Saltimbancos em Julio de Castilhos/ 2012


              A esplendorosa atriz Bibi Ferreria que nesse ano completou 90 de idade, continua firme nos palcos, e pode ser chamada de a grande atriz do teatro Brasileiro, mas de onde vem essa força, essa energia, esse vigor? Da herança dos pais, também atores? Ou de algum lugar em seu próprio íntimo? A atriz faz questão de frisar que não bebe, não fuma, não fala em celular, não bebegelados, fala pouco, tudo para proteger a voz. Alguém diria, mas assim ela não vive... Não sei se concordo, mas sei que o corpo, a voz de um ator é seu maior suporte de trabalho. É preciso cuidar desse suporte, protege-lo, abastecê-lo sempre para que quando em cena possa extrair dele o melhor. O público merece o melhor, e os grandes atores, e até mesmo os pequenos devem isso ao público, aos colegas de cena, aos seus diretores...

           O espetáculo os Saltimbancos foi apresentado emJulio de Castilhos, em comemoração ao aniversário do clube José do Patrocinio, em uma ótima iniciativa que visava trabalhar o racismo, o preconceito, as diferenças etc... Nada melhor que falar disso com as crianças através de um texto musical que fala da tolerância e do aprender a viver com as diferenças. O espetáculo não é longo, embora as vezes pareça se arrastar, coisas do dia... O elenco canta razoavelmente, não se espera que sejam exímios cantores, embora todo ator devesse saber cantar e dançar. E aí as vozes de Renato Casagrande e de Cléber Lorenzoni preencheram o espaço. Mas o que mais encanta são as caracterizações, a beleza das formas, dos quadros cênicos, as coreografias e os quatro animaizinhos, atores dom excelente trabalho corporal. No quesito interpretação, o espetáculo rendeu boas risadas, e Gabriel Wink, protagonista do espetáculo, pegou as crianças logo de chegada, convidando-as a participarem da encenação. O que me surpreendeu foram suas saídas de cena a todo instante, sem mais nem menos, sem uma explicação razoável, deixando obviamente furos no sentido das cenas. Furos esses preenchidos rapidamente por outro interprete, mas que deixavam confusa a compreensão da narrativa. A própria semiótica do espetáculo é barbarizada quando o desenho de uma encenação que desenrola-se com quatro figuras em cena, simplesmente perde uma dessas figuras. O ator que desapareceu de cena é muitíssimo criativo e poderia ao menos ter encontrado alguma explicação teatral para abandonar o palco e os colegas.
             O teatro é como um navio que vai passando, que tem seus comandantes, sua tripulação e seus passageiros. O comando do navio, é a figura mais importante, ele toma as decisões e jamais pode abandonar a navegação. Ele afunda junto certamente. A tripulação, os marinheiros não podem solucionar as coisas sozinhos. Por tanto se o comandante se retira, o navio afunda...
              A interpretação de Alessandra Souza é agradável, mas não vejo a atriz se divertir, brincar, soltar-se, evoluir, subir aos céus qual atriz que ama o que está fazendo. Há pouca nuance, e sua impostação fica monocórdia. Isso sem falar nos momentos que a atriz fica como se cuidando em cena, ora no momento em que um ator entra em cena, liga-se e só “desliga-se”, quando o espetáculo acaba. O bom ator tem a personagem consigo enraizada, fincada até o fundo de sua derme. A dança precisa fluir, e não se tornar um aparte na interpretação.
              Renato Casagrande passa firmeza, sabe sua parte e a parte dos colegas o que é louvável, seu trabalho corporal é exímio e destaca-se a cada apresentação, no entanto na fala: -Tu ficas na granja... -Está adiantando e perdendo o “play back”. Em algumas cenas seu falsete escorregou, provavelmente por culpa do nervosismo causado pela confusão estabelecida pela ausência do senhor Jumento. Cléber Lorenzoni e Gabriel Wink são grandes atores, mas não são invencíveis. O teatro é uma técnica, que precisa ser dominada. Ninguém é sempre exímio, ninguém é só fracasso. A curva foi prejudicada. E a curva nunca pode ser prejudicada. Preciso ainda elogiar a equipe técnica, Fernanda Peres, Luis Fernando Lara e Gabriela Varone. O teatro só acontece quando há uma equipe organizada que estrutura tudo. Uma equipe sempre pronta antes que alguém precise pedir as coisas. O trabalho deve fluir, o ator deve encontrar seu cenário, sua iluminação, seu figurino pronto, organizado. Há também se parabenizar a produção a cargo de Ricardo Fenner que vai levando o Máscharaà todos os teatros e comunidades.  O teatro não pode parar...


Gabriel Wink *
Alessandra Souza *
Renato Casagrande  **
Cléber Lorenzoni  ***
Gabriela Varone  **
Fernanda Peres  **
Luis fernando Lara  ***

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