1108-Tem Chorume no quintal (tomo12)

Mais teatro por favor...

O Simples ato de uma ação teatral não acontecer, é terrível,  pois impede o público à reflexão, impede de tirá-los de sua zona de conforto e lhes oportunizar a transformação. O teatro não é uma ode ao belo, ou ao bonitinho, ou ao engraçadinho. Talvez por isso alguns atores tenham certo preconceito ao trabalho  recreacionista. O teatro é uma forma de questionar-se e questionar ao outro. O público de Coronel Barros deve ter se perguntado muitas coisas após a apresentação. Sobre meio ambiente, sobre teatro, sobre natureza, sobre um ator verstido de mulher, sobre a arte, sobre relações, sobre a arte do teatro...Ao que soube no entanto o Máschara quase não colocou o espetáculo sobre o palco. Quase... Mas há sempre um esforço encabeçado pelo seu diretor e que salva ao final o "oficio", que é superior a qualquer outra coisa. Ele é sinônimo de dever. Dever é sobre saber que algo precisa ser feito. Não por obrigação ou para agradar alguém ou em troca de algo. Dever. Simples assim. Dever que tem muito a ver com o dom que os atroes recebem, dever com os que virão depois de nós, com os que vieram antes, com grandes atores, com dramaturgos, com platéias... 

O teatro não se resume a adentrar ao palco, mas viver o teatro. Acordar no dia do espetáculo, comer maçãs, pegar seu crachá, preparar-se cerimoniosamente para entrar em comunhão com seus colegas, com a narrativa que irá levar. Viajar para outra cidade, como nossos antepassados mambembes. Descer do carro com alegria, querer saber um pouco daquela comunidade para onde se foi, aprender, trocar... Ser gentil com as pessoas que lá estão te esperando. Sorrir, conversar, COMUNCIAR-SE. Fazer o seu melhor, o melhor possivel e quase impossivel. Preocupar-se com o jogo. Orgulhar tanto teus colegas e diretor a ponto de ser sempre convidado a estar em cena. Estudar e conhecer a obra a que se propõe. Não apenas decorá-la, mas entender o que ela significa para a sociedade ao seu redor.

Estar em cena! Vivo, com elan, com virtuosismo, com garra... Tudo isso é obrigação do ator. E se ele sente que não está pronto, ou que lhe falta algo, deve correr atrás, com as armas que tem, aproveitando cursos, livros, leituras. É sua obrigação com o público. Com o teatro.

E ainda há as milhares de formas de se apoiar sua equipe, ou de ajudar, ou de fazer sua parte. Alguns são ótimos no palco, alguns no cenário, outros nas coxias... Alguns são bons iluminadores, outros, bon sonoplastas, ou ainda contra-regras. Ninguém, penso eu, é bom em tudo, mas sempre se pode dar sua contribição. 

Uma grande contribuição foi o que cada um tentou fazer na apresentação às escolas de Coronel Barros. Cada ator e atriz se esmerou em cena para que o infantil Têm Chorume no Quintal, fosse coerente, divertido e funcional. Do elenco antigo, Renato Casagrande, Cléber Lorenzoni, Alessandra SOuza e Clara Devi mantém vivo o âmago do espetáculo. Renato Casagrande esteve quase afônico, mas seu virtuosismo cênico consegue segurar o interesse do público. Clara Devi carrega o estatus de protagonista, mas para isso precisa de mais estudo e dinamização de suas ações cênicas. Alessandra Souza possui bons jargões e Cléber Lorenzoni traz bons contrapontos como vilã.

No elenco de apoio, Nicolas Miranda, Romeu Waier e Pedro Moraes adentram o palco com a dignidade que o Máschara emprega aos seus atores. Cada um deles trouxe um potencial diferente à cena. Miranda com uma rentável parceria junto à Souza. Moraes com perspicacia em suas improvisações e ainda Waier com um senso de improviso bastante sagaz. 

Romeu Waier pode e deve aprofundar mais a compreensão de sua personagem, Waier faz parte da nova geração, uma geração que precisa se qualificar cada vez mais. Um dos grandes méritos do ator é se permitir ser guiado em cena. Pedro é um jovem muito observador, um ator que parece querer ter voz, deve também estudar muito, desenvolvendo sempre suas potencialidades. Nicolas Miranda  é um jovem sempre pronto, que chega devagarinho e abocanha bons lugares nos trabalhos do Máschara, sem duvida um talento nato.

Algumas canções soaram atrapalhadas, e a frente do palco estava pouco iluminada. Por outro lado o ritmo e o desenvolvimento da obra cumpriram seu objetivo. Bom teatro, voltado ao meio ambiente e com a medida certa que o teatro infantil merece.

O Teatro cumpriu-se, sempre se cumprirá. Pois ele é por demais grandioso. Desse dia no entanto, o que fica, são as lições de grupo, de dignidade e dever. Vida longa aos que lutam sempre pelo palco.



Tem Chorume no Quintal

Direção e roteiro: Cléber Lorenzoni

Elenco: Clara Devi

              Renato Casagrande

               Alessandra Souza

              Nicolas Miranda(***)

              Pedro Moraes(**)

              Romeu Waier(**)

Contraregragem: Antonia Serquevitio (**)

                           Ricardo Fenner


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