O teatro e a religião sempre andaram conectados, interligados em suas historias. Seus dogmas, símbolos, signos e regras se perpetuaram através dos séculos, através do sagrado e do profano. O paradoxal, é que ainda que ambas perambulem pelos espetáculos cênicos, em altares e palcos, ainda que ambas queiram tocar a audiência, ainda que ambas vistam-se de trajes próprios para a ocasião, ainda que se faça orações, que se use amuletos e "galharufas", ainda que ambas recorram aos Deuses, a religião ousou ceifar no período medieval todas as ações teatrais, sob a desculpa de que o "maligno" perpassaria pelo palco, com a mentira, a luxuria e a dissimulação como aliadas. No entanto, foi o cristianismo que fez mal ao ser humano durante muitos séculos, tentando impor à força sua verdade, ainda que equivocada. O cristianismo fechou os teatros, proibiu as encenações, destruiu textos e finalmente, desceu sob o mundo ocidental, uma nuvem de ignorância, silêncio e medo. Aqueles grandes teatros gregos e romanos, de repente perderam seu lugar de arte maior, foram escanteados e o mundo perdeu, regrediu.
O retorno
do teatro aconteceu, veja só, através da própria igreja, na Idade Média,
entre o século X e o início do século XV, chegando a influenciar o teatro no
século XVI. A
princípio foram encenados dramas litúrgicos, em latim, escritos e representados
por membros do clero. Os fiéis participavam como figurantes e, mais tarde, como
atores. Esta integração mesclou o latim à língua falada nas regiões. As peças,
sobre o ciclo da Páscoa ou da Paixão, eram longas e podiam durar vários dias. A
partir dos dramas religiosos, formaram-se grupos semi-profissionais e leigos,
que se apresentavam nas ruas. Os temas, ainda religiosos, incluíram situações
tiradas do cotidiano.
No princípio, o interior das igrejas era usado inicialmente como teatro.
Quando as peças se tornaram mais elaboradas e exigiram mais espaço, passaram a
ser apresentadas em frente às igrejas, em cima de carroças. Logo os pequenos grupos que se formaram passaram a viajar com suas trupes mambembes. O teatro voltava a florescer e povoava cada canto do ocidente com historias que surgiam ferrenhamente.
A Paixão foi um sub gênero que logo tornou-se habitual, tamanho era seu apelo emocional. Várias foram as paixões contadas durante o período medieval: paixão de São João Batista, paixão de Santo Estevão, Paixão de Santa Agnes, Paixão de São Sebastião, etc... Irônico que o teatro, que tanto foi criticado pela igreja, passou a ser a forma de falar em Deus, que mais aproximou romeiros e congregados da religião cristã.
Em 2017, Cléber Lorenzoni decide dirigir e produzir uma peça desse subgênero e o que se seguiu foi um projeto que todos os anos nos brinda com novas historias e novas interpretações formidáveis. 2025 começou com várias ações do Máschara, mas foi lá em Alegrete que tudo realmente começou. Foi lá e agora em Horizontina que vi meus atores preferidos em cena. Não pude estar presente, o que vi foram vídeos e por isso aguardo ansiosa a tradicional apresentação de Cruz Alta. No entanto preciso elogiar algumas caracterizações, algumas cenas, alguns momentos marcantes dos dois meses de preparação dos artistas que se uniram em torno do espetáculo Entre eles estava Jesus.
Kleber Lorenzoni ao que parece, buscou inspiração dramatúrgica na campanha da fraternidade. Trouxe atores de fora de Cruz Alta, talvez no ímpeto de tornar o espetáculo regional. Destaques para o figurino lindíssimo, a cena das mulheres interpretando Ave Maria sertaneja e ainda para uma ousada troca de elenco que colocou Junior Lemes, Antonia Serquevitio, Renato Casagrande e Renan Queiróz, além de repetir respectivamente Dulce Jorge e Carol Guma como Maria e Madalena. Outros grande destaques são: Ravi Quaresma e MArgareth Medeiro. Nada de novo, ao que parece, na trilha, nada de novo nos cenários, mas sem dúvida um clima muito mais emotivo que nas interpretações anteriores.
2025 entrará para a historia do Máschara como a Paixão da união. Que venham muitas outras...
Arte é Vida
A Rainha
A Paixão de Cristo
Entre eles estava Jesus
Texto e Direção Kléber Lorenzoni
Elenco Kleber Lorenzoni
Dulce Jorge
Carol Guma
Renato Casagrande
Renam Queiroz
Romeu Waier
Junior Lemes
Ricardo Fenner
Antonia Serquevitio
Ravi Dantas
Jesmar Peixoto
Anderson Bottega
Rosber Brandão
Pedro Presoto
Ana Clara Kraemer
Marli GUma
Margareth Medeiro
GUstavo Ferreira
Rafael Soares
Kleberson Ben
Gustavo Ferreira dos Santos
Clara Devi
Felipe Brandão
Julia Das Almas
Valentina Lemes
Luisa Ourique
Roberta Teixeira
Ana Luísa Kraemer
Ana Costa
Douglas MAldaner
Giovana Lopes
Kevin Djon
Didy Flores
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