Cena às 7 A Maldição do Vale Negro em 22 de abril de 2012


Se eu perguntasse a um ator o que é teatro, para que serve, o que responderia-me? Sem enrolação sem titubear, sem devaneios e circunlóquios, para que serve afinal o teatro? Para divertir, entreter, fazer rir, emocionar, indagar, criticar... Não sei qual resposta dariam. Hoje enquanto assistia o espetáculo A Maldição do Vale Negro, ficava observando as pessoas rindo a minha volta e a conclusão que chegava: Fazer rir, certamente. Mas então por que diria que esse espetáculo é tão bem feito, tão profissional, se outros tantos que vi nesse mesmo mês em Cruz Alta também faziam rir? Eis a resposta: A Maldição do Vale negro é um texto de três atos, escrito pelo queridíssimo Caio Fernando Abreu, na década de oitenta. Um texto extenso com sete personagens e de dificílima construção, auxiliado por Luis Artur Nunes, Caio escreveu um melodrama, no entanto o fez em forma de sátira. Ora se melodrama já é algo difícil para atores interpretarem, imagine então uma sátira em cima do próprio. Assisti nesses anos todos de teatro muitas versões, inclusive a mais recente com a atriz Camila Pitanga, e digo que não apreciei realmente nenhuma, pois sempre esbarrava na duvida quanto a qual era o verdadeiro objetivo do diretor.
                 Em A Maldição do Vale Negro de Cléber Lorenzonipercebe-se totalmente os objetivos. Uma comédia besteirol. Mas besteirol com a técnica necessária para admirar-se esse estilo de teatro surgido no seio dos anos 90. Em cena três atores esparramam-se em sete personagens, cada um com personalidade extremamente estanque dos outros. Ricardo Fenner, Cléber Lorenzoni e Gabriel Wink suam no palco correndo de um lado para o outro, trocando de roupas, mudando trejeitos, subindo e descendo, com ótima técnica vocal e trabalho corporal impecáveis. Os figurinos fazem uma alusão a época sem caírem nas obrigações bregas da forma e o cenário embora simples consegue nos  guiar por uma época já perdida no tempo. Embora ainda pudesse esmerar-se mais nas cenas da cripta e da floresta.
                 No palco atores com 16, 10 e 6 anos de carreira. Mesclando talento e técnica. Partituração e Improviso.  A Maldição do Vale negro perambula pelo Máschara desde 2002 e várias foram as tentativas de montá-la. No entanto não saiu do papel em nenhuma das outras tentativas, talvez por que os elencos não tivessem a maturidade precisa que o texto pede. E isso nos leva a outro raciocínio: No teatro não basta você querer algo, é necessário que o universo, os Deuses do teatro colaborem para que algo acontecesse. As vezes você tem um elenco maravilhoso, o número certo de atores e atrizes para determinada obra, dinheiro(pasmem) e até a criatividade necessárias. No entanto algo atrapalha tudo e tal espetáculo não acontece, em outro momento, mesmo sem todo o elenco, com a sensação de que nada dará certo, nasce um espetáculo. Esse é o caso de vários trabalhos do Máschara e de tantos outros grupos conhecidos.           
                Não há muito o que se falar dessa segunda incursão ao A Maldição..., apenas que foi um Cena às 7 de sucesso, que o sábado serviu de ensaio geral para o domingo e que torço para que continuem na empreitada árdua de fazer duas vezes por mês o projeto de teatro. Mas algo que ainda quero mencionar é que nesses últimos dias faleceu o querido ator gaúcho Paulo Rezendes. Conhecido por mim e pelo Grupo Máschara nos idos de 1997. Paulo lutou pelo teatro e fez espetáculos maravilhoso que ficarão por muito na lembrança de colegas e do público em geral, dentre eles: Jó, fiel toda a vida e ainda o recente Dois perdidos numa noite suja, onde contracena com Jadson....Fica aqui minha homenagem a esse ator e o desejo de que jovens atores não esqueçam o quanto é difícil construir uma carreira, o quanto queremos, nós atores, sermos inesquecíveis e o quanto há de se trilhar em prol da arte. Principalmente quem faz teatro no interior. Por isso menciono aqui alguns outros jovens artistas que passaram pelo Máschara e que deixaram saudades. Dentre eles: A querida Altiva Soares (DIVA) que em Bulunga O Rei Azul interpretava uma das gatinhas cantoras. Hoje em dia Altiva já não se encontra mais entre nós, mas certamente deixou saudades. Ariane Pedrotti, que hoje mora em Erechim e não mais faz teatro, fez o inesquecível Corifeu em Antígona(2000) ganhando o troféu de melhor atriz pela FETARGS em Caxias do Sul no mesmo ano. Com Diulio Odacir Penna também se fez uma parte da historia do Máschara em Bulunga o Rei Azul. Da época de Cordélia Brasil, temos Jeferson Dill e Eduardo Gonçalves que participaram da fundação desse grupo. Vera Porto que hoje mora em Ibirubá e não é mais atriz infelizmente. Lembramos com carinho também de Daiane Albuquerque e do professor Jorge Pittan, outros dois que durante algum tempo se deixaram tocar pela vida nos palcos. Não sei por quais questões esses artistas se afastaram do palco, mas desejo que os atores atuais lutem sempre pelo que amam, seja o teatro ou não. Que não percam a coragem pois a melhor razão para se viver ainda é fazer aquilo que se ama e não há melhor compensação que emocionar as pessoas com seu talento e técnica.
Teatro é a vida...


Cléber Lorenzon e Gabriel Wink ***
Ricardo Fenner, Alessandra Souza, Gabriela Varone,Luis Fernando Lara e Renato Casagrande **


                                                                                                          A Rainha

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