Se eu
perguntasse a um ator o que é teatro, para que serve, o que responderia-me? Sem
enrolação sem titubear, sem devaneios e circunlóquios, para que serve afinal o
teatro? Para divertir, entreter, fazer rir, emocionar, indagar, criticar... Não
sei qual resposta dariam. Hoje enquanto assistia o espetáculo A Maldição do
Vale Negro, ficava observando as pessoas rindo a minha volta e a conclusão que
chegava: Fazer rir, certamente. Mas então por que diria que esse espetáculo é
tão bem feito, tão profissional, se outros tantos que vi nesse mesmo mês em Cruz Alta também faziam
rir? Eis a resposta: A Maldição do Vale negro é um texto de três atos, escrito
pelo queridíssimo Caio Fernando Abreu, na década de oitenta. Um texto extenso
com sete personagens e de dificílima construção, auxiliado por Luis Artur
Nunes, Caio escreveu um melodrama, no entanto o fez em forma de sátira. Ora se
melodrama já é algo difícil para atores interpretarem, imagine então uma sátira
em cima do próprio. Assisti nesses anos todos de teatro muitas versões,
inclusive a mais recente com a atriz Camila Pitanga, e digo que não apreciei
realmente nenhuma, pois sempre esbarrava na duvida quanto a qual era o
verdadeiro objetivo do diretor.
No palco atores com 16, 10 e 6
anos de carreira. Mesclando talento e técnica. Partituração e Improviso. A Maldição do Vale negro perambula pelo
Máschara desde 2002 e várias foram as tentativas de montá-la. No entanto não
saiu do papel em nenhuma das outras tentativas, talvez por que os elencos não
tivessem a maturidade precisa que o texto pede. E isso nos leva a outro
raciocínio: No teatro não basta você querer algo, é necessário que o universo,
os Deuses do teatro colaborem para que algo acontecesse. As vezes você tem um
elenco maravilhoso, o número certo de atores e atrizes para determinada obra,
dinheiro(pasmem) e até a criatividade necessárias. No entanto algo atrapalha
tudo e tal espetáculo não acontece, em outro momento, mesmo sem todo o elenco,
com a sensação de que nada dará certo, nasce um espetáculo. Esse é o caso de
vários trabalhos do Máschara e de tantos outros grupos conhecidos.
Não há muito o que se falar
dessa segunda incursão ao A Maldição..., apenas que foi um Cena às 7 de
sucesso, que o sábado serviu de ensaio geral para o domingo e que torço para
que continuem na empreitada árdua de fazer duas vezes por mês o projeto de
teatro. Mas algo que ainda quero mencionar é que nesses últimos dias faleceu o
querido ator gaúcho Paulo Rezendes. Conhecido por mim e pelo Grupo Máschara nos
idos de 1997. Paulo lutou pelo teatro e fez espetáculos maravilhoso que ficarão
por muito na lembrança de colegas e do público em geral, dentre eles: Jó, fiel
toda a vida e ainda o recente Dois perdidos numa noite suja, onde contracena
com Jadson....Fica aqui minha homenagem a esse ator e o desejo de que jovens
atores não esqueçam o quanto é difícil construir uma carreira, o quanto
queremos, nós atores, sermos inesquecíveis e o quanto há de se trilhar em prol
da arte. Principalmente quem faz teatro no interior. Por isso menciono aqui
alguns outros jovens artistas que passaram pelo Máschara e que deixaram
saudades. Dentre eles: A querida Altiva Soares (DIVA) que em Bulunga O Rei Azul
interpretava uma das gatinhas cantoras. Hoje em dia Altiva já não se
encontra mais entre nós, mas certamente deixou saudades. Ariane Pedrotti, que
hoje mora em Erechim e não mais faz teatro, fez o inesquecível Corifeu em
Antígona(2000) ganhando o troféu de melhor atriz pela FETARGS em Caxias do Sul
no mesmo ano. Com Diulio Odacir Penna também se fez uma parte da historia do
Máschara em Bulunga o Rei Azul. Da época de Cordélia Brasil, temos Jeferson
Dill e Eduardo Gonçalves que participaram da fundação desse grupo. Vera Porto
que hoje mora em Ibirubá e não é mais atriz infelizmente. Lembramos com carinho
também de Daiane Albuquerque e do professor Jorge Pittan, outros dois que
durante algum tempo se deixaram tocar pela vida nos palcos. Não sei por quais
questões esses artistas se afastaram do palco, mas desejo que os atores atuais
lutem sempre pelo que amam, seja o teatro ou não. Que não percam a coragem pois
a melhor razão para se viver ainda é fazer aquilo que se ama e não há melhor
compensação que emocionar as pessoas com seu talento e técnica.
Teatro é a
vida...
Cléber Lorenzon
e Gabriel Wink ***
Ricardo Fenner,
Alessandra Souza, Gabriela Varone,Luis Fernando Lara e Renato Casagrande **
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