Esconderijos do Tempo na Ielb Cruz

Sobre o altar, "o homem"

               Durante centenas de anos, o teatro é tido como celebração pagã, as vezes ofensa a igreja, pretensão contra os políticos ou ainda reflexo da dita vida desregrada da parte mais baixa da sociedade. É claro que centenas também são, os tipos de atores, os estilos de interpretação, as linhas de espetáculos. No entanto a visão muitas vezes preconceituosas, ainda é a de que teatro e religião não se conversem. Há, por incrível que pareça, o teatro religioso, que educa, catequiza, informa ou homenageia. Mas esse vive em um lugar distante da verdadeira intensão do teatro. Do objetivo primordial, questionar o homem em sua existencia, balança-lo em sua área de conforto.
                   Sobre o altar o Máschara expôs a vida de Mario Quintana, mas muito mais que isso, suas próprias feridas, dificuldades, problemas internos de grupo, insatisfações, complexos de quem luta há anos. O Mario Quintana de Esconderijos do tempo carrega nos ombros um peso de criatura que luta para sobreviver. Muito diferente do verdadeiro Mario Quintana, o Quintana do espetáculo é amargurado pelas rasteiras que o teatro vem levando há anos. Quem tem um pouco mais de sensibilidade percebe a alma da Cia. por trás do espetáculo.
                      Durante o dia inteiro os atores foram somando-se, preparando o palco. Já não há mais aquela gana de alguns anos atrás, há ainda a preocupação em oferecer o melhor, mas há um cansaço. Vinte e três anos, sem dinheiro, com pessoas entrando e saindo e ainda com a obrigação velada de ser sempre o melhor, o teatro sofre. 
                  A encenação durou pouco mais de cinquenta minutos. Não foi das melhores apresentações do espetáculo, que tive o prazer de assistir, ao contrário. Estava um pouco sem ritmo, provavelmente devido ao palco adaptado que devido ao degraus, impossibilitava muitas ações.  Iluminação? Não havia, existe uma diferença nada sutil entre iluminação e dois ou três pontos de luz acesos. Iluminação é algo pensado, com um apelo artístico. A trilha? pessimamente executada, com resvalões terríveis. Esconderijos precisa de delicadeza. O SONOPLASTA PRECISA EXECUTAR DELICADAMENTE A TRILHA COM ZELO E POESIA. O cenário foi posicionado tentando cumprir as necessidades do espetáculo, mas acabou por prejudicar a disposição dos atores. 
                      Quem ler essa analise, irá me julgar como pessimista, afinal pareço estar pondo defeito em tudo. No entanto a culpa, se há alguma, não é da Cia. É da situação. Da opção em colocar o espetáculo em um ambiente que não tem nada de parecido com um teatro italiano. Observando por essa premissa, então  apresentação é repleta de méritos. Sim a equipe conseguiu executar Esconderijos do Tempo em uma igreja, ponto!
                   Fábio Novello esteve bastante marcante na encenação, é mensionável o fato de o ator estar a cada apresentação tornando Gouvarinho em um personagem italiano. O Soneto para o menino doente, também está muito melhor pronunciado. Bruna Malheiros também trabalhou com afinco ao lado de Renato Casagrande para que o espetáculo estivesse brilhante na cena. Logicamente um dos aspectos problemáticos quando se apresenta em locais adaptados é o cansaço a que a equipe se expõe em prol da montagem do cenário.
                        Ao final do dia o dever cumprido. Algumas cenas bem executadas tocaram o público. O teatro se cumpriu.

Alessandra Siuza (*)
Dulce Jorge (**)
Cléber Lorenzoni (**)
Renato Casagrande (**)
Fabio Novello (***)
Evaldo Goulart (*)
Fernanda Peres (**)
Bruna Malheiros (***)
Ricardo Fenner (**)
Douglas Maldaner (**)


                      A Rainha
                      
                         
                         
                   



Comentários