806 - As Balzaquianas - tomo 10 - 72º Cena Às 7

               As Balzaquianas marca a passada de Angelica Ertel pelo Máschara, pois foi o ultimo espetáculo a ser montado com a participação de Angelica Ertel, e que participação. A Atriz que fez parte do Máschara por tantos anos, codirigiu e atuou como uma "diva" ao lado de Cléber Lorenzoni. Enquanto a atriz esteve na Cia. dedicou-se memoravelmente e é impossível aos contemporâneos assistirem esse espetáculo sem lembrarem dessa atriz. Por outro lado quem assistiu As Balzaquianas nesse domingo de Cena às 7 possivelmente imaginou que Dulce Jorge fosse mesmo a primeira interprete de Leninha, tal sua desenvoltura, segurança e força em cena. 
                                 Dois monstros em cena, não por seu talento que também dispensa elogios, mas por terem aceitado e dedicado-se ao palco por tanto tempo. De um lado vinte e seis anos de teatro, de outro vinte e três anos, poderia não ser muita coisa, não fosse o fato de estarem localizados no interior do estado, lutando com as pernas, firmando-se dia após dia, enfrentando batalhas, pessoas contrárias as artes e preconceitos. No interior não se faz "um teatro", no interior se faz o teatro que pode ser feito, que da para fazer. Isso parece uma desculpa para justificar algo frágil, simplório ou mal feito, no entanto o teatro do Máschara sempre carregou emoção, simbolismo, pesquisa e versatilidade. 
                            Os dois monstros enfrentaram família, enfrentaram partidos políticos, enfrentaram auditórios vazios, invernos gelados, crises politicas, falta de verba, intrigas, mas não caíram. O Máschara se reinventou e assim deve ser para uma instituição que dure, reinventar-se, descobrir o melhor a dar ao público, sair as ruas, aproximar-se da platéia, agradecer o amor do público. Humildade, generosidade, trabalho e sensibilidade. Esse certamente é o lema do Máschara.
                        Sobre o palco diretor e diretora, profundidade, constância, um texto bem pronunciado, pausas, intenções, triangulação. Bons exemplos para quem está começando.  Ambos se entregam passionalmente, Cléber Lorenzoni como a radialista Adelaide Fontana e Dulce Jorge como Dona Leninha. Ela é a água, passional, impulsiva, geniosa, intensa, Ele a terra, a segurança, o razão, a lógica. Juntos ambos formam uma unidade emocionante e louvável. 
                              A direção de Angelica Ertel e Cléber Lorenzoni valorizou cada trecho do texto e vai conduzindo a trama para um desfecho apoteótico, onde Adelaide Fontana chega ao extremo de sua capacidade de suportar a vida que a destruiu. A curva acentua-se com a revelação das dores das duas mulheres que permitiram amar e acabaram por se amargurar devido ao peso de um jugo machista. A narrativa da radialista foi tirada da obra A rainha do Rádio de José Saffioti Filho, e direciona por tanto todo o espetáculo. Dona Leninha representa uma das ouvintes e nos mostra o lado de lá, onde em meio a solidão apenas a voz de Adelaide consegue chegar. Ambas estão solitárias, ambas cantam, bebem, fumam, falam de seus dias perdidos, produzem o ritual do enterro...
                           Cléber Lorenzoni tem como um dos principais méritos a capacidade de interpretar uma personagem feminina sem afetar-se demasiadamente. Sua composição difere-se totalmente das  outras tantas  personagens femininas que já interpretou. O espetáculo organizado em quadros consegue mesclar drama e comédia, em uma sequencia rápida bem tipica do trabalho do Máschara. 
                             A iluminação de Gabriel Wink e a trilha de Angelica Ertel cumprem-se de forma exemplar nas mãos de Renato Casagrande e Alessandra Souza e oferecem ao espectador o ambiente perfeito para delirar nas asas do teatro. É preciso ainda mencionar a dedicação do jovem Stalin Ciotti que torcemos que um dia seja um dos atores do primeiro escalão do Máschara, pois a cada dia se mostra mais esforçado e digno de admiração.


                                Em alta:  A capacidade do Máschara de levar ao palco espetáculos de nível profissional mesmo com produção do próprio bolso. 
                                   Em  baixa: Os desentendimentos internos, os orgulhos, as vaidades que colocam em risco um trabalho incrível. 




              Espetáculo ; A Rainha do Rádio  Direção  Cléber Lorenzoni e Angelica Ertel  Elenco   Dulce Jorge e Cléber Lorenzoni  Assistência  Renato Casagrande   Trilha Sonora  Angelica Ertel  Iluminação  Gabriel Wink   Contra-regragem Stalin Ciotti  e Evaldo Goulart   Portaria  Sandra Lazzari  Ricardo Fenner   Operadores Técnicos  Alessandra Souza e Renato Casagrande   Figurino:  Cléber Lorenzoni  Fotografia  Alexandre Giacomini  Cenário  Angelica Ertel e o Grupo  Arte Gráfica  Renato Casagrande  Produção   Cléber Lorenzoni e Ricardo Fenner   Divulgação  Ricardo Fenner    Realização Grupo Máschara 

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