A difícil arte da palhaçaria, tão estudada e teorizada por teóricos da arte, foi defendida hoje com muita dignidade pela trupe do Máschara. Um retorno ousado para um grupo que sempre torceu um tanto o nariz para a arte de Philip Astley (criador do circo). Depois de mais de um ano em pandemia, os artistas estavam ansiosos para voltar ao palco da Casa de Cultura e voltaram em grande estilo.
O circo que trabalha com o corpo, os talentos gestuais e voz dos artistas, vem do cênico, assim como o teatro. São primos muito próximos, embora abordem de forma quase distinta, a cinética. O palco ficou pequeno para um elenco tão grande em atuação e entrega. Antonia Serquevittio, Cléber Lorenzoni e Vitoria Ramos se esparramaram pelo palco, em números, não em cenas... O Circo tem seus dogmas próprios, seus conceitos. Estes trazidos por Fabio Novello que além de ser um homem de teatro, viveu algum tempo no circo; este espaço diferente e complexo, onde todos são um só. Onde se constrói em equipe cada pedacinho do show, o que ficou claro e muito bonito; e embora não estivesse ainda apurado na apresentação da manhã, alcançou essa elegância na terceira encenação do dia.
Há muitas inspirações, muitos desenhos de situações que certamente se construirão.
O diretor parece confuso entre um mundo glamuroso que vai se apagando e dando lugar ao teatro contemporâneo. Essa linguagem se mistura, mas parece que ainda falta algum dispositivo que una tudo isso. Mas Lorenzoni consegue grandes acertos, intercalando o brilho dos números com a palhaçaria. Fábio Novello e Renato Casagrande colocam no palco o augusto e o branco respectivamente e jogam intensamente em uma dobradinha que pode evoluir muito, o que precisam é não perder o timing, ou mesmo deixar escorregar algumas piadas.
Romeu Waier ganhou da direção um espaço que em outros anos seria unicamente do próprio Cléber. Romeu é um ator jovem, com muitas capacidades, pode se dedicar às partituras, embora seja circo, isso é o mais importante agora. Sua personagem traz muitas referencias e gostaria de saber qual sua verdade no meio disso. Gosto muito quando usa o corpo, usa coluna, algo que a personagem oferece dentro da proposta.
Raquel Arigony, Dulce Jorge e Antonia Serquevittio incorporam muito bem, a palhaça no mundo também machista do circo, a vedete e a jovem estrela. Nisso o circo se aproxima muito do aspecto estrutural do teatro. A criada, a rainha e a mocinha. Três forças diferentes. Três verdades que a direção aposta em números bastante específicos. Emocionante ver Dulcinha cantando, e percebe-se que está dublando a si mesma, por isso precisa tomar mais cuidado com a maneira com que manuseia o microfone. Raquel pode e deve aprimorar o número burlesco, e gostaria particularmente que a mulher barba aparece mais. Me atiça a curiosidade essa figura enigmática, andrógena, que brinca com a sexualidade no imaginário de quem visita o circo. Antonia Sequevittio pode ser mais elegante, mais delicada, embora na ultima apresentação do dia tenha levado algumas pessoas da plateia às lágrimas. Circo tem a ver com vencer desafios e os comentários da equipe revelam uma grande conquista...
Clara Devi vem ocupando um lindo espaço
dentro da historia do Máschara e ao lado de Cléber Lorenzoni, deram o contexto,
com o que seria um prólogo e um epílogo. No entanto a personagem batizada
internamente de chaplita, precisa dar mais tempo ao seu par, para que ele fique
mais tempo sozinho no palco, sentindo o vazio necessário. Também é preciso usar
mais a técnica vocal já que a direção a coloca em contracenação com outro
personagem que utiliza do microfone para pontuar.
As coristas cumprem seu papel, e ficam muito bonitas em seus números de apoio. As vezes deixam transparecer um pouco de cansaço, seria interessante assistirem número de "can can".
Vitoria Ramos acrescenta outra necessária presença ao circo: as crianças do circo do século XIX cresciam entre o picadeiro e o trapézio, aprendendo com suas famílias e mantendo vivo o processo que passa de geração à geração.
Nicolas Miranda é um jovem promissor, que ganhou também um espaço de confiança e torso que não desanime com as agruras que virão. Fazer teatro no interior não é tarefa fácil, é preciso vencer tantos obstáculos que na hora de entrar em cena o artista costuma já estar desanimado.
Cléber consegue com sua equipe nos dar um presente, um show... Um ato burlesco que ficará na historia da volta aos palcos... Parabéns pela coragem!
O Melhor: A coragem e a qualidade de se reinventar que Lorenzoni sempre agrega.
O pior: O cansaço que
ficou estampado em alguns atores, principalmente na segunda sessão.
O Grande Circo
Mágico:
Direção-Cléber
Lorenzoni
Assistência de
direção- Renato Casagrande
Direção
Circense- Fábio Novello
Material
Gráfico- Renato Casagrande
Elenco: Cléber Lorenzoni -
Renato Casagrande
Alessandra Souza
Fabio Novello
Raquel Arigony (**) (**) (***)
Clara Devi- (**)(*)(***)
Laura Heger (*)(**)(***)
Antonia Serquevittio (**)(**)(***)
Vitoria Ramos (***)(**)(***)
Nicolas Miranda (**)(**)(***)
Ator Convidado
- Romeu Waier (***)(**)(**)
PAarticipação
especial- Dulce Jorge
Equipe Técnica-
Vitoria Ramos e Alessandra Souza
Guarda Roupa -
Renato Casagrande, Fábio Novello e Clara Devi
Portaria-
Ricardo Fenner- Ellen Faccin- Laura Hoover
Cenário - O
Grupo
Arte é Vida
A Rainha
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