Sempre que falo no palco e nas suas vicissitudes, reflito que o teatro acontece graças as pessoas, aos atores, aos artistas, que se doam para que o público se transforme. As vezes você percebe antes mesmo de começar, que o público possivelmente não está aberto a transformação, as vezes os atores estão tão, tão focados em atuarem bem, a fazer bem determinada "coisa" que o diretor, ou a equipe definiu, que ele sequer pensa do palco para fora. É preciso pensar do palco para fora. É isso que diferencia, atores profissionais de principiantes, ver fora da caixa, da caixa preta no caso. As vezes o ator foca em acertar a maquiagem, e aí o espetáculo que deveria iniciar Às nove, inicia nove e quinze, porque o ator pensou que seu delineador é mais importante do que tudo, sua sombra de cor bonitinha, seu batonzinho da cor certa. Por isso quando atores mais velhos dizem: -O bom de ser velho é não precisar de maquiagem! -Não estão na verdade falando da maquiagem, mas que alcançaram uma maturidade na qual se dão conta que existem tantas coisas mais importantes. Eu particularmente sentada na primeira fila, adoro boas maquiagens, mas estou mais interessada em boas atuações. E isso na verdade deveria ser a preocupação de todos os atores.
Na cena dos quatro cantores de Bremen, adaptados por Chico Buarque, se viu lindas maquiagens, e a reprodução de um espetáculo que acaba por ser prejudicado pela formalidade que a dublagem propõe. Ou seja, o elenco não pode improvisar, interagir, pois o espetáculo é muito gessado. Ele até combina com grandes espetáculos a céu aberto, quando o público está longe, e tal, mas em uma situação em que a criança está tão próxima, seria importante a troca acontecer. Claro que me pergunto:-Será que todos os atores da cena percebem a plateia? Compreendem a importância da troca, da aproximação? Acredito que infelizmente não! Ao contrário, tenho a sensação de que se perguntar aos atores após o espetáculo: - Ei vocês viram quais profes estavam filmando, quantas crianças estavam sentadas no chão, onde estavam sentados os organizadores do evento, o que os livreiros faziam durante o espetáculo, etc...? -Não saberiam me dizer, e isso responde muito sobre o tipo de atores que estavam em cena.
Durante o primeiro espetáculo, ouvimos tudo, e preciso aplaudir a cena do dó, ré, mi, sem duvida a cena mais bonita. Os saltimbancos do Máschara tem um problema de roteirização, do nada, simplesmente, de repente, acaba. Talvez a dicção de alguns atores pudesse se melhor trabalhada. Uma dica para os coadjuvantes, canalizem melhor o trabalho.
Há sem duvida três tipos de atores, de integrantes da cia máschara. Os que querem ser bons, melhores, magníficos. Os que querem fazer bem sua parte e os que querem apenas ganhar um troco e talvez alguns aplausos. Ainda assim cada um deve executar bem sua parte. Parabéns a jovem Ana Clara Kraemer.
No espetáculo O Castelo Encantado, o que se viu foi uma bela tentativa do Grupo em ofertar ao público a possibilidade de participar, de ouvir a cena. Lorenzoni e Casagrande com um belíssimo trabalho vocal, que é reflexo de trabalho, de ousadia, de esforço. Na contrapartida, Kleberson e Ana Clara precisam de muito mais trabalho vocal. As cenas bem desenhadas espalharam-se por dois palcos. Tive a sensação de que o público formado em sua maioria por alunos, não está muito acostumado ao teatro. Conversas paralelas, desinteresse e ruídos mil. Fabio Novello pode se apropriar mais da sonoplastia e mesa de som quando isso lhe cabe. Há detalhes que não compreendi, como o anão sem tambor, o avental e o pau de macarrão que estavam na cena de Clara Devi e que pois não estavam no cenário, a tentativa de Antonia Serquevitio de abrir a cortina quando os contadores de historia surgem no final...
Possivelmente falta de ensaios. Falta de dedicação.
O melhor: A dedicação dos jovens Kleberson Ben e Ana Clara Kraemer.
O pior: O volume baixo em contraste ao microfone usado na apresentação.
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