entanto não se pode satisfazer-se com o que temos, é necessário sempre buscarmos mais. Clara Devi foi convidada a ir nas viagens pois é dedicada, capacitada, um ótimo exemplo. Laura Heger foi convidada para o elenco por seu trabalho riquíssimo em O Hipocondríaco, alí ela mostrou sua dedicação e entrega. Continue assim! Eliane Aléssio está na equipe pela simpatia prazerosa que tê-la como colega de cena. Eliane é o tipo de atriz que parece entender o que é ter um diretor. E não falo sobre apagar-se ou achar que o diretor é um Deus que sabe tudo. Não, ao contrário, o ator pode certamente questionar, contrariar. Mas precisa saber que ambos são funcionários. O ator executa o trabalho de dar vida e organicidade ao que o diretor pede e propõe. A função do diretor é observar, trabalhar dentro de si a sensibilidade para compreender aquele ator e poder tirar e exigir o melhor dele. Eliane Aléssio ao lado de Kauane Silva são as atrizes que mais cresceram em 2019, por uma simples premissa, deixaram-se ser dirigidas!
Stalin Ciotti é um talento nato, ele abraça personagens, se bem que não abraçou muito o "pequenote", mas são coisas, há personagens que amamos, há personagens que fazemos. Laura Hoover é daquelas atrizes difíceis pois tem dentro de si um furacão. Ela é forte, geniosa, intensa. Mas precisa ter muito cuidado, mares bravios assustam e muitas vezes afastam. Seu olhar tem luz em cena, seu gesto tem fogo, mas precisa transformar tudo isso em TRABALHO (partitura, jogo cênico, criatividade, interação, triangulação) .
Kauane Silva esparramou-se na boneca, aliás um papel cobiçado. Cada gesto funciona, cada olhar. Renato Casagrande e Cléber Lorenzoni são os alicerces principais, principalmente por terem essa capacidade de fazer quase tudo sobre o palco. Cléber Lorenzoni faz um dos papeis mais simples do espetáculo. Tirando a novidade de Cesar ter uma cena suicida, de resto é um dos seus papeis mais simples. Mas Cléber o cumpre com dignidade e profissionalismo. Renato submete-se à algo novo. Tânia está ótima, mas sinto informar ao ator que ele é sim um dos diretores da Cia. Isso muda tudo, muda a resposta dos colegas, muda seu valor no palco, muda suas obrigações.
Felipe Padilha cumpre sua função. Mas deve estudar muito, correr atrás do teatro. Abrir os olhos, Observar mais. Aprender com os "grandes".
Maria Antonia Silveira Netto e Henrique Lanes estão ali para aprender. Cléber Lorenzoni não poderia tê-los convidado por seu talento em sonoplastia ou técnica em operação de som, afinal nunca foram técnicos em sonoplastia de outro espetáculo. Estão ali para aprender. E aconselho-os a estudar sempre e nas próximas apresentações intercalarem. Para que ambos testem suas capacidades.
O pior: Não havia um banner, não havia um indicador da grandeza da marca, sem ser o próprio trabalho. Em uma apresentação falta estojo de costura, em outra canos, em outra ferros, em outra adereços. Quem são os responsáveis? A resposta é muito clara: Os braços direitos da Cia. Uma dica: Tenham vocês também seus braços direitos. Ninguém é tão superior que não precise de ajuda, de distribuição de tarefas. Renato Casagrande pode dividir funções entre Kauane e Clara. Alessandra Souza pode dividir funções entre Stalin e Laura. Isso se chama "equipe", onde eu não fui clara? Quanto aos novos, ouçam, talento não segura ninguém no máschara. O que segura é trabalho. Gente amontoada no palacinho mexendo em celular ou jogando pode muito bem ficar em casa.
O melhor: A disponibilidade de Eliane Aléssio e Alessandra Souza em mudar uma cena poucos minutos antes de entrar no palco. A sensibilidade de Kauane Silva em atender um pedido da direção para que o publico visse melhor sua personagem. A sensibilidade de Clara Devi em dar o lugar à Felipe Padilha na vã, a coragem de Stalin Ciotti e Laura Heger em receberem mudanças para a cena também pouco antes de entrar em cena.
Renato Casagrande (*) Porém muito bem no palco
Alessandra Souza (*) Porém muito bem no palco
Satlin Ciotti (**)
Eliane Aléssio(***)
Kauane Silva (**)
Laura Heger (**)
Clara Devi (***)
Felipe Padilha (**)
Laura Hoover (**)
Maria Antonia Silveira Netto (**)
Rique Artêmi (**)
Arte é Vida
A Rainha
quarta-feira, 25 de setembro de 2019
domingo, 22 de setembro de 2019
segunda-feira, 16 de setembro de 2019
domingo, 15 de setembro de 2019
861/862 -Infância Roubada - 02/03
Camelot/ Camelot
"Existe a lenda de um lugar místico, entre florestas de fadas, magos, duendes e dragões. Lá a coroa era muito clara, todos teriam títulos de nobreza e vida farta. Todos seriam amados se cumprissem as regras da távola redonda. Uma grande mesa redonda, onde doze cavaleiros sentavam-se ao lado do rei Arthur. Ali eles decidiam o que julgavam ser o melhor para o reino, ali, na távola redonda eles pensavam o futuro e discutiam como proteger Camelot, os cavaleiros seguiam uma hierarquia ancestral, o rei era capaz de tudo por eles, e eles capazes de tudo por seu rei."
Máschara / Máschara
"Existe um grupo real, em uma cidade do interior, com dificuldade iguais as de todas as outras cidades; uma cidade com muitos talentos que precisam se expressar, provar que a arte é inclusiva e reflete o pensar do homem. Lá a hierarquia é muito bem organizada, todos se tornam estrelas no céu iluminado do Máschara. A direção do Cia. faz tudo o que pode para dar espaço há todos, para que todos revelem, descubram e aperfeiçoem seus talentos. Uma grande mesa redonda, onde doze atores sentam-se ao lado do diretor. Ali eles decidem o que julgam ser o melhor para o teatro em Cruz Alta. Ali planejam espetáculos, performances, e mensagens para defender a arte comunicadora do teatro e seu lindo trabalho. O palacinho é uma trincheira. Lá fora é um front, onde tudo e todos parecem se opor à arte. Por vários motivos, mas principalmente por que nosso país é incentivado à não querer o artista, a mandá-lo para o exílio. Pais preferem filhos em casa mexendo nos seus aparelhos de internet do que em uma sala de ensaios produzindo. Há ainda o medo de que no teatro o jovem fale de sexo, descubra as drogas, se descubra. Prefere-se o contrário, que o jovem não fale no sexo, afinal quando as situações complexas como bebês, homossexualidade ou doenças aparecerem finge-se que não são grandes coisas, e vai se empurrando com a barriga. Há sim uma busca louca pelo ENEM, pelo sufocamento do cidadão em detrimento de uma robotização e uma castração. Você não deve fazer o que te faz bem, mas o que eu decido que é o melhor para você. Como se alguém soubesse saber o que é melhor. Como se nossa sociedade tão capaz não tivesse feito escolhas terríveis por toda a sua historia. Há ainda a equivocada ideia de que apenas jovens e crianças devem fazer teatro, ir ao teatro. Pois bem, a ESMATE tem espaço para todos e Cléber Lorenzoni é capaz de tudo por ela, seriam também seus atores/cavaleiros capazes de tudo?
Fazer teatro é para todos, deve ser incentivado desde a tenra idade, o teatro revela a capacidade do homem em analisar sobre o palco a vida, Ele emana da vida para falar da vida e ele faz homem (quando bem feito) modificar ou tentar melhorar. Uma palestra de uma hora com exemplos mencionados pelo melhor palestrante que for, poderá fazer a platéia pensar, ou até lembrar de algo que aconteceu em sua casa por exemplo. Mas somente a arte-cênica tem o poder de arrancar a plateia de seu momento em assistência e levar sua mente para a sala de uma casa onde uma criança é violada, conduzir sua lembrança para os tempos de infância. A arte cênica com duas ou três tréplicas faz o homem voar para outro país, para a época de cristo, para o dia em que Mario Quintana morreu, para a Verona de Romeu e Julieta. Há ainda a percepção de que somos capazes de sermos o que quisermos se "tivéssemos escolhido", mais corajosos, mais fortes, mais doces, mais gentis, mais tranquilos... Posso ser sensual como uma assessora de Rodrigo S.A em A Hora da Estrela. Posso ser sensual como Salomé em A Paixão de Cristo, posso ser ingênua e romântica como Marcy em A noviça Rebelde. Posso ser engraçado, posso ser severa, posso ser maldosa como Gloria em A hora da Estrela, posso ser astuta e rápida como Toninha em O Hipocondríaco, posso ser o que quiser... A pergunta que devo fazer é: O que quero ser?
Todos podem fazer teatro, mas nem todos podem ser artistas do Máschara. Fazer teatro é subir no palco, estudar seu papel, pensar o mundo. Ser do Máschara é uma missão, é lutar para manter o teatro em Cruz Alta, É abrir espaço para quem vem vindo, promover a arte do teatro para que cada vez mais gente queira PENSAR-PENSAR-PENSAR sua existência e a existência ao seu redor. Não queira ser do Máschara se não está disposto a lutar pelo teatro. Só queira ser do Máschara se você acredita que tem algo para fazer a mudança. Para fazer crescer essa Camelot!
Na hierarquia do Máschara há nobres que sobem e descem, momentos inesquecíveis. Cléber Lorenzoni constrói mitos, deuses, heróis. Cléber Lorenzoni elenca talentos. Revela poderes, forças inesquecíveis. Como a índia poderosa de Kauane SIlva em Lendas da Mui Leal Cidade, ou a vingativa Ereda de Alessandra Souza, a inesquecível Lili de Kelem PAdilha, a eterna Lady Macduff de Simone De Dordi em Macbeth. A Mariana imbatível de MArcele Franco em Tartufo. ODr. Cícero Branco do grande Alexandre Dill em O Incidente. A princesa guerreira Antígona onde Dulce Jorge se desfigura lindamente no palco. Imortais, imortais que somam talentos que Cléber descobre, revela e une à suas criações de diretor exigente, e tão cheio de signos e códigos, as vezes difíceis de entendermos.
No espetáculo de sexta-feira, atores intensos se revelaram, se esforçaram, foram aplaudidos com majestosa admiração. Majestoso sim, pois tornam-se nobres do teatro. A arqui-duquesa por exemplo esteve brilhante, com sua capacidade de se expor, de se permitir ser diminuída e apequenada em cena. Os tapas que levou do Visconde revelam generosidade e maturidade. As vezes essa grande atriz, precisa apenas ser mais humilde e esperar o que o outro tem à dar. Ser nobre hoje em dia, não tem a ver com o dinheiro que se possui, mas a humildade com que se ouve o outro. A noite ao lado do Grão Príncipe, conseguiram acertar o tom de uma cena que pela manhã ficara demasiado estridente, gritada. Teatro é correr atrás, é vencer-se a si mesmo procurando sempre a melhor inflexão, sempre o melhor para das ao público. Aliás é o que vejo no Grão Príncipe que se esforça muito, se dedica muito. Como alteza que é, certamente é o próximo na linha sucessória, precisa se esforçar, precisa crescer, aceitar, saber liderar, brincar nas horas certas. Dar exemplo. Gosto muito de sua criação como Tânia, é madura, e natural, deve apenas tomar cuidado para não deixar a personagem se vitimizar por demais. Pela manhã o o Grão Príncipe foi aplaudido em cena aberta, um mérito de sua capacidade de evoluir e tornar-se cada vez um ator melhor.
O espetáculo teve momentos lindos, difícil recordar-me de todos, mas certamente a maioria foram estrelados por sua Baronetesa, que sempre que entrava em cena tinha uma nova expressão, um entendimento tão grande da linguagem que o diretor queria, a ponto de não saber se sua M.R não criou a boneca ao lado da atriz. Nesse ano vimos muitos grandes momentos. A Baronesa como Salomé, a Arquiduquesa como Cremosina, a Milady como Frosina, Lady Aléssio como Glória. Esse é sem duvida o momento da Baronetesa.
Lady Aléssio cresce dia após dia, deveria ser logo chamada para compor o hol de altezas do Máschara. Sua Flávia esteve melhor a cada apresentação. A noite ela estava desfigurada em frente a sua M.R. Drama intenso, realista e intenso. Mas Lady Aléssio ainda precisa estar atenta ao final das palavras, para não baixar o volume.
Sir Ciotti está fantástico. Talvez um tanto repleto de clichês ou estereótipos. No entanto a platéia vai ao delírio com ele. O mal é quentinho, nunca nos esqueçamos! Segundo Leandro Kamal esse é o problema de nossa sociedade. Sir Ciotti deve apenas ser mais atento, seu talento o levará facilmente para um status maior no grupo, mas é preciso observar mais, saltar e ter as ideias antes que alguém lhe pergunte. Saber perceber oque vão lhe pedir antes que lhe peçam.
Os Lordes Padilha e Artemi estão começando também uma linda caminhada. É preciso sempre perguntar-se: -O que estou fazendo aqui? - Lorde Padilha é jovem e cheio de pontos de vista, isso é ótimo, mas para estar perto de atores mais velhos, precisa saber guardar esses pontos de vista, nem todo mundo é compreensivo como S.M.R. Parece que a conversa que tiveram a tarde surtiu efeito, pois a noite Lorde Padilha esteve muito melhor em cena. Sensibilidade! Instinto! Corra sempre atrás deles meu jovem, se quiser ser um ator. E nunca esqueça, querer não serve para nada, é preciso AGIR!
Lorde Artemi, foi convidado a juntar-se a nobreza do Máschara, para crescer, aprender, ariscar-se. Se saiu muito bem para primeira viagem. Talvez já soubesse, ali, trabalha-se muito. no sentido literal, carregar, montar, correr buscar coisas... A trilha que pela manhã ainda estava sendo operada um pouco canastrona, a noite melhorou muito, também pelos conselhos da Arquiduquesa e o apoio da Lady Silveira Netto, que embora as vezes faça um pouquinho de drama, está amadurecendo muito. Uma ótima escolha como técnica.
Nunca esqueçam, o ator que aprende a fazer bem uma trilha sonora, compor uma iluminação, operar botões, erguer uma coxia, tem certamente capacidades para ser muito mais sensível ao palco. Parabéns Lorde Artemi, as vezes damos ideia, queremos opinar, nos ouvem e não nos dão muita importância, pois talvez nossas ideias não se enquadrem ao todo. Mas isso não quer dizer que não tenhamos que sempre estar atentos e dar nossas ideias. A faixa de Rosemar's Baby acrescentou muito à Infância Roubada, foi um grande acerto perspicaz e inteligente.
A Baronesa entra em cena muito linda, e nos toca muito. Claro que o teatro é algo difícil, principalmente se nos falta um pouco das aulas do "cênico". Rafa precisa ser mais cênica a partir da segunda cena, mas isso virá certamente com o tempo. A baronesa tem olhos intensos e parece ótima de contracenas, a forma como olha dentro dos olhos do ator que interpreta seu pai nos toca muito. Lady Heger é uma principiante muito dedicada, ótima de conviver pelo que soube. Silêncio e reflexão são ótimos para se crescer em qualquer profissão. Lady Heger ainda é bastante nova, mas parece gostar muito do palco e criar, e se entregar. Foi uma explosão em O hipocondríaco e deve sempre lembrar que papeis serão fácies, outros não tanto. Em alguns acertamos, em outros erramos... Antes de tudo é nossa profissão.
Milady trabalhou muito, opinou muito. Admiro muitos talentos no Máschara e na ESMATE, embora alguns só conheça de rosto, do palco, ou por comentários. Mas uma das minhas maiores admirações respeitosas vai para essa jovem, tão jovem, tão esforçada. Certamente Sua Graça já percebeu que Milady gosta de dedicar-se ao material, a composição, a estrutura. Não se desmotive nunca minha jovem, vai ser difícil, vão te criticar, vão tentar te demover. Te sentirá sozinha e desamparada. Fraca, pequena, desvalorizada. Mas se ama, se te sentes bem, algo dentro de ti procura o palco, os camarins, a vida do teatro, não desista!
Sua Graça, M.R. parecia um tanto desconcentrado em cena. Via-se em seus olhos a preocupação com os novos, com a trilha que as vezes equivocava-se em questão de volume, via-se seus olhos preocupados com os temas do espetáculo, com as coxias, com o tapa, com os iniciantes, com o teto de gesso, com os holofotes pendurados de forma improvisada para tentar oferecer o melhor no espetáculo. Via-se ele tentando solucionar aquele pequeno pedaço de mundo que são cinquenta minutos de peça teatral, mas que parece uma vida inteira. Um forte em cena, mas líderes, poderes, forças, estão conectados diretamente a mais trabalho. Admiro muito Sua Graça, pelo que faz e propõe o tempo todo, mas guarde-se, ainda há muito pela frente nessa missão. Ainda há festival de teatro, mais atores, mais alunos, mais peças, mais público, mais performances, a construção de um teatro em Cruz Alta. Força!
Eu admiro a cada dia mais Camelot, o reino de faz de conta, de heroísmo e luta. Esse reino só é forte se cada um estiver unido ao outro. Vida longa ao teatro!
O Melhor: O começo de um lindo projeto - Infância Roubada, com um elenco e uma técnica que parecem querer crescer e aprender.
O pior: Os maus exemplos dados pelo Grão Principe e pela Arquiduquesa, voluntaria e involuntariamente.
Arte é VIDA
A Rainha
Grão Principe (**)(***)
Arquiduquesa (*)(***)
Lady Aléssio (**)(***)
Baronetesa(**)(**)
Lady Heger (***)(**)
Sir (**)(***)
Milady (**)(**)
Baronesa (**)(**)
Lorde Padilha (*)(**)
Lorde Artemi (*)(**)
Lady SIlveira Netto (*)(**)
sexta-feira, 13 de setembro de 2019
Analise do espetáculo A hora da Estrela por alunos da ESMATE
Quando cheguei na Casa de Cultura não sabia o que esperar. Um elenco
grande, formado principalmente por atores que experimentavam o palco pela
primeira vez, me encheu de memórias sobre a peça de 2018, Lendas. O que mais
diferencia essas duas apresentações, acredito ser a idade dos atores. Desta
forma, minha maior curiosidade era de ver homens e mulheres já adultos
procurando a arte com tamanho interesse. Não são mais crianças tentando equilibrar
lazer com aprendizado ou jovens experimentando tudo o que a vida lhe oferece de
novo. Aquele elenco já tinha uma bagagem de vida maior, mais vivências e mais
com o que se preocupar, por assim dizer. Então, a curiosidade em saber o por
quê eles estavam ali e o que estavam dispostos a fazer pela arte me encheu de
expectativas.
A
casa estava lotada. Compartilhei com meus colegas a alegria em ver o público
enorme que iria prestigiar o teatro seja por causa dos parentes, seja por
amizades ou, quem sabe, por gostar de teatro. É sempre emocionante ver pessoas
novas sentadas nas cadeiras e, mesmo que no fim tenham ido apenas aquela vez,
talvez elas escutem e vejam o necessário para que saiam de lá com um pensamento
diferente.
Outro
momento que me chamou a atenção foi quando o aviso gravado de Cléber terminou e
um longo silêncio se estendeu. Foi hora de pensar se algo de errado aconteceu
ou se estavam preparando para nos dar um susto do nada. Apesar dessa
inquietação, não se escutou nenhuma conversa na plateia. Naquela hora me
perguntei se era isso que o Grupo Maschara havia modificado nas pessoas de Cruz
Alta. Aquele silêncio, sem nenhuma conversa alta, com olhares atentos e
ansiosos sobre o palco escurecido, nenhum movimento com pum da cadeira.
Respeito, pensei. Apenas respeito.
A
peça começou com energia, luz e cor. Como não conhecia nada sobre a história
base, fiquei deveras confusa. Aquele radialista era uma pessoa real narrando
uma rádio novela? No fim o comparei ao Corifeu em uma tragédia Grega, pelo fato
dele narrar a história, interagir razoavelmente com os personagens, estar em um
outro plano visual e aparentar sempre saber de toda a trama.
A
tia de Macabéa, aparecendo no início da peça e retornando mais para o final, vi
que emocionou uma parte do público, mas senti falta que ela mesmo se emocionasse.
O nervosismo aparece se pensarmos que temos que seguir as marcações, falar
alto, ficar na luz e ainda assim sentir a cena. Minha dica particular seria que
ela olhasse bem nos olhos de sua colega de cena, Kauane, principalmente durante
as falas. Dessa forma se estabeleceria uma conexão entre atores e personagens
que resultaria em um grande achado na cena do beijo na testa.
As
moças que moravam junto a Macabéa eram compostas de uma atriz com muita experiência,
outra que já havia subido ao palco em outras oportunidades e uma nova que até
então não conhecia. Esta por sua vez não ficou para trás e não destoou do
resto, garantindo a atenção e mostrando bem a personalidade de sua figura.
Alessandra Souza, com sua personagem pessimista e reclamona me lembrou de
muitas pessoas e quase vi minha própria companhia se virando para mim e dizendo
"Olha lá, se não é o fulano". A uma determinada altura da peça você
acabava criando uma engraçada pena da personagem. Martha Medeiro, sim arrancou
ótimas risadas da plateia. Com uma personalidade ao meu ver inocente e
convicta. Acredito, porém que na cena quase muda dela com Macabéa, quando esta
está ouvindo distraída o rádio, ter levado mais tempo falando sobre a bíblia ao
invés de brigando com a garota teria sido mais proveitoso. Outro detalhe que
talvez deixasse ela mais engraçada seria se não houvesse empurrões de sua
parte. Ela chacoalhar Macabéa quebrava um pouco a convenção de que as duas
estavam em mundos diferentes.
A
dona do lugar era uma das que mais falava alto entre o elenco de novos alunos,
o que ajudou muito para mim que estava sentada no fundo da Casa de Cultura. No
entanto, faltou força na personagem. Não me pareceu que ela conseguiria acalmar
aquelas três mulheres apenas com sua presença. O leque funcionou bem para ajudá-la
a ganhar recursos, talvez tenha lhe faltado alguns ensaios apenas. O que
prejudicou também o momento em que ela escolhe uma das moças para ser a sua
protegida. Não entendo bem o por quê dessa atitude justamente para com ela.
Houve
vários momentos de falas sobrepostas umas nas outras, um deles foi na cena do
pipoqueiro, o qual falava tremendamente baixo. Sua figura passava a sensação de
ser frágil, velha e lenta, mas isso escorreu para a voz. Uma pena, pois em
questão de força presencial ele estava ótimo. A cena acontecia sobre a luz
agitada e interessante, mas quando aquele vendedor de pipoca entrou não
consegui tirar meus olhos dele, esperando para ver suas reações sobre tudo o
que estava acontecendo.
Eliani
e Romeu me impressionaram. Ver a mesma atriz que fez a esposa de Cézar durante
a Paixão de Cristo, fazer aquela mulher tão despojada, sexy, ousada e malvada,
deixou-me atônita. O mesmo digo de seu colega de cena, que exalava energia e
presença, esperneando pelo palco jogando folhas para todos os lados. Um belo estereótipo
de chefe. Os dois interpretaram com tanta maturidade, sem mostrar nervosismo na
cena mais "ousada" ou fazendo as pressas apenas para se livrar da
marcação imposta. Acredito que Teatro é doação e, na Hora da Estrela, esses
dois se doaram muito.
Eliani
criou gestos que deixou sua personagem sempre interessante. Utilizando de
vários achados em momentos diferentes e não apenas se contentando com sua
divertidíssima risada.
Douglas
dá para se dizer que estava bem "Douglas". Apenas características
como um modo de falar diferente o destoavam. Acredito que serviu perfeitamente
para ele aquele personagem, todo o seu jeito naturalmente engraçado de ser
garantiu longas e boas risadas de todo o público. Nos fazendo realmente acreditar
que aquele homem era o par perfeito para Macabéa e seria sua salvação no fim.
Ele fez parecer que o personagem surgiu facilmente, mas acredito que sempre
quando temos essa impressão significa exatamente o contrário.
O
que dizer agora daquela Marilyn Monroe interpretada por Vagner Nardes? Este
ator estava tremendamente inteiro em cena, se tinha preocupações não transmitia
isso. Ela dançava sobre o palco e andava feito uma ilusão da noite. Uma
personagem que acredito ser muito querida por nosso ator e que ele a abraçou
com vontade. Não soube dizer se ela era apenas da imaginação de Macabéa ou se
seria algo maior, devido ao contato com o radialista. Renato também estava
completamente mergulhado. Um personagem que poderia sim ser feito com sua própria
forma de ser acabou não pendendo para esse "fácil" e deu origem a uma
figura única, divertida e poderosa.
Uma
das certezas que tinha era de que Kauane estaria bem em cena. Ouvi falar de seu
tremendo esforço para carregar o nome de Macabéa e, após sua atuação como Musa
Inspiradora em Esconderijos do Tempo, eu criei ansiedade para vê-la como
protagonista.
Ela
permaneceu em cena praticamente toda a peça e despertou a curiosidade em mim
como plateia. Quem era essa figura a minha frente? Novamente sem nenhum
conhecimento prévio sobre a obra, Kauane nos deu a sua Macabéa. Uma garota
avoada, solitária, perdida e sem propósito aparente. Sua miséria tocou a muitos
e me arrepiou em várias cenas, como a do batom, por exemplo. Todavia, como um
protagonista não consegue brilhar sozinho, o fato de não conseguir se apoiar
para com atores mais experientes e na verdade ser esse ator de apoio, deixou
Macabéa um pouco mais apagada.
As
cenas eram compridas e divertidas, muito diferentes uma para a outra, com
ritmos e propósitos diferentes. As cenas entre Douglas e Kauane pareciam tão
naturais e interessantes, mesmo com um texto comum e uma certa repetição
divertida de desentendimento entre os dois. Eu sempre queria ver um pouco mais
da relação dos dois e posso dizer que fiquei chocada com a traição.
Já
esperava que utilizassem de efeitos de luz e som para ajudar na criação dos
climas, mas isso não quer dizer que eu não tenha me encantado mesmo assim.
Sobre esta perspectiva, claramente minha cena favorita foi a dos médicos.
A
sensação de claustrofobia, o medo que Macabéa sentia e passava para nós, a
ansiedade deixando nossos corações acelerados, a cena dos médicos robotizados
mal me deixou piscar. Aquelas figuras passando de um lado para o outro no
escuro, falando juntas e mexendo com nossa personagem principal me fez encolher
em minha cadeira.
Ricardo
interpretava o médico principal e estava ótimo com sua tensão corporal. Não
estava relaxado, mas também não pareceu forçando cada parte de seu corpo para
garantir uma tensão sobre-humana. Uma figura que mesmo aparecendo por poucos
minutos, trouxe inúmeras críticas e se gravou em minha memória.
A
cigana interpretada por Cléber fez muito bem o seu papel. Acredito que uma
personagem como aquela teria poder e recursos para tomar o palco todo para si,
arrancando toda a atenção de Macabéa. No fim senti que estavam ambos estavam
bem balanceados.
A
cena final me deixou com tantas interrogações no rosto que mal poderia citar
todas. Gabriel Giacomini estava um verdadeiro "homem dos sonhos". Uma
chama de esperança para o final feliz que não aconteceu.
Não
entendi bem se os personagens que vinham um por um conheciam ou não a moça
morta no chão. Uns interagiam com ela como se a reconhecessem, enquanto outros
não. Antônio apareceu nesse final, apenas para mostrar aquele lado sujo e
triste da vida. Acredito que ele aparecer exatamente naquele momento, quando
toda a plateia esperava alguma explicação, alguma boa notícia, destruiu
qualquer boa esperança nossa.
Um
ótimo fechamento de história, completamente inesperado por minha pessoa, mas
como disse não compreendi vários quesitos. Isto, no entanto, é um dos fatores
que mais adoro no teatro. O caminho para casa foi cheio de questionamentos e
debates para com meus acompanhantes. Cada um se emocionou em um momento, cada
um tinha uma ideia sobre o radialista, sobre a Macabéa, sobre a srt. Monroe e
sobre o garoto loiro de terno.
Estou
deveras impressionada com todo o elenco, sem exceção de ninguém. Extremamente
feliz por ter assistido a essa peça e de poder dar minha opinião particular.
Agora apenas podemos esperar para a apresentação a seguir e prestigia-los
também.
quinta-feira, 12 de setembro de 2019
860 -Infância Roubada - (tomo 01)-Pré-estreia no Palacinho
Grandes Atores
"As boas ações ficam bonitas no jardim de infância. O teatro é o lugar da gangrena"
"As boas ações ficam bonitas no jardim de infância. O teatro é o lugar da gangrena"
Haviam boas exposições gangrenosas sobre o pequeno palco da ESMATE nessa quarta-feira a noite (11/09). Um espetáculo não irá realmente mudar o mundo, mas ele precisa gerar ondas no lago, ele precisa despertar pensares que podem ser estopins para coisas grandes começarem. A direção de Infância Roubada vem construindo essa obra há mais de dois anos, um espetáculo que em primeiro momento parece muito simples. Não há cenários, grandes iluminações, há um minimo de adereços, e uma premissa cristalina: Dor! A dor humana que parte do desentendimento, do vazio, da solidão. Trabalho de ator, e para isso Cléber Lorenzoni elencou uma equipe imensurável, que nos deu interpretações quentes, realistas, dolorosas, corretas. Renato Casagrande e Alessandra Souza atores hercúleos do Máschara, que ao lado de Cléber tem vasto conhecimento na faina teatral. Os três divididos em núcleos, onde desdobram-se ou agregam-se três aprendizes: Stalin Ciotti (ator de criação delicada, sutil e detalhista), Kauane Silva (com seus estonteantes olhos de ressaca, uma força atrativa à nós meros mortais) e ainda Laura Hoover (forte, intensa, dramática). Os três juntos apontam caminhos e dão significado ao futuro do teatro do Máschara. Para completar o rol de forças humanas sobre o palco, três atores convidados: A deliciosa Eliane Aléssio, que vem se destacando comumente desde o Auto de Natal II (dez/2018), Laura Heger, que deu sua mordida de talentosa atriz ao interpretar Toninha em O Hipocondríaco (agos/2019) e Felipe Padilha, que está a espera de seu grande momento que certamente virá em breve.
Nove forças sobre o palco, nove vidas, que se entrelaçam e sofrem influencias indiretas umas das outras. O palco é o cosmos inteiro e dentro dele habitam Nice, Tânia, Rafa, Flávia, Cesar, Cão, Teco, Emily e o espectro de uma boneca que pode muito bem ser a infância perdida ou roubada de todas aquelas pessoas.
Logo na primeira percepção, a boneca que entra no palco dançando nos toca pela semelhança com o brinquedo no chão, Kauane está perfeita e pode brincar ainda mais com a leveza versus rigidez da personagem. Não compreendi o fato da personagem do Cão atacar a menina e depois a boneca, a direção precisa optar por apenas um signo. As cenas são bastante curtas, podem ter mais silêncios, pausas. Alessandra Souza por exemplo pode ser mais cricri, faladeira, a ponto de Dona Flávia não suportar ouvi-la; Laura Hoover precisa cuidar para ser mais dengosa com Nice do que malvada. É uma barreira bem tênue. Felipe Padilha precisa parecer um menino de rua, mais revoltado, mais marrento. Na verdade ele tende a crescer e se tornar um cão, esse é o ciclo sem fim.
Eliane Aléssio compõe muito bem a esposa que está presa em um casamento infeliz. Penso que na cena com Nice possa ser ainda mais perua, falando de planos e sonhos enquanto a empregada passa mal. Cléber Lorenzoni na cena da rua pode sentir mais repulsa com a travesti, peitá-la mais, talvez até mostrar a arma que carrega. Isso seria chocante e levantaria a questão do armamento.
Laura Heger tem uma leveza linda na cena, e deve buscar dentro de si as memórias para compor a dor da menina. Na cena da travesti compreendo que Renato Casagrande queira mostrar a destruição interna de Tânia, mas não fica legal tirar os sapatos. Tudo está no rosto! Alessandra Souza compõe muito bem a cena final ao lado de Stalin e das outras personagens da família. Na hora do tapa, o terror precisa percorrer todas as personagens. Heger e Padilha precisam sofrer muito, talvez gritar, Felipe poder se avançar e Stalin segurá-lo pela blusa. Enfim, coisas da direção.
O crescendo do pai e da mãe nas cenas com Rafa precisam ser maiores para que essa ultima possa construir as reações mais fidedignas, Laura usou muito de sua emoção, agora pode trabalhar o cênico. Usar mais a musica. Outro detalhe importante é não esquecer que há um bebê dentro de seu ventre. Valorize isso! A discussão com Cão na rua me comoveu muito, usuários de drogas não são vagabundos ou marginais, são doentes, que precisam de ajuda.
Encantadora a cena em que Lólli dança com Flávia. Ali o lúdico se estabelece. A infância que ficou para traz... Outro momento muito lindo é a empregada abraçada em Flávia. Nice precisa ficar bem alta para Dona Flávia apoiar-se em seu braço. Acalentar-se. A maquiagem de Stalin Ciotti é interessante, provavelmente em um lugar maior surtirá também um efeito melhor.
Amo teatro intenso, Almodóvar, a dama Irlandesa, ou mesmo o melodrama., amo atores que entram no palco pelo tudo ou nada. A equipe técnica que muitas vezes são os próprios atores, precisa ter mais cuidado com entradas e saídas da linda trilha. Calma. O público não pode perceber que uma musica está entrando. As vezes mais sensibilidade na percepção das emoções sobre o palco. Por exemplo, quando Laura entrou em cena para impedir o suicídio do pai, a musica foi retirada tão de súbito que eu me desconcentrei. A musica precisava embalar a cena, permanecer e ir sumindo em meio a discussão.
Emocionada também com o instinto da atriz que interpreta a boneca. Sua queda quando Rafa cortou o braço foi tão linda como se uma boneca de porcelana estivesse caindo e se quebrando. Parabéns às sutilezas do espetáculo.
Uma pena as Lauras, Ciotti e Padilha terem pisado na palavra Esperança no agradecimento. O elenco posicionado atrás da palavra é tocante, pisando nela não.
O melhor: As emoções intensas que um espetáculo como esse podem provocar.
O pior: O espaço apertado atrapalhando a grandeza de alguns atores.
Alessandra Souza (***)
Kauane Silva (***)
Eliane Aléssio (**)
Stalin Ciotti (***)
Laura Hoover (**)
Laura Heger (**)
Felipe Padilha (**)
Gabriel Giacomini (**)
Maria Antonia Silveira Netto (**)
Henrique Lanes (**)
Clara Devi (***)
Kauane Silva (***)
Eliane Aléssio (**)
Stalin Ciotti (***)
Laura Hoover (**)
Laura Heger (**)
Felipe Padilha (**)
Gabriel Giacomini (**)
Maria Antonia Silveira Netto (**)
Henrique Lanes (**)
Clara Devi (***)
A Rainha
segunda-feira, 9 de setembro de 2019
Olhar crítico sobre A hora da Estrela
O espetáculo apresentado no dia 1° de Setembro, na casa de Cultura
Justino Martins, era uma adaptação do livro da escritora brasileira Clarice
Lispector, “A Hora da Estrela”, escrito e lançado em 1977. Conta à história da
Jovem Macabêa, Alagoana de 19 anos, e suas desventuras.
O grupo teatral Maschara carrega com ele uma história muito rica, é um
grupo compromissado com o seu público, suas peças sempre nos cativam,
sempre nos interessam com suas trilhas sonoras, seus figurinos, seus atores e
seu diretor, este último domina sua arte! Cleber Lorenzoni foi diretor, ator,
iluminador, ele domina o espetáculo. Arrisco-me a dizer que vejo em “A Hora
da Estrela” um de seus melhores trabalhos como diretor. Junto a ele temos o
seu braço direito: Renato Casagrande e seu domínio de cena. Casagrande nos
conduz pela história, o seu radialista nos atrai e prende-nos do início ao fim.
Ainda Sobre os atores da Cia, temos Alessandra Souza e Ricardo
Fenner, atores do alto escalão do Maschara, mas que deixaram a desejar na
noite. Ela estava ali como uma boa atriz, seu volume era bom, sua presença
era boa, Mas não havia personagem construído. Ele com um personagem
inseguro, sua presença é de um grande ator, mas apenas isso não basta.
Gabriel mesmo com pouco tempo de palco consegue nos passar um
personagem muito bom! Agrada-me muito o ver passar à cena por varias vezes
antes de começar, assim como Douglas Maldanner e seu trabalho digno de
aplausos! Um dos melhores personagens da noite, seu carisma chamou a
atenção, Olimpico esteve ali antes de o espetáculo começar, uma excelente
construção de personagem, Maldanner está de parabéns pelo seu trabalho.
No Papel da protagonista: Kauane Silva. Um dos trabalhos mais bonitos
da atriz, ela nos entrega uma Macabêa doce, ingênua, vulnerável, Macabêa
está exposta a todo mal que o ser humano pode causar. Sua ingenuidade fez
com que a plateia se tornasse cumplice das maldades que sofrera, a rejeição
do namorado, o preconceito pelas colegas de quarto, a perda da unica pessoa
que se importava com ela, etc. Kauane esta viva em cena, ela é grande dentro
de uma personagem tão pequena.
A Noite era dos alunos da 10° turma em formação, tantos talentos no
palco! Vagner Nardes é um ator que nos enche os olhos, sua figura de Marilyn
é linda, encantadora. Eliane nos entrega uma das melhores construções, Gloria
nos conquista com seu carisma. A energia e entrega da atriz nos enche de
orgulho, Eliane assim como Olimpico, teve o público em suas mãos e é uma
atriz com um grande talento.
Martha Medeiro e sua fanática Maria da Penha:
Medeiro carrega em suas personagens uma sutil delicadesa, ela representa na
peça um dos pilares da nossa sociedade. A hipocrisia torna a personagem
mesquinha, e a jovem atriz constrói isso muito bem dentro de espetáculo.
As alunas Eveline, Leonir e Schu fecham o elenco feminino, as três nos
entregam bons resultados. É admirável ver a dedicação de Leonir, ver o quanto
estar no palco lhe fez bem, nos passa uma boa sensação, gostaria de vê-la de
novo em mais espetáculos. Aliás, o palco é sagrado, nele deve estar quem
realmente gosta de estar ali! Eveline compõe Maria da graça, esteve segura. O
arco de sua personagem não foi alcançado, mas Eveline nos mostra uma
grande evolução em seu trabalho. E por último temos a dona da pensão, Schu
com um ótimo volume, mas um pouco insegura em sua construção, ainda
assim, teve uma boa presença e fez um bom trabalho.
O trabalho de Romeu como seu Raimundo é bem construído, reflexo de
sua dedicação ao teatro, seu jeito de andar e falar, apesar de ser caricato,
encaixou muito bem na peça! Mas o mesmo deve cuidar sua voz, deve aquecer
mais a garganta antes de entrar em cena.
A delicadeza do Pipoqueiro
construído por Henrique também nos agrada, por mais que seu volume tenha
sido baixo. Seu personagem presencia uma das cenas mais triste da peça, e
perante aquilo, nos passa um pouco de esperança. Antônio esteve muito bem
em seu enfermeiro, embora deva levar mais a sério o seu trabalho, faltar
ensaios em dias importantes não prejudicam só a si mesmo, mas sim um todo.
Na parte técnica, devo confessar que fiquei muito feliz com Evaldo
Goulart e sua dedicação, é muito bom ver atores colocando a mão na massa,
esse é o sentido de uma equipe, todos trabalhando por um bem maior. A trilha
sonora foi muito bem escolhida, méritos ao diretor. Tenho certeza que “Tunel
do Amor” ficou na cabeça de muitos na plateia. A operação de Clara Devi foi
nervosa, quase colocando em risco o espetáculo, sonoplastia deve ser operada
com frieza. Os Figurinos estavam lindos, a composição de figurinos do grupo
sempre nos encanta. “A Hora da Estrela” vai deixar saudades, foi uma noite
linda de teatro. Os atores e alunos envolvidos estão de parabéns! Que mais
trabalhos assim sejam apresentados, o publico merece.
Análise da obra A hora da Estrela por alunos da ESMATE
Somos comunicadores, temos a missão de plantar uma semente de conhecimento na mente do espectador, fazendo germinar questionamentos e posicionamentos, que darão frutos positivos para o futuro da arte.
A turma nove da Esmate está cheia de novos talentos, é muito bom ver o desejo de fazer teatro que emana deles. Entretanto, não podemos nos dar o luxo de esquecer a técnica, ela é o que te torna brilhante em cena.
Chegando no espectáculo, fiquei com um misto de sensações por ver a casa cheia. Sentei bem na frente, pois não queria perder nada, minhas expectativas estavam nas alturas. Logo no começo, me incomodou o fato de Renato sempre dizer as primeiras palavras de suas falas no escuro, pois demorava para ascender a luz do holofote. Casagrande estava divino, volume vocal, domínio corporal, tudo que um ator com o seu tempo de teatro deveria ter.
Porém, senti falta da entrelinha do personagem, achei um tanto raso, ainda mais nos padrões de criações dele.
Já que queremos ser comunicadores, temos que aprender a trabalhar o volume e a clareza com que a frase é dita. Romeu Waier o tom escolhido te prejudicou, fez o público ter que se esforçar para compreender o que estava sendo dito. Quando o ator compõe um trabalho tão exato como Waier fez, se torna uma pena não conseguir entendê-lo. Martha Medeiro, tão jovem, dedicada, compôs uma personagem fora dos seus vícios corpórais e que arrancou risos da platéia.
Leonir Batista, Rick Lanes, Antonio Longue e Ana Claudia conquistaram o público de jeitos diferentes. Aproveitem mais o palco, digo isso no sentido de se jogar, "curtir como se a vida fosse acabar". Longue e Ana, faltas atrapalham os colegas.
Alessandra tem me preocupado de uns tempos pra cá. A atriz parece que sempre fica sem cartas na manga quando seus achares não dão certo. Contudo, tento não me preocupar, pois no fim das contas Alessandra sobe no palco poderosa.
Ricardo Fener, como membro do grupo Máschara e um dos anciãos, soube ser genero em cena e carregar uma grande crítica social como sua verdade. Douglas Maldaner me surpreendeu, o ator não demonstrou dificuldades com as falas, mas sim segurança e uma grande capacidade em cena. Quero ver mais desse lado de Maldaner.
Eveline Drescher, primeiramente, adorei seu sobrenome (sempre quis ter um nome difícil). Em segundo, eu sou amante das garotas malvadas, queria muito que sua maldade tivesse me feito levantar da platéia e ter começado a amar te odiar. Acredito que seu tempo trabalhando com jornalismo te deixou segura do que estava fazendo, você é uma ótima comunicadora e espero que continue no teatro. Eliane Aléssio é outra estrela desse espetáculo que me surpreendeu. Quando vi você em cena não consegui lembrar que foste tu que interpretou a Claudia, mas também você evoluiu tanto, nem quis me lembrar para não atrapalhar a contemplação. Aléssio descobriu uma veia cômica que deu mais vida para a personagem.
Vagner Nardes o novo garoto prodígio, sempre que vejo Nardes em cena fico me questionando - "Será talento, técnica ou uma soma dos fatores". Não entendo seus motivos para se afastar do grupo. No entanto, digo que você seria um grande achado para o Máschara. Cléber é impressionante ver o quanto o público fica nas suas mãos sempre que está em cena. Finalmente, Kauane Silva, Macabéa! Kauane eu tenho uma admiração por você, sempre me transmiti a ideia de que está ali de corpo e alma, seja para fazer o som, a atuação, ou até mesmo ambos no mesmo espetáculo (assim como nas Lendas). Você viveu o que Macabéa passou, sentiu as dores no corpo e morreu com a alma do personagem. Meus parabéns pelo protagonismo, seu diretor fez uma boa escolha.
Com o passar dos anos da Esmate, me atrevo a dizer que este é o seu momento de ouro. Que cada vez mais pessoas queiram fazer arte, precisamos de arte, o mundo está tão caótico que nesses momentos o que a Esmate e o Máschara fazem são nossas boias de salvação.
Com amor, a Arqueduquesa
sábado, 7 de setembro de 2019
sexta-feira, 6 de setembro de 2019
quinta-feira, 5 de setembro de 2019
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