Petra - Décimo primeiro concorrente - Rosário em Cena

 Durante muitos anos, Stanislavski reinou praticamente solitário no trono mais alto do panteão dos grandes deuses humanos do teatro. Seu teatro naturalista se expandiu e nos "decretou" o que seria o caminho mais correto, durante décadas. Mas o mundo se renova rapidamente e mesmo o teatro, que de certa forma anda devagar já que possui o peso de sua ancestralidade para carregar consigo, viu um homem novo, embasado nas preocupações do século vinte, ir abrindo espaço para novas linguagens, propostas e diálogos. 

O curioso é que o teatro no interior das comarcas e províncias, ainda está em estágio de construção de suas bases. Ainda andamos muito devagar, nossas crianças ainda consomem palhacinhos e animaizinhos falantes e por isso ao crescer, querem ver vilões, mocinhas e casais apaixonados. Algo que a tv e o cinema tentam nos vender a qualquer custo. Há é claro aqueles que nem sabem se e o que querem ver. Porém, o teatro, esse senhor de mais de três mil anos, quer se renovar e quer refletir as turbulências de uma época que deseja consumir com textos e transcender em ações. Estudos, pesquisas, buscas, laboratórios, trazem ao palco uma linguagem que as vezes choca e as vezes toca. Soberana então, quando une ambas as coisas. 

O espetáculo Petra levantou na manhã de sexta-feira, um alto debate que para mim provou que ainda perambula entre nós o tema proposto por Eugênio Barba que se refere às diferenças entre teatro comercial, teatro universitário e teatro de grupo. Ora, o trabalho de Luana Oliveira de Lima, é maravilhoso, e nos chega de uma conclusão experimental universitária, com orientação de Adriana Dal Forno. Durante os trinta minutos de um trabalho forte, físico, passei pelo universo de Dalcroze,  Butô, Artaud... e outros tantos das galáxias que nos cercam. Queria eu entender de onde vinha a linguagem sobre o palco. Talvez por que não conseguisse compreender a dramaturgia proposta. 

Petra, parece uma jovem cheia de pesos, de instintos, de força interna e de desafios a serem percorridos. Impostos esses desafios por quem? Com quais objetivos? Vi sobre o palco, a mulher palestina, a fugitiva israelita, a noviça dentro do convento, a jovem que atravessa o deserto mexicano para entrar nos estados unidos, vi a samaritana junto ao poço, vi inúmeras mulheres. E então percebi que eu apenas poderia ver Luana, viva, intensa, preenchida, submersa. 

Talvez, esse mesmo espetáculo, apresentado na terra, na rua, em arena completa, em uma sala emparedada, nos produzisse mil e uma sensações. Talvez não. Talvez apenas precise ser feito, pois gerará debate, debate necessário que desaguará no teatro de dez ou quinze anos à frente. Pois é o debate, a duvida, o inquietamento e a incerteza, que constroem à próxima arte. 

Saí do teatro com várias sensações, mas a principal, gratidão a atriz sobre o palco que lindamente ao final foi muito gentil em conversar com a plateia. Espero em futuro não tão distante voltar a vê-la atuando.



Cléber Lorenzoni - Crítico teatral

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