1061/ - Esconderijos do Tempo (tomo 91)

                           Que complexa escolha essa do dramaturgo Cléber Lorenzoni, escolher ao lado de Dulce Jorge, mais de cinquenta passagens entre sonetos, versos e rimas de Quintana. Tarefea dificil, já que um espetáculo de poesias pode ser o responsável por causar nas pessoas uma péssima impressão em relação ao mundo poético. Eu mesma assisti apenas uns dois ou três espetáculos sobre o assunto. Claro que meu preferido é Esconderijos do Tempo, tanto pela escolha do material literário, quanto da plástica eficiente. São cinquenta e quatro minutos muito bem usados. Com direito a lágrimas e sorrisos e muitas, muitas lágrimas. Não é um espetáculo que eu recomende ao público menor de 16 anos. Simplesmente ele não cumpre a função quando assistido pelos pequenos. E isso nós percebemos observando a platéia jovem. Esconderijos fala do peso da vida e as vezes de uma forma morbida, típica do poeta Quintana.

\                                 A depressão, a solidão e o vazio de uma alma triste que percorre sozinha os caminhos iluminados "pela luzinha que não é nem a do dia, e nem a da noite. Quintana não foje da dor, ele passeia por ela e tira sarro da morte e do fim... Assuntos tabus já que nem  sequer nos permitimos levar nossos filhos a velorios. E isso certamente é o que torna a passagem mais dolorosa quendo eles crescem e perdem um ente querido. 

                                  O Quintana de Cléber Lorenzoni me pareceu mais leve e por isso até, mais triste, embora o ator tenha tornado, propositalmente, superficiais algumas passagens. Que a interpretação de Lorenzoni nessa personagem é perfeita, já falei em outras colunas, mas o que talvez os jovens atores possam levar de inspiração, seja mesmo, o dominio do palco. E eles precisam, pois assim não veriamos por exemplo o livrinho nas mãos de Lili de ponta cabeça, ou a jovem Glorinha lendo um bloquinho em branco. Detalhes simples, que valorizariam o trabalho dessas atrizes. "Nada a menos que o prefeccionismo deve ser aceito". Quando exigimos de nós mesmos a perfeição, chegamos mais perto de alcançá-la. 

                                     Clara Devi estreou em Esconderijos com a maestria de uma grande atriz. Claro que uma bolada no rosto de Quintana, ou a perda de algumas piadas, devem ser concertadas. Os volumes de Alessandra Souza e de Fabio Novello nas cenas mais duras de seus personagens, caiu muito, a ponto de a ultima fileira não ouvir. 

                                      Pode-se procurar a pronuncia de um texto mais sentido, de palavras mais valorizadas, de compreensão mais elouquente. Um espetáculo literário precisa preocupar-se com uma boa oratória, com protuguês correto. Principalmente, há de se importar com as palavras escritas por Quintana!

                                       A parte técnica do espetáculo também merece aplausos, erguer um cenário como o desse trabalho, dentro de um CTG, sem o mínimo de estrutura, é merito louvavel, o banco substituto, a luz improvisada. O velho e bom Grupo Máschara. A trilha no entanto foi prejudicada e precisa de maior leveza em sua operação. Tchaikovsky deve entrar antes do anjinho aparecer na cena.   

                                         O anjo de bigodes, a nudes de Lili que escapa pela coxia, a falta de ritmo, e por fim, a luz que não apagou no adormecer de Mario. Tudo são detalhes, e eles começam uma semana antes, quando se organiza o material de viagem, quando se sobe na van... Na critica anterior, referi-me aos anciãos, e suas funçòes e comprometimentos. São importantissimos para os jovens atores, os exemplos que os anciãos dão. O presidente dos Estados Unidos  John Kennedy costumava dizer: Não pergunte o que seu país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer por seu país!  Essa frase reflete um   juramento criado em 2005 pelo diretor Cléber Lorenzoni.

                                               O Grupo Máschara é por natureza mambembe, quando vi o ônibus estacionado, as pessoas carregando coisas, os artistas na pequena cidade. A animação, os olhos acelerados, os cochichos, a curiosidade... Quem leva teatro na sua cidade, no interior, que principalmente o clima, a legria que ''artista'' leva na bagagem. Viajar é preciso, com arte! Sorrir, conversar agradavelmente com os contratantes, apresentar-se, ser gentil... Isso é parte do jogo!

                                             O melhor: Colocar novamente um espetáculo tão lindo no palco. 

                                                       O pior: Ofertar espetáculo adulto às crianças.



Espetáculo Esconderijos do Tempo

Texto: Cléber Lorenzoni e Dulce Jorge

Direção: Cléber Lorenzoni

Elenco:

Cléber Lorenzoni (***)

Renato Casagrande (**)

Alessandra Souza (*)

Fabio Novello (***)

Clara Devi (***)

Antonia Serquevitio (*)

Vitoria Ramos (**)

Dulce Jorge (***)

Raquel Arigony (**)

Eliani Alessio (***)

Romeu Waier (**)

Carol Guma (**)

                                                    

                                                      


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