1116 - A Hora da Estrela - tomo VII

 

Uma Constelação

 

 

 

 

 

                          O melhor da dramaturgia que adapta historias, é a capacidade de embaralhar cenas e recolocar tudo sobre a mesa. Colocar um clássico sobre a mesa não é tarefa fácil, afinal de contas o público já tem muitos pontos de vista sobre o trabalho assistido. Olímpico, Gloria e Macabéa parecem ser personagens de domínio público, todos tem algo a dizer sobre eles, todos tem um ponto de vista e isso complica o trabalho do criador. Apertada em uma pensão lotada de criaturas adversas, mal tratada por um patrão severo, sem vaidades e com dificuldade de se entrosar, Macabea acaba por ser praticamente um anti-herói. Durante quase sessenta minutos, você consegue amar e odiar Macabéa. Cléber Lorenzoni brinca com nossas emoções. Nos faz amar Rodrigo S. M, depois odiá-lo, nos faz amar Olimpico, depois odiá-lo, nos faz amar Macabéa e as vezes perdermos a paciência com ela. Enfim, rimos e choramos enquanto Cléber parece nos vigiar das coxias, do fundo do teatro e até mesmo de cena.

 

                                   O visual do espetáculo tem algo de operístico, com grandes divas. Em espetáculos do Máschara dificilmente há coadjuvantes, todos ganham grandes cenas, grandes personagens, grandes espaços para todos. Alguns se destacam, outros talvez não rendam o quanto poderiam. Mas todos tem oportunidades, e sempre foi assim. Em Esconderijos do Tempo, Ele deu lugar para quatro grandes atrizes; Em Tarufo de Molière, Valério foi tão valorizado quanto qualquer outro personagem e O Pudim de O Incidente teve status semelhante ao dos outros seis mortos de Antares. Os atores do Máschara recebem oportunidade roubar a cena, de brilhar e de se tornarem grandes, mas cabe a eles buscar o apuro, o brilhantismo.

 

                                        Aristóteles dizia que o teatro deve causar a dor e a piedade da plateia. Saí do teatro com dor na alma e tomada de piedade, nem ao menos consegui observar o vaudeville no foyer, precisava correr para casa, vestir meu chambre que combina com a pantufa, precisava observar meus dois netos dormindo e sentir o quanto são lindos e dormem como anjos que apenas fecharam os olhos. Precisava do silencio, o silencio que preenche por ser tão cheio de ruídos. O maior ruído é o som do Tic Tac do relógio da vida, o mesmo relógio que pesa sobre a cabeça do doutor, sobre as decisões de Raimundo, sobre o tempo de vida da Tia de Macabéa, sobre o destino nas cartas de Dona Carlota e que Rodrigo S. M marca qual ponteiro na segunda cena do espetáculo.

 

                                          O cenário é pobre, como apreciaria  Grotowski, mas o volume de espaço usado é grande, quente, preenchido pela batuta afiada que desenha marcas e ações funcionais. Adereços e figurinos muito bem escolhidos, com uma belíssima pesquisa. A paleta de cores valorizou espaços que a luz não conseguiu. A cena final por exemplo, precisava de penumbra, no entanto tudo estava tão claro que era difícil concentrar-se.

 

                                                                       Os antagonistas estiveram perfeitos, Maldaner e Guma conquistaram a assistência com cenas divertidas e intensas. Hoover é mágica e Casagrande conduz o espetáculo com um verdadeiro primeiro ator. Ao contrário das outras vezes, consegui sentir o encontro entre a frágil moça do interior e o vendedor de pipocas. Havia algo de Chaplin e a vendedora de flores em seu encontro.

 

                                               Pavarotti da o tom da cena central e nos transporta para um lugar perfeito, que nos lembra que a vida é puro drama. Um Drama, uma tragédia sem solução. O poder absoluto, sempre presente nos espetáculos do Máschara, define o destino das personagens e ele é implacável, como é o teatro, como é a trajetória dos atores, implacável!

 

                                                                      Fui ao teatro com minha sobrinha e olha que curioso, ela está lendo Christopher Vogler, então saímos do teatro falando da jornada do herói, e consegui localizar não só os doze passos, como o triunfo ofertado pelas ninfas, as três que vestem Macabéa no final, a tia, Dona Carlota e a proprietária da pensão. A Deusa do Amor é quem narra a historia ao lado de Narciso, dessa vez sem seu fálico topete.

 

 

 

                                   O Melhor: Um bom espetáculo para divertir-se e emocionar-se na noite de domingo.

 

                                                     Não costumo nominar os Anciãos, mas preciso homenageá-los pelo requinte de suas atuações.

 

                                    O Pior: A falta de ritmo do espetáculo.

 

 

 

                                             A Rainha

 

 

 

Espetáculo A hora da Estrela

 

Produção-Grupo Máschara

 

Direção - Cléber Lorenzoni

 

 Elenco: Alessandra Souza, Renato Casagrande

 

              Douglas Maldaner (**) Carol Guma (***) Romeu Waier(***) Dulce Jorge, Cléber Lorenzoni, Raquel Arigony(**), Clara Devi(**), Ricardo Fenner, Nicolas Miranda(**), Antonia Serquevitio (**), Laura Hoover (**)

 

Técnicos -Fabio Novello  e Ellen Faccin (**)

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