1087- Auto de Natal- La sacra alegria (tomo 1)

Recurso...

                        Há alguns dias atrás conversando com meu amigo, Cléber Lorenzoni, perguntei o que ele diria, em uma palavra, que um ator precisava para ser reconhecido como um bom ator. Depois de pensar um pouco e enrolar com alguns raciocínios, ele foi muito incisivo: Recurso. Quando assisti ao espetáculo tive uma sequencia tão grande de signos, havia tanta cultura inserida, tantos olhares. 

                         Três frases não me saem da cabeça, e ouvi do público durante o espetáculo e no fim do mesmo: -Que lindo mãe, um anjo de verdade!

              -Não tenho mais medo, o diabo virou bom...

              -Agente tem sempre que agradecer, agradecer tantas coisas que acontecem, mas a gente esquece de agradecer.

                        Essas três frases que ouvi de adultos e crianças, me emocionaram, ou aumentaram a emoção que eu havia sentido quando me deparei com a releitura de Portinari.

                         A opção por fazer um espetáculo de chão me frustrou um tanto; na rua, pessoas  com cadeiras, não tem um aproveitamento tão positivo, no entanto a proximidade com as crianças é um elo inquebrantável. Grandes atuações como a Nicolas Miranda que recebe da direção um papel de peso e consegue levá-lo a um belíssimo patamar ao lado da interpretação impecável de Renato Casagrande. O roteiro não construiu grandes textos para grandes atores, ao contrário, ele trabalha com uma unidade cênica, onde todos tem oportunidade de brilhar.

                            O coro, a guarda de honra da grande mãe e o presépio luxuoso trabalhando com as cores teológicas festivas, criam climas e se estabelecem ricamente, o menino Jesus de Praga é um exemplo perfeito de como pode-se envolver qualquer linguagem quando se quer contar uma boa historia, Bibi Prates precisa lembrar d epraticar mais a dublagem. Sendo assim, nós temos um desfile de estilos: Do expressionismo ao barroco, do modernismo ao impressionismo. Havia um pouco de tudo, basta se recostar e deixar acontecer. 

                                     Romeu Waier e Carol Guma estão bem em cena e merecem aplausos, mas ainda podem fazer grandes descobertas em suas atuações, encontrar motivações e nos dizer a que veio o casal de reis judeus. Allana Ramos canta lindamente e precisa triangular com todo o elenco e público, por isso não deve nunca parar com as aulas de teatro. Antonia Serquevitio deu uma amadurecida muito bonita e bem como Clara Devi, devem não permitir a acomodação orgânica. É preciso reinventar-se todos os dias. Douglas Maldaner merece crescer e merecer ainda mais papéis, mas deve lembrar que teatro é busca, sempre.

                                    MAis uma vez o Deus éx maxin soluciona o roteiro. Não sei se aprecio tanto essa decisão, prefiro pensar que o homem mudou e que seu perdão é proposto por outro homem: João Coió! 

                                        Cléber Lorenzoni, Fabio Novello, e Dulce Jorge atuam no que chamamos de actantes , são personas com ações que mesclam a performance, o tipo e a atuação, ainda fazendo referencias ao seu jeito próprio de ser enquanto comunicador. Ou seja, quem olha para Dulce Jorge, reconhece nela a fundadora do Máschara, Maria mãe de Jesus em todos os espetáculos A Paixão de Cristo. E assim sucessivamente com os outros dois interpretes mencionados. Isso gera um fenômeno diferente na forma como a informação chega ao público e como dispara do interprete.  Os registros de interpretação desses atores também carrega códigos humanos que estão além da capacidade de manuseio por parte do diretor. 

                                     As trocas de roupas, as criações plásticas, barbaras todas, são parte do universo Máschara de fazer teatro, acredito que o grande mérito está na coragem, coragem que a equipe que dirige os espetáculos precisou encarar com muita coragem. Parabéns pelas opções, parabéns as caracterizações e aos diretores |Renato Casagrande e Cléber Lorenzoni que nos levam a lugares distantes, para depois cairmos na vida real e sentirmos falta dos espetáculos do Máschara.

                                  Para encerrar, obrigado senhor, pelo Máschara, obrigado pelo brilhante trabalho, assistirei com olhar mais detalhista no próximo domingo, vocês nos dão muito RECURSO, não sei se tenho capacidade de acompanhar o ritmo frenético com tantos signos.



Raquel Arigony (***)

Clara Devi (**)

Antonia Serquevitio (**)

Nicolas Miranda (***)

Allana Ramos (***)

Romeu Waier (**)

Vitoria Ramos (**)

Carol Guma (**)

Douglas Maldaner (**)


Parabéns aos pequenos: Henrique Arigony, Anita Serquevitio e Duda Martins


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