MXIX - A Hora da Estrela (tomo 3)

                      Eu sempre acreditei que o maior perigo, é não conhecermos a maldade do mundo, a maldade do homem. Assim é Macabéa , a personagem principal de A Hora da Estrela, Romance ou Novela-ninguém sabe ao certo- que vem se tornando uma obra clássica da literatura brasileira. Macabéa vem do mesmo lugar que foi lar de Lispector ao chegar no Brasil ainda menina. No Rio, ela vai aprendendo através dos que a cercam, que não há lugar para si. Seja pelas moças com quem divide o quarto, pela forma como a Dona da pensão a trata, ou quando é lembrada de sua inadequação, seja pela colega Glória ou pelo cruel namorado Olympico de Jesus. A veterana atriz Alessandra Souza dá continuidade ao trabalho que Kauane Silva iniciou em 2019, e embora tenha trazido toda uma nova bagagem, mantém a chama proposta pela direção do espetáculo. Agrega aí organicidade e talento.

                        A coerência da linguagem e a escolha das forças motivacionais dessa versão, passam longe de versões conhecidas como a filmagem de 1985. Aqui a "pegada" é expressionista e embora alguns colegas não compreendam ainda a proposta, conseguem propagar uma estética intensa e complexa. O palco para Cléber Lorenzoni é um espaço de desabafo e crítica, seus pontos de vistas ficam muito claros quando os atores conseguem cumprir o que se espera deles. 

                           O palco de Itaqui é imperial, e dá o tom correto e digno do trabalho do encenador. Acústica e aparelhagem só falharam no que tange a iluminação do espetáculo, que ficou muito aquém das capacidades com que o Grupo subiu ao palco em outros momentos. A trilha sonora embora maravilhosamente escolhida, esbarrou algumas vezes, talvez por nervosismo da técnica ou falta de prática no aparelho do festival. 

                             Quando li pela primeira vez a obra, ainda muito jovem, jamais imaginei aquelas figuras, tão triangulares, tão bem delineadas. Seres repletos de crueldades, capazes mesmo de empurrar alguém até a boca do precipício. O brilho do elenco feminino, o crescimento a olhos vistos de atrizes como Antonia Serquevitio e Caroline Guma, a sutileza do trabalho corporal de Clara Devi ou ainda a beleza com que atores antigos da trupe entraram em cena, foi muito bonito. Um espetáculo que tem para mima que admiro o Máschara, cara de família. Atores iniciantes, atores da velha guarda, alunos, artistas renomados, todos juntos colaborando para que a arte teatral se cumpra. 

                              O grande mérito do trabalho do Máschara para mim é a capacidade de fazer rir e chorar, um verdadeiro vendaval de emoções, de sensações. E as palavras finais ficaram em minha mente: O trabalho de atuação do público. Impecável!



                        O Melhor: O trabalho de grupo!

                        O Pior: As pessoas que não compreendem o que significa "grupo"


Alessandra Souza

Renato Casagrande

Cléber Lorenzoni

Dulce Jorge

Ricardo Fenner

Fábio Novello

Douglas Maldaner (***)

Clara Devi (**)

Antonia Serquevittio (***)

Caroline Guma (***)

Laura Hoover (**)

Raquel Arigony (**)

Ellen Faccin (**)

Nicolas Miranda (**)

Pedro Moraes (**)

Romeu Waier (**)

Eliani Alessio (**)

                               

                        

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