26º Cena às 7 - Bodas de Sangue

Durante todo o período eleitoral, ouvi uma infinidade de aberrações, de todas, a que mais me afrontou foi por certo, o comentário de que Cruz Alta não tem teatro. Cruz Alta meus queridos tinha tudo, perdeu muito e vai continuar perdendo muito mais se continuarmos agindo como bonecos de engonço, acomodados em nossas casas vendo a vida passar. Nos programas diários ainda francos elogios a eventos culturais como Coxilha e romaria, por favor, senhores candidatos sejamos criativos, inovadores, investir em eventos tradicionais culturais do município nada tem a ver com fomentar a cultura.Realmente o teatro começa a despontar em Cruz Alta, e me pergunto quem foram os lutadores por isso, a resposta é clara, estão lá nos domingos da casa de cultura. Mas é maravilhoso que Cruz Alta receba tantos espetáculos e verdadeiramente digno seria que todos os candidatos que mencionaram as palavras teatro/arte/cultura estivessem em alguma sessão, ao menos para que quando falassem no assunto, soubessem do que estão falando. Perguntaria aos grupos de Cruz Alta, durante esse infindável momento de campanha, algum político ouviu seu pleito?
Mas toda essa azáfama acabou e fui ao teatro na noite do dia 19...A dobradinha Dulce-Cleber apresentou algo novo, diferente de tudo o que já os vi fazer, o palco todo descerrado, camarins expostos, toda a frieza de um palco abatido, desprotegido em contraste com o calor andaluzo. Um Lorca extremamente campesino, carregado de símbolos, de figuras expressivas, um arrojo. As protagonistas estavam a altura, Dulce Jorge começou no topo com toda a versatilidade digna de sua atuação e selou com requinte a oração final de La Madre. Tatiana Quadros argumentou com força fala-a-fala, mas carece de mais para nos convencer, principalmente quando posta em confronto interno, entre querer ou não. Cléber Lorenzoni guardou para o fim toda a sua técnica, explodindo nas cenas finais, provavelmente macetes de quem sabe o que está fazendo. O noivo, agora interpretado por Gabriel Wink acresceu todo um encanto na relação mãe e filho. Os coadjuvantes também brilharam mostrando equilíbrio e por assim dizer louvores à direção. Finalmente vi a senhorita Ertel brilhando, madura e com uma criada bem acabada. Outra surpresa foi Roberta Correa, quem é essa nova atriz? Tímida, discreta mas com tanto a dizer... Parabéns ainda a Ricardo Fenner e Alessandra Souza.
Cenário e Iluminação graciosos, delicados. A Sonoplastia de “Frida” me deixou tensa, irritada, principalmente quando contrastada com “Metállica”, cabe a direção perceber que são duas linguagens muito distintas. Voltei para casa fraca, compenetrada cheia de batalhas em minha mente, dividida entre a boa surpresa no palco, o pouco público nas cadeiras e os comentários políticos. Pensei muito e pensei que realmente os comentários são reflexos da nossa sociedade, a audiência quer comédia, não quer pensar muito, e os políticos acabam falando algumas parvoíces, afinal que os ouvir não se preocupa em pensar muito. “ Palavras loucas, orelhas moucas”.

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