O Incidente 79 - Carlos Barbosa

O diáfano prazer do bom teatro

                      Maravilhoso assistir um bom espetáculo, sair do teatro revoltada, chocada, triste e feliz ao mesmo tempo. Teatro bom é assim, você embarca, viaja para um outro mundo. na verdade é mais ou menos o que é pregado no espetáculo infantil. Você viaja por um mundo encantado. Aqueles sete mortos adentraram a feira com tanto vigor, com tanta fé cênica, que fui tomada por uma mal estar de quem olha para um cadáver. 
                      Cléber Lorenzoni adapta o espetáculo para uma "declamação" bem feita. Os mortos se colocam na frente de micro-fones e ainda assim a magia acontece. Dos sete mortos, alguns atuam outros interpretam, mas todos convencem. Embora precise mencionar a interpretação incrível de Dulce Jorge (***) em Dona Quitéria Campolargo. 
                         A composição visual também merece louros, sem excluir ninguém. 
                       Mas o mais interessante é analisar um espetáculo como O Incidente sendo apresentado em uma cidade pequena e portanto ainda próxima em muitos sentidos, do microcosmo da Antares da década de 60. O homem evolui, se é que evolui, e se renova o preconceito, se renova a intolerância. "Para falar é preciso estar morto".
                       Em média à cada nove meses, O Incidente volta em duas ou três apresentações. Não sei se pela soma de Fabio Novello (**) ou Douglas Maldaner (**), mas essa foi uma das voltas mais positivas do espetáculo, que mantém o primeiro Pudim de Cachaça, muito bem interpretado por Cristiano Albuquerque (**).
                  Renato Casagrande (**) está mais maduro em seu Menandro Olinda embora ainda possa buscar dentro de si mais "dor" por seu personagem. Fabio Novello é bebê no espetáculo, deveria apresentar muitas vezes. O teatro começa a ficar bom, depois da décima! 
                 Douglas e Bruna (**) se esforçam para alcançar, correm atrás. Convencem. Douglas até emociona alguns, mas falta-lhes as outra mil faces, as entrelinhas, as nuances. Isso logicamente se conquista com o tempo, com trabalho. com erro e acerto.
                         Não há muito mais o que falar, quando é bom, é bom e pronto. Envolvente, seguro, intenso, com curva. Lorenzoni (***) improvisa, meche nos microfones, curva a coluna. Vocês sabem que adoro atores que mechem a coluna. Alessandra Souza (**) não esteve muito emotiva em sua Erotildes, mas compensou com outras intenções e Dulce Jorge deu como réplica a Menandro Olinda um grito perfeito. Foi em fim, uma belíssima noite de teatro.
                      A trilha de Evaldo Goulart (**) foi bem aproveitada e aprecio o gelo seco, embora num palco de feira de livros, o efeito cênico seja meio afuncional.


A Rainha


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