1131/1132 - Lili Inventa o Mundo - tomo 123/124

 Quando um ator faz um péssimo trabalho, ele afasta o público de outros atores! Quando um médico faz um mau trabalho, o paciente procura um novo médico, quando uma loja tem péssimo atendimento, o cliente procura nova loja. Mas quando um ator, ou Cia. De teatro, se mostra incompetente ou incapaz do mínimo respeito pela plateia, essa não volta ao teatro!


Não consegui estar com o Máschara em Nonoai, assim sendo, passarei esse espaço ao diretor Cléber Lorenzoni.


Houve um dia, um momento, mais ou menos em 1999, quando eu fazia teatro no antigo Grupo Máschara, em que pensei: -Ou vou ser ator, com todo o respeito que essa profissão merece, com estudo, buscando a perfeição, ou vai ser para sempre um passatempo. Algo que eu faço quando não há nada melhor para fazer. Algo que preencheria minha vontade de ganhar aplausos, minha carência e necessidade de ser amado. Seria eu um tipo estranho de artistas, que nada fazem pela arte, apenas fazem seu básico, e quando estão entediados da arte e de tudo o que o teatro requer, desaparecem, voltando ou quando precisam de uns trocados, ou quando estão com sua agenda vazia. 

Fazer teatro não é tarefa fácil, afinal de contas é preciso estar sempre disposto, entregar-se, pensar sempre no público. Segurar a atenção, conquistar crianças e adultos, ser gentil à todos. 

É preciso ainda, ter técnicas, conhecimento teórico, disponibilidade, recurso... Ainda acrescenta-se praticidade, capacidade vocal. Saber lidar com microfones e com adereços, compreender o tempo dos colegas. Triangular, não demonstrar cansaço, saber adaptar, e principalmente ser grato. Afinal, sem público, nada resta, nada fica... Tudo acaba! Stanislavski costumava dizer que atores precisam ser perfeitos. São o diálogo direto do homem com os Deuses, com aquilo que está no mais fundo de seu íntimo. Treva e luz, dor e alegria, sucesso e fracasso, inveja e orgulho. Tudo está dentro de nós, e os atores desafiam esse lugar humano.

No palco, sempre, desde que comecei a fazer teatro, desenvolvi a capacidade ficar observando meus colegas, (possivelmente isso provém de minha capacidade de dirigir). Em cena, observo as “gags” dos colegas, a energia física (tônus), as escolhas, a capacidade de segurar o olhar da assistência. A capacidade de atuar para dentro e para fora do palco. Atuar com as costas... Com o corpo inteiro. A forma como tocam o microfone, de forma desajeitada, mais atrapalhando do que se ajudando. A preguiça de alguns interpretes, que quando fazem algo muito simples, ou básico, ainda se ufanam como se tivessem construído algo muito importante. Outra coisa importante de analisar, é que enquanto ação estanque, ou esporádica, a ação de um ator é apenas uma prestação de serviço, facilmente substituída. O que torna uma pessoa, digna de ser chamada de ator, ou interprete, é sua carreira em construção. A perseverança e finalmente o senso de dever. Qualquer um faz uma cena, qualquer um conta uma história, qualquer um aperta botões. Qualquer um adquire uma pomada branca e ao esparramá-la pelo rosto, sente-se um ator. Qualquer um compra alguma fantasia, e se traveste de algum ser mitológico, ou da moda. Isso nada tem a ver com o trabalho do ator. Travestir-se de “freira” ou de “homem aranha”, ou qualquer outra criatura que já existe, simplesmente é uma cópia, da arte de outra pessoa, grupo ou instituição. Hoje ainda ouvia uma cantora copiando Whitney, enquanto todos a aplaudiam por ser igual a outra... Quanto mérito. Realmente aplaudível!!!! Você está sendo aplaudido por copiar alguém... Roubar de alguém sua identidade e ainda te dirão: Que incrível, como você se transforma! 

Apresentamos Lili Inventa o Mundo, em dois momentos na cidade de Nonoai, em meio à animação da feira (recreação). Há de se questionar quais momentos mais prenderam o público e o que cada um de nós atores deu a ele. O palco é um desafio permanente, a cada dia aparecem novos entusiastas do teatro. A cada dia erguem-se grandes monstros sagrados, e a cada dia caem imagens falsas. Como na vida.



Cléber Lorenzoni - diretor

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