A esplendorosa atriz Bibi
Ferreria que nesse ano completou 90 de idade, continua firme nos palcos, e pode
ser chamada de a grande atriz do teatro Brasileiro, mas de onde vem essa força,
essa energia, esse vigor? Da herança dos pais, também atores? Ou de algum lugar
em seu próprio íntimo? A atriz faz questão de frisar que não bebe, não fuma,
não fala em celular, não bebegelados, fala pouco, tudo para proteger a voz.
Alguém diria, mas assim ela não vive... Não sei se concordo, mas sei que o
corpo, a voz de um ator é seu maior suporte de trabalho. É preciso cuidar desse
suporte, protege-lo, abastecê-lo sempre para que quando em cena possa extrair
dele o melhor. O público merece o melhor, e os grandes atores, e até mesmo os
pequenos devem isso ao público, aos colegas de cena, aos seus diretores...
O espetáculo os Saltimbancos foi
apresentado emJulio de Castilhos, em comemoração ao aniversário do clube José
do Patrocinio, em uma ótima iniciativa que visava trabalhar o racismo, o
preconceito, as diferenças etc... Nada melhor que falar disso com as crianças
através de um texto musical que fala da tolerância e do aprender a viver com as
diferenças. O espetáculo não é longo, embora as vezes pareça se arrastar,
coisas do dia... O elenco canta razoavelmente, não se espera que sejam exímios cantores,
embora todo ator devesse saber cantar e dançar. E aí as vozes de Renato
Casagrande e de Cléber Lorenzoni preencheram o espaço. Mas o que mais encanta
são as caracterizações, a beleza das formas, dos quadros cênicos, as
coreografias e os quatro animaizinhos, atores dom excelente trabalho corporal.
No quesito interpretação, o espetáculo rendeu boas risadas, e Gabriel Wink,
protagonista do espetáculo, pegou as crianças logo de chegada, convidando-as a
participarem da encenação. O que me surpreendeu foram suas saídas de cena a
todo instante, sem mais nem menos, sem uma explicação razoável, deixando
obviamente furos no sentido das cenas. Furos esses preenchidos rapidamente por
outro interprete, mas que deixavam confusa a compreensão da narrativa. A própria
semiótica do espetáculo é barbarizada quando o desenho de uma encenação que
desenrola-se com quatro figuras em cena, simplesmente perde uma dessas figuras.
O ator que desapareceu de cena é muitíssimo criativo e poderia ao menos ter
encontrado alguma explicação teatral para abandonar o palco e os colegas.
O teatro é como um navio que vai
passando, que tem seus comandantes, sua tripulação e seus passageiros. O
comando do navio, é a figura mais importante, ele toma as decisões e jamais
pode abandonar a navegação. Ele afunda junto certamente. A tripulação, os
marinheiros não podem solucionar as coisas sozinhos. Por tanto se o comandante
se retira, o navio afunda...
A interpretação de Alessandra
Souza é agradável, mas não vejo a atriz se divertir, brincar, soltar-se,
evoluir, subir aos céus qual atriz que ama o que está fazendo. Há pouca nuance,
e sua impostação fica monocórdia. Isso sem falar nos momentos que a atriz fica
como se cuidando em cena, ora no momento em que um ator entra em cena, liga-se
e só “desliga-se”, quando o espetáculo acaba. O bom ator tem a personagem
consigo enraizada, fincada até o fundo de sua derme. A dança precisa fluir, e
não se tornar um aparte na interpretação.
Renato Casagrande passa firmeza,
sabe sua parte e a parte dos colegas o que é louvável, seu trabalho corporal é
exímio e destaca-se a cada apresentação, no entanto na fala: -Tu ficas na
granja... -Está adiantando e perdendo o “play back”. Em algumas cenas seu
falsete escorregou, provavelmente por culpa do nervosismo causado pela confusão
estabelecida pela ausência do senhor Jumento. Cléber Lorenzoni e Gabriel Wink
são grandes atores, mas não são invencíveis. O teatro é uma técnica, que
precisa ser dominada. Ninguém é sempre exímio, ninguém é só fracasso. A curva
foi prejudicada. E a curva nunca pode ser prejudicada. Preciso ainda elogiar a
equipe técnica, Fernanda Peres, Luis Fernando Lara e Gabriela Varone. O teatro
só acontece quando há uma equipe organizada que estrutura tudo. Uma equipe
sempre pronta antes que alguém precise pedir as coisas. O trabalho deve fluir,
o ator deve encontrar seu cenário, sua iluminação, seu figurino pronto,
organizado. Há também se parabenizar a produção a cargo de Ricardo Fenner que
vai levando o Máscharaà todos os teatros e comunidades. O teatro não pode parar...
Gabriel Wink *
Alessandra Souza *
Renato Casagrande **
Cléber Lorenzoni ***
Gabriela Varone **
Fernanda Peres **
Luis fernando Lara ***
Comentários
Postar um comentário