1090- La Sacra Alegria (tomo 02)

 Cordel Gaucho?


Essas possibilidades mil que o teatro propõe, nos mostram que as coisas não precisam ser necessariamente de um jeito ou de outro. Que quando você junta um olhar daqui com uma estética dalí, você cria novos mundos e dia aos tais "mundos": -Veja! Poderia ser assim, há essa opção. - E é assim, simplesmente assim que a arte vai mudando o mundo. Porque ela se tritura, se mistura e se reinventa através de sí mesma.

Eu não ouvia falar em Menino Jesus de Praga há uns trinta anos, e eis que ali está sua alegoria, surge simples, para o olhar confuso e adorador de quem esperava uma Maria com um bebê ou ainda com uma grande barrigona. Isso é ver como encenador, ver o que ninguém vê e tenho certeza que o diretor do espetáculo deve lutar contra colegas incrédulos que julgam absurdas suas ideias. 

Você se choca no inicio, afinal de contas, em nada se parece com um espetáculo natalino, simplesmente porquê la vamos nós, querendo rotular um espetáculo.  Auto é uma composição teatral do subgênero da literatura dramática, surgida na Idade Média, na Espanha, por volta do século XII. De linguagem simples e extensão curta, os autos, em sua maioria, têm elementos cômicos ou intenção moralizadora.

Santos, anjos, milagras, crianças... Tudo muito medieval e com aquele toque nordestino que Renato Casagrande e Nicolas Miranda pegaram e muito bem. A obra de Portinari homenageada, tomou peso de Inferno de Dante, já que os demônios somos nós mesmos e isso fica muito claro quando um dos retirantes se revolta. Ora, todos podemos nos revoltar, todos temos dias dificeis. Mas é preciso ter fé em algo, é preciso ter no que acreditar...

As atuações estão equilibradas. O ritmo, o time, o trabalho corporal, tudo está pulsando maravilhosamente. Acho muito bonito ver atores jovens que chegaram ontem mesmo como Carol Guma e Romeu Waier, ocupando grandes espaços. Isso me faz pensar no futuro do Máschara. Em quais atores vieram para ficar e farão longas e louváveis carreiras. O teatro precisa de gente jovem e cheia de garra, mas precisa também de baluartes, que vem apra ficar e ditam os caminhos. 

A interpretação de Guma é bastante fisica e isso muito agrada, claro que o mérito também está no trabalho em dupla com Casagrande quando ela vira a esfinge. Romeu Waier pode investir mais no trabalho corporal, é um ator de talento expecifico, e com muita perspicacia em sua interpretação. 

Serquevitio e Ramos estão bem, assim como Devi e Maldaner. Aliás a garra que todos desenvolveram, a força cênica e a presença, são motivos de muito orgulho. É esse ritmo que a máquina toda possui que nos atrai. Além é claro da boa historia. 

Uma pena a opção por tantas sombras pelo palco, o teatro está dividido em duas grandes familias: Tragédia e Comédia, divisão essa que herdamos de nossos antepassados gregos, A comédia, nunca deve ser feita no escuro.

A trilha é deliciosa, elegante. Há de ser melhor dublada, para se valorizar o trabalho.

Para encerrar, elogios a equipe de figurinos e suas paletas de cores, bem como à cena final que se estende desde a empalação do demonio até o presépio plástico. Uma cena longa, com curva acentuadissima e muito bem manipulada pelo diretor. Diretores são por natureza manipuladores, mas a forma graciosa como a manipulação de Lorenzoni orquestra cenas é estonteante. Será que os atores eprcebem que lá no estudio, já estão sendo manipulados? Manipulação boa que transforma a geniosidade das atrizes, a soberba de alguns atores e a teimosia de jovens atrizes em arte. 

Devo parabenizar também a opção de envolver as crianças sem expô-las. Prepará-las, dar oportunidade de ir aos poucos descobrindo seus talentos. Descobrindo por que estão ali e o que buscam em sua caminhada. Fabio Novello e Cléber Lorenzoni são as figuras mais fortes do espetáculo, gostaria de ve-los livres dessas gravações que aprisionam suas atuações, embora o segundo dos dois já tenha se tornado expert nessa linha de trabalho.

O melhor: A escolha da canção A Montanha, lindamente entoada por Allana Ramos

O pior: A escuridão do palco.



La Sacra Alegria

Roteiro e Direção-Cléber Lorenzoni

Elenco: Cléber Lorenzoni, Renato Casagrande, Nicolas Miranda(***), Fábio Novello, Romeu Waier(**), Clara Devi(***), Antonia Serquevitio(**), Douglas MAldaner(**)

Participação Especial : Ducle Jorge e Allana Ramos(***)

Artistas Convidados: Carol Guma(**) e Bibi Prates(**)

Figuração: Duda Martins, Anita Serquevitio, Henrique Arigony

Trilha Sonora: Cléber Lorenzoni, Fabio Novello e Raquel Arigony(**)

Apoio Técnico: Vitoria Ramos

Figurinos: Renato Casagrande e Clara Devi

Cenário: Cléber Lorenzoni e Fabio Novello

Maquiagem: Cléber Lorenzoni e Renato Casagrande




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