982-Auto de Natal / Um Milagre de Natal (Tomo V)

 Os fins justificam os meios?  

                           Fortaleza dos Valos possui uma longa e agradável parceira com o Máschara. Vários trabalhos da Cia. foram lá apresentados. Crianças e adultos já se deixaram emocionar com personagens de Erico Verissimo, Mario Quintana, ou ainda da enredante cabeça de Cléber Lorenzoni. Seja ao ar livre, ou na Casa de Cultura, houve  e há uma busca por levar teatro às crianças. Sem falar que a própria prefeita, a senhora Márcia Rossatto Frédi, é  pós graduada em Teatro-Educação.  

                             Há porém uma aura diferente em espetáculos que tem função diferente, que não se justificam como obras de arte, ou teatro-educação. Espetáculos datados, ou criados para emocionar em datas comemorativas. Eles acabam por castrar um pouco a capacidade criativa do artista, que precisa cumprir então, qual robô, essa ou aquela necessidade do espetáculo. Soma-se a isso o fato de ser dublado, o que interrompe ainda mais a capacidade criativa do momento e  reforça que o teatro é feito nos ensaios. Lá que os artistas criam com possibilidade de equivoco, onde ousam sem limitações. No ensaio que o ator que não está em cena, pode sair da coxia e apreciar o ato do colega.

                               É no ensaio que o diretor pode acolher o ator, e lhe explicar por que determinada escolha de ação não converge com o restante do espetáculo. É no ensaio que o diretor pode perceber que se equivocou e auxiliar um artista e encontrar novos caminhos. Em um ensaio, por exemplo, Cléber Lorenzoni poderia ponderar que a atuação de Stalin Ciotti-Samuel-(*) está atrapalhando os colegas no intermezzo. Ponderar que um ator deve fazer o que lhe foi pedido, caso contrário ele poderá colocar em risco o trabalho de outros profissionais. O espetáculo me parece poluído e sim isso é falta de ensaio. Temos várias linguagens caminhando juntas e embora eu não aprecie, nesse caso o que mais me interessa são as atuações realistas. 

                               Ellen Faccin (*) por exemplo cometeu um terrível erro, que não prejudica sua proeminente e elogiável capacidade como técnica, no entanto largar a trilha sem observar se os atores estão prontos para entrar em cena, quando há troca de roupas, é um erro lamentável. E os erros da noite se multiplicaram, colocando em risco um trabalho tão bonito, tão tocante. 

                                O cenário adaptado aprecia uma caixa de fósforos e  lembrou-me muito o teatro de nossos antepassados em carroças, ao lado de igrejas. O elenco principal atuou bem, Felipe Brandão(**) engoliu algumas falas, o que frisa a falta de ensaios, mas é louvável ver a forma como a ESMATE vai dando oportunidades. Laura Heger(***) atuou brilhantemente, atores que atuam há tanto tempo dublando, acabam por se acostumar a falar baixo e fazer pouco esforço, no entanto a dicção impecável da atriz, fez brilhar os olhos cansados do diretor ao seu lado. 

                                     Serquevittio(*), Miranda(*), Hoover(**),  Aléssio(**),Devi(**) e Medeiro(**) atuaram bem, mas poderiam produzir mais com mais ensaio. Casagrande abandona um personagem importante e entrega-o ao jovem iniciante Romeu Waier, a busca do jovem artista é louvável, no entanto a bagagem de Casagrande foi o que compôs o "cobrador", e é o grande antagonista do espetáculo. Me parece que Renato é do alto escalão do Máschara, fazer os três personagens seria no mínimo obrigação do ator. Romeu Waier(**) é um jovem admirável, que vem se destacando, mas a personagem que recebeu em Auto de Natal, tornou-se um tour de force. Há uma interpretação quase pastelônica em uma cena realista, o que causa mais graça do que dor...

                                         O espetáculo hoje me envolveu por outros aspectos, o Rei Sol, de Renato Casagrande, parecia muito próximo de seu duende, e por um momento me dei conta, da pequena brincadeira por trás do espetáculo. Deus fez o homem a sua imagem e semelhança, segundo o egocêntrico homem, pois precisava se ver refletido naquele ser grandioso e poderoso que ele mesmo criou. O criador é a criatura, e quando o bobinho duende diz: O mandachuva não erra, está se referindo a ele próprio, que desde o antigo testamento parece gostar de se travestir de mortal para nos pregar peças...

                                     A belíssima atuação de Allana Ramos (***) também merece elogios, e Douglas Maldaner (**) peca na aparência, perdido sob seus cabelos que mais atrapalham do que ajudam. Fabio Novello e Alessandra Souza são artistas maduros e cumprem impecavelmente suas funções. Se pecaram em algo, pode ter sido no pré-espetáculo, é lá que os anciãos devem agir com maior pulso firme. impedindo por exemplo que o espetáculo comece com o pinheiro acesso, ou que o diretor precise dirigir todo o grupo durante o espetáculo. Microfones que não surgem, águas em lugar de papéis picados, gente andando por trás de cortinas que se abrirão, som muito alto, extensões que ficam para trás. Esse é um serviço que Cléber Lorenzoni cuidou de perto durante anos e que agora divide com o corpo de anciãos. Delegar funções só é fácil quando a equipe é extremamente profissional.


                                         O Melhor: A atuação e dedicação de Laura Heger

                                     O pior: O elenco a direita do palco durante a mensagem do senhor noel, que poderia ter escolhido ensinar ao público infantil que o mais importante é a mensagem sendo dita, pois não são animadores de festa infantil e sim atores.


Arte é vida



                         A Rainha



  

                               

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