1145-Auto de Natal (tomo X)

                   O Teatro precisa acontecer, sempre, em todos os lugares. O mérito dessa arte que perpetua-se por mais de três mil anos, deve-se certamente a capacidade de atores lutarem, manterem sua arte pulsante, mesmo contra a vontade de muitos. Os atores que hoje se apresentam em palcos, em grandes teatros, com seus musicais, ou espetáculos grandiosos, devem e muito ao teatro feito em carroças, nos patios das igrejas, ou nas praças dos vilarejos. 

                    Lorenzoni entende muito disso, falando sempre junto ao seu grupo de teatreiros, sobre a historia do teatro, sobre a importancia e a dignidade dos atores de rua. Quando o Máschara toma as ruas de Cruz Alta, ou de qualquer cidade, há sempre um objetivo na entrelinha da ação, muito mais do que contar a historia a que se propôs, muito mais que levar uma expressão estética ou dialética à multidão, Cléber quer dizer: -Vejam, estamos aqui, somos o teatro e ele veio para ficar!

                      Por isso a manhã de sábado foi surpreendente, eu em verdade, andava pela rua Pinheiro Machado em busca de um ítem para a noite de natal, quando avistei a equipe e imaginei tratar-se de mais uma edição do Corpo em Ação, uma iniciativa belissima, que não se trata de teatro, mas que estabelece e cumpre muitas funções importantes no que diz respeito às artes cênicas. 

                          Alunos e atores dividiam a atenção do público, diverso, em movimento, colocando em jogo a capacidade de atrair atenção do público. Às portas de uma loja de moveis, acumulou-se um pequeno grupo formado por parentes e amigos dos interpretes. 

                              Foi um momento muito bonito, uma ode ao teatro de rua, ainda que infelizmente, a cena tenha sido dublada, talvez a direção pudesse ter pensado em decorar as cenas e ter feito tudo ao vivo. O elenco, creio eu tem capacidade para tal. O teatro dublado restringe muito o ator. É uma solução brilhante para grandes espetáculos a céu aberto, no entanto, alí, rodeados por prédios com uma platéia pequena, havia a possibilidade de algo mais íntimo, mas agradável e até ousado. 

                                A velha historia do filho de José de Belém e Maria de Ain Karin já é bem conhecida e os atores da grande familia Máschara a interpretam com saltos, cantos e agradaveis reações. Algumas coisas no entanto realçam-se em situções em que diretores desafiam o "tempo" dos atores. Adereços não chegam, roupas mal ajeitadas no corpo, maquiagens imperfeitas e substituições inferiores ao trabalho originalde criação. 

                                        Não vou me ater às interpretações, mas preciso elogiar Maldaner que assumiu poucos instantes antes a personagem de outro colega que ausentou-se, elogiar Casagrande pelas infindáveis soluções e energia junto às cenas, elogiar Hoover pela concentração e Guma pela composição da prima Isabel. 

                                         Lorenzoni no entanto me pareceu muito pouco concentrado e Arigony entrou com o avental aberto e o lenço solto. Duas lástimas, Lorenzoni precisa desvencilhar-se do espaço de diretor quando a cena começa, ou prejudicará seu lado ator. É preciso deixar que durante o espetáculo as cosias fluam, e abrir mão do posto/fardo de encenador. Arigony pode ser mais cuidadosa e sair um pouco antes para se arrumar. Aliás esse é ponto certeiro nesse tipo de espetáculo, ficar uma cena antes preparado, para surpreender...

                                          O Teatro do Máschara é um libelo sobre a importancia que carrega em si mesmo, a percepção daquilo que o teatro precisa em consonancia daquilo que o público precisa. Um Equilibrio perfeito que vem transformando pessoas, olhares e posturas em relação à artistas, talentos, expontaneidade e jeito de ser.  Que em 2024, haja muito mais teatro, muito mais Máschara!



Arte é antes de tudo, vida!


A Rainha

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