977 - Auto de Natal - Família de NAZARÉ (TOMO VII)'

Novamente grandes espetáculos na rua...

                         A vida brota todos os dias e insiste em se reproduzir e pulsar. Vejam as plantas que nascem nos fios da eletricidade pelas ruas e avenidas, ou as verdadeiras árvores que se desenvolvem entre as telhas das casas. A vida luta todos os dias e  cumpre um sistema que não se sabe como surgiu, mas ele é tão perfeito, tão inequívoco e altamente justo. Observando a praça lotada por meus conterrâneos eu gritei dentro de mim: "Há Vida"!
                      No palco, tantas informações, tantos símbolos, uma verdadeira exposição de centenas de pequenos pontos de vista que se mesclam. Uma força poderosa. Por exemplo: Quando os anciãos do templo vinham em direção ao proscênio, era possível ver  as colunas ao fundo, emolduradas pelo lindo prédio a intendência. Na sacada, uma menina e seu avô (com maquiagem que pode ser repensada), contavam a historia que víamos no palco. O Cenário estava vivo. E esplendido.
                               Claro que se pensarmos em evento grandioso, teríamos que falar da iluminação do prédio da intendência, que deveria ser maior, poderoso, ostentoso até. 
                              Quanto a obra dramaturga que reflete o olhar de uma direção bastante formal, ela mantém muito do original canônico, mesmo que dê àquelas personagens dimensões não encontradas na Bíblia. Escritos entre 40 e 100 d.c, os evangelhos mencionam Maria de forma muito sutil, ou seja, sua apoteose como Mãe de Deus, (visão poética), mãe de Jesus, mãe de rei ou príncipe, foi agregada à sua figura por diretores, escritores, romancistas e historiadores. Depois de dois mil anos, não há como saber realmente como era aquela figura tão cheia de paradoxos. O que temos é a criatividade de um conhecimento coletivo que hora nos dá uma Maria que é mãe, torre de resignação e fé e em outras, coragem e empoderamento de mulher que aceitou se destacar pela eternidade. 
                            Laura Heger e Alessandra Souza interpretam esta curiosa figura, que em três réplicas tenta mostrar ao mundo quem é. Como Maria jovem que ousa ir ao templo, como Maria que recebe a visita do anjo e apregoa que é filha de Deus e que aceita o que esse decidir, ou ainda a Maria que implora compreensão de José. Alessandra Souza trouxe uma calma a personagem e cumpre belissimamente sua parte. Laura Heger está repleta de noção de palco, de ritmo e energias, é uma atriz em acelerado desenvolvimento. Talvez ambas pudessem buscar mais semelhante no desenho físico das personagens.
                                   A mitologia católico-cristã serviu-se em seu princípio, das mitologias do mundo antigo. Zeus também engravidou a mãe de Perseu sem ter um encontro carnal, Héracles ou Hércules também é filho do rei do Olimpo com uma mortal, e como não há um Herói no texto de Lorenzoni, José acaba assumindo o posto de mocinho/herói, eis a fórmula do sucesso. Cléber Lorenzoni com domínio de palco, consegue abrir as cenas e motivar muitas vezes os colegas a atuarem para o público. Destaque também para Isabel (Clara Devi) e Ana (Raquel Arigony) também da casa de Judá  e descendentes de Davi.
                                   O Coro que dança e canta, as vezes peca na dicção. 
                                   O palco era grande, liso, bonito, e pareceu bastante confortável para contar uma historia repleta de ação e interna e externa. Pena o anjo ter ficado no escuro. Problemas na parte técnica que escorriam do palco com problemas de som e luz. Uma lástima. 
                                    Há nesse novo olha sobre o espetáculo, mais crianças, mais colorido e diria que até mais compreensão do que acontece sobre o palco, talvez a presença de Romeu Waier e Nicolas Miranda em papeis de peso tenha somado um novo frescor à encenação. Ambos brilham como Reis Magos e ao lado de Douglas Maldaner triangulam muito com o Herodes de Renato Casagrande. Talvez o intérprete de Belcchior pudesse creditar mais domínio na sua criação. Mais ousadia. 
                                     Em si é um espetáculo lindo, com uma bela pegada de teatro de rua, e eu adoraria ouvi-lo sem as dublagens. Uma amiga que me acompanhava comentou: -Que lindo, parece uma cosia para crianças, mas a gente se apega e depois gosta mais que eles... (os pequenos) E não há como não sentir-se criança, seja na cena dos pequenos comandados pela encantadora Vitoria Ramos, ou naquela abertura lindíssima ao som de Aline Barros. Quem assiste um espetáculo dessa envergadura, não sabe a luta que é para chegar até ele, até vê-lo pronto para pôr-se no palco. O Casal Josafá pode e deve trabalhar muito, sua cena é um presente do diretor, pode ser muito mais explorada.
                                        O final com Noite Feliz entoado por todos a beira do palco, me lembrou a infância, quando em noite de ternos, saiamos às casas cantando juntos e levando o espirito do natal. 

                                 O Melhor: a operadora de som , Ellen Faccin, atuando junto na mesa de som.
                                 O pior: Ver o nervosismo dos atores no começo do espetáculo, quando claramente algo parecia ter dado errado.


Auto de Natal- Família de Nazaré

Direção: Cléber Lorenzoni
Elenco: Alessandra Souza, Renato Casagrande, Fábio Novello, Raquel Arigony(***), Laura Hoover(***), Douglas Maldaner(**), Vitoria Ramos(**), Ricardo Fenner, Antonia Serquevittio(**).
Atores em substituição: Nicolas Miranda(**), Romeu Waier(***), Clara Devi(**), Laura Heger(***), Anita Serquevittio(**), Henrique Arigony(***), Gabriel Prates(**), 
Contra-Regragem- Ellen Faccin(***)


A Rainha


Arte é Vida


                                          

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