domingo, 13 de agosto de 2023

1110-Dona Flica e seus dois maridos (tomo 2)

 Parece que dessa vez a reinha, ou não se inspirou, ou não gostou (argh), ou não suportou as reflexões que teve depois de assistir Dona Flica e seus dois maridos, então eu mesmo farei uma análise do meu trabalho, que é também trabalho de muitas mãos, e esse é o grande paradoxo. Pode parecer injusto eu mesmo analisar meu trabalho, no entanto, para construir bons trabalhos como os que o Máschara sempre bem produziu, é importante em primeiro lugar, ser auto crítico. Muito crítico. E eu sempre caminhei com a crítica muito junto a mim. Nunca me contento com esse ou aquela criação, preciso sempe refazer, mudar, transformar. Em busca do meu melhor e do melhor dos meus colegas, mesmo que isso seja extenuante, doloroso e até destrutivo em alguns casos. Pessoas não lidam bem com seus fracassos e incompetências, porém a arte sempre lida muito com isso. Eu não quero que meus atores se contentem com o que podem dar, essa é a regra para muitos artistas que colocam sobre o palco obras dolorosas de assistir, que desrespeitam as platéias e não as desafiam a querer mais. Todos temos direito é claro de errar, de não produzir sempre coisas boas, ou ainda de se equivocar. Mas esse equivoco só pode ser perdoado se for reflexo de uma falta de estudo, ou de uma reflexão profunda do artista, reconhecendo que não fez o seu melhor. 

   Dona Flica e seus dois maridos, nasce de um ousado devaneio desse roteirista, com o apoio de outros monstros sagrados que o teatro vem construindo: Renato Casagrande(AI, presidente) Fabio Novello (AII) e Raquel Arigony (II curadora), cada um com o desejo de produzir algo incrível e realmente importante. Cada um com uma trajetória, uma historia, um luta de anos, e quando falo luta, falo das dúvidas do ator, que as vezes pensa em largar tudo, do ator que quer e precisa ser amado e reconhecido por seu público, do artista que busca respeito de sua família, busca valor, para poder seguir na arte com dignidade. Busca reconhecimento de seus colegas e de seu diretor. Sobretudo, busca ter feito algo de útil para a sociedade. Busca felicidade!

   Foram dias de debate, de muita pesquisa, e essa pesquisa pode ser feita através de livros, citando alí Barba, Desramaux, Stanislavski, Artaud ou tantos outros; Também pode ser atravéz do bom censo, ou do impirismo; Pode ser através do ensaio, do erro e acerto e do olhar dos colegas. O ator muitas vezes não pesquisa, por que ele está sempre na duvida, será que é o que quero para minha vida? Obrigado artistas pelo tempo de suas vidas dedicados ao palco.

    A doce construção de Raquel Arigony é explendida, doce, suave. As vezes comete alguns equivocos ao improvisar, pelo meu olhar de diretor, no entanto o que soa equivocado a mim, pode ser visto como acerto aos outros. Arigony é uma atriz que estuda muito, lê muito e por isso produz muito. Tenho tido atores que nunca devoraram livros, ou que leram um e já se acham no direito de impor suas teses de forma orgulhosa e empafiante: "Sentem lá suas Claudias".  O jogo entre Beatriz e Flica é muito gostoso e as vezes, eu, no lugar que ocupo de ditador das leis sobre o palco de meu espetáculo, judio um pouco dos meus colegas, para os quais pesso benevolência. Fabio Novello é um ator com muitos pontos de vista, o que é ótimo, pois nos desafia a encontrar soluções em espaços para os quais não haviamos voltado nosso olhar. Pode ser considerado um ator aperreante para alguns, mas ao menos não é omisso quanto atores e atrizes que na tua frente parecem concordar, mas na primeira oportunidade, pelas minhas costas, reclama de tudo e são desleais, bancando os pobres injustiçados. Sim, há também isso no teatro. 

      Renato Casagrande rouba a cena, e é gostoso vê-lo feliz qual criança, recebendo aplausos e se encantando com seu sucesso. Renato Casagrande ainda pdoe afinar mais suas técnicas em cenas dramáticas, arrancar a lágrima da platéia com mais dor. Mas ainda mantendo sua alma infantil. Atores devem manter a alma juvenil em cena e talvez por isso, Casagrande faça tanto sucesso, no entanto, deve ser mais receptivo à criticas do diretor. Não diretor, pois nao se dirige pessoas, dirigimos carros, navios, atores nós guiamos! E como é bom guiar atores abertos, dispostos a receber o que o diretor está lhe propondo. Diretores ocupam um espaço dificil, bons diretores, precisam ver o resultado antes memso do espetáculo estar montado. Precisam pensar a frente dos atores. Eu enquanto roteirista, aprecio o valor da curva dramática. Talvez por isso o desenho de Dona Flica e seus dois maridos, seja extremamente técnico e semiótico. Uma primeira cena com muito drama, para segurar a platéia que no segundoa to verá um homem vestido de mulher tentando fazer um flerte com outros dois homens. Necessário que eles peguem simpatia pelos personagens na primeira cena. E dá certo! Depois das dores da Tia Flica virem a tona, aí sim, podemos trazer ao palco seus pretendentes e ir deixando-a cada vez mais fresca, ágil. Quando se é diretor, é necessário ter cuidado de muitas coisas mesmo ao estar em cena. Figurinos, maquiagens , adereços, cenários, triangulação, ritmo, iluminação, sonoplastia, texto, volume, ritmos dos outros, portuguës correto, plástica do espetáculo, e finalmente, platéia. Tudo se move ao mesmo tempo e para esse controle, você espera contar com sua grande equipe. Seus contrarregras, seu grupo de apoio. No dia em questão, havia no teatro, mais tres anciãos, mais cinco atores contrarregras, além dos amigos do máschara ou membros honorários. Quantos estavam preocupados em fazer com que a arte dê certo? A arte é frágil, impalpável, e facilmente esquecida. Ela ainda precisa lidar com a imaturidade, com a infantilidade, com a ingratidão, com a prepotencia e com a ignorancia. Tudo junto, o tempo todo. Atores que não querem se sujeitar, que acham que fazem muito por seu grupo, que apenas querem ganhar um troco, que acham que sabem tudo, mas quem nem sequer uma cena bem feita conseguem compor.

            Quanto a mim, primeiramente acredito que deveria ter criado um nome para a atriz Tia Flica no espetáculo, ou corre-se o risco de acharem que trata-se da vida da tia flica. Devo também ter mais cuidado com meu corpo cênico e me perguntar se em alguns momentos DOna Flica não está ágil demais. Cuidemos os quatro de nossos volumes. Mais exercícios de voz em ensaios por favor. 

                      Meus atores me perguntarão como estavam na luz, no som, na contrarregragem ou no apoio e lhes perguntarei: -Ficaram alfinetes no palco? Venderam ingressos? Aprenderam sobre luz e som? Varreram o palco? Reclamaram do horário em que foram ao teatro montar tudo? O que aprenderam? Foram gratos no final? As respostas lhe dirão tudo, se elas forem sinceras...

               Para o todo? Mais organização, mais leveza ao ouvir criticas, são elas que nos constroem. Mais paciencia, nada aprende-se no tempo do outro. Ensinar com mais calma e amor, pois o teatro rpecisa de amor para unir as pessoas sobre o palco, ou de ódio, no entanto o odio nao mantem por muito tempo. Veha as guerras, quando elas acabam todos voltam para os braços das maes, esposas ou filhos, em busca de amor! Dona Flica tem me ensinado muito ä não se entregar, seja uma gripe, uma dor nas costas ou a timidez, Dona Flica nos ensina a erguer a cabeça e seguirmos como tubaronas!!! Mas nao percamos o gracejo dos golfinhos, nem a mansidão das baleias, nem a constancia pacienciosa das tartarugas!


Dona Flica e seus dois maridos

Realização:Grupo Máschara

Roteiro e Direção: Cléber Lorenzoni

Elenco: Tia Flica, Raquel Arigony, Gauchão Influencer, Fabio Novello

Iluminação: Romeu Waier, Cléber Lorenzoni e Fabio Novello

Trilha Sonora: O Grupo

Operadores: Clara Devi e Romeu Waier

Figurinos: Renato Casagrande e Clara Devi

Contrarregragem: Antonia Serquevitio

Cenário: O Grupo

Maquiagens: Cléber Lorenzoni e Grupo

Portaria: Ricardo Fenner, Laura Hoover, Alessandra SOuza e Douglas MAldaner.

Produção: Ricardo Fenner e Raquel Arigony

Diretor de Marketing: Cléber lorenzoni

Designer Gráfico: Renato Casagrande

Redes Sociais: Renato Casagrande e Romeu Waier

Apoio: Dulce Jorge, Prefeitura de Cruz Alta e Radio Cruz Alta

Patrocinadores: ACI, Ponto do Livro e Oftalmodonto Clínica

sábado, 5 de agosto de 2023

O encontro entre Malaquias e a fada mascarada


 

Elenco de A roupa Nova do Rei e amigos.


 

Elenco de Lili Inventa o Mundo ao lado do poeta Mario Quintana


 

Dona Flica e seus dois maridos/elenco e amigos


 

Grupo Máschara e tia FLica no aniversário da cidade


 

Gauchão Influencer, atualmente em cartaz no espetáculo Dona Flica e seus dois Maridos


 

Aula de técnica vocal com Dulce Jorge


 

Elenco de Lili Inventa o Mundo, com a atriz e contrarregra Raquel Arigony no detalhe


 

Dia D teatro- escola Gabriel Annes


 

A Boneca Gente-Sinopse


 

A Boneca Gente - Historias do Sítio


 

Contação de Historia- A Boneca Gente


 

1109- Lili Inventa o Mundo (tomo 119)

O Local é global...

                   "Não há como não deixar uma lágrima cair", ao ver o carinhosamente chamado "poetinha", há poucos passos de sua obra, Lili Inventa o Mundo. Em um banco de praça, seu lugar preferido quando andava pelas ruas de Porto Alegre. O projeto se chamava Quintanares, e educadores, apreciadores de poesia e artistas munícipes se dirigiram à praça Getúlio Vargas. Alí um momento muito divertido, para crianças e adultos se estabeleceu. Era visível aos olhos do público que havia algo de mágico acontecendo. 
                  Cidadezinha pequenina, não que o Alegrete seja pequeno, mas mantém sim, aquele clima de cidade dos cata-ventos. 
                 Lili Inventa o Mundo por Cléber Lorenzoni, sofreu muitas adaptações para chegar ao produto que vemos hoje. Com o texto, une-se a obra de Pé de pilão e outros signos que somente a cuidadosa adaptação do Máschara conseguiria produzir. A trilha cantada pelos atores, foi toda criada pela diretora Dulce Jorge a partir de grandes clássicos da música. Um espetáculo com mais de cem apresentações, o que é muito para um trabalho do interior. No elenco já teve grandes expoentes do Máschara, como Lauanda Varone, Angelica Ertel, Fernanda Perez e Gabriel Wink. 
                  Eu ainda me recordo da primeira vez que assisti na Casa de Cultura em 2007. Enquanto assistia, naquela época, viajava pelas possibilidades, pela criatividade, pela poesia. Claro que quase vinte anos depois, o espetáculo que se vê em cena é um "produto" muito diferente daquele levado ao palco há tanto tempo. Os atores são outros, as linguagens são outras, afinal o teatro precisa e deve adaptar-se a cada época, às transformações culturais. A poesia de Quintana é para não dizer eterna, atemporal. O poeta das coisas simples, das coisas da vida, o menino de aquário, que se torna o homem solitário que vai pelas ruas tortuosas com sua bengalinha. 
                Alessandra Souza interpreta uma Lili muito interessante, contemplativa, talvez mais semelhante à Lili de Esconderijos do Tempo. Renato Casagrande sobressai-se como sempre, com uma presença energética, viva! Clara Devi (**) adentra à cena como a Rainha das Rainhas, em uma atuação doce com é de seu feitio. Antonia Serquevitio (**) assumiu a personagem de Malaquias e lhe aconselho a estudar mais, e principalmente praticar o jogo com seu colega de cena Cléber Lorenzoni. Nicolas Miranda (***) adentra o palco em uma personagem que já foi de Alessandra Souza, de Tatiane Quadros e de Daiane Albuquerque. A escolha do interprete foi muito acertada já que Nicolas demonstra uma ótima caminhada como Fada Mascarada. 
Lili cumpriu sua função teatral, animou, divertiu com as gags e o ritmo do interprete de Senhor Poeta, mas principalmente, causou um efeito emocionante e significativo para a população do Alegrete. 
                Para entender os objetivos do espetáculo , seria preciso conversar com a direção, compreender seu olhar único existencial. Lorenzoni trabalha os elementos surpresas, o ritmo, a curva dramática e sempre, a partitura exagerada em ações corporais. O grupo não domina o uso da microfonia, e perde muito com isso. O que falta talvez a alguns artistas da CIA. é compreender que não basta ser razoável no palco, ou estar a sombra de uma boa direção. Não, é preciso ter recursos, soluções para bons improvisos, perspicácia, noção de mundo, técnicas, capacidade em dominar a audiência. 
                      Preciso elogiar a capacidade da equipe em encantar as crianças, manter viva a poesia de Mario, e as palavras finais do diretor, que emocionaram a todos. Lili Inventa o Mundo, é um espetáculo eterno.
                       A contrarregragem cumpriu seu trabalho, nas mãos de Fabio Novello  e Raquel Arigony(**). Convém sempre perguntar-se de que se trata uma boa contrarregragem. A equipe tem que sempre estar de olhos bem abertos, para que figurinos não se percam, cenários não destoem, adereços não se extraviem, e principalmente, para que tudo flua. 
                            Vida longa à Lili Inventa o Mundo!