FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO ROSÁRIO EM CENA 24ª EDIÇÃO
25 de outubro a 01 de novembro de 2025
Teatro Municipal João Pessoa – Rosário do Sul/RS
REI LIXO – TRANSCRIAÇÃO DA OBRA REI
LEAR
O reconhecido
Grupo Maschara, de Cruz Alta, esteve presente no Rosário em Cena com sua obra
mais recente, “Rei Lixo”, uma Transcriação da obra “Rei Lear”, de
Shakespeare. O enorme desafio, de trabalhar com uma peça de Shakespeare se
torna ainda maior pela complexidade desse texto.
Rei Lear
é a peça em que um velho rei decide partilhar seu reino entre suas três filhas
e faz essa divisão depender de uma declaração de afeto de cada uma delas. As
mais velhas Goneril e Regan entoam palavras exageradas e bajuladoras, enquanto
a mais nova, Cordélia, expressa seu amor filial com simplicidade e verdade. A
vaidade de Lear – que prefere as bajulações de Goneril e Regan às palavras
simples e sinceras de Cordélia – desencadeia uma série de desgraças e violências.
As filhas bajuladoras recebem suas partes no reino e a filha amorosa é banida.
O erro custa caro ao velho rei que é abandonado pelas filhas a quem confiou
seus domínios e apenas a filha desprezada vem em seu auxílio. Há também a
história paralela de Gloucester, onde o filho ilegítimo, Edmund, tenta enganar
o filho legítimo, Edgar, para tirar sua herança. Outra presença marcante é o
bobo da corte, que diz o ninguém mais ousaria. Guerras e assassinatos se
sucedem até um final trágico.
Kleber
Lorenzoni é o responsável pela transcriação do texto de “Rei Lear” para
“Rei Lixo”. Ele também dirige o espetáculo e atua como o
personagem-título.
A
transcriação feita por Kleber Lorenzoni foi profunda, resultando num espetáculo
ao mesmo tempo fiel e transgressor em relação ao original. Transgressor por
substituir o contexto do texto original da realeza para um lugar de miséria e
lixo; onde o que se divide são objetos de descarte e restos.
Fiel, porque
as falas, características e objetivos dos personagens, o desenrolar da trama,
os conflitos, as lutas fratricidas por poder e grandeza e a arrogância que cega
se mantêm nessa adaptação.
Kleber
resumiu bastante o texto, mas manteve a espinha dorsal da trama e ela continua
perfeitamente compreensível. Houve uma troca entre os personagens Edmundo e
Edgar. Nessa versão, o filho ilegítimo Edmund é leal ao pai, e Edgar é o filho
conspirador.
Todo o elenco
está parelho, com ótimas atuações. A interpretação de Kleber Lorenzoni é
destaque. As difíceis falas de Lear soam claras, com emoção e intenção.
Figurino,
cenário, iluminação, tudo está bem-acabado e funcional.
A meu ver, o
único problema do espetáculo é o fato de ser possível identificar, em alguns
atores, os trejeitos dos animais que serviram de pesquisa para a criação da
partitura corporal do personagem. Dessa forma, vê-se uma divisão entre os
atores que deixam claro o animal que os inspirou, e os atores que incorporaram
o animal à sua movimentação, sem deixar explícito de qual se trata. A atriz que
interpreta Regana é a que mais deixa a mostra esse problema, que também aparece
– em menor grau – no personagem Edmundo.
Essa
explicitação cria um ruído que afeta negativamente a unidade do espetáculo.
Caso o diretor decida rever esse aspecto, o espetáculo ganhará em força e
brilho.
“Rei Lixo”
é um exemplo de criatividade e apuro técnico e espetáculo bem feito. Desejamos
que tenha uma longa carreira nos palcos do Rio Grande do Sul e do Brasil
STELLA BENTO
NOVEMBRO 2025
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