Crítica da rainha - O Incidente I e II em Bento Gonçalves

                                    Artistas mambembes


Ainda há pouco, ví uma jovem no sinal, vestida de forma espalhafatosa, colorida, com o rosto pintado. Não quero me equivocar dizendo que era uma palhaçinha, mas acredito que a intensão era a mesma. Fiquei analisando e me perguntando até que ponto um artista precisa submeter-se para sobreviver.  Havia naquela jovem um sorriso de quem sabe sua função, de quem precisa beirar a humilhação de cabeça erguida, sim por que embora o artista ame essa exposição toda, ele fica a mercê de coisas horríveis ao se expor.
O artista do palco esta mais protegido. Não corre os riscos da intempérie, ou ainda a exposição à grosserias dos transeuntes. Aquela artista provavelmente daría tudo para ter um contrato. para estar sobre um palco. Como o estavam os atores do Máschara hoje pela manhã no palco da 26ª feira de livros de Bento Gonçalves.
Assisti as duas inserções, terça e quarta. Na primeira vários aquéns, na segunda aplausos merecidos. Angélica Ertel, Gabriel Wink, Cléber Lorenzoni e Luís Fernando Lara são os artistas mais antigos e fizeram o esperado em ambas as apresentações. Alessandra Souza e Renato Casagrande  precisam igualar-se, precisam quebrar a casca. O Incidente parte da premissa do capitulo de mesmo nome dentro do livro O Incidente em Antares de Erico Verissimo. Os sete mortos ganham vida e invadem o coreto da cidade.  A cidade de Antares pode bem ser qualquer cidade do Brasil e por isso mesmo o público se apropria tanto do espetáculo. A direção de Cléber Lorenzoni me confunde nesse espetáculo tão pouco Aristotélico; Curva, catarse, tudo é diferente em O Incidente. Mas é bom se for bem feito. São ótimas personagens, arquétipos contundentes.
Gabriel Wink esteve muito bem em ambas apresentações e Menandro Olinda é sua melhor construção trágica até hoje. Sua apresentação na rua foi uma aula de técnica e sensibilidade, sem o uso das tais perfumarias, "sonoplastia, cenário e iluminação". Um ator contraditório que parece esquivar-se pela tangente de cenas dramáticas mas que é um eximio artista quando em cenas de dor e sofrimento. Luis Fernando Lara é um ator técnico, nunca o ví em uma cena de dor e não sei se sua técnica seria o suficiente para emocionar, para viver uma personagem sofrida. Espero poder vê-lo um dia em algo intensamente dramático. Angélica Ertel encontrou melhores inspirações nessa segunda intervenção de Dona Quitéria Campolargo, mas senti falta de uma partitura mais formal. Cícero foi maestro e guiou a orquestra com mão firma como sempre. "Presença" O resto é silêncio. Mas silêncio agradável, quando acompanhado de intenção.
O Incidente é um texto popular, para se falar e questionar a sociedade, função prima do teatro. O Espetáculo O Incidente do Máschara, é uma união de um belo texto com a interpretação de personagens fortes de Erico Vesrissimo, Um texto de compreensão fácil, de aceitação inegável, um dos textos mais coerentes para o público adulto de uma feira de livros.




                                             A Rainha

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