Tiradentes ou Aleijadinho? - Inconfidência Maçônica

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Nietzsche afirmava que possuir idéias assemelha-se a possuir peixes e aquários, e para se possuir  peixes é preciso ir à pesca e ter um pouco de sorte. Será que no teatro não estão todos satisfeitos com seus velhos aquários e com medo de sair pescar?  
Bem, na noite de sábado saí pescar, acompanhada de uma prima distante que não aprecia muito o teatro, me dirigi ao auditório do ateneu Annes Dias. 
Surpreendi-me ao ver a platéia no escuro estacionamento da escola. O espetáculo já havia iniciado e uma chuva de serpentinas dava um ar lúdico a batalha entre Franceses e Russos. Esse clima de diversão pareceu aproximar espectador do interprete. Não consegui ouvir muito bem, mas acredito que esse nem era o objetivo. 
A palavra mais forte do teatro para mim é a convenção, quando você a detecta tudo fica mais prático. Aquele clima Artaudiano foi se esparramando pelo auditório e me instigando. É preciso estar aberto para o teatro, recebê-lo como um presente que o artista está oferecendo. Bastante verborrágico, o ator John Vaz passeou por vários acontecimentos que no ver dele seriam necessários para compreendermos as peripécias pelas quais o inconfidente Tiradentes marchou até sua morte. O texto traz o ideário Iluminista que influenciou fortemente a Revolução Francesa a própria independência dos Estados Unidos e por fim a conjuração mineira. 
Tudo muito claro para mim, já que historia sempre foi minha disciplina preferida. No entanto o teatro tem essa capacidade de te catapultar para o acontecimento mencionado como se la estivéssemos vivenciando aqueles fatos. 
A iluminação um tanto precária, mais indicada para espetáculos de arena me incomodou um pouco mas a narrativa e a força do ator me mantiveram atenta. 
Ainda no segundo ato, membros da comunidade foram sendo inseridos, como se estivéssemos assistindo um espetáculo de Boal. Meio confusos, meio perdidos. Minha prima aliás estava mais preocupada se os jovens estariam nervosos ou não, do que propriamente com seus textos e personagens. 
Um arrojo foi ver no elenco dois atores cruzaltenses. Cléber Lorenzoni e Renato Casagrande. Em cenas realmente marcantes. Engraçado que ainda que em um espetáculo de linguagem muito próprias, as cenas dos dois atores apresentaram-se muito semelhantes ao trabalho do Máschara de onde ambos são oriundos. Talvez Joaquim Silverio pudesse ter sido mais aprofundado, afinal sua importância na historia é de peso semelhante à Judas na paixão de Cristo. Por outro lado a dobradinha Vice Rei e Barbacena foi inesquecível.
A trama desenrola-se um pouco arrastada, mas cumpre-se e a praticidade de John Vaz me agrada muito. Alguém me disse que ele fez novelas ou que é o mil caras do teatro. Não me importa muito, para mim não o que vem antes que faz a pessoa e sim o momento, seu trabalho ali, frente ao público, isso é teatro. 
Mil caras? Precisaria ver esses mil espetáculos para ter um ponto de vista. 
Quanto a Tiradentes, cumpriu-se, seduziu-nos, e o final com todo o panteão de Aleijadinho foi emocionante, e seria ainda mais se os colegas de cenas fossem atores. 
Uma noite de elucidação e pequenos prazeres, onde me deleitei com o eloquente discurso sobre um auditório deteriorado, enquanto todos preocupam-se com hospitais e pouco olham para as doenças da cultura. 

                                                                   *  *  * 
                                  Preciso dar uma classificação de três estrelas para o trabalho.

A Rainha

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