O Grande
Circo Mágico, interpretações bacanas em organização equivocada
Se eu fosse criança, iria embora com o circo... Imagine um lugar de
colorido, alegria, onde cada um é extremamente diferente do outro, mas todos se
ajudam, se divertem e produzem coisas maravilhosas. Atrás da cortina, segredos,
adereços que surgem do nada e logo desaparecem, movimentos, luzes, emoções...
A maior dificuldade
em fazer um bom espetáculo é conseguir levar ao público um show completo e com
ritmo, e quando se trata de circo, é necessário ser preciso, pontual e cuidadoso
com os detalhes. No entanto nesse dia, alguma coisa parecia não estar bem organizada, orquestrada. Aquela organização que vi presente há alguns
dias, na Paixão de Cristo em Planalto, não é a mesma que subiu ao palco de
Erval Seco. A trilha mal executada, a musica sem potência, a falta de ensaios,
artistas entrando no palco e se enroscando nas coxias. A falta de ritmo, em
algumas cenas e o eco obstruindo a compreensão do que os atores falavam. Tudo
conspirando contra o trabalho do artista, que é o objetivo principal das
viagens mambembes do Máschara.
O palco por outro
lado foi coroado com a honesta arte deste elenco corajoso e encheu os olhos de
um público que jamais havia visto algo daquele quilate. Um circo com ares de
teatro, um circo “contemporâneo”, um circo singelo e certamente inesquecível. E
o Máschara sempre disposto a surpreender, nos apresenta números novos em seu picadeiro
improvisado, colocando um mágico no centro da cena. Um mágico com números
pequeno e grandes, truques que encantam e iludem. O número pareceu muito bem
ensaiando, a ponto de as “passarinhas” e o apresentador surpreenderem-se de
forma muito convincente.
Romeu Waier, tem uma
facilidade em unificar as cenas, mas precisa tomar cuidado para não deixar o
texto de apresentação muito simplório. Talvez os palhaços não precisassem
revelar que o dono do circo era careca, tirando a Máschara antes do bagunçado
número da barbearia. Esmeralda, embora lindíssima, deve ensaiar mais a
prestidigitação.
Raquel Arigony e
Cléber Lorenzoni abrem e fecham o espetáculo de forma competente, e Vitoria
Ramos brilha como sempre em sua boneca elástica. Observando a equipe, me pergunto por que Alessandra
Souza e Nicolas Miranda não subiram ao palco como galinha e cachorro,
respectivamente se também estavam na caravana. Caravana essa que embora Cléber
Lorenzoni sempre compare com a
L'Illustre Théâtre do perfeccionista e exigente Molière, me lembre mais
a excursão de Eugenio Barba após sair da Polônia, em busca de um teatro que lhe
permitisse por no palco sua inquietação criativa. Assim nasce o Odin Theatre,
um espaço onde artistas poderiam buscar respostas para seus próprios por quês. Longe
da exuberância glamurosa do primeiro teatro e da quase restrita visão catedrática do segundo teatro, o terceiro
teatro é formado em sua maioria por pessoas que se definem atores, diretores,
técnicos, sem terem tido quaisquer formação teatral “tradicional”.
Esse terceiro teatro
se permite soluções, improvisa e aí desenvolve novos caminhos. Nesse espaço o
que ontem valia, hoje dá espaço a outro olhar, e forma atores com o aval do público,
de maneira mais profunda e intensa. O ator-criador-pensante que ali é forjado,
desenvolve seus próprios métodos através da prática. Claro que caso o aprendiz
decida colocar-se em uma posição de privilegiado, enxergando-se como um artista
completo, que não precisa de teorias, ou de estudo, então estará rapidamente se
disponibilizando a cair para o grande rio dos esquecidos, ou no mínimo daqueles
com os quais ninguém deseja dividir o palco.
Na contramão desse
meu olhar fantasioso, vem a necessidade e astucia do teatro comercial do
produtor/empreendedor Cléber Lorenzoni. Um Comercial que joga para cima do
palco o que há de melhor no teatro do Máschara, um comercial que as vezes peca
em atropelar alguns artistas em detrimento de outros. Um comercial que não tem
muito tempo e espaço para o erro. Mas há é claro um bom equilíbrio, onde vejo
nascer bons talentos.
O melhor: A soma do
talento de Cassiano Gambini no Grande Circo Mágico.
O pior: A desorganização da
equipe do palhacinho e talvez desleixo com um espetáculo que embora não faça
parte da turnê Paixão de Cristo, deva ser tão competente quanto, afinal é
graças à esses tantos “pequenos” espetáculos que se dá a “grande” Paixão de
Cristo.
Clëber Lorenzoni, Renato Casagrande,
Fabio Novello, Laura Heger, Clara Devi, Alessandra Souza, Antonia Serquevittio :
(*)
Vitoria Ramos, Eliani Alessio, Raquel Arigony, Nicolas
Miranda, Eduardo Fernandes: (**)
Cassiano Gambini (***)
Arte é Vida
A Rainha
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