“O passado de uma pessoa pode se tornar seu destino”
Eugene O’Neill
Descobrindo as
origens de um dramaturgo poderemos compreender melhor o sentido de suas
palavras em sua obra, sua inspiração e até mesmo seu “desabafo”.
Aceitei o
desafio de desvendar os imortais O’Neill, Williams e Albee. Ambos tratam em suas
obras sobre a sociedade norte-americana, tentam questionar ou até ironizar o
tão desejado sonho americano, com personagens totalmente avessos a esse ideal.
Seus personagens sempre são psicológicos em graus que oscilam entre a loucura
ou até mesmo a uma vida completamente fracassada. É necessário mencionar que
O’Neill de certa forma alcançou o apogeu com o que se tornaria o teatro
realista norte-americano. Tennessee não descobriu ou criou algo novo, mas
redescobriu por si só o que já fora descoberto. O realismo permanece o estilo
norte-americano, o mérito às vezes, foi fundir o realismo com a imaginação, o
que Williams explorou muito bem.
Me inteirando
das biografias, chego a conclusão de que os três dramaturgos em questão, encaixam-se
no gênero teatral denominado Realismo-Trágico.
Peças decorrentes do mundo real, sem fantasias ou misticismo (embora seja
impossível viver sem) mas com grande escala de tragédias pessoais, tais como:
vícios, suicídios, assassinatos ou mesmo insanidade. Personagens convincentes
no mundo de hoje, usam dos instintos humanos, referência da tragédia grega,
para seguirem com sua jornada.
Eugene O’Neill
traz uma força em sua obra, sentimentos profundos e uma verdade interna,
inovando e mesmo criando uma nova ideia própria de tragédia. Revela personagens
mais violentos que de Albee e um pouco mais semelhantes com os de Tennessee
Williams; esse por sinal demonstra personagens mais solitários com conflitos
internos à beira da explosão. Edward Albee não fica longe de personagens
solitários e/ou trágicos, lembrando sempre de que foi diretamente influenciado
por O’Neill, em sua obra podemos ver claramente o choque entre o sonho
americano e o “mundo real”.
Analisando a
vida e mesmo a trajetória de tais dramaturgos, chego a conclusão de: o que
realmente os une - além de sua obra o que é indiscutível – são suas vidas.
Portanto declaro aqui, mesmo com meu pouco conhecimento de tais “monstros”, que
vejo-os como dramaturgos autobiográficos. E por quê? Simplesmente pelo fato de
suas personagens possuírem características próprias de seus familiares. O’Neill
e Williams foram internados em sanatórios, devido a dependências químicas. Renegados
pela sociedade americana por serem opostos ao padrão da sociedade. Um tentara
se suicidar, outro morrera por algo tolo, outro viveu a vida inteira tentando
se encaixar em sua família. Todos possuem histórico de família conturbada.
Albee era
adotado, e não teve muita intimidade com seus pais, isso reflete-se em sua
obra, personagens com carência de sentimentos. Em ”A História do Zoológico”
vemos o duelo entre dois indivíduos, o Zoológico em si é a sociedade, com seres
presos em suas jaulas separados por grades impedindo a comunicação, tornando
assim quase impossível vencer o individualismo e mesmo a solidão. Será que não
se refere ao seu convívio familiar? Pensemos...
Podemos ver
claramente a irmã de Tennessee, Rose, incorporada como Laura Wingfield em “À
Margem da Vida”. Rose fora diagnosticada com Esquizofrenia e passou por uma
lobotomia que a incapacitou para o resto da vida. Alguns estudiosos intitulam
Blanche DuBois em “Um bonde chamado desejo” como uma leve inspiração de Rose,
será? Pensemos...
O’Neill teve
uma vida conturbada, com casamentos fracassados e uma tentativa de suicídio em
seu histórico, uma mãe alcoólatra que também tentara o suicídio, filho de
atores, demorou a se encaixar na sociedade, e não sei ao certo se conseguiu.
Tuberculoso assim como sua mãe, teve Parkinson e morreu decorrente a
tuberculose que o acompanhou durante muito tempo. Curioso pensar que sua mãe e
ele tentaram o suicídio devido a insatisfação que sentiam da vida, mais curioso
ainda é que seu filho teve êxito neste desejo. Agora eu pergunto: A arte imita
a vida ou a vida imita a arte?
Outra ressalva
que tenho a fazer é que todos os três trataram em suas obras de assuntos
considerados tabus, abusaram da ortografia para introduzir no meio literário de
personagens homossexuais, dependentes químicos, e até mesmo diferenças raciais
que eram demasiadamente inseridas na sociedade norte-americana da época e comum
até nos dias de hoje em quase todo lugar. Apesar de notarmos o quanto a vida e
a obra de cada dramaturgo estão unidas, não pretenderemos explicar a obra por
meio da vida de um autor, uma vez que na obra ele seleciona, transcende,
distorce os fatos de forma que eles signifiquem muito mais do que na vida.
Uma pena que
esse teatro anunciava um declínio nos palcos norte-americanos que não
conseguiria superar o apogeu do cinema tão cheio de surrealismo e fantasia.
Concluo aqui
que o legado de tais nomes é a tragédia humana em meio a uma sociedade
conformada com um padrão de vida que não cobre e nem permite pessoas avessas ao
seu ideal e que se possível seria discutível a possibilidade de banimento de
tais seres, um mundo onde os autômatos teriam vez e que o fracasso não é permitido
e nem a desistência. Agradeço à Eugene, Tennessee e Edward, pois com eles
podemos ver um mundo real sem fantasia ou utopia, e às vezes isso pode ser
essencial para questionarmos nossas vontades e ideais e até mesmo
compreendermos melhor nossa função como sociedade.
Renato
Casagrande
ESMATE
10/09/2016
Sempre que acesso o blog do grupo, fico feliz em ver que há algo novo e mais feliz ainda quando meus colegas de teatro são aqueles que proporcionam algo de novo ao blog e também a todos aqueles que o acessam.
ResponderExcluirNão poderia deixar de mencionar meu colega Renato Casagrande e também não esperaria por menos vindo de um ator esforçado que és...
Percebo que estás amadurecendo também em suas opiniões teatrais e juntando-as a prática perceberás que a evolução de você como artista!
Parabéns e grande abraco!!!
digo, perceberás a evolução de você como artista!
ExcluirObrigado pelo Carinho...
ExcluirObrigado pelo Carinho...
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