976-Infancia Roubada - tomo 5

 Basta de Violência


"Você recebe exatamente o que dá ao teatro, nem mais nem menos. As vezes os atores propagam seu sacrifício, que abriram mão disso e daquilo pelo teatro. No entanto é lá no palco que aparece sua entrega".

               A manhã da sexta feira, dia 26 de novembro, foi surpreendente, por que levou ao público uma outra roupagem do Máschara. O pancake branco e as coreografias vibrantes deram espaço a reflexão intensa da luta pelos direitos femininos. A coordenadora do centro de referencia Maria Mulher frisou: - Hoje não é um teatro para rir... é um teatro para chorar... -Chorar sim, pelas famílias, ricas ou pobres, de quaisquer raças, que passam por situações horríveis dentre suas quatro paredes. Quem passa do lado de fora muitas vezes não toma conhecimento, mas muitas familiais estão doentes.

               Uma vez alguém perguntou ao diretor Cléber Lorenzoni, se o Máschara tinha ideologia. Ei-la, presente em vários espetáculos, e aí friso os três últimos: O Menino do Pastoreio, Tem chorume no quintal e Infância Roubada. Os três escritos e dirigidos por Lorenzoni. O público do Máschara tem acesso a vários assuntos, dentre eles, os assuntos atuais em discussão. No compilado de sexta feira, eu vi a homofobia, o abuso infantil, a violência domestica, o conflito de gerações, o abuso de poder... Mas vi também grandes atuações. 

                A notória exuberância de Eliani Aléssio chamou a atenção, e destacou-a e muito dor estante do elenco que acabou por atuar como escada para seu gol. (Não esqueçamos que o teatro, a cena é sempre um jogo! Na dramaturgia de Cléber Lorenzoni, Nice e Flávia são duas mulheres maltratadas por seus companheiros, classes sociais bastante distintas que se encontram nas tramas da vida criada pelo diretor. 

                     O tempo é percebido também através do desenho do espetáculo que nos apresenta uma convenção muito bem traçada. O fator motivador da ação é sem duvida o espancamento de Nice na primeira cena, que vai encontrar desfecho quando a própria retorna para casa e se liberta de suas amarras.

                      No palco Renato Casagrande rouba a cena como Tânia e ao lado de Cléber Lorenzoni, Vitoria Ramos e LAura Heger, conseguem dar um respiro cômico entre tantas coisas terríveis que o espetáculo mostra. Lorenzoni modificou com exatidão a trama, e o olhar sobre Nice também se transformou, já que agora Flávia e Rafaela pressionam para a catarse da primeira. 

                         Adaptar um texto não é tarefa fácil, pois é preciso encontrar um lugar  confortável que toque vários públicos, que seja coerente, que tenha transformações não muito rápidas e nem muito lentas. Talvez o maior mérito dessa versão, é que Cléber queira dizer que todos somos capazes de nos reinventarmos. Fazermos melhor na segunda vez, reconhecermos onde erramos e principalmente percebermos os que nos cercam, e o quanto também dependem de nós. 

                            Transformação e reinvenção são palavras chave do Máschara, o teatro é fruto de reflexões e de estudo, quando se trabalha em comunhão com o mundo ao seu redor e busca-se a mensagem correta, há uma longa trajetória que nos que não somos do palco não percebemos. A preparação de cada artista, sua estruturação em busca do tempo certo para receber um papel. Infância Roubada começou a ser preparada em 2017 ainda e passou por várias formações. Na estreia quem era agredida, era Raquel Arigony e o jovem Nicolas Miranda já dava seus primeiros passos no palco. Mas teatro não é reflexo de "eu quero", "eu acho", "eu sei". Se assim fosse, mais parecia um circo de pulgas formado às pressas em meio a uma quermesse de cidade pequena. O produto sobre o palco precisa ser perfeito, o público, a máquina exigem isso e isso exige maturidade, liderança e prática.  

                            Stalin Ciotti merece palmas pela sutileza com que trabalha, assim como Laura Heger, o teatro vive nos detalhes. 

                             No palco alguns atores podem buscar mais potencia vocal, Antonia Serquevitio pode trazer mais emoção a personagem, e Laura Hoover poderia nos dar o prazer de vê-la em mais espetáculos. A interprete de Nice talvez pudesse acrescer à personagem um tom mais grave na voz, o que a deixaria mais mãe, mais sofrida. 

                            Palmas a quem merece, palmas a quem estuda e trata o teatro com seriedade. Teatro é algo serio, é recurso, é entrega, é estudo.

                              O melhor: O apoio dos artistas Fabio Novello, Raquel Arigony e Romeu Waier para que a apresentação fosse um sucesso.

                                 O pior: a falta de integração entre atores nos ensaios


Casa de Cultura - 26/11/2021

Basta de Violência

Dramaturgia: Cléber Lorenzoni

Eliani Aléssio (***)

Antonia Serquevittio (**)

Samuel Ciotti (***)

Laura Heger (**)

Vitoria Ramos (**)

Laura Hoover (**)

Equipe Técnica:

Clara Devi (**)

Fabio Novello (**)


                                   Arte é Vida

                                             A Rainha




                             

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